A Rebelião de Absalão


Dia 81 - Thursday, 21 de March de 2024
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  • Salmos 3
  • 2 Samuel 15-20

Salmos 3

Ouça o áudio do capítulo:

1 Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim.

2 Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. (Selá.)

3 Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça.

4 Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. (Selá.)

5 Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou.

6 Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam.

7 Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios.

8 A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção. (Selá.)

2 Samuel 15

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu depois disto que Absalão fez aparelhar carros e cavalos, e cinqüenta homens que corressem adiante dele.

2 Também Absalão se levantou pela manhã, e parava a um lado do caminho da porta. E sucedia que a todo o homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si, e lhe dizia: De que cidade és tu? E, dizendo ele: De uma das tribos de Israel é teu servo;

3 Então Absalão lhe dizia: Olha, os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei.

4 Dizia mais Absalão: Ah, quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça!

5 Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava.

6 E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; assim furtava Absalão o coração dos homens de Israel.

7 Aconteceu, pois, ao cabo de quarenta anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que fiz ao Senhor.

8 Porque, morando eu em Gesur, na Síria, fez o teu servo um voto, dizendo: Se o Senhor outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao Senhor.

9 Então lhe disse o rei: Vai em paz. Levantou-se, pois, e foi para Hebrom.

10 E enviou Absalão espias por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão reina em Hebrom.

11 E de Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio.

12 Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, à sua cidade de Giló, estando ele oferecendo os seus sacrifícios; e a conjuração se fortificava, e vinha o povo, e ia crescendo com Absalão.

13 Então veio um mensageiro a Davi, dizendo: O coração de cada um em Israel segue a Absalão.

14 Disse, pois, Davi a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos, porque não poderíamos escapar diante de Absalão. Dai-vos pressa a caminhar, para que porventura não se apresse ele, e nos alcance, e lance sobre nós algum mal, e fira a cidade a fio de espada.

15 Então os servos do rei disseram ao rei: Eis aqui os teus servos, para tudo quanto determinar o rei, nosso senhor.

16 E saiu o rei, com toda a sua casa, a pé; deixou, porém, o rei dez mulheres concubinas, para guardarem a casa.

17 Tendo, pois, saído o rei com todo o povo a pé, pararam num lugar distante.

18 E todos os seus servos iam a seu lado, como também todos os quereteus e todos os peleteus; e todos os giteus, seiscentos homens que vieram de Gate a pé, caminhavam diante do rei.

19 Disse, pois, o rei a Itai, o giteu: Por que irias tu também conosco? Volta-te, e fica-te com o rei, porque és estrangeiro, e também desterrado de teu lugar.

20 Ontem vieste, e te levaria eu hoje conosco a caminhar? Pois eu vou para onde puder ir; volta, pois, e torna a levar teus irmãos contigo, com beneficência e fidelidade.

21 Respondeu, porém, Itai ao rei, e disse: Vive o SENHOR, e vive o rei meu senhor, que no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor.

22 Então Davi disse a Itai: Vem, pois, e passa adiante. Assim passou Itai, o giteu, e todos os seus homens, e todas as crianças que havia com ele.

23 E toda a terra chorava a grandes vozes, passando todo o povo; também o rei passou o ribeiro de Cedrom, e passou todo o povo na direção do caminho do deserto.

24 Eis que também Zadoque ali estava, e com ele todos os levitas que levavam a arca da aliança de Deus; e puseram ali a arca de Deus, e subiu Abiatar, até que todo o povo acabou de passar da cidade.

25 Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; que, se achar graça nos olhos do Senhor, ele me tornará a trazer para lá e me deixará ver a ela e a sua habitação.

26 Se, porém, disser assim: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como parecer bem aos seus olhos.

27 Disse mais o rei a Zadoque, o sacerdote: Não és tu porventura vidente? Torna, pois, em paz para a cidade, e convosco também vossos dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar.

28 Olhai que me demorarei nas campinas do deserto até que tenha notícias vossas.

29 Zadoque, pois, e Abiatar, tornaram a levar para Jerusalém a arca de Deus; e ficaram ali.

30 E seguiu Davi pela encosta do monte das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta; e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar.

31 Então fizeram saber a Davi, dizendo: Também Aitofel está entre os que se conjuraram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó Senhor, peço-te que torne em loucura o conselho de Aitofel.

32 E aconteceu que, chegando Davi ao cume, para adorar ali a Deus, eis que Husai, o arquita, veio encontrar-se com ele com a roupa rasgada e terra sobre a cabeça.

33 E disse-lhe Davi: Se passares comigo, ser-me-ás pesado.

34 Porém se voltares para a cidade, e disseres a Absalão: Eu serei, ó rei, teu servo; bem fui antes servo de teu pai, mas agora serei teu servo; dissipar-me-ás então o conselho de Aitofel.

35 E não estão ali contigo Zadoque e Abiatar, sacerdotes? E será que todas as coisas que ouvires da casa do rei, farás saber a Zadoque, e a Abiatar, sacerdotes.

36 Eis que estão também ali com eles seus dois filhos, Aimaás filho de Zadoque, e Jônatas filho de Abiatar; pela mão deles aviso me mandareis, de todas as coisas que ouvirdes.

37 Husai, pois, amigo de Davi, veio para a cidade; e Absalão entrou em Jerusalém.

2 Samuel 16

Ouça o áudio do capítulo:

1 E passando Davi um pouco mais adiante do cume, eis que Ziba, o servo de Mefibosete, veio encontrar-se com ele, com um par de jumentos albardados, e sobre eles duzentos pães, com cem cachos de passas, e cem de frutas de verão e um odre de vinho.

2 E disse o rei a Ziba: Que pretendes com isto? E disse Ziba: Os jumentos são para a casa do rei, para se montarem neles; e o pão e as frutas de verão para comerem os moços; e o vinho para beberem os cansados no deserto.

3 Então disse o rei: Ora, onde está o filho de teu senhor? E disse Ziba ao rei: Eis que ficou em Jerusalém; porque disse: Hoje me restituirá a casa de Israel o reino de meu pai.

4 Então disse o rei a Ziba: Eis que teu é tudo quanto tem Mefibosete. E disse Ziba: Eu me inclino, que eu ache graça em teus olhos, ó rei meu senhor.

5 E, chegando o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera, e, saindo, ia amaldiçoando.

6 E atirava pedras contra Davi, e contra todos os servos do rei Davi; ainda que todo o povo e todos os valentes iam à sua direita e à sua esquerda.

7 E, amaldiçoando-o Simei, assim dizia: Sai, sai, homem de sangue, e homem de Belial.

8 O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul, em cujo lugar tens reinado; já deu o Senhor o reino na mão de Absalão teu filho; e eis-te agora na tua desgraça, porque és um homem de sangue.

9 Então disse Abisai, filho de Zeruia, ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei meu senhor? Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça.

10 Disse, porém, o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora deixai-o amaldiçoar; pois o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi; quem pois diria: Por que assim fizeste?

11 Disse mais Davi a Abisai, e a todos os seus servos: Eis que meu filho, que saiu das minhas entranhas, procura a minha morte; quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe; porque o Senhor lho disse.

12 Porventura o Senhor olhará para a minha miséria; e o Senhor me pagará com bem a sua maldição deste dia.

13 Prosseguiram, pois, o seu caminho, Davi e os seus homens; e também Simei ia ao longo do monte, defronte dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras contra ele, e levantava poeira.

14 E o rei e todo o povo que ia com ele chegaram cansados, e refrescaram-se ali.

15 Absalão, pois, e todo o povo, os homens de Israel, vieram a Jerusalém; e Aitofel com ele.

16 E sucedeu que, chegando Husai, o arquita, amigo de Davi, a Absalão, disse Husai a Absalão: Viva o rei, viva o rei!

17 Porém Absalão disse a Husai: É esta a tua beneficência para com o teu amigo? Por que não foste com o teu amigo?

18 E disse Husai a Absalão: Não, porém daquele que eleger o Senhor, e todo este povo, e todos os homens de Israel, dele serei e com ele ficarei.

19 E, demais disto, a quem serviria eu? Porventura não seria diante de seu filho? Como servi diante de teu pai, assim serei diante de ti.

20 Então disse Absalão a Aitofel: Dai conselho entre vós sobre o que devemos fazer.

21 E disse Aitofel a Absalão: Possue as concubinas de teu pai, que deixou para guardarem a casa; e assim todo o Israel ouvirá que te fizeste aborrecível para com teu pai; e se fortalecerão as mãos de todos os que estão contigo.

22 Estenderam, pois, para Absalão uma tenda no terraço; e Absalão possuiu as concubinas de seu pai, perante os olhos de todo o Israel.

23 E era o conselho de Aitofel, que aconselhava naqueles dias, como se a palavra de Deus se consultara; tal era todo o conselho de Aitofel, assim para com Davi como para com Absalão.

2 Samuel 17

Ouça o áudio do capítulo:

1 Disse mais Aitofel a Absalão: Deixa-me escolher doze mil homens, e me levantarei, e perseguirei a Davi esta noite.

2 E irei sobre ele, pois está cansado e frouxo de mãos; e o espantarei, e fugirá todo o povo que está com ele; e então ferirei somente o rei.

3 E farei tornar a ti todo o povo; pois o homem a quem tu buscas é como se tornassem todos; assim todo o povo estará em paz.

4 E esta palavra pareceu boa aos olhos de Absalão, e aos olhos de todos os anciãos de Israel.

5 Disse, porém, Absalão: Chamai agora também a Husai o arquita; e ouçamos também o que ele dirá.

6 E, chegando Husai a Absalão, lhe falou Absalão, dizendo: Desta maneira falou Aitofel; faremos conforme à sua palavra? Se não, fala tu.

7 Então disse Husai a Absalão: O conselho que Aitofel deu desta vez não é bom.

8 Disse mais Husai: Bem conheces tu a teu pai, e a seus homens, que são valorosos, e que estão com o espírito amargurado, como a ursa no campo, roubada dos cachorros; e também teu pai é homem de guerra, e não passará a noite com o povo.

9 Eis que agora estará escondido nalguma cova, ou em qualquer outro lugar; e será que, caindo no princípio alguns dentre eles, cada um que o ouvir então dirá: Houve derrota no povo que segue a Absalão.

10 Então até o homem valente, cujo coração é como coração de leão, sem dúvida desmaiará; porque todo o Israel sabe que teu pai é valoroso, e homens valentes os que estão com ele.

11 Eu, porém, aconselho que com toda a pressa se ajunte a ti todo o Israel desde Dã até Berseba, em multidão como a areia do mar; e tu em pessoa vás com eles à peleja.

12 Então iremos a ele, em qualquer lugar que se achar, facilmente cairemos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra; e não ficará dele e de todos os homens que estão com ele nem ainda um só.

13 E, se ele se retirar para alguma cidade, todo o Israel levará cordas àquela cidade; e arrastá-la-emos até ao ribeiro, até que não se ache ali nem uma só pedrinha.

14 Então disse Absalão e todos os homens de Israel: Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel (porém assim o Senhor o ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, para que o Senhor trouxesse o mal sobre Absalão).

15 E disse Husai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: assim e assim aconselhou Aitofel a Absalão e aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei eu.

16 Agora, pois, enviai apressadamente, e avisai a Davi, dizendo: Não passes esta noite nas campinas do deserto; logo também passa ao outro lado, para que o rei e todo o povo que com ele está não seja devorado.

17 Estavam, pois, Jônatas e Aimaás junto à fonte de Rogel; e foi uma criada, e lho disse, e eles foram e o disseram ao rei Davi, porque não podiam ser vistos entrar na cidade.

18 Mas viu-os todavia um moço, e avisou a Absalão; porém ambos logo partiram apressadamente, e entraram em casa de um homem, em Baurim, o qual tinha um poço no seu pátio, e ali dentro desceram.

19 E tomou a mulher a tampa, e a estendeu sobre a boca do poço, e espalhou grão descascado sobre ela; assim nada se soube.

20 Chegando, pois, os servos de Absalão à mulher, àquela casa, disseram: Onde estão Aimaás e Jônatas? E a mulher lhes disse: Já passaram o vau das águas. E havendo-os buscado, e não os achando, voltaram para Jerusalém.

21 E sucedeu que, depois que se retiraram, Aimaás e Jônatas saíram do poço, e foram, e anunciaram a Davi; e disseram a Davi: Levantai-vos, e passai depressa as águas, porque assim aconselhou contra vós Aitofel.

22 Então Davi e todo o povo que com ele estava se levantou, e passaram o Jordão; e já pela luz da manhã nem ainda faltava um só que não tivesse passado o Jordão.

23 Vendo, pois, Aitofel que se não tinha seguido o seu conselho, albardou o jumento, e levantou-se, e foi para sua casa e para a sua cidade, e deu ordem à sua casa, e se enforcou e morreu, e foi sepultado na sepultura de seu pai.

24 E Davi foi a Maanaim; e Absalão passou o Jordão, ele e todo o homem de Israel com ele.

25 E Absalão constituiu a Amasa em lugar de Joabe sobre o arraial; e era Amasa filho de um homem cujo nome era Itra, o israelita, o qual possuíra a Abigail, filha de Naás, irmã de Zeruia, mãe de Joabe.

26 Israel, pois, e Absalão acamparam na terra de Gileade.

27 E sucedeu que, chegando Davi a Maanaim, Sobi, filho de Naás, de Rabá, dos filhos de Amom, e Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar, e Barzilai, o gileadita, de Rogelim,

28 Tomaram camas e bacias, e vasilhas de barro, e trigo, e cevada, e farinha, e grão torrado, e favas, e lentilhas, também torradas,

29 E mel, e manteiga, e ovelhas, e queijos de vacas, e os trouxeram a Davi e ao povo que com ele estava, para comerem, porque disseram: Este povo no deserto está faminto, cansado e sedento.

2 Samuel 18

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Davi contou o povo que tinha consigo, e pôs sobre eles capitães de mil e capitães de cem.

2 E Davi enviou o povo, um terço sob o mando de Joabe, e outro terço sob o mando de Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, e outro terço sob o mando de Itai, o giteu; e disse o rei ao povo: Eu também sairei convosco.

3 Porém o povo disse: Não sairás, porque, se formos obrigados a fugir, não se importarão conosco; e, ainda que metade de nós morra, não farão caso de nós, porque ainda, tais como nós somos, ajuntarás dez mil; melhor será, pois, que da cidade nos sirvas de socorro.

4 Então disse-lhe Davi: O que bem parecer aos vossos olhos, farei. E o rei se pôs do lado da porta, e todo o povo saiu em centenas e em milhares.

5 E o rei deu ordem a Joabe, e a Abisai, e a Itai, dizendo: Brandamente tratai, por amor de mim, ao jovem Absalão. E todo o povo ouviu quando o rei deu ordem a todos os capitães acerca de Absalão.

6 Saiu, pois, o povo ao campo, a encontrar-se com Israel, e deu-se a batalha no bosque de Efraim.

7 E ali foi ferido o povo de Israel, diante dos servos de Davi; e naquele mesmo dia houve ali uma grande derrota de vinte mil.

8 Porque ali se derramou a batalha sobre a face de toda aquela terra; e foram mais os do povo que o bosque consumiu do que os que a espada consumiu naquele dia.

9 E Absalão se encontrou com os servos de Davi; e Absalão ia montado num mulo; e, entrando o mulo debaixo dos espessos ramos de um grande carvalho, pegou-se-lhe a cabeça no carvalho, e ficou pendurado entre o céu e a terra; e o mulo, que estava debaixo dele, passou adiante.

10 O que vendo um homem, fez saber a Joabe, e disse: Eis que vi a Absalão pendurado num carvalho.

11 Então disse Joabe ao homem que lho fizera saber: Pois que o viste, por que o não feriste logo ali em terra? E forçoso seria o eu dar-te dez moedas de prata e um cinto.

12 Disse, porém, aquele homem a Joabe: Ainda que eu pudesse pesar nas minhas mãos mil moedas de prata, não estenderia a minha mão contra o filho do rei, pois bem ouvimos que o rei te deu ordem a ti, e a Abisai, e a Itai, dizendo: Guardai-vos, cada um de vós, de tocar no jovem Absalão.

13 Ainda que cometesse mentira a risco da minha vida, nem por isso coisa nenhuma se esconderia ao rei; e tu mesmo te oporias.

14 Então disse Joabe: Não me demorarei assim contigo aqui. E tomou três dardos, e traspassou com eles o coração de Absalão, estando ele ainda vivo no meio do carvalho.

15 E o cercavam dez moços, que levaram as armas de Joabe. E feriram a Absalão, e o mataram.

16 Então tocou Joabe a buzina, e voltou o povo de perseguir a Israel, porque Joabe deteve o povo.

17 E tomaram a Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras; e todo o Israel fugiu, cada um para a sua tenda.

18 Ora, Absalão, quando ainda vivia, tinha tomado e levantado para si uma coluna, que está no vale do rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome. E chamou aquela coluna pelo seu próprio nome; por isso até ao dia de hoje se chama o Pilar de Absalão.

19 Então disse Aimaás, filho de Zadoque: Deixa-me correr, e denunciarei ao rei que já o Senhor o vingou da mão de seus inimigos.

20 Mas Joabe lhe disse: Tu não serás hoje o portador de novas, porém outro dia as levarás; mas hoje não darás a nova, porque é morto o filho do rei.

21 E disse Joabe a Cusi: Vai tu, e dize ao rei o que viste. E Cusi se inclinou a Joabe, e correu.

22 E prosseguiu Aimaás, filho de Zadoque, e disse a Joabe: Seja o que for deixa-me também correr após Cusi. E disse Joabe: Para que agora correrias tu, meu filho, pois não tens mensagem conveniente?

23 Seja o que for, disse Aimaás, correrei. E Joabe lhe disse: Corre. E Aimaás correu pelo caminho da planície, e passou a Cusi.

24 E Davi estava assentado entre as duas portas; e a sentinela subiu ao terraço da porta junto ao muro; e levantou os olhos, e olhou, e eis que um homem corria só.

25 Gritou, pois, a sentinela, e o disse ao rei: Se vem só, há novas em sua boca. E vinha andando e chegando.

26 Então viu a sentinela outro homem que corria, e a sentinela gritou ao porteiro, e disse: Eis que lá vem outro homem correndo só. Então disse o rei: Também traz este novas.

27 Disse mais a sentinela: Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Então disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas novas.

28 Gritou, pois, Aimaás, e disse ao rei: Paz. E inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o SENHOR, que entregou os homens que levantaram a mão contra o rei meu senhor.

29 Então disse o rei: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse Aimaás: Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim teu servo; porém não sei o que era.

30 E disse o rei: Vira-te, e põe-te aqui. E virou-se, e parou.

31 E eis que vinha Cusi; e disse Cusi: Anunciar-se-á ao rei meu senhor que hoje o SENHOR te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti.

32 Então disse o rei a Cusi: Vai bem com o jovem, com Absalão? E disse Cusi: Sejam como aquele jovem os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para mal.

33 Então o rei se perturbou, e subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou; e andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!

2 Samuel 19

Ouça o áudio do capítulo:

1 E disseram a Joabe: Eis que o rei anda chorando, e lastima-se por Absalão.

2 Então a vitória se tornou naquele mesmo dia em tristeza por todo o povo; porque naquele mesmo dia o povo ouvira dizer: Mui triste está o rei por causa de seu filho.

3 E naquele mesmo dia o povo entrou às furtadelas na cidade, como o faz quando, envergonhado, foge da peleja.

4 Estava, pois, o rei com o rosto coberto; e o rei gritava a alta voz: Meu filho Absalão, Absalão meu filho, meu filho!

5 Então entrou Joabe na casa do rei, e disse: Hoje envergonhaste o rosto de todos os teus servos, que livraram hoje a tua vida, e a vida de teus filhos, e de tuas filhas, e a vida de tuas mulheres, e a vida de tuas concubinas;

6 Amando tu aos teus inimigos, e odiando aos teus amigos. Porque hoje dás a entender que nada valem para contigo príncipes e servos; porque entendo hoje que se Absalão vivesse, e todos nós hoje fôssemos mortos, estarias bem contente.

7 Levanta-te, pois, agora; sai, e fala conforme ao coração de teus servos; porque pelo Senhor te juro que, se não saíres, nem um só homem ficará contigo esta noite; e maior mal te será isto do que todo o mal que tem vindo sobre ti desde a tua mocidade até agora.

8 Então o rei se levantou, e se assentou à porta; e fizeram saber a todo o povo dizendo: Eis que o rei está assentado à porta. Então todo o povo veio apresentar-se diante do rei; porém Israel havia fugido cada um para a sua tenda.

9 E todo o povo, em todas as tribos de Israel, andava porfiando entre si, dizendo: O rei nos tirou das mãos de nossos inimigos, e ele nos livrou das mãos dos filisteus; e agora fugiu da terra por causa de Absalão.

10 E Absalão, a quem ungimos sobre nós, já morreu na peleja; agora, pois, por que vos calais, e não fazeis voltar o rei?

11 Então o rei Davi mandou dizer a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Falai aos anciãos de Judá, dizendo: Por que seríeis vós os últimos em tornar a trazer o rei para a sua casa? Porque as palavras de todo o Israel chegaram ao rei, até à sua casa.

12 Vós sois meus irmãos, meus ossos e minha carne sois vós; por que, pois, seríeis os últimos em tornar a trazer o rei?

13 E a Amasa direis: Porventura não és tu meu osso e minha carne? Assim me faça Deus, e outro tanto, se não fores capitão do arraial diante de mim para sempre, em lugar de Joabe.

14 Assim moveu ele o coração de todos os homens de Judá, como o de um só homem; e enviaram ao rei, dizendo: Volta tu com todos os teus servos.

15 Então o rei voltou, e chegou até ao Jordão; e Judá veio a Gilgal, para ir encontrar-se com o rei, ao outro lado do Jordão.

16 E apressou-se Simei, filho de Gera, benjamita, que era de Baurim; e desceu com os homens de Judá a encontrar-se com o rei Davi.

17 E com ele mil homens de Benjamim, como também Ziba, servo da casa de Saul, e seus quinze filhos, e seus vinte servos com ele; e prontamente passaram o Jordão adiante do rei.

18 E, atravessando a barca, para fazer passar a casa do rei e para fazer o que bem parecesse aos seus olhos, então Simei, filho de Gera, se prostrou diante do rei, quando ele passava o Jordão.

19 E disse ao rei: Não me impute meu senhor a minha culpa, e não te lembres do que tão perversamente fez teu servo, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém; não conserve o rei isso no coração.

20 Porque teu servo deveras confessa que pecou; porém eis que eu sou o primeiro que de toda a casa de José desci a encontrar-me com o rei meu senhor.

21 Então respondeu Abisai, filho de Zeruia, e disse: Não morreria, pois, Simei por isto, havendo amaldiçoado ao ungido do Senhor?

22 Porém Davi disse: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia, para que hoje me sejais adversários? Morreria alguém hoje em Israel? Pois porventura não sei que hoje fui feito rei sobre Israel?

23 E disse o rei a Simei: Não morrerás. E o rei lho jurou.

24 Também Mefibosete, filho de Saul, desceu a encontrar-se com o rei, e não tinha lavado os pés, nem tinha feito a barba, nem tinha lavado as suas vestes desde o dia em que o rei tinha saído até ao dia em que voltou em paz.

25 E sucedeu que, vindo ele a Jerusalém a encontrar-se com o rei, disse-lhe o rei: Por que não foste comigo, Mefibosete?

26 E disse ele: Ó rei meu senhor, o meu servo me enganou; porque o teu servo dizia: Albardarei um jumento, e nele montarei, e irei com o rei; pois o teu servo é coxo.

27 Demais disto, falsamente acusou a teu servo diante do rei meu senhor; porém o rei meu senhor é como um anjo de Deus; faze, pois, o que parecer bem aos teus olhos.

28 Porque toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor; e contudo puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa; e que mais direito tenho eu de clamar ao rei?

29 E disse-lhe o rei: Por que ainda mais falas de teus negócios? Já disse eu: Tu e Ziba reparti as terras.

30 E disse Mefibosete ao rei: Tome ele também tudo; pois já veio o rei meu senhor em paz à sua casa.

31 Também Barzilai, o gileadita, desceu de Rogelim, e passou com o rei o Jordão, para o acompanhar ao outro lado do Jordão.

32 E era Barzilai muito velho, da idade de oitenta anos; e ele tinha sustentado o rei, quando tinha a sua morada em Maanaim, porque era grande homem.

33 E disse o rei a Barzilai: Passa tu comigo, e sustentar-te-ei comigo em Jerusalém.

34 Porém Barzilai disse ao rei: Quantos serão os dias dos anos da minha vida, para que suba com o rei a Jerusalém?

35 Da idade de oitenta anos sou eu hoje; poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter gosto no que comer e beber? Poderia eu mais ouvir a voz dos cantores e cantoras? E por que será o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor?

36 Com o rei passará teu servo ainda um pouco mais além do Jordão; e por que me recompensará o rei com tal recompensa?

37 Deixa voltar o teu servo, e morrerei na minha cidade, junto à sepultura de meu pai e de minha mãe; mas eis aí está o teu servo Quimã; passe ele com o rei meu senhor, e faze-lhe o que bem parecer aos teus olhos.

38 Então disse o rei: Quimã passará comigo, e eu lhe farei como bem parecer aos teus olhos, e tudo quanto me pedires te farei.

39 Havendo, pois, todo o povo passado o Jordão, e passando também o rei, beijou o rei a Barzilai, e o abençoou; e ele voltou para o seu lugar.

40 E dali passou o rei a Gilgal, e Quimã passou com ele; e todo o povo de Judá conduziu o rei, como também a metade do povo de Israel.

41 E eis que todos os homens de Israel vieram ao rei, e disseram ao rei: Por que te furtaram nossos irmãos, os homens de Judá, e conduziram o rei e a sua casa dalém do Jordão, e todos os homens de Davi com eles?

42 Então responderam todos os homens de Judá aos homens de Israel: Porquanto o rei é nosso parente; e por que vos irais por isso? Porventura comemos às custas do rei, ou nos deu algum presente?

43 E responderam os homens de Israel aos homens de Judá, e disseram: Dez partes temos no rei, e até em Davi mais temos nós do que vós; por que, pois, não fizestes conta de nós, para que a nossa palavra não fosse a primeira, para tornar a trazer o nosso rei? Porém a palavra dos homens de Judá foi mais forte do que a palavra dos homens de Israel.

2 Samuel 20

Ouça o áudio do capítulo:

1 Então se achou ali por acaso um homem de Belial, cujo nome era Seba, filho de Bicri, homem de Benjamim, o qual tocou a buzina, e disse: Não temos parte em Davi, nem herança no filho de Jessé; cada um às suas tendas, ó Israel.

2 Então todos os homens de Israel se separaram de Davi, e seguiram Seba, filho de Bicri; porém os homens de Judá se uniram ao seu rei desde o Jordão até Jerusalém.

3 Vindo, pois, Davi para sua casa, em Jerusalém, tomou o rei as dez mulheres, suas concubinas, que deixara para guardarem a casa, e as pôs numa casa sob guarda, e as sustentava; porém não as possuiu; e estiveram encerradas até ao dia da sua morte, vivendo como viúvas.

4 Disse mais o rei a Amasa: Convoca-me os homens de Judá para o terceiro dia; e tu então apresenta-te aqui.

5 E foi Amasa para convocar a Judá; porém demorou-se além do tempo que lhe tinha sido designado.

6 Então disse Davi a Abisai: Mais mal agora nos fará Seba, o filho de Bicri, do que Absalão; por isso toma tu os servos de teu senhor, e persegue-o, para que não ache para si cidades fortes, e escape dos nossos olhos.

7 Então saíram atrás dele os homens de Joabe, e os quereteus, e os peleteus, e todos os valentes; estes saíram de Jerusalém para irem atrás de Seba, filho de Bicri.

8 Chegando eles, pois, à pedra grande, que está junto a Gibeom, Amasa veio diante deles; e estava Joabe cingido da sua roupa que vestira, e sobre ela um cinto, ao qual estava presa a espada a seus lombos, na sua bainha; e, adiantando-se ele, lhe caiu a espada.

9 E disse Joabe a Amasa: Vai bem, meu irmão? E Joabe, com a mão direita, pegou da barba de Amasa, para o beijar.

10 E Amasa não se resguardou da espada que estava na mão de Joabe, de sorte que este o feriu com ela na quinta costela, e lhe derramou por terra as entranhas, e não o feriu segunda vez, e morreu; então Joabe e Abisai, seu irmão, foram atrás de Seba, filho de Bicri.

11 Mas um dentre os homens de Joabe parou junto a ele, e disse: Quem há que queira bem a Joabe, e quem seja por Davi, siga Joabe.

12 E Amasa estava envolto no seu sangue no meio do caminho; e, vendo aquele homem, que todo o povo parava, removeu a Amasa do caminho para o campo, e lançou sobre ele um manto; porque via que todo aquele que chegava a ele parava.

13 E, como estava removido do caminho, todos os homens seguiram a Joabe, para perseguirem a Seba, filho de Bicri.

14 E ele passou por todas as tribos de Israel até Abel, e Bete-Maaca e a todos os beritas; e ajuntaram-se, e também o seguiram.

15 E vieram, e o cercaram em Abel de Bete-Maaca, e levantaram uma barragem contra a cidade, e isto colocado na trincheira; e todo o povo que estava com Joabe batia no muro, para derrubá-lo.

16 Então uma mulher sábia gritou de dentro da cidade: Ouvi, ouvi, peço-vos que digais a Joabe: Chega-te aqui, para que eu te fale.

17 Chegando-se a ela, a mulher lhe disse: Tu és Joabe? E disse ele: Eu sou. E ela lhe disse: Ouve as palavras da tua serva. E disse ele: Ouço.

18 Então falou ela, dizendo: Antigamente costumava-se dizer: Certamente pediram conselho a Abel; e assim resolveram.

19 Sou eu uma das pacíficas e das fiéis em Israel; e tu procuras matar uma cidade que é mãe em Israel; por que, pois, devorarias a herança do Senhor?

20 Então respondeu Joabe, e disse: Longe, longe de mim que eu tal faça, que eu devore ou arruíne!

21 A coisa não é assim; porém um só homem do monte de Efraim, cujo nome é Seba, filho de Bicri, levantou a mão contra o rei, contra Davi; entregai-me só este, e retirar-me-ei da cidade. Então disse a mulher a Joabe: Eis que te será lançada a sua cabeça pelo muro.

22 E a mulher, na sua sabedoria, foi a todo o povo, e cortaram a cabeça de Seba, filho de Bicri, e a lançaram a Joabe; então este tocou a buzina, e se retiraram da cidade, cada um para a sua tenda, e Joabe voltou a Jerusalém, ao rei.

23 E Joabe estava sobre todo o exército de Israel; e Benaia, filho de Joiada, sobre os quereteus e sobre os peleteus;

24 E Adorão sobre os tributos; e Jeosafá, filho de Ailude, era o cronista;

25 E Seva, o escrivão; e Zadoque e Abiatar, os sacerdotes;

26 E também Ira, o jairita, era o oficial-mor de Davi.

Patriarcas e Profetas

A Rebelião de Absalão

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em 2 Samuel 13-19.

Tornará a dar o quadruplicado” (2 Samuel 12:6) foi a sentença dada por Davi a si mesmo sem o saber, ouvindo a parábola do profeta Natã; e de conformidade com sua própria sentença deveria ele ser julgado. Quatro de seus filhos deveriam cair, e a perda de cada um deles seria o resultado do pecado do pai. PP 538.1

O vergonhoso crime de Amnom, o primogênito, permitiu Davi que passasse sem ser punido nem repreendido. A lei pronunciava a pena de morte ao adúltero, e o crime desnatural de Amnom tornou-o duplamente culpado. Mas Davi, condenado por si mesmo pelo seu próprio pecado, deixou de fazer justiça ao transgressor. Durante dois anos completos, Absalão, o protetor natural da irmã tão ignominiosamente prejudicada, escondeu seu propósito de vingança, mas apenas para dar finalmente o golpe com mais segurança. Em uma festa dos filhos do rei, o bêbado e incestuoso Amnom foi morto por ordem de seu irmão. PP 538.2

Duplo juízo recebera Davi. Foi levada a ele esta terrível mensagem: “Absalão feriu a todos os filhos do rei, e nenhum deles ficou. Então o rei se levantou, e rasgou os seus vestidos, e se lançou por terra; da mesma maneira todos os seus servos estavam com vestidos rotos.” Os filhos do rei, voltando alarmados para Jerusalém, revelaram a seu pai a verdade; somente Amnom havia sido morto; e eles “levantaram sua voz, e choraram; e também o rei e todos os seus servos choraram com mui grande choro”. 2 Samuel 13:30, 31, 36. Mas Absalão fugiu a Talmai, rei de Gesur, pai de sua mãe. PP 538.3

Como os outros filhos de Davi, Amnom tinha sido deixado por conta das satisfações egoístas. Ele procurava satisfazer todo pensamento de seu coração, sem tomar em consideração os requisitos de Deus. Apesar de seu grande pecado, Deus tivera muita paciência com ele. Durante dois anos, lhe foi concedida oportunidade para arrependimento; mas ele continuou em pecado, e, com sua culpa sobre si, foi eliminado pela morte, para esperar o terrível tribunal do Juízo. PP 538.4

Davi tinha negligenciado o dever de punir o crime de Amnom, e, por causa da infidelidade do rei e pai, e da impenitência do filho, o Senhor permitiu que os acontecimentos tomassem seu curso natural, e não restringiu Absalão. Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade, Deus mesmo tomará o caso em mãos. Seu poder repressor será até certo ponto removido, das forças do mal, de modo que surgirá um séquito de circunstâncias que castigará o pecado com o pecado. PP 538.5

Os maus resultados da injusta condescendência de Davi para com Amnom não estavam terminados; pois agora é que começou o afastamento de Absalão, de seu pai. Depois que ele fugiu a Gesur, Davi, compreendendo que o crime de seu filho exigia algum castigo, recusou-lhe permissão para voltar. E isto teve como resultado aumentar em vez de diminuir o emaranhado de males em que o rei viera a ficar envolto. Absalão, enérgico, ambicioso e sem escrúpulos, excluído pelo seu exílio da participação nos negócios do reino, logo se deu a formular planos perigosos. PP 539.1

No fim de dois anos, Joabe resolveu efetuar a reconciliação entre o pai e o filho. E com este objetivo em vista conseguiu os serviços de uma mulher de Tecoa, afamada pela sua sabedoria. Instruída por Joabe, a mulher se fez passar a Davi por uma viúva, cujos dois filhos tinham sido sua única consolação e apoio. Em uma rixa, um destes matou o outro, e agora todos os parentes da família exigiam que o sobrevivente fosse entregue ao vingador do sangue. “Assim”, disse a mãe, “apagarão a brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido nome, nem resto sobre a Terra”. 2 Samuel 14:7. Os sentimentos do rei foram tocados com esse apelo, e ele assegurou à mulher a proteção real para seu filho. PP 539.2

Depois de arrancar dele repetidas promessas pela segurança do jovem, impetrou a clemência do rei, declarando que ele falara como alguém em falta, por não ter mandado buscar de volta para casa o seu exilado. “Porque”, disse ela, “certamente morreremos, e seremos como águas derramadas na terra, que não se ajuntam mais: Deus, pois, lhe não tirará a vida, mas ideará pensamentos, para que se não desterre dEle o Seu desterrado”. 2 Samuel 14:14. Este quadro terno e tocante do amor de Deus para com o pecador, vindo, como veio, de Joabe, o rude soldado, é uma prova notável da familiaridade dos israelitas com as grandes verdades da redenção. O rei, sentindo sua própria necessidade da misericórdia de Deus, não pôde resistir a este apelo. A Joabe foi dada a ordem: “Vai, pois, e torna a trazer o mancebo Absalão.” PP 539.3

A Absalão foi permitido voltar a Jerusalém, mas não para comparecer à corte, ou encontrar seu pai. Davi tinha começado a ver os maus efeitos de sua condescendência para com os filhos; e embora amasse com ternura esse belo e prendado filho, achou necessário que, como uma lição tanto a Absalão como ao povo, fosse manifesta aversão por esse crime. Absalão viveu dois anos em sua própria casa, mas banido da corte. Sua irmã morava com ele, e sua presença conservava viva a lembrança do mal irreparável que sofrera. Na apreciação popular, o príncipe era um herói, em vez de um transgressor. E, tendo esta vantagem, pôs-se a conquistar o coração do povo. Sua aparência pessoal era de tal maneira que captava a admiração de todos os que o viam. “Não havia, porém, em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absalão; desde a planta do pé até à cabeça não havia nele defeito algum”. 2 Samuel 14:21, 25. Não era prudente, da parte do rei, deixar um homem do caráter de Absalão — ambicioso, impulsivo e apaixonado — a acalentar durante dois anos supostas ofensas. E o ato de Davi, permitindo-lhe voltar a Jerusalém e contudo recusando-se a admiti-lo em sua presença, alistou as simpatias do povo a seu favor. PP 539.4

Tendo sempre diante de si a lembrança de sua própria transgressão à lei de Deus, Davi parecia moralmente paralisado; era fraco e irresoluto, quando antes de seu pecado era corajoso e decidido. Sua influência junto ao povo se havia enfraquecido. E tudo isto favorecia os planos de seu filho desnaturado. PP 540.1

Mediante a influência de Joabe, Absalão foi de novo admitido à presença de seu pai; mas, embora houvesse uma reconciliação externa, continuou ele com seus projetos ambiciosos. Assumiu agora uma condição quase régia, tendo carros e cavalos, e cinqüenta homens para correrem diante dele. E, enquanto o rei mais e mais se inclinava a desejar o retiro e a solidão, Absalão cortejava assiduamente o favor popular. PP 540.2

A influência da indiferença e irresolução de Davi estendeu-se a seus subordinados; a negligência e a demora caracterizavam a administração da justiça. Absalão ardilosamente mudava cada causa de descontentamento em proveito próprio. Dia após dia este homem de semblante nobre podia ser visto à porta da cidade, onde uma multidão de suplicantes esperava a fim de apresentar suas queixas e receber justiça. Absalão misturava-se com eles, e escutava seus agravos, exprimindo simpatia pelos seus sofrimentos, e pesar pela ineficiência do governo. Tendo assim ouvido a história de um homem de Israel, o príncipe replicava: “Os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei”; e acrescentava: “Ah, quem me dera ser juiz na Terra! para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça. Sucedia também que, quando alguém se achegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava.” PP 540.3

Fomentado pelas artificiosas insinuações do príncipe, o descontentamento com o governo estava-se espalhando rapidamente. O elogio a Absalão estava nos lábios de todos. Era geralmente considerado como herdeiro do reino; o povo olhava para ele com orgulho, como sendo digno deste elevado cargo, e acendeu-se o desejo de que ele ocupasse o trono. PP 540.4

“Assim furtava Absalão o coração dos homens de Israel”. 2 Samuel 15:4-6. No entanto, o rei, cego pelo afeto para com seu filho, de nada suspeitava. A condição principesca que Absalão havia assumido, era considerada por Davi como tendo em vista honrar a sua corte, ou seja, como uma expressão de alegria pela reconciliação. PP 540.5

Estando preparada a mente do povo para o que havia de seguir-se, Absalão secretamente enviou homens escolhidos por todas as tribos, a fim de combinar as necessárias providências para uma revolta. E agora o manto da devoção religiosa foi tomado para esconder seus intuitos traidores. Um voto feito muito tempo antes, quando ele estava no desterro, devia ser cumprido em Hebrom. Absalão disse ao rei: “Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao Senhor. Porque, morando eu em Gesur, em Síria, votou o teu servo um voto, dizendo: Se o Senhor outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao Senhor.” Então o extremoso pai, reconfortado com esta prova de piedade em seu filho, despediu-o com sua bênção. A conspiração estava agora completamente amadurecida. O ato final de Absalão, inspirado na hipocrisia, destinava-se não somente a cegar o rei, mas estabelecer a confiança do povo, e assim levar este à rebelião contra o rei que Deus escolhera. PP 540.6

Absalão partiu para Hebrom, e foram com ele de Jerusalém “duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio”. 2 Samuel 14:7-11. Estes homens iam com Absalão, mal imaginando que seu amor pelo filho os estava levando à rebelião contra o pai. Chegando em Hebrom, Absalão imediatamente chamou Aitofel, um dos principais conselheiros de Davi, homem de grande fama por sua sabedoria, cuja opinião se julgava ser tão segura e prudente como a de um oráculo. Aitofel aderiu aos conspiradores, e seu apoio fez com que parecesse certo o êxito à causa de Absalão, atraindo sob sua bandeira muitos homens de influência de todas as partes do país. Soando a trombeta de revolta, os espias do príncipe por todo o país espalharam a notícia de que Absalão era rei, e muitos do povo a ele se uniram. PP 541.1

Entrementes foi levado o alarme a Jerusalém, ao rei. Davi despertou-se de súbito, para ver a rebelião irrompendo junto a seu trono. Seu próprio filho, aquele filho que ele amara e em quem confiara, estivera a conspirar para lhe tomar a coroa, e sem dúvida para lhe tirar a vida. Em seu grande perigo, Davi sacudiu a depressão que durante tanto tempo sobre ele repousava, e com o espírito de seus primeiros anos preparou-se para enfrentar esta terrível emergência. Absalão estava arregimentando suas forças, em Hebrom, afastada apenas trinta quilômetros. Os rebeldes logo estariam às portas de Jerusalém. PP 541.2

De seu palácio, Davi olhava para a sua capital — formosa de sítio, e “alegria de toda a Terra, [...] a cidade do grande Rei”. Salmos 48:2. Estremecia ao pensamento de expô-la à carnificina e devastação. Deveria chamar em seu auxílio os súditos ainda fiéis ao seu trono, e assumir posição para manter sua capital? Deveria permitir que Jerusalém fosse inundada de sangue? Sua decisão estava tomada. Os horrores da guerra não deveriam recair sobre a cidade escolhida. Ele sairia de Jerusalém, e então provaria a fidelidade de seu povo, dando-lhes oportunidade para se arregimentarem em seu apoio. Nesta grande crise, era seu dever a Deus e a seu povo manter a autoridade de que o Céu o investira. O desenlace do conflito ele confiaria a Deus. PP 541.3

Com humildade e tristeza, Davi saiu pela porta de Jerusalém, repelido de seu trono, de seu palácio, da arca de Deus, pela insurreição de seu querido filho. O povo acompanhou-o em um séquito longo e triste, semelhante a um cortejo fúnebre. A guarda pessoal de Davi, constituída pelos quereteus, peleteus, e por seiscentos geteus de Gate, sob o comando de Itai, acompanhou o rei. Mas Davi, com sua abnegação característica, não pôde consentir que esses estrangeiros que tinham procurado sua proteção se envolvessem em sua calamidade. Exprimiu surpresa de que estivessem dispostos a fazer tal sacrifício por ele. Então disse o rei a Itai, o geteu: “Por que irias tu também conosco? Volta, e fica-te com o rei, porque estranho és, e também te tornarás a teu lugar. Ontem vieste, e te levaria eu hoje conosco a caminhar? Pois força me é ir aonde quer que puder ir; volta, pois, e torna a levar teus irmãos contigo, com beneficência e fidelidade.” PP 542.1

Itai respondeu: “Vive o Senhor, e vive o rei meu senhor, que no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor.” Estes homens tinham-se convertido do paganismo ao culto de Jeová, e nobremente provaram agora sua fidelidade a seu Deus e a seu rei. Davi, com coração grato, aceitou a dedicação deles à sua causa, que aparentemente ia abaixo, e todos passaram o ribeiro de Cedrom, a caminho do deserto. PP 542.2

De novo o cortejo parou. Um grupo trajado de vestes santas vinha se aproximando. “Eis que também Zadoque ali estava, e com ele todos os levitas que levavam a arca do concerto de Deus”. 2 Samuel 15:19-21, 24. Os seguidores de Davi olharam para isto como um feliz sinal. A presença daquele símbolo sagrado era para eles um penhor de seu livramento e vitória final. Infundiria coragem ao povo para que se arregimentasse junto ao rei. A ausência da mesma em Jerusalém acarretaria terror aos partidários de Absalão. PP 542.3

À vista da arca, a alegria e a esperança por um breve momento fizeram fremir o coração de Davi. Mas logo outros pensamentos lhe vieram. Como aquele que fora designado para governar a herança de Deus, encontrava-se ele sob uma responsabilidade solene. Não o interesse pessoal, mas sim a glória de Deus e o bem de Seu povo deveriam ser objetivos preeminentes no espírito do rei de Israel. Deus, que habita entre os querubins, disse acerca de Jerusalém: “Este é o Meu repouso” (Salmos 132:14); e, sem autoridade divina, nem sacerdote nem rei tinha o direito de remover dali o símbolo de Sua presença. E Davi compreendeu que seu coração e sua vida deveriam estar em harmonia com os preceitos divinos, aliás a arca seria o meio para ocorrer desastre em vez de êxito. Seu grande pecado estava sempre diante dele. Reconhecia nesta conspiração o justo juízo de Deus. A espada que não deveria afastar-se de sua casa, fora desembainhada. Ele não sabia qual poderia ser o resultado da luta. Não lhe competia remover da capital da nação os estatutos sagrados que incorporavam a vontade de seu divino Soberano, os quais eram a constituição do reino e o fundamento de sua prosperidade. PP 542.4

Ele ordenou a Zadoque: “Torna a levar a arca de Deus à cidade; que, se achar graça nos olhos do Senhor, Ele me tornará a trazer para lá, e me deixará ver a ela e a sua habitação. Se, porém, disser assim: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como parecer bem aos Seus olhos.” PP 543.1

Davi acrescentou: “Não és tu porventura o vidente?” — homem designado por Deus para instruir o povo. “Torna, pois, em paz para a cidade, e convosco também vossos dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar. Olhai que me demorarei nas campinas do deserto até que tenha novas vossas”. 2 Samuel 15:25-28. Na cidade os sacerdotes poderiam prestar-lhe bom serviço, sabendo dos movimentos e intuitos dos rebeldes, e comunicando-os secretamente ao rei por seus filhos Aimaás e Jônatas. PP 543.2

Voltando os sacerdotes a Jerusalém, uma sombra mais negra recaiu sobre a multidão que partia. Sendo seu rei fugitivo, sendo eles próprios rejeitados, abandonados mesmo pela arca de Deus, estava o futuro obscurecido de terror e maus prenúncios. “E subiu Davi pela subida das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta, e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar. Então fizeram saber a Davi, dizendo: Também Aitofel está entre os que se conjuraram com Absalão.” Novamente foi Davi obrigado a reconhecer em suas calamidades os resultados de seu próprio pecado. A deserção de Aitofel, o mais hábil e astuto dos dirigentes políticos, foi motivada pela vingança à desonra que sobreveio à família em virtude do dano feito a Bate-Seba, que era sua neta. PP 543.3

“Pelo que disse Davi: Ó Senhor, transtorna o conselho de Aitofel”. 2 Samuel 15:30, 31. Chegando ao cume do monte, o rei curvou-se em oração, lançando sobre Deus o fardo de sua alma, e suplicando humildemente a misericórdia divina. Sua oração pareceu ser de pronto respondida. Husai, o arquita, conselheiro sábio e hábil, que se mostrara amigo fiel de Davi, veio então a ele com as vestes rotas, e com terra sobre sua cabeça, para lançar sua sorte com o rei destronado e fugitivo. Davi viu, como por iluminação divina, que este homem, fiel e de coração veraz, era aquele de quem se necessitava para servir aos interesses do rei nos conselhos, na capital. Ao pedido de Davi, Husai voltou a Jerusalém para oferecer seus serviços a Absalão, e dissipar o astucioso conselho de Aitofel. PP 543.4

Com esse raio de luz nas trevas, o rei e seus seguidores prosseguiram em seu caminho descendo a encosta oriental do Monte das Oliveiras, através de uma região inculta, rochosa e desolada, por entre quebradas bravias, e ao longo de caminhos pedregosos e íngremes, em direção ao Jordão. “E, chegando o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera, e, saindo, ia amaldiçoando. E apedrejava com pedras a Davi, e a todos os servos do rei Davi, ainda que todo o povo e todos os valentes iam à sua direita e à sua esquerda. E, amaldiçoando-o Simei, assim dizia: Sai, sai, homem de sangue, e homem de Belial. O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul, em cujo lugar tens reinado; já deu o Senhor o reino na mão de Absalão teu filho; e eis-te agora na tua desgraça, porque és um homem de sangue”. 2 Samuel 16:5-8. PP 543.5

Na prosperidade de Davi, Simei não mostrara, quer por palavras quer por atos, que não era um súdito leal. Mas, na aflição do rei, este benjamita revelou seu verdadeiro caráter. Honrara a Davi em seu trono, mas amaldiçoara-o em sua humilhação. Vil e egoísta, olhava aos outros como sendo do mesmo caráter que ele, e, inspirado por Satanás, saciava seu ódio naquele a quem Deus castigara. O espírito que leva o homem a triunfar sobre alguém que está em aflição, a ultrajá-lo e angustiá-lo, é o espírito de Satanás. PP 544.1

As acusações de Simei contra Davi eram inteiramente falsas — uma calúnia vil e perversa. Davi não fora culpado de mal a Saul ou à sua casa. Quando Saul estava inteiramente em seu poder, e o poderia ter matado, simplesmente cortou a franja de sua veste, e censurou a si próprio por mostrar mesmo este desrespeito pelo ungido do Senhor. PP 544.2

Do respeito sagrado de Davi pela vida humana, prova notável fora dada, mesmo quando ele próprio era perseguido como animal feroz. Um dia, quando se achava escondido na caverna de Adulão, volvendo-se seus pensamentos à imperturbável liberdade de sua vida de rapaz, exclamou o fugitivo: “Quem me dera beber da água da cisterna de Belém, que está junto à porta!” Belém estava naquele tempo nas mãos dos filisteus; mas três homens valorosos do grupo de Davi romperam através da guarda, e trouxeram da água de Belém a seu senhor. Davi não a pôde beber. “Guarda-me, ó Senhor”, exclamou ele, “de que tal faça; beberia eu o sangue dos homens que foram a risco da sua vida?” 2 Samuel 23:13-17. E ele reverentemente derramou a água como oferta a Deus. Davi tinha sido um homem de guerra, e grande parte de sua vida fora despendida entre cenas de violência; mas, de todos os que passaram por essa prova, não muitos, em verdade, foram tão pouco afetados pela sua influência insensibilizadora e desmoralizadora, como o foi Davi. PP 544.3

Abisai, sobrinho de Davi, um dos mais valentes dos seus capitães, não pôde escutar com paciência as palavras insultantes de Simei. “Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei meu senhor?” exclamou ele. “Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça.” Mas o rei proibiu-lho. “Eis que meu filho”, disse ele, “procura a minha morte; quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe; porque o Senhor lho disse. Porventura o Senhor olhará para a minha miséria, e o Senhor me pagará com bem a sua maldição deste dia”. 2 Samuel 16:9-12. PP 544.4

A consciência estava a proferir verdades amargas e humilhantes a Davi. Enquanto seus súditos fiéis se admiravam com a sua súbita mudança de sorte, não era isto mistério para o rei. Ele muitas vezes tivera pressentimentos de uma hora como aquela. Admirara-se de que Deus tivesse tanto tempo suportado seus pecados, e retardado o castigo merecido. E agora, em sua fuga precipitada e triste, com os pés descalços, com as vestes reais mudadas em saco, com as lamentações dos que o acompanhavam a despertar os ecos das colinas, pensava ele em sua amada capital — o lugar que fora o cenário de seu pecado; e, lembrando-se da bondade e longanimidade de Deus, não estava inteiramente sem esperança. Sentia que o Senhor ainda o trataria com misericórdia. PP 544.5

Muito malfeitor tem desculpado seu pecado, apontando para a queda de Davi; mas, quão poucos há que manifestam o arrependimento e a humildade de Davi! Quão poucos suportam a reprovação e o castigo, com a paciência e coragem que ele manifestou! Confessara seu pecado, e durante anos procurara cumprir seu dever como fiel servo de Deus; trabalhara para o reerguimento de seu reinado, e sob seu governo este atingira a uma força e prosperidade jamais alcançadas antes. Reunira grandes suprimentos de materiais para a edificação da casa de Deus; e agora deveria todo o trabalho de sua vida ser dissipado? Deveriam os resultados de anos de uma labuta consagrada, de trabalho criativo, dedicação, aptidão de estadista, passar para as mãos de seu filho descuidado e traidor, que não tinha consideração pela honra de Deus nem pela prosperidade de Israel? Quão natural teria parecido murmurar Davi contra Deus nesta grande aflição! PP 545.1

Mas ele viu a causa de sua inquietação em seu próprio pecado. Das palavras do profeta Miquéias transpira o espírito que animava o coração de Davi. “Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra Ele, até que julgue a minha causa, e execute o meu direito”. Miquéias 7:8, 9. E o Senhor não abandonou Davi. Este capítulo de sua experiência, em que sob o mais cruel dano e insulto, ele se mostra humilde, abnegado, generoso e submisso, é um dos mais nobres em toda a sua experiência. Nunca foi o governador de Israel com mais verdade grande à vista do Céu do que nesta hora de sua mais profunda humilhação exterior. PP 545.2

Tivesse Deus permitido que Davi continuasse em pecado sem ser condenado, e permanecesse em paz e prosperidade em seu trono enquanto transgredia os preceitos divinos, e os céticos e incrédulos teriam motivo para citar a história de Davi como mácula à religião da Bíblia. Mas, na experiência por que Ele fez Davi passar, o Senhor mostra que não pode tolerar nem desculpar o pecado. E a história de Davi nos habilita a ver também o grande objetivo que Deus tem em vista com Seu trato com o pecado; habilita-nos a divisar, mesmo através dos mais tenebrosos juízos, a realização de Seus intuitos de misericórdia e beneficência. Ele fez Davi passar pela vara, mas não o destruiu; a fornalha é para purificar, mas não para consumir. Diz o Senhor: “Se profanarem os Meus preceitos, e não guardarem os Meus mandamentos, então visitarei com vara a sua transgressão, e a sua iniqüidade com açoites. Mas não retirarei totalmente dele a Minha benignidade, nem faltarei à Minha fidelidade”. Salmos 89:31-33. PP 545.3

Logo depois que Davi saiu de Jerusalém, Absalão e seu exército entraram, e sem qualquer luta tomaram posse da fortaleza de Israel. Husai achou-se entre os primeiros a saudar o novo rei; e o príncipe ficou surpreso e satisfeito com a aquisição do velho amigo e conselheiro de seu pai. Absalão estava confiante no êxito. Até ali seus planos tinham sido bem-sucedidos, e, ansioso por fortalecer o trono e conseguir a confiança da nação, recebeu com alegria a Husai em sua corte. PP 546.1

Absalão estava agora cercado de uma grande força; mas esta era pela maior parte constituída de homens inexperientes na guerra. Ainda não tinham sido levados em conflito. Aitofel bem sabia que a situação de Davi estava longe de ser desesperadora. Uma grande parte da nação ainda estava fiel a ele; estava rodeado de guerreiros experimentados, que eram fiéis ao seu rei, e seu exército era comandado por generais hábeis e experientes. Aitofel sabia que, depois da primeira explosão de entusiasmo em favor do novo rei, viria uma reação. Caso falhasse a revolta, Absalão poderia ser capaz de conseguir reconciliação com seu pai; então Aitofel, como seu principal conselheiro, seria tido na conta do mais culpado pela rebelião; sobre ele recairia o mais severo castigo. Para impedir que Absalão retrocedesse, Aitofel o aconselhou a um ato que, aos olhos da nação inteira, tornaria impossível a reconciliação. Com engano infernal, este estadista, astuto e sem escrúpulos, insistiu com Absalão para acrescentar o crime de incesto ao de rebelião. À vista de todo o Israel deveria tomar para si as concubinas de seu pai, segundo o costume das nações orientais, declarando assim que sucedia a seu pai no trono. E Absalão levou a efeito a vil sugestão. Assim, cumpriu-se a palavra de Deus a Davi, pelo profeta: “Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo. [...] Porque tu o fizeste em oculto, mas Eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o Sol”. 2 Samuel 12:11, 12. Não que Deus instigasse tais atos de impiedade; mas, por causa do pecado de Davi, Ele não exerceu Seu poder para os impedir. PP 546.2

Aitofel fora tido em grande estima pela sua sabedoria, mas era destituído do esclarecimento que vem de Deus. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Provérbios 9:10); e este, Aitofel não possuía, aliás dificilmente poderia ter baseado o êxito da traição no crime de incesto. Homens de coração corrupto tramam a impiedade, como se não houvesse Providência a dirigir superiormente as coisas, a fim de obstar seus desígnios; mas “Aquele que habita nos Céus se rirá; o Senhor zombará deles”. Salmos 2:4. O Senhor declara: “Não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos simples os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá”. Provérbios 1:30-32. PP 546.3

Tendo tido êxito na trama destinada a conseguir sua segurança, Aitofel insistiu com Absalão sobre a necessidade de ação imediata contra Davi. “Deixa-me escolher doze mil homens”, disse ele, “e me levantarei, e seguirei após Davi esta noite. E irei sobre ele, pois está cansado e fraco das mãos; e o espantarei, e fugirá todo o povo que está com ele; e então ferirei o rei só. E farei tornar a ti todo o povo.” Este plano foi aprovado pelos conselheiros do rei. Caso houvesse sido seguido, certamente Davi teria sido morto, a menos que o Senhor interviesse diretamente para o salvar. Uma sabedoria mais elevada, porém, do que a do afamado Aitofel, estava a dirigir os acontecimentos. “O Senhor o ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, para que o Senhor trouxesse o mal sobre Absalão”. 2 Samuel 17:1-3, 14. PP 547.1

Husai não fora chamado ao conselho, e não se intrometeria sem que isto lhe fosse pedido, receoso de vir sobre si a suspeita de ser espião; mas, depois que se dispersou a assembléia, Absalão, que tinha grande consideração pelo juízo do conselheiro de seu pai, submeteu à sua apreciação o plano de Aitofel. Husai viu, que, se o plano proposto fosse seguido, Davi estaria perdido. E disse: “O conselho que Aitofel esta vez aconselhou não é bom. Disse mais Husai: Bem conheces a teu pai, e a seus homens, que são valorosos, e que estão com o espírito amargurado, como a ursa no campo, roubada dos cachorros; também teu pai é homem de guerra, e não passará a noite com o povo. Eis que agora está escondido nalguma cova, ou em qualquer outro lugar”; ele argumentava que, se as forças de Absalão perseguissem a Davi, não fariam prisioneiro ao rei; e, se sofressem um revés, isto tenderia a desanimá-las, e faria grande mal à causa de Absalão. “Porque”, disse ele, “todo o Israel sabe que teu pai é valoroso, e homens valentes os que estão com ele.” E sugeriu um plano atraente pela sua natureza vaidosa e egoísta, propenso à exibição de poder: “Eu, porém, aconselho que com toda a pressa se ajunte a ti todo o Israel desde Dã até Berseba, e multidão como areia do mar; e que tu em pessoa vás à peleja. Então iremos a ele, em qualquer lugar que se achar, e facilmente viremos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra; e não ficará dele e de todos os homens que estão com ele nem ainda um só. E, se ele se retirar para alguma cidade, todo o Israel trará cordas àquela cidade, e arrastá-la-emos até ao ribeiro, até que não se ache ali nem uma só pedrinha. PP 547.2

“Então disse Absalão a todos os homens de Israel: Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel”. 2 Samuel 17:10-14. Mas houve um que não foi enganado — um que previu claramente o resultado deste erro fatal de Absalão. Aitofel compreendeu que a causa dos rebeldes estava perdida. E viu que, qualquer que pudesse ser a sorte do príncipe, não havia esperança para o conselheiro que instigara os seus maiores crimes. Aitofel havia animado Absalão na rebelião; aconselhara-o à mais abominável impiedade, à desonra de seu pai; sugerira a morte de Davi, e fizera os planos para a sua realização; suprimira a última possibilidade de reconciliação com o rei; e agora outro era preferido a ele, mesmo por Absalão. Cheio de inveja, irado, e desesperado, Aitofel “foi para sua casa e para a sua cidade, e pôs em ordem a sua casa, e se enforcou, e morreu”. 2 Samuel 17:23. Tal foi o resultado da sabedoria de quem, com todos os seus elevados dotes, não fez de Deus o seu conselheiro. Satanás engoda os homens com promessas lisonjeiras; mas no fim será descoberto por toda alma que “o salário do pecado é a morte”. Romanos 6:23. PP 547.3

Husai, não tendo certeza de que seu conselho seria seguido pelo versátil rei, não perdeu tempo em avisar Davi para que escapasse para além do Jordão, sem demora. Husai enviou esta mensagem aos sacerdotes, os quais deveriam transmiti-la por seus filhos: “Assim e assim aconselhou Aitofel a Absalão e aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei eu. Agora, pois [...] não passes esta noite nas campinas do deserto, mas passa depressa à outra banda, para que o rei e todo o povo que com ele está não seja devorado”. 2 Samuel 17:15, 16. PP 548.1

Houve suspeitas contra os moços, e foram perseguidos; todavia conseguiram levar a efeito sua perigosa missão. Davi, fatigado pelas labutas e mágoas depois daquele primeiro dia de fuga, recebeu a mensagem de que deveria atravessar o Jordão naquela noite, pois que seu filho procurava sua vida. PP 548.2

Quais seriam os sentimentos daquele pai e rei, tão cruelmente ultrajado, neste perigo terrível? Como homem valoroso, homem de guerra, e rei, cuja palavra era lei, traído por seu filho, a quem amara, com quem fora condescendente, e em quem imprudentemente confiara; ofendido e abandonado pelos súditos que a ele estavam ligados pelos mais fortes laços de honra e lealdade — com que palavras derramou Davi os sentimentos de sua alma? Na hora de sua mais negra prova, o coração de Davi estava firme em Deus, e ele cantou: PP 548.3

“Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim. PP 548.4

Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. PP 548.5

Mas Tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça. PP 548.6

Com a minha voz clamei ao Senhor, Ele ouviu-me desde o Seu santo monte. PP 548.7

Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou. PP 548.8

Não terei medo de dez milhares de pessoas que se puseram contra mim ao meu redor. [...] A salvação vem do Senhor; sobre o Teu povo seja a Tua bênção”. Salmos 3:1-8. PP 548.9

Davi e todo o seu grupo — guerreiros e estadistas, velhos e jovens, mulheres e crianças — nas trevas da noite atravessaram o rio profundo e correntoso. “Pela luz da manhã nem ainda faltava um só que não passasse o Jordão”. 2 Samuel 17:22. PP 548.10

Davi e sua força recuaram a Maanaim, que tinha sido a sede real de Isbosete. Esta era uma cidade poderosamente fortificada, rodeada de uma região montanhosa, favorável à retirada em caso de guerra. O território era bem provido, e o povo era amigo da causa de Davi. Ali muitos partidários se uniram a ele, enquanto ricos chefes de tribos vizinhas traziam abundantes presentes de provisões, e outros suprimentos necessários. PP 549.1

O conselho de Husai conseguira seu objetivo, obtendo para Davi oportunidade para escapar; mas o príncipe, precipitado e impetuoso, não pôde por muito tempo ser restringido, e logo se pôs em perseguição de seu pai. “E Absalão passou o Jordão, ele e todo o homem de Israel com ele”. 2 Samuel 17:24. Absalão constituiu comandante-geral de suas forças a Amasa, filho de Abigail, irmã de Davi. Seu exército era grande, mas indisciplinado, e mal preparado para competir com os soldados experimentados de seu pai. PP 549.2

Davi dividiu suas forças em três batalhões sob o comando de Joabe, Abisai, e Itai, o geteu. Tinha sido seu propósito conduzir ele mesmo seu exército ao campo; mas contra isto os oficiais do exército, os conselheiros e o povo veemente protestaram. “Não sairás”, disseram, “porque, se formos obrigados a fugir, não porão o coração em nós; e, ainda que metade de nós morra, não porão o coração em nós, porque ainda, tais como nós somos, ajuntarás dez mil. Melhor será, pois, que da cidade nos sirvas de socorro. Então Davi lhes disse: O que bem parecer aos vossos olhos, farei”. 2 Samuel 18:3, 4. PP 549.3

Dos muros da cidade, as longas fileiras do exército rebelde estavam bem à vista. O usurpador era acompanhado de uma hoste vasta, em comparação com a qual a força de Davi não parecia senão um punhado. Mas, olhando o rei para as forças oponentes, o pensamento máximo em seu espírito não era a coroa e o reino, nem sua própria vida, que dependia da ação da batalha. O coração do pai estava cheio de amor e compaixão para com seu filho rebelde. Saindo em fileiras o exército pelas portas da cidade, Davi animou os seus fiéis soldados, mandando-lhes que saíssem confiantes em que o Deus de Israel lhes daria a vitória. Mas mesmo agora ele não pôde reprimir seu amor para com Absalão. Quando Joabe, o vencedor em cem campos de batalha, conduzindo a primeira coluna, passou pelo seu rei, curvou a altiva cabeça para ouvir sua última mensagem, que dizia com voz trêmula: “Brandamente tratai por amor de mim ao mancebo, a Absalão.” E Abisai e Itai receberam a mesma incumbência: “Brandamente tratai por amor de mim ao mancebo, a Absalão.” Mas a solicitude do rei, parecendo declarar que Absalão lhe era mais caro do que seu reino, e mais caro mesmo do que os súditos fiéis ao seu trono, apenas aumentou a indignação dos soldados contra o filho desnaturado. PP 549.4

O local da batalha foi um bosque próximo do Jordão, em que o grande número do exército de Absalão apenas lhe era uma desvantagem. Por entre os pontos espessos e os pantanais da floresta, aquelas tropas indisciplinadas se tornaram confusas e não mais podiam ser dirigidas. E “foi ferido o povo de Israel, diante dos servos de Davi; e naquele mesmo dia houve ali uma grande derrota de vinte mil”. 2 Samuel 18:5, 7. Absalão, vendo que era perdida a causa, voltara-se para fugir, quando a cabeça lhe foi apanhada entre os ramos de uma árvore larga; e, saindo seu mulo de debaixo dele, foi deixado desamparadamente suspenso, como presa a seus inimigos. Em tal condição foi encontrado por um soldado, que, de medo de desagradar o rei, poupou Absalão, mas referiu a Joabe o que vira. Joabe não se restringiu por quaisquer escrúpulos. Havia favorecido a Absalão, tendo duas vezes conseguido sua reconciliação com Davi; e a confiança assim manifesta para com ele fora vergonhosamente traída. Se não fossem as vantagens alcançadas por Absalão mediante a intercessão de Joabe, esta rebelião, com todos os seus horrores, jamais poderia ter ocorrido. Agora estava nas mãos de Joabe destruir com um golpe o instigador de todo este mal. “E tomou três dardos e traspassou com eles o coração de Absalão. [...] E levaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras”. 2 Samuel 18:14, 17. PP 549.5

Assim pereceram os instigadores da rebelião em Israel. Aitofel morrera pela sua própria mão. O príncipe Absalão, cuja gloriosa beleza fora o orgulho de Israel, foi eliminado no vigor da juventude, sendo seu cadáver arremessado em uma cova, e coberto com um monte de pedras, em sinal de ignomínia eterna. Em vida, construíra Absalão para si um custoso monumento no vale do rei; mas a única lembrança que assinalou a sua sepultura foi o monte de pedras no deserto. PP 550.1

Morto o chefe da rebelião, Joabe chamou novamente seu exército, ao som da trombeta, da perseguição à hoste fugitiva, e logo foram expedidos mensageiros para levarem a notícia ao rei. PP 550.2

A sentinela sobre o muro da cidade, olhando para o campo de batalha, descobriu um homem a correr sozinho. Logo um segundo veio a ser visto. Aproximando-se o primeiro, o atalaia disse ao rei, que estava a esperar junto à porta: “Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Então disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas-novas. Gritou pois Aimaás, e disse ao rei: Paz. E inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o Senhor, que entregou os homens que levantaram a mão contra o rei meu senhor.” À ansiosa pergunta do rei: “Vai bem com o mancebo, com Absalão?” Aimaás deu uma resposta evasiva. PP 550.3

O segundo mensageiro chegou, clamando: “Anunciar-se-á ao rei meu senhor que hoje o Senhor te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti.” Novamente veio dos lábios do pai a pergunta que o absorvia: “Vai bem com o mancebo, com Absalão?” Sem poder esconder a triste notícia, o arauto respondeu: “Sejam como aquele mancebo os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para mal.” Era bastante. Davi não fez mais perguntas, mas com a cabeça baixa “subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou; e andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” 2 Samuel 18:14-33. PP 550.4

O exército vitorioso, voltando do campo de batalha, aproximou-se da cidade, despertando suas aclamações de triunfo ecos nas colinas. Mas, ao entrarem pelas portas da cidade, findaram-se as aclamações, arrearam-se as bandeiras, e com o olhar baixo avançaram mais como os que sofreram derrota do que como vencedores; porque o rei não os estava esperando a fim de dar-lhes boas-vindas, mas do quarto em cima da porta ouvia-se o clamor de seu pranto: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” 2 Samuel 18:33. PP 551.1

“Então a vitória se tornou naquele mesmo dia em tristeza para todo o povo, porque naquele mesmo dia o povo ouvira dizer: Mui triste está o rei por causa de seu filho. E aquele mesmo dia o povo entrou às furtadelas na cidade, como o povo de vergonha se escoa quando foge da peleja”. 2 Samuel 19:2, 3. PP 551.2

Joabe ficou cheio de indignação. Deus lhes dera motivo de triunfo e alegria; a maior rebelião que já fora conhecida em Israel tinha sido suprimida; e no entanto esta grande vitória se transformara em lamentação por aquele cujo crime custara o sangue de milhares de bravos. O rude e áspero capitão encaminhou-se para a presença do rei, e disse com ousadia: “Hoje envergonhaste as caras de todos os teus servos, que livraram hoje a tua vida, e a vida de teus filhos, e de tuas filhas, [...] amando tu aos que te aborrecem, e aborrecendo aos que te amam. Porque hoje dás a entender que nada valem para contigo capitães e servos; porque entendo hoje que se Absalão vivesse, e todos nós hoje fôssemos mortos, então bem te parecera aos teus olhos. Levanta-te, pois, agora; sai, e fala conforme ao coração de teus servos. Porque pelo Senhor te juro que, se não saíres, nem um só homem ficará contigo esta noite; e maior mal te será isto do que todo o mal que tem vindo sobre ti desde a tua mocidade até agora”. 2 Samuel 19:5-7. PP 551.3

Severa e mesmo cruel como foi a censura ao rei, ferido em seu coração, não se ressentiu Davi com a mesma. Vendo que seu general tinha razão, desceu à porta, e com palavras de coragem e aprovação saudou seus bravos soldados enquanto passavam diante dele. PP 551.4

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