O Menino Samuel


Dia 64 - Monday, 04 de March de 2024
Marcar como lido
22 min

Rute 1

Ouça o áudio do capítulo:

1 E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; por isso um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele e sua mulher, e seus dois filhos;

2 E era o nome deste homem Elimeleque, e o de sua mulher Noemi, e os de seus dois filhos Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali.

3 E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,

4 Os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o da outra Rute; e ficaram ali quase dez anos.

5 E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.

6 Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão.

7 Por isso saiu do lugar onde estivera, e as suas noras com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá,

8 Disse Noemi às suas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usastes com os falecidos e comigo.

9 O Senhor vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela, levantaram a sua voz e choraram.

10 E disseram-lhe: Certamente voltaremos contigo ao teu povo.

11 Porém Noemi disse: Voltai, minhas filhas. Por que iríeis comigo? Tenho eu ainda no meu ventre mais filhos, para que vos sejam por maridos?

12 Voltai, filhas minhas, ide-vos embora, que já mui velha sou para ter marido; ainda quando eu dissesse: Tenho esperança, ou ainda que esta noite tivesse marido e ainda tivesse filhos,

13 Esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Deter-vos-íeis por eles, sem tomardes marido? Não, filhas minhas, que mais amargo me é a mim do que a vós mesmas; porquanto a mão do Senhor se descarregou contra mim.

14 Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela.

15 Por isso disse Noemi: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses; volta tu também após tua cunhada.

16 Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;

17 Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.

18 Vendo Noemi, que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar.

19 Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?

20 Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso.

21 Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O Senhor testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal.

22 Assim Noemi voltou, e com ela Rute a moabita, sua nora, que veio dos campos de Moabe; e chegaram a Belém no princípio da colheita das cevadas.

Rute 2

Ouça o áudio do capítulo:

1 E tinha Noemi um parente de seu marido, homem valente e poderoso, da família de Elimeleque; e era o seu nome Boaz.

2 E Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele em cujos olhos eu achar graça. E ela disse: Vai, minha filha.

3 Foi, pois, e chegou, e apanhava espigas no campo após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da família de Elimeleque.

4 E eis que Boaz veio de Belém, e disse aos segadores: O Senhor seja convosco. E disseram-lhe eles: O Senhor te abençoe.

5 Depois disse Boaz a seu moço, que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça?

6 E respondeu o moço, que estava posto sobre os segadores, e disse: Esta é a moça moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe.

7 Disse-me ela: Deixa-me colher espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim ela veio, e desde pela manhã está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa.

8 Então disse Boaz a Rute: Ouve, filha minha; não vás colher em outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com as minhas moças.

9 Os teus olhos estarão atentos no campo que segarem, e irás após elas; não dei ordem aos moços, que não te molestem? Tendo tu sede, vai aos vasos, e bebe do que os moços tirarem.

10 Então ela caiu sobre o seu rosto, e se inclinou à terra; e disse-lhe: Por que achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?

11 E respondeu Boaz, e disse-lhe: Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido; e deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste.

12 O Senhor retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.

13 E disse ela: Ache eu graça em teus olhos, senhor meu, pois me consolaste, e falaste ao coração da tua serva, não sendo eu ainda como uma das tuas criadas.

14 E, sendo já hora de comer, disse-lhe Boaz: Achega-te aqui, e come do pão, e molha o teu bocado no vinagre. E ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu do trigo tostado, e comeu, e se fartou, e ainda lhe sobejou.

15 E, levantando-se ela a colher, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo: Até entre as gavelas deixai-a colher, e não a censureis.

16 E deixai cair alguns punhados, e deixai-os ficar, para que os colha, e não a repreendais.

17 E esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; e debulhou o que apanhou, e foi quase um efa de cevada.

18 E tomou-o, e veio à cidade; e viu sua sogra o que tinha apanhado; também tirou, e deu-lhe o que sobejara depois de fartar-se.

19 Então disse-lhe sua sogra: Onde colheste hoje, e onde trabalhaste? Bendito seja aquele que te reconheceu. E relatou à sua sogra com quem tinha trabalhado, e disse: O nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz.

20 Então Noemi disse à sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que ainda não tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Este homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos remidores.

21 E disse Rute, a moabita: Também ainda me disse: Com os moços que tenho te ajuntarás, até que acabem toda a sega que tenho.

22 E disse Noemi a sua nora: Melhor é, filha minha, que saias com as suas moças, para que noutro campo não te encontrem.

23 Assim, ajuntou-se com as moças de Boaz, para colher até que a sega das cevadas e dos trigos se acabou; e ficou com a sua sogra.

1 Samuel 1

Ouça o áudio do capítulo:

1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.

2 E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o da outra Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.

3 Subia, pois, este homem, da sua cidade, de ano em ano, a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos em Siló; e estavam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.

4 E sucedeu que no dia em que Elcana sacrificava, dava ele porções a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas.

5 Porém a Ana dava uma parte excelente; porque amava a Ana, embora o Senhor lhe tivesse cerrado a madre.

6 E a sua rival excessivamente a provocava, para a irritar; porque o Senhor lhe tinha cerrado a madre.

7 E assim fazia ele de ano em ano. Sempre que Ana subia à casa do Senhor, a outra a irritava; por isso chorava, e não comia.

8 Então Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?

9 Então Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor.

10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente.

11 E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.

12 E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca.

13 Porquanto Ana no seu coração falava; só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada.

14 E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.

15 Porém Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR.

16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora.

17 Então respondeu Eli: Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.

18 E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste.

19 E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o Senhor, e voltaram, e chegaram à sua casa, em Ramá, e Elcana conheceu a Ana sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.

20 E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e deu à luz um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.

21 E subiu aquele homem Elcana com toda a sua casa, a oferecer ao Senhor o sacrifício anual e a cumprir o seu voto.

22 Porém Ana não subiu; mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.

23 E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer aos teus olhos; fica até que o desmames; então somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e deu leite a seu filho, até que o desmamou.

24 E, havendo-o desmamado, tomou-o consigo, com três bezerros, e um efa de farinha, e um odre de vinho, e levou-o à casa do Senhor, em Siló, e era o menino ainda muito criança.

25 E degolaram um bezerro, e trouxeram o menino a Eli.

26 E disse ela: Ah, meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR.

27 Por este menino orava eu; e o Senhor atendeu à minha petição, que eu lhe tinha feito.

28 Por isso também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao Senhor foi pedido. E adorou ali ao Senhor.

Patriarcas e Profetas

O Menino Samuel

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em 1 Samuel 1; 2:1-11.

Elcana, levita do Monte Efraim, era homem de riqueza e influência, e um dos que amavam e temiam ao Senhor. Sua esposa, Ana, era mulher de piedade fervorosa. Meiga e humilde, distinguia-se o seu caráter por um grande ardor e fé elevada. PP 418.1

A bênção tão ansiosamente buscada por todo hebreu era negada a este bom casal; seu lar não se alegrava com vozes infantis; e o desejo de perpetuar seu nome levou o esposo — assim como já havia levado muitos outros — a contrair um segundo casamento. Mas este passo, motivado pela falta de fé em Deus, não trouxe felicidade. Filhos e filhas foram acrescentados à casa; mas a alegria e beleza da sagrada instituição de Deus foram mareadas, e interrompera-se a paz da família. Penina, a nova esposa, era ciumenta e dotada de espírito estreito, e conduzia-se com orgulho e insolência. Para Ana, parecia a esperança estar destruída, e ser a vida um fardo pesado; enfrentou, todavia, a prova com resignada mansidão. PP 418.2

Elcana observava fielmente as ordenanças de Deus. O culto em Siló ainda era mantido; mas, por causa de irregularidades no ministério, os serviços dele, Elcana, não eram exigidos no santuário, a que, sendo ele levita, deveria comparecer. Contudo subia com sua família para adorar e sacrificar, por ocasião das reuniões regulares. PP 418.3

Mesmo entre as solenidades sagradas ligadas ao serviço de Deus, intrometia-se o mau espírito que lhe infelicitara o lar. Depois de apresentarem as ofertas em ações de graças, toda a família, segundo o costume estabelecido, unia-se em uma festa solene mas prazenteira. Em tais ocasiões Elcana dava à mãe de seus filhos uma porção, para ela e para cada um dos filhos e filhas; e em sinal de atenção para com Ana dava-lhe porção dupla, significando que sua afeição por ela era a mesma como se ela tivesse um filho. Então a segunda esposa, ardendo em ciúmes, reclamava a preferência, como sendo ela altamente favorecida por Deus, e escarnecia de Ana em sua condição de mulher destituída de filhos como prova do desagrado do Senhor. Isto se repetia de ano em ano, até que Ana não mais o pôde suportar. Incapaz de ocultar sua mágoa, chorou sem constrangimento, e retirou-se da festa. Seu marido em vão a procurou consolar. “Por que choras? e por que não comes? e por que está mal o teu coração?” disse ele; “não te sou eu melhor do que dez filhos?” PP 418.4

Ana não proferiu censura alguma. O fardo que ela não podia repartir com amigo algum terrestre, lançou-o sobre Deus. Ansiosamente rogou que lhe tirasse a ignomínia, e lhe concedesse o precioso dom de um filho para o criar e educar para Ele. E fez um voto solene de que, se seu pedido fosse satisfeito, dedicaria o filho a Deus, mesmo desde o seu nascimento. Ana tinha-se aproximado da entrada do tabernáculo, e na angústia de seu espírito “orou, e chorou abundantemente”. Contudo, entretinha em silêncio comunhão com Deus, não proferindo nenhuma palavra. Naqueles tempos ruins, tais cenas de adoração eram raramente testemunhadas. Festins irreverentes, e mesmo embriaguez, eram coisas comuns, mesmo nas festas religiosas; e Eli, o sumo sacerdote, observando Ana, supôs que estivesse dominada pelo vinho. Julgando administrar uma repreensão merecida, disse com severidade: “Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.” PP 419.1

Condoída e surpresa, Ana respondeu brandamente: “Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido, porém tenho derramado a minha alma perante o Senhor. Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora.” PP 419.2

O sumo sacerdote ficou profundamente comovido, pois era homem de Deus; e em lugar de repreensão proferiu uma bênção: “Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a tua petição que Lhe pediste.” PP 419.3

A oração de Ana foi atendida; recebeu a dádiva que tão fervorosamente havia rogado. Olhando para o filho, chamou-o Samuel — “pedido a Deus”. 1 Samuel 1:8, 10, 14-16, 20. Logo que o pequeno teve idade suficiente para separar-se de sua mãe, ela cumpriu seu voto. Amava o filho com toda a devoção de um coração de mãe; dia após dia, observando suas faculdades que se expandiam, e ouvindo seu balbuciar infantil, cingia-o mais estreitamente em suas afeições. Era seu único filho, uma dádiva especial do Céu; mas recebera-o como um tesouro consagrado a Deus, e não queria privar o Doador daquilo que Lhe era próprio. PP 419.4

Mais uma vez Ana viajou com o esposo para Siló, e apresentou ao sacerdote, em nome de Deus, sua preciosa dádiva, dizendo: “Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a minha petição, que eu Lhe tinha pedido. Pelo que também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver”. 1 Samuel 1:27, 28. Eli ficou profundamente impressionado pela fé e devoção desta mulher de Israel. Ele próprio, pai por demais condescendente, ficou atemorizado e humilhado vendo o grande sacrifício desta mãe, separando-se de seu único filho, para que o pudesse dedicar ao serviço de Deus. Sentiu-se reprovado pelo seu amor egoísta, e com humilhação e reverência prostrou-se perante o Senhor e adorou. PP 419.5

O coração da mãe encheu-se de alegria e louvor, e ela almejava extravasar sua gratidão a Deus. O Espírito de inspiração lhe sobreveio; e orou Ana e disse: PP 419.6

“O meu coração exulta ao Senhor, o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na Tua salvação. PP 420.1

Não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti, e rocha nenhuma há como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de altíssimas altivezas, nem saiam coisas árduas da vossa boca; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por Ele são as obras pesadas na balança. [...] O Senhor é o que tira a vida, e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; PP 420.2

Abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da Terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos Seus Santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força. PP 420.3

Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará sobre eles. O Senhor julgará as extremidades da Terra; e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido”. 1 Samuel 2:1-3, 6-10. PP 420.4

As palavras de Ana eram proféticas, tanto a respeito de Davi, que reinaria como rei de Israel, como do Messias, o ungido do Senhor. Referindo-se a princípio à jactância de uma mulher insolente e contenciosa, aponta o cântico para a destruição dos inimigos de Deus, e o triunfo final do Seu povo remido. PP 420.5

De Siló, Ana voltou silenciosamente para o seu lar em Ramá, deixando o menino Samuel para ser educado para o serviço da casa de Deus, sob a instrução do sumo sacerdote. Desde o primeiro despontar da inteligência do filho ela lhe ensinara a amar e reverenciar a Deus, e a considerar-se como sendo do Senhor. Por meio de todas as coisas conhecidas que o cercavam, procurou ela elevar seus pensamentos ao Criador. Depois de separada de seu filho, a solicitude da fiel mãe não cessou. Cada dia ele era objeto de suas orações. Cada ano ela lhe fazia, com suas próprias mãos, uma túnica para o serviço; e, subindo com o esposo para adorar em Siló, dava ao menino esta lembrança de seu amor. Cada fibra da pequena veste era tecida com uma oração para que ele fosse puro, nobre e verdadeiro. Não pedia para o filho grandezas mundanas, mas rogava fervorosamente que ele pudesse alcançar aquela grandeza a que o Céu dá valor — que honrasse a Deus e abençoasse a seus semelhantes. PP 420.6

Que recompensa teve Ana! e que estímulo para a fidelidade é o seu exemplo! Há oportunidades de inestimável valor, interesses infinitamente preciosos, confiados a toda mãe. A humilde rotina dos deveres que as mulheres têm considerado como uma fastidiosa tarefa, deve ser encarada como obra grandiosa e nobre. É privilégio da mãe abençoar o mundo pela sua influência, e fazendo isto trará alegria a seu próprio coração. Ela pode fazer retas veredas para os pés de seus filhos, através de claridade e sombra, em direção às alturas gloriosas do Céu. Mas, unicamente quando procura em sua vida seguir os ensinos de Cristo, é que a mãe pode esperar formar o caráter de seus filhos segundo o modelo divino. O mundo está repleto de influências corruptoras. A moda e os costumes exercem forte poder sobre os jovens. Se a mãe falta em seu dever de instruir, guiar e restringir, os filhos naturalmente aceitarão o mal, e se desviarão do bem. Que toda mãe vá muitas vezes ao seu Salvador com a oração: “Ensina-nos o que faremos pela criança.” Atenda ela à instrução que Deus dá em Sua Palavra, e ser-lhe-á dada sabedoria conforme a necessitar. PP 420.7

“O mancebo Samuel ia crescendo, e fazia-se agradável, assim para com o Senhor como também para com os homens”. 1 Samuel 2:26. Se bem que a juventude de Samuel fosse passada no tabernáculo, dedicada ao culto de Deus, não se achava ele livre de influências más ou exemplos pecaminosos. Os filhos de Eli não temiam a Deus, nem honravam a seu pai; mas Samuel não procurava sua companhia nem seguia seus maus caminhos. Fazia esforço constante para tornar-se o que Deus queria que ele fosse. Este é o privilégio de todo jovem. Deus Se apraz mesmo quando as criancinhas se entregam ao Seu serviço. PP 421.1

Samuel fora posto sob os cuidados de Eli, e a beleza de seu caráter suscitou a afeição ardorosa do idoso sacerdote. Era amável, generoso, obediente e respeitoso. Eli, aflito pelo descaminho de seus filhos, obtinha descanso, consolo e bênção na presença daquele que estava sob seu encargo. Samuel era serviçal e afetivo, e nunca pai algum amou a seu filho mais ternamente do que Eli àquele jovem. Coisa singular era que, entre o magistrado principal da nação e a simples criança, existisse uma afeição tão ardorosa. Sobrevindo a Eli as debilidades próprias da idade, e enchendo-se ele de ansiedades e remorsos pelo procedimento dissoluto de seus filhos, voltou-se para Samuel em busca de consolo. PP 421.2

Não era costume entrarem os levitas para os seus serviços peculiares antes que tivessem vinte e cinco anos de idade; Samuel, porém, foi uma exceção a esta regra. Cada ano lhe eram confiados encargos de mais importância; e, quando ainda era criança, um éfode de linho foi posto sobre ele em sinal de sua consagração ao serviço do santuário. Jovem como era ao ser trazido para ministrar no tabernáculo, tinha Samuel mesmo então deveres a cumprir no serviço de Deus, conforme sua capacidade. Estes eram a princípio muito humildes, e nem sempre agradáveis; mas cumpria-os da melhor maneira que lhe permitia a habilidade, e com coração voluntário. Levava sua religião a todo dever da vida. Considerava-se servo de Deus, e o seu trabalho como o trabalho de Deus. Seus esforços eram aceitos, porque eram motivados pelo amor a Deus e por um desejo sincero de fazer a Sua vontade. Foi assim que Samuel se tornou cooperador do Senhor do Céu e da Terra. E Deus o habilitou a cumprir uma grande obra em favor de Israel. PP 421.3

Se as crianças fossem ensinadas a considerar a humilde rotina dos deveres diários como o caminho a elas indicado pelo Senhor, como uma escola na qual devem ser preparadas para a realização de um serviço fiel e eficiente, quão mais agradável e honroso lhes pareceria o seu trabalho! Cumprir todo dever como sendo ao Senhor, lança um encanto ao redor da mais humilde ocupação, ligando os obreiros na Terra com os seres santos que cumprem a vontade de Deus no Céu. PP 422.1

O bom êxito nesta vida, e no ganhar a vida futura, depende de uma atenção fiel e conscienciosa às coisas pequenas. Vê-se a perfeição nas menores das obras de Deus, não menos do que nas maiores. A mão que elevou os mundos no espaço é a mesma que fez com delicada perícia os lírios do campo. E assim como Deus é perfeito em Sua esfera de ação, devemos nós ser perfeitos na nossa. A estrutura simétrica de um caráter forte e belo baseia-se nos atos individuais do dever. E a fidelidade deve caracterizar nossa vida nos seus mínimos pormenores bem como nos máximos. A integridade nas pequenas coisas, a realização de pequenos atos de fidelidade e pequenas ações de bondade, alegrarão a senda da vida; e, quando terminar a nossa obra na Terra, verificar-se-á que cada um dos pequenos deveres fielmente cumpridos exerceu uma influência para o bem — influência esta que jamais poderá perecer. PP 422.2

A juventude de nossos tempos pode tornar-se tão preciosa à vista de Deus, como o foi a de Samuel. Mediante a fiel manutenção de sua integridade cristã, podem os jovens exercer forte influência na obra de reforma. Necessita-se de tais homens neste tempo. Deus tem uma obra para cada um deles. Jamais alcançaram os homens maiores resultados em favor de Deus e da humanidade do que os que podem ser conseguidos em nosso tempo por aqueles que forem fiéis ao encargo que Deus lhes confiou. PP 422.3

0% played
00:00