O Pecado e Arrependimento de Davi


Dia 80 - Wednesday, 20 de March de 2024
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41 min

  • Salmos 51 e 52
  • 2 Samuel 11-14

Salmos 51

Ouça o áudio do capítulo:

1 Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.

2 Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.

3 Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.

4 Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.

5 Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.

6 Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria.

7 Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.

8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.

9 Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades.

10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.

11 Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.

12 Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.

13 Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão.

14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça.

15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor.

16 Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos.

17 Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.

18 Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém.

19 Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar.

Salmos 52

Ouça o áudio do capítulo:

1 Por que te glorias na malícia, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus permanece continuamente.

2 A tua língua intenta o mal, como uma navalha amolada, traçando enganos.

3 Tu amas mais o mal do que o bem, e a mentira mais do que o falar a retidão. (Selá.)

4 Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta.

5 Também Deus te destruirá para sempre; arrebatar-te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á da terra dos viventes. (Selá.)

6 E os justos o verão, e temerão: e se rirão dele, dizendo:

7 Eis aqui o homem que não pôs em Deus a sua fortaleza, antes confiou na abundância das suas riquezas, e se fortaleceu na sua maldade.

8 Mas eu sou como a oliveira verde na casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente.

9 Para sempre te louvarei, porque tu o fizeste, e esperarei no teu nome, porque é bom diante de teus santos.

2 Samuel 11

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém.

2 E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista.

3 E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu?

4 Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.

5 E a mulher concebeu; e mandou dizer a Davi: Estou grávida.

6 Então Davi mandou dizer a Joabe: Envia-me Urias, o heteu. E Joabe enviou Urias a Davi.

7 Vindo, pois, Urias a ele, perguntou Davi como passava Joabe, e como estava o povo, e como ia a guerra.

8 Depois disse Davi a Urias: Desce à tua casa, e lava os teus pés. E, saindo Urias da casa real, logo lhe foi mandado um presente da mesa do rei.

9 Porém Urias se deitou à porta da casa real, com todos os servos do seu senhor; e não desceu à sua casa.

10 E fizeram saber isto a Davi, dizendo: Urias não desceu a sua casa. Então disse Davi à Urias: Não vens tu duma jornada? Por que não desceste à tua casa?

11 E disse Urias a Davi: A arca, e Israel, e Judá ficaram em tendas; e Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados no campo; e hei de eu entrar na minha casa, para comer e beber, e para me deitar com minha mulher? Pela tua vida, e pela vida da tua alma, não farei tal coisa.

12 Então disse Davi a Urias: Demora-te aqui ainda hoje, e amanhã te despedirei. Urias, pois, ficou em Jerusalém aquele dia e o seguinte.

13 E Davi o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou; e à tarde saiu a deitar-se na sua cama com os servos de seu senhor; porém não desceu à sua casa.

14 E sucedeu que pela manhã Davi escreveu uma carta a Joabe; e mandou-lha por mão de Urias.

15 Escreveu na carta, dizendo: Ponde a Urias na frente da maior força da peleja; e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra.

16 Aconteceu, pois, que, tendo Joabe observado bem a cidade, pôs a Urias no lugar onde sabia que havia homens valentes.

17 E, saindo os homens da cidade, e pelejando com Joabe, caíram alguns do povo, dos servos de Davi; e morreu também Urias, o heteu.

18 Então enviou Joabe, e fez saber a Davi todo o sucesso daquela peleja.

19 E deu ordem ao mensageiro, dizendo: Acabando tu de contar ao rei todo o sucesso desta peleja,

20 E sucedendo que o rei se encolerize, e te diga: Por que vos chegastes tão perto da cidade a pelejar? Não sabíeis vós que haviam de atirar do muro?

21 Quem feriu a Abimeleque, filho de Jerubesete? Não lançou uma mulher sobre ele do muro um pedaço de uma mó corredora, de que morreu em Tebes? Por que vos chegastes ao muro? Então dirás: Também morreu teu servo Urias, o heteu.

22 E foi o mensageiro, e entrou, e fez saber a Davi tudo o que Joabe o enviara a dizer.

23 E disse o mensageiro a Davi: Na verdade que mais poderosos foram aqueles homens do que nós, e saíram a nós ao campo; porém nós fomos contra eles, até à entrada da porta.

24 Então os flecheiros atiraram contra os teus servos desde o alto do muro, e morreram alguns dos servos do rei; e também morreu o teu servo Urias, o heteu.

25 E disse Davi ao mensageiro: Assim dirás a Joabe: Não te pareça isto mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele; esforça a tua peleja contra a cidade, e a derrota; esforça-o tu assim.

26 Ouvindo, pois, a mulher de Urias que seu marido era morto, lamentou a seu senhor.

27 E, passado o luto, enviou Davi, e a recolheu em sua casa, e lhe foi por mulher, e deu-lhe à luz um filho. Porém esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor.

2 Samuel 12

Ouça o áudio do capítulo:

1 E o SENHOR enviou Natã a Davi; e, apresentando-se ele a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre.

2 O rico possuía muitíssimas ovelhas e vacas.

3 Mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e ela tinha crescido com ele e com seus filhos; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha.

4 E, vindo um viajante ao homem rico, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para assar para o viajante que viera a ele; e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o homem que viera a ele.

5 Então o furor de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem, e disse a Natã: Vive o Senhor, que digno de morte é o homem que fez isso.

6 E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa, e porque não se compadeceu.

7 Então disse Natã a Davi: Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul;

8 E te dei a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teu seio, e também te dei a casa de Israel e de Judá, e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas.

9 Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom.

10 Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher.

11 Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol.

12 Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.

13 Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás.

14 Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá.

15 Então Natã foi para sua casa; e o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, e adoeceu gravemente.

16 E buscou Davi a Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra.

17 Então os anciãos da sua casa se levantaram e foram a ele, para o levantar da terra; porém ele não quis, e não comeu pão com eles.

18 E sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança; e temiam os servos de Davi dizer-lhe que a criança estava morta, porque diziam: Eis que, sendo a criança ainda viva, lhe falávamos, porém não dava ouvidos à nossa voz; como, pois, lhe diremos que a criança está morta? Porque mais lhe afligiria.

19 Viu, porém, Davi que seus servos falavam baixo, e entendeu Davi que a criança estava morta, pelo que disse Davi a seus servos: Está morta a criança? E eles disseram: Está morta.

20 Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e entrou na casa do Senhor, e adorou. Então foi à sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e comeu.

21 E disseram-lhe seus servos: Que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste; porém depois que morreu a criança te levantaste e comeste pão.

22 E disse ele: Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se DEUS se compadecerá de mim, e viverá a criança?

23 Porém, agora que está morta, por que jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.

24 Então consolou Davi a Bate-Seba, sua mulher, e entrou a ela, e se deitou com ela, e ela deu à luz um filho, e deu-lhe o nome de Salomão; e o Senhor o amou.

25 E enviou pela mão do profeta Natã, dando-lhe o nome de Jedidias, por amor ao Senhor.

26 Ora pelejou Joabe contra Rabá, dos filhos de Amom, e tomou a cidade real.

27 Então mandou Joabe mensageiros a Davi, e disse: Pelejei contra Rabá, e também tomei a cidade das águas.

28 Ajunta, pois, agora o restante do povo, e cerca a cidade, e toma-a, para que tomando eu a cidade, não se aclame sobre ela o meu nome.

29 Então ajuntou Davi a todo o povo, e marchou para Rabá, e pelejou contra ela, e a tomou.

30 E tirou a coroa da cabeça do seu rei, cujo peso era de um talento de ouro, e havia nela pedras preciosas, e foi posta sobre a cabeça de Davi; e da cidade levou mui grande despojo.

31 E, trazendo o povo que havia nela, o pôs às serras, e às talhadeiras de ferro, e aos machados de ferro, e os fez passar por forno de tijolos; e assim fez a todas as cidades dos filhos de Amom; e voltou Davi e todo o povo para Jerusalém.

2 Samuel 13

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu depois disto que, tendo Absalão, filho de Davi, uma irmã formosa, cujo nome era Tamar, Amnom, filho de Davi, amou-a.

2 E angustiou-se Amnom, até adoecer, por Tamar, sua irmã, porque era virgem; e parecia aos olhos de Amnom dificultoso fazer-lhe coisa alguma.

3 Tinha, porém, Amnom um amigo, cujo nome era Jonadabe, filho de Siméia, irmão de Davi; e era Jonadabe homem mui sagaz.

4 O qual lhe disse: Por que tu de dia em dia tanto emagreces, sendo filho do rei? Não mo farás saber a mim? Então lhe disse Amnom: Amo a Tamar, irmã de Absalão, meu irmão.

5 E Jonadabe lhe disse: Deita-te na tua cama, e finge-te doente; e, quando teu pai te vier visitar, dize-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e me dê de comer pão, e prepare a comida diante dos meus olhos, para que eu a veja e coma da sua mão.

6 Deitou-se, pois, Amnom, e fingiu-se doente; e, vindo o rei visitá-lo, disse Amnom, ao rei: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e prepare dois bolos diante dos meus olhos, para que eu coma de sua mão.

7 Mandou então Davi à casa, a Tamar, dizendo: Vai à casa de Amnom, teu irmão, e faze-lhe alguma comida.

8 E foi Tamar à casa de Amnom, seu irmão (ele porém estava deitado), e tomou massa, e a amassou, e fez bolos diante dos seus olhos, e cozeu os bolos.

9 E tomou a frigideira, e os tirou diante dele; porém ele recusou comer. E disse Amnom: Fazei retirar a todos da minha presença. E todos se retiraram dele.

10 Então disse Amnom a Tamar: Traze a comida ao quarto, e comerei da tua mão. E tomou Tamar os bolos que fizera, e levou-os a Amnom, seu irmão, no quarto.

11 E chegando-lhos, para que comesse, pegou dela, e disse-lhe: Vem, deita-te comigo, minha irmã.

12 Porém ela lhe disse: Não, meu irmão, não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal loucura.

13 Porque, aonde iria eu com a minha vergonha? E tu serias como um dos loucos de Israel. Agora, pois, peço-te que fales ao rei, porque não me negará a ti.

14 Porém ele não quis dar ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, a forçou, e se deitou com ela.

15 Depois Amnom sentiu grande aversão por ela, pois maior era o ódio que sentiu por ela do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te, e vai-te.

16 Então ela lhe disse: Não há razão de me despedires assim; maior seria este mal do que o outro que já me tens feito. Porém não lhe quis dar ouvidos.

17 E chamou a seu moço que o servia, e disse: Ponha fora a esta, e fecha a porta após ela.

18 E trazia ela uma roupa de muitas cores (porque assim se vestiam as filhas virgens dos reis); e seu servo a pôs para fora, e fechou a porta após ela.

19 Então Tamar tomou cinza sobre a sua cabeça, e a roupa de muitas cores que trazia rasgou; e pôs as mãos sobre a cabeça, e foi andando e clamando.

20 E Absalão, seu irmão, lhe disse: Esteve Amnom, teu irmão, contigo? Ora, pois, minha irmã, cala-te; é teu irmão. Não se angustie o teu coração por isto. Assim ficou Tamar, e esteve solitária em casa de Absalão seu irmão.

21 E, ouvindo o rei Davi todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira.

22 Porém Absalão não falou com Amnom, nem mal nem bem; porque Absalão odiava a Amnom, por ter forçado a Tamar sua irmã.

23 E aconteceu que, passados dois anos inteiros, Absalão tinha tosquiadores em Baal-Hazor, que está junto a Efraim; e convidou Absalão a todos os filhos do rei.

24 E foi Absalão ao rei, e disse: Eis que teu servo tem tosquiadores; peço que o rei e os seus servos venham com o teu servo.

25 O rei, porém, disse a Absalão: Não, filho meu, não vamos todos juntos, para não te sermos pesados. E instou com ele; porém não quis ir, mas o abençoou.

26 Então disse Absalão: Quando não, deixa ir conosco Amnom, meu irmão. Porém o rei disse: Para que iria contigo?

27 E, instando Absalão com ele, deixou ir com ele a Amnom, e a todos os filhos do rei.

28 E Absalão deu ordem aos seus servos, dizendo: Tomai sentido; quando o coração de Amnom estiver alegre do vinho, e eu vos disser: Feri a Amnom, então o matareis; não temais: porque porventura não sou eu quem vo-lo ordenei? Esforçai-vos, e sede valentes.

29 E os servos de Absalão fizeram a Amnom como Absalão lho havia ordenado. Então todos os filhos do rei se levantaram, e montaram cada um no seu mulo, e fugiram.

30 E aconteceu que, estando eles ainda no caminho, chegou a nova a Davi, dizendo-se: Absalão feriu a todos os filhos do rei, e nenhum deles ficou.

31 Então o rei se levantou, e rasgou as suas vestes, e se lançou por terra; da mesma maneira todos os seus servos estavam com vestes rotas.

32 Mas Jonadabe, filho de Siméia, irmão de Davi, respondeu, e disse: Não diga o meu senhor que mataram a todos os moços filhos do rei, porque só morreu Amnom; porque assim tinha resolvido fazer Absalão, desde o dia em que forçou a Tamar sua irmã.

33 Não se lhe ponha, pois, agora no coração do rei meu senhor tal coisa, dizendo: Morreram todos os filhos do rei; porque só morreu Amnom.

34 E Absalão fugiu; e o moço que estava de guarda, levantou os seus olhos, e olhou; e eis que muito povo vinha pelo caminho por detrás dele, pelo lado do monte.

35 Então disse Jonadabe ao rei: Eis aqui vêm os filhos do rei; conforme à palavra de teu servo, assim sucedeu.

36 E aconteceu que, como acabou de falar, os filhos do rei vieram, e levantaram a sua voz, e choraram; e também o rei e todos os seus servos choraram amargamente.

37 Assim Absalão fugiu, e foi a Talmai, filho de Amiur, rei de Gesur. E Davi pranteava por seu filho todos aqueles dias.

38 Assim Absalão fugiu, e foi para Gesur; esteve ali três anos.

39 Então tinha o rei Davi saudades de Absalão; porque já se tinha consolado acerca da morte de Amnom.

2 Samuel 14

Ouça o áudio do capítulo:

1 Conhecendo, pois, Joabe, filho de Zeruia, que o coração do rei estava inclinado para Absalão,

2 Enviou Joabe a Tecoa, e tomou de lá uma mulher e disse-lhe: Ora, finge que estás de luto; veste roupas de luto, e não te unjas com óleo, e sê como uma mulher que há já muitos dias está de luto por algum morto.

3 E vai ao rei, e fala-lhe conforme a esta palavra. E Joabe lhe pôs as palavras na boca.

4 E a mulher tecoíta falou ao rei, e, deitando-se com o rosto em terra, se prostrou e disse: Salva-me, ó rei.

5 E disse-lhe o rei: Que tens? E disse ela: Na verdade sou mulher viúva; morreu meu marido.

6 Tinha, pois, a tua serva dois filhos, e estes brigaram entre si no campo, e não houve quem os apartasse; assim um feriu ao outro, e o matou.

7 E eis que toda a linhagem se levantou contra a tua serva, e disseram: Dá-nos aquele que feriu a seu irmão, para que o matemos, por causa da vida de seu irmão, a quem matou, e para que destruamos também ao herdeiro. Assim apagarão a brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido nome, nem remanescente sobre a terra.

8 E disse o rei à mulher: Vai para tua casa; e eu mandarei ordem acerca de ti.

9 E disse a mulher tecoíta ao rei: A injustiça, rei meu senhor, venha sobre mim e sobre a casa de meu pai; e o rei e o seu trono fique inculpável.

10 E disse o rei: Quem falar contra ti, traze-mo a mim; e nunca mais te tocará.

11 E disse ela: Ora, lembre-se o rei do Senhor seu Deus, para que os vingadores do sangue não prossigam na destruição, e não exterminem a meu filho. Então disse ele: Vive o Senhor, que não há de cair no chão nem um dos cabelos de teu filho.

12 Então disse a mulher: Peço-te que a tua serva fale uma palavra ao rei meu senhor. E disse ele: Fala.

13 E disse a mulher: Por que, pois, pensaste tu uma tal coisa contra o povo de Deus? Porque, falando o rei tal palavra, fica como culpado; visto que o rei não torna a trazer o seu desterrado.

14 Porque certamente morreremos, e seremos como águas derramadas na terra que não se ajuntam mais; Deus, pois, lhe não tirará a vida, mas cogita meios, para que não fique banido dele o seu desterrado.

15 E se eu agora vim falar esta palavra ao rei, meu senhor, é porque o povo me atemorizou; dizia, pois, a tua serva: Falarei, pois, ao rei; porventura fará o rei segundo a palavra da sua serva.

16 Porque o rei ouvirá, para livrar a sua serva da mão do homem que intenta destruir juntamente a mim e a meu filho da herança de Deus.

17 Dizia mais a tua serva: Seja agora a palavra do rei meu senhor para descanso; porque como um anjo de Deus, assim é o rei, meu senhor, para ouvir o bem e o mal; e o SENHOR teu Deus será contigo.

18 Então respondeu o rei, e disse à mulher: Peço-te que não me encubras o que eu te perguntar. E disse a mulher: Ora fale o rei, meu senhor.

19 E disse o rei: Não é verdade que a mão de Joabe anda contigo em tudo isto? E respondeu a mulher, e disse: Vive a tua alma, ó rei meu senhor, que ninguém se poderá desviar, nem para a direita nem para a esquerda, de tudo quanto o rei, meu senhor, tem falado: Porque Joabe, teu servo, é quem me deu ordem, e foi ele que pôs na boca da tua serva todas estas palavras:

20 Para mudar o aspecto deste caso foi que o teu servo Joabe fez isto; porém sábio é meu senhor, conforme à sabedoria de um anjo de Deus, para entender tudo o que há na terra.

21 Então o rei disse a Joabe: Eis que fiz isto; vai, pois, e torna a trazer o jovem Absalão.

22 Então Joabe se prostrou sobre o seu rosto em terra, e se inclinou, e agradeceu ao rei; e disse Joabe: Hoje conhece o teu servo que achei graça aos teus olhos, ó rei meu senhor, porque o rei fez segundo a palavra do teu servo.

23 Levantou-se, pois, Joabe, e foi a Gesur, e trouxe Absalão a Jerusalém.

24 E disse o rei: Torne para a sua casa, e não veja a minha face. Tornou, pois, Absalão para sua casa, e não viu a face do rei.

25 Não havia, porém, em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absalão; desde a planta do pé até à cabeça não havia nele defeito algum.

26 E, quando tosquiava a sua cabeça (e sucedia que no fim de cada ano a tosquiava, porquanto muito lhe pesava, e por isso a tosquiava), pesava o cabelo da sua cabeça duzentos siclos, segundo o peso real.

27 Também nasceram a Absalão três filhos e uma filha, cujo nome era Tamar; e esta era mulher formosa à vista.

28 Assim ficou Absalão dois anos inteiros em Jerusalém, e não viu a face do rei.

29 Mandou, pois, Absalão chamar a Joabe, para o enviar ao rei; porém não quis vir a ele; e enviou ainda segunda vez e, contudo, não quis vir.

30 Então disse aos seus servos: Vedes ali o pedaço de campo de Joabe pegado ao meu, e tem cevada nele; ide, e ponde-lhe fogo. E os servos de Absalão puseram fogo ao pedaço de campo.

31 Então Joabe se levantou, e veio a Absalão, em casa, e disse-lhe: Por que puseram os teus servos fogo ao pedaço de campo que é meu?

32 E disse Absalão a Joabe: Eis que enviei a ti, dizendo: Vem cá, para que te envie ao rei, a dizer-lhe: Para que vim de Gesur? Melhor me fora estar ainda lá. Agora, pois, veja eu a face do rei; e, se há ainda em mim alguma culpa, que me mate.

33 Então foi Joabe ao rei, e assim lho disse. Então chamou a Absalão, e ele se apresentou ao rei, e se inclinou sobre o seu rosto em terra diante do rei; e o rei beijou a Absalão.

Patriarcas e Profetas

O Pecado e Arrependimento de Davi

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em 2 Samuel 11-12.

A Bíblia pouco tem a dizer em louvor ao homem. Pouco espaço é concedido para se narrarem as virtudes, mesmo dos melhores homens que já viveram. Este silêncio não é sem motivo; não é destituído de ensinos. Todas as boas qualidades que os homens possuem são dom de Deus; suas boas ações são realizadas pela graça de Deus mediante Cristo. Visto que tudo devem a Deus, a glória do que quer que sejam ou façam, a Ele pertence somente; não são senão instrumentos em Suas mãos. Mais que isto — conforme ensinam todas as lições da história bíblica, é coisa perigosa louvar ou exaltar o homem; pois se alguém vem a perder de vista sua inteira dependência de Deus, e a confiar em sua própria força, é certo que cairá. O homem está a lutar com adversários mais fortes do que ele. “Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais”. Efésios 6:12. É impossível a nós, em nossa própria força, sustentar o conflito; e o que quer que desvie de Deus a mente, o que quer que leve à exaltação própria ou presunção, está certamente a preparar o caminho para a nossa derrota. O conteúdo da Bíblia visa a inculcar desconfiança na força humana e incentivar a confiança no poder divino. PP 529.1

Foi o espírito de confiança e exaltação própria que preparou o caminho para a queda de Davi. A lisonja e as sutis atrações do poderio e do luxo não deixaram de ter efeito sobre ele. Relações com as nações circunjacentes também exerceram influência para o mal. Segundo o costume que prevalecia entre os governantes orientais, crimes que não seriam tolerados nos súditos não eram condenados no rei; o qual não tinha o dever de observar as mesmas restrições que os súditos. Tudo isto tendia para diminuir o senso de Davi em relação à excessiva malignidade do pecado. E, em vez de confiar humildemente no poder de Jeová, começou a confiar em sua própria sabedoria e poder. Logo que Satanás consiga separar de Deus a alma, única fonte de força, procurará ele despertar os desejos impuros da natureza carnal do homem. A obra do inimigo não é feita abruptamente; não é, ao princípio, súbita e surpreendente; é uma ação secreta de minar as fortalezas dos princípios. Começa em coisas aparentemente pequenas — negligência de ser fiel a Deus e de confiar nEle inteiramente, disposição para seguir costumes e práticas do mundo. PP 529.2

Antes da conclusão da guerra com os amonitas, Davi, deixando a liderança do exército a Joabe, voltou a Jerusalém. Os sírios já se haviam submetido a Israel, e a subversão total dos amonitas parecia certa. Davi estava cercado dos frutos da vitória e de honras pelo seu governo sábio e hábil. Foi agora, quando estava à vontade, e desprevenido, que o tentador aproveitou a oportunidade para lhe ocupar a mente. O fato de haver Deus tomado a Davi em ligação tão íntima com Ele, e de ter para com ele, Davi, manifestado tão grande favor dever-lhe-ia ter sido o mais forte incentivo para conservar irrepreensível o seu caráter. Mas quando, em sua comodidade e segurança, perdeu seu apego a Deus, Davi rendeu-se a Satanás, e trouxe sobre sua alma a mancha do crime. Ele, o chefe da nação indicado pelo Céu, escolhido por Deus para executar Sua lei, ele próprio pisou os seus preceitos. Aquele que deveria ter sido um terror aos malfeitores, pelo seu próprio ato lhes fortaleceu as mãos. PP 530.1

Entre os perigos da primeira parte de sua vida, Davi, consciente de sua integridade, podia confiar o seu caso a Deus. A mão do Senhor o havia conduzido com segurança através das inúmeras ciladas que tinham sido postas para seus pés. Mas agora, culpado e não arrependido, não rogava auxílio e guia do Céu, mas procurava desvencilhar-se dos perigos em que o pecado o envolvera. Bate-Seba, cuja beleza fatal se havia mostrado uma cilada ao rei, era a esposa de Urias, o heteu, um dos mais corajosos e fiéis oficiais de Davi. Ninguém poderia prever qual seria o resultado se o crime fosse conhecido. A lei de Deus declarava réu de morte o adúltero; e o soldado de espírito orgulhoso, tão vergonhosamente ofendido, poderia vingar-se tirando a vida do rei, ou provocando a nação à revolta. PP 530.2

Todo o esforço que Davi fez para esconder seu crime se mostrou inútil. Ele havia-se entregado ao poder de Satanás; o perigo o rodeava; a desonra, mais amarga do que a morte, estava diante dele. Não havia senão um meio para escapar, e, em seu desespero, apressou-se a acrescentar o assassínio ao adultério. Aquele que tinha tramado a destruição de Saul, procurava levar Davi também à ruína. Embora as tentações fossem diversas, levavam semelhantemente à transgressão da lei de Deus. Davi raciocinou que, se Urias fosse morto pela mão de inimigos na batalha, a culpa de sua morte não poderia ser atribuída ao rei; Bate-Seba estaria livre para ser a esposa de Davi, as suspeitas poderiam ser removidas, e mantida seria a honra real. PP 530.3

Urias foi feito portador de sua própria ordem de morte. Uma carta enviada pela sua mão a Joabe, da parte do rei, ordenava: “Ponde Urias na frente da maior força da peleja, e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra”. 2 Samuel 11:15. Joabe, já manchado com o crime de um afrontoso assassínio, não hesitou em obedecer às instruções do rei, e Urias tombou pela espada dos filhos de Amom. PP 530.4

Até ali o registro de Davi como governante fora tal como poucos reis já o tiveram. Está escrito a respeito dele que “julgava e fazia justiça a todo o seu povo”. 2 Samuel 8:15. Sua integridade conquistara a confiança e lealdade da nação. Mas, afastando-se ele de Deus, e entregando-se ao maligno, tornou-se durante aquele tempo agente de Satanás; contudo, ainda mantinha a posição e autoridade que Deus lhe dera, e por causa disto, exigiu obediência que poria em perigo a alma daquele que a ela se rendesse. E Joabe, cuja fidelidade fora protestada ao rei em vez de a Deus, transgrediu a lei de Deus porque o rei o ordenara. PP 531.1

O poder de Davi fora a ele dado por Deus, mas para ser exercido apenas de acordo com a lei divina. Ordenando ele o que era contrário à lei de Deus, tornava-se pecado obedecer. “As potestades que há foram ordenadas por Deus” (Romanos 13:1), mas não devemos obedecer-lhes contrariamente à lei de Deus. O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, expõe o princípio pelo qual devemos ser governados. Diz ele: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo”. 1 Coríntios 11:1. PP 531.2

Um relatório sobre a execução de sua ordem foi enviado a Davi, mas tão cuidadosamente enunciado que não comprometia nem Joabe nem ao rei. Joabe “deu ordem ao mensageiro, dizendo: Acabando tu de contar ao rei todo o sucesso desta peleja, e sucedendo que o rei se encolerize, [...] então dirás: Também morreu teu servo Urias, o heteu. E foi o mensageiro, e entrou, e fez saber a Davi tudo, para que Joabe o enviara”. PP 531.3

A resposta do rei foi: “Assim dirás a Joabe: Não te pareça isto mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele; esforça a tua peleja contra a cidade, e a derrota. Esforça-o tu assim.” PP 531.4

Bate-Seba observou os dias usuais de lamentação por seu marido; e, no seu final, “enviou Davi, e a recolheu em sua casa, e lhe foi por mulher”. 2 Samuel 11:19-27. Aquele, cuja delicada consciência e elevado senso de honra não lhe permitiram, mesmo em perigo de vida, estender sua mão contra o ungido do Senhor, caíra de tal maneira que pôde afrontar e assassinar um de seus soldados mais fiéis e valentes, e desfrutar, sem ser incomodado, a recompensa de seu pecado. Ai! como o ouro fino perdera o brilho! como se transformara o ouro finíssimo! PP 531.5

Desde o princípio Satanás pintou aos homens as vantagens a serem ganhas pela transgressão. Assim ele seduziu os anjos. Assim tentou Adão e Eva a pecar. E assim está ainda a afastar multidões da obediência a Deus. A senda da transgressão faz-se com que pareça desejável; “mas o fim deles são os caminhos da morte”. Provérbios 14:12. Felizes aqueles que, tendo-se arriscado a ir por este caminho, aprendem quão amargos são os frutos do pecado, e voltam em tempo. Deus, em Sua misericórdia, não deixou que Davi fosse atraído à ruína total pela sedutoras recompensas do pecado. PP 531.6

Por amor de Israel também, houve necessidade da intervenção de Deus. Passando-se o tempo, o pecado de Davi para com Bate-Seba se tornou conhecido, e despertou a suspeita de que ele projetara a morte de Urias. O Senhor foi desonrado. Ele tinha favorecido e exaltado a Davi, e o pecado deste representou falsamente o caráter de Deus, lançando ignomínia ao Seu nome. Tendia a abaixar a norma da piedade em Israel, e diminuir em muitos espíritos a aversão pelo pecado; ao mesmo tempo, os que não amavam nem temiam a Deus se tornaram por meio daquele pecado audazes na transgressão. PP 531.7

Ao profeta Natã foi ordenado levar uma mensagem de reprovação a Davi. Era uma mensagem terrível pela sua severidade. A poucos soberanos tal censura poderia ser feita, a não ser com o preço de morte certa a quem a fizesse. Natã transmitiu resolutamente a sentença divina, e, contudo, com tal sabedoria do alto, que captou a simpatia do rei, despertou-lhe a consciência e arrancou-lhe dos lábios a sentença de morte sobre si. Apelando para Davi como o guarda divinamente designado dos direitos de seu povo, o profeta referiu a história da falta e opressão que exigiam desagravo. PP 532.1

“Havia numa cidade dois homens”, disse ele, “um rico e outro pobre. O rico tinha muitíssimas ovelhas e vacas; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e ela tinha crescido com ele e com seus filhos igualmente; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha. E, vindo ao homem rico um viajante, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para guisar para o viajante que viera a ele, e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o homem que viera a ele.” PP 532.2

Despertou-se a ira do rei, e ele exclamou: “Vive o Senhor que digno de morte é o homem que fez isso. E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa, e porque não se compadeceu”. 2 Samuel 12:5, 6. PP 532.3

Natã fixou ao olhos no rei; então, levantando sua destra para o céu, declarou solenemente. “Tu és esse homem.” “Por que, pois”, continuou ele, “desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos?” Os criminosos podem, como fizera Davi, tentar esconder dos homens o seu crime; podem procurar sepultar a má ação, para sempre, longe das vistas ou do conhecimento humano; mas “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar”. Hebreus 4:13. “Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”. Mateus 10:26. PP 532.4

Natã declarou: “Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi sobre Israel, e Eu te livrei das mãos de Saul. [...] Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa. [...] Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo. [...] Porque tu o fizeste em oculto, mas Eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o Sol”. 2 Samuel 12:7-12. PP 532.5

A censura do profeta tocou o coração de Davi; despertou-lhe a consciência; seu crime apareceu em toda a sua enormidade. Sua alma curvou-se arrependida diante de Deus. Com lábios trêmulos ele disse: “Pequei contra o Senhor.” Todo o mal, feito a outrem, reflete do ofendido para Deus. Davi cometera um grave pecado, tanto para com Urias como para Bate-Seba, e intensamente o sentia. Mas infinitamente maior era seu pecado contra Deus. PP 533.1

Como não se encontrasse ninguém em Israel para executar a sentença de morte sobre o ungido do Senhor, Davi estremecia com o receio de que, estando em falta e não perdoado, fosse ele suprimido pelo rápido juízo de Deus. Mas foi-lhe enviada a mensagem pelo profeta: “Também o Senhor traspassou o teu pecado; não morrerás.” Todavia a justiça deveria ser mantida. A sentença de morte foi transferida de Davi à criança de seu pecado. Assim ao rei foi dada oportunidade para o arrependimento, conquanto para ele o sofrimento e morte da criança, como parte de seu castigo, foram muito mais amargos do que poderia ter sido sua própria morte. Disse o profeta: “Porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá”. 2 Samuel 12:13, 14. PP 533.2

Quando seu filho foi atacado pela doença, Davi, com jejum e profunda humilhação, rogou pela sua vida. Retirou as vestes reais, depôs a coroa, e noite após noite jazia prostrado em terra, intercedendo, com a dor de um coração quebrantado, pelo inocente que sofria por culpa dele. “Os anciãos da sua casa se levantaram e foram a ele, para o levantar da terra; porém, ele não quis”. 2 Samuel 12:17. Muitas vezes quando foram pronunciados juízos sobre pessoas ou cidades, a humilhação e o arrependimento desviaram o golpe, e Aquele que é sempre misericordioso, pronto a perdoar, enviara mensageiros de paz. Animado com este pensamento, Davi perseverou em sua súplica enquanto a criança foi poupada em vida. Sabendo que era morta, silenciosamente submeteu-se ao decreto de Deus. O primeiro golpe fora desferido, naquela retribuição que ele próprio declarara justa; mas Davi, confiando na misericórdia de Deus, não ficou sem consolação. PP 533.3

Muitíssimas pessoas, lendo a história da queda de Davi, têm perguntado: “Por que se faz público tal registro? Por que achou Deus conveniente patentear ao mundo este negro episódio da vida de quem fora tão grandemente honrado pelo Céu?” O profeta, em sua reprovação a Davi, declarou com relação ao seu pecado: “Com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem”. 2 Samuel 12:14. Através de gerações sucessivas, os incrédulos têm apontado para o caráter de Davi, que traz esta negra mancha, e exclamado com triunfo e escárnio: “Este é o homem segundo o coração de Deus!” Atos 13:22. Assim foi trazido opróbrio à religião, Deus e Sua Palavra foram blasfemados, muitos se endureceram na incredulidade, e outros, sob um manto de piedade, se tornaram audazes no pecado. PP 533.4

Mas a história de Davi não fornece defesa ao pecado. Era quando ele andava no conselho de Deus que era chamado homem segundo o coração de Deus. Pecando, isto cessou de ser verdade com relação a ele, até que pelo arrependimento voltasse ao Senhor. A Palavra de Deus compreensivelmente declara: “Esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor”. 2 Samuel 11:27. E o Senhor disse a Davi pelo profeta: “Por que, pois, desprezaste a Palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos? [...] Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto Me desprezaste”. 2 Samuel 12:9, 10. Embora Davi se arrependesse de seu pecado, e fosse perdoado e aceito pelo Senhor, colheu os resultados da semente que ele próprio semeara. Os juízos sobre ele e sua casa testificam da aversão de Deus ao pecado. PP 534.1

Até ali a providência de Deus tinha preservado a Davi contra todas as conspirações de seus inimigos, e fora diretamente exercida para restringir a Saul. A transgressão de Davi mudou, porém, sua relação para com Deus. O Senhor de nenhuma maneira podia sancionar a iniqüidade. Ele não podia exercer Seu poder para proteger a Davi dos resultados de seu pecado, como o protegera da inimizade de Saul. PP 534.2

Houve uma grande mudança no próprio Davi. Ele ficou quebrantado em espírito pela consciência de seu pecado, e de seus resultados, que teriam grande alcance. Sentiu-se humilhado aos olhos de seus súditos. Sua influência se enfraqueceu. Até ali sua prosperidade fora atribuída à sua conscienciosa obediência aos mandamentos do Senhor. Mas agora seus súditos, tendo conhecimento de seu pecado, seriam levados a pecar mais livremente. Sua autoridade em sua própria casa, o direito ao respeito e à obediência de seus filhos, enfraqueceram. Uma intuição de sua culpa conservava-o silencioso quando ele teria condenado o pecado; tornava fraco o seu braço para executar justiça em sua casa. Seu mau exemplo exerceu influência sobre seus filhos, e Deus não interviria para impedir o resultado. Ele permitiria que as coisas tomassem seu curso natural, e assim Davi foi severamente castigado. PP 534.3

Durante um ano inteiro após sua queda, Davi viveu em aparente segurança; não havia prova externa do desagrado de Deus. Mas a sentença divina pairava sobre ele. Rápida e certamente aproximava-se um dia de juízo e condenação, o qual nenhum arrependimento poderia desviar, de angústia e vergonha que entenebreceriam toda a sua vida terrestre. Aqueles que, apontando para o exemplo de Davi, procuram diminuir a culpa de seus próprios pecados, deveriam aprender do registro bíblico que duro é o caminho da transgressão. Embora, semelhantes a Davi, se desviem de sua má conduta, achar-se-á que os resultados do pecado, mesmo nesta vida, são amargos e duros para se suportarem. PP 534.4

Era intuito de Deus que a história da queda de Davi servisse como advertência de que mesmo os que Ele abençoou e favoreceu grandemente não se devem sentir livres de perigo, e negligenciar a vigilância e a oração. E isso tem feito esta história àqueles que humildemente têm procurado aprender a lição que Deus tencionava dar. De geração em geração, milhares têm sido levados a compenetrar-se do perigo que correm em virtude do poder do tentador. A queda de Davi, que foi tão grandemente honrado pelo Senhor, despertou neles desconfiança do próprio eu. Sentiram que apenas Deus os poderia guardar pelo Seu poder, mediante a fé. Sabendo que nEle estavam sua força e segurança, recearam dar o primeiro passo no terreno de Satanás. PP 535.1

Mesmo antes que a sentença divina fosse pronunciada contra Davi, começara ele a colher o fruto da transgressão. Sua consciência estava inquieta. A aflição de espírito que então suportava é apresentada no Salmo trinta e dois. Diz ele: PP 535.2

“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. PP 535.3

Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. PP 535.4

Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. PP 535.5

Porque de dia e de noite a Tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio”. Salmos 32:1-4. PP 535.6

E o Salmo cinqüenta e um é uma expressão do arrependimento de Davi, quando lhe veio de Deus a mensagem de reprovação: PP 535.7

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. PP 535.8

Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. [...] PP 535.9

Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. PP 535.10

Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que Tu quebraste. PP 535.11

Esconde a Tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades. PP 535.12

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. PP 535.13

Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo. PP 535.14

Torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. PP 535.15

Então ensinarei aos transgressores os Teus caminhos, e os pecadores a Ti se converterão. PP 535.16

Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a Tua justiça”. Salmos 51:1-14. PP 536.1

Dessa forma, em um cântico sagrado que havia de ser entoado nas assembléias públicas de seu povo, na presença da corte — sacerdotes e juízes, príncipes e homens de guerra — e que conservaria até a última geração o conhecimento de sua queda, relatou o rei de Israel o seu pecado, o seu arrependimento e sua esperança de perdão pela misericórdia de Deus. Em vez de se esforçar por ocultar seu crime, desejou que outros pudessem instruir-se pela triste história de sua queda. PP 536.2

O arrependimento de Davi foi sincero e profundo. Não houve esforço para atenuar seu delito. Nenhum desejo de escapar dos juízos ameaçados inspirou sua oração. Viu, porém, a enormidade de sua transgressão contra Deus; viu a contaminação de sua alma; repugnou-lhe seu pecado. Não era unicamente pelo perdão que ele orava, mas pela pureza de coração. Davi não abandonou a luta em desespero. Nas promessas de Deus aos pecadores arrependidos, via a prova de seu perdão e aceitação. PP 536.3

“Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. PP 536.4

Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”. Salmos 51:16, 17. PP 536.5

Embora Davi tivesse caído, o Senhor o levantou. Estava agora em mais completa harmonia com Deus e simpatia para com seus semelhantes, do que antes de cair. No júbilo de seu livramento, cantou: PP 536.6

“Confessei-Te o meu pecado, e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e Tu perdoaste a maldade do meu pecado. [...] Tu és o lugar em que me escondo; Tu me preservas da angústia; Tu me cinges de alegres cantos de livramento”. Salmos 32:5-7. PP 536.7

Muitos têm murmurado a respeito daquilo que chamam injustiça de Deus ao poupar Davi, cujo crime foi tão grande, após haver Ele rejeitado a Saul pelo que lhes parece ser pecados muito menos flagrantes. Mas Davi humilhou-se e confessou seu pecado, ao passo que Saul desprezou a reprovação, e endureceu o coração na impenitência. PP 536.8

Este período da história de Davi está repleto de significação para o pecador arrependido. É uma das ilustrações mais flagrantes que nos são dadas das lutas e tentações da humanidade, do arrependimento genuíno para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Durante todos os séculos, tem-se mostrado uma fonte de animação às almas que, tendo caído em pecado, achavam-se a lutar sob o fardo de sua culpa. Milhares de filhos de Deus, quando traídos pelo pecado e prontos a entregar-se ao desespero, têm-se lembrado como o arrependimento e confissão sincera de Davi foram aceitos por Deus, não obstante sofrer ele pela sua transgressão; e estes também se revestiram de coragem para arrepender-se, e procurar novamente andar no caminho dos mandamentos de Deus. PP 536.9

Quem quer que, sob a reprovação de Deus, humilhe a alma com confissão e arrependimento, como fez Davi, pode estar certo de que há esperança para ele. Quem quer que com fé aceite as promessas de Deus, encontrará perdão. O Senhor nunca lançará fora uma alma verdadeiramente arrependida. Ele fez esta promessa: “Apodere-se da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo”. Isaías 27:5. “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. Isaías 55:7. PP 537.1

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