Cala-te, Aquieta-te


Dia 180 - Friday, 28 de June de 2024
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25 min

Jeremias 35

Ouça o áudio do capítulo:

1 A palavra que do SENHOR veio a Jeremias, nos dias de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá, dizendo:

2 Vai à casa dos recabitas, e fala com eles, e leva-os à casa do Senhor, a uma das câmaras e dá-lhes vinho a beber.

3 Então tomei a Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habazinias, e a seus irmãos, e a todos os seus filhos, e a toda a casa dos recabitas;

4 E os levei à casa do Senhor, à câmara dos filhos de Hanã, filho de Jigdalias, homem de Deus, que estava junto à câmara dos príncipes, que ficava sobre a câmara de Maaséias, filho de Salum, guarda do vestíbulo;

5 E pus diante dos filhos da casa dos recabitas taças cheias de vinho, e copos, e disse-lhes: Bebei vinho.

6 Porém eles disseram: Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos ordenou, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos;

7 Não edificareis casa, nem semeareis semente, nem plantareis vinha, nem a possuireis; mas habitareis em tendas todos os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a face da terra, em que vós andais peregrinando.

8 Obedecemos, pois, à voz de Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, em tudo quanto nos ordenou; de maneira que não bebemos vinho em todos os nossos dias, nem nós, nem nossas mulheres, nem nossos filhos, nem nossas filhas;

9 Nem edificamos casas para nossa habitação; nem temos vinha, nem campo, nem semente.

10 Mas habitamos em tendas, e assim obedecemos e fazemos conforme tudo quanto nos ordenou Jonadabe, nosso pai.

11 Sucedeu, porém, que, subindo Nabucodonosor, rei de babilônia, a esta terra, dissemos: Vinde, e vamo-nos a Jerusalém, por causa do exército dos caldeus, e por causa do exército dos sírios; e assim ficamos em Jerusalém.

12 Então veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo:

13 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Vai, e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Porventura nunca aceitareis instrução, para ouvirdes as minhas palavras? diz o Senhor.

14 As palavras de Jonadabe, filho de Recabe, que ordenou a seus filhos que não bebessem vinho, foram guardadas; pois não beberam até este dia, antes obedeceram o mandamento de seu pai; a mim, porém, que vos tenho falado, madrugando e falando, não me ouvistes.

15 E vos tenho enviado todos os meus servos, os profetas, madrugando, e insistindo, e dizendo: Convertei-vos, agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los; e assim ficareis na terra que vos dei a vós e a vossos pais; porém não inclinastes o vosso ouvido, nem me obedecestes a mim.

16 Visto que os filhos de Jonadabe, filho de Recabe, guardaram o mandamento de seu pai que ele lhes ordenou, mas este povo não me obedeceu,

17 Por isso assim diz o Senhor Deus dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre Judá, e sobre todos os moradores de Jerusalém, todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho falado, e não ouviram; e clamei a eles, e não responderam.

18 E à casa dos recabitas disse Jeremias: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Pois que obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, e guardastes todos os seus mandamentos, e fizestes conforme tudo quanto vos ordenou,

19 Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Nunca faltará homem a Jonadabe, filho de Recabe, que esteja na minha presença todos os dias.

Lucas 8:1-39

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele,

2 E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios;

3 E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens.

4 E, ajuntando-se uma grande multidão, e vindo de todas as cidades ter com ele, disse por parábola:

5 Um semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram;

6 E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade;

7 E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram;

8 E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

9 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta?

10 E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.

11 Esta é, pois, a parábola: A semente é a palavra de Deus;

12 E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo, e tira-lhes do coração a palavra, para que não se salvem, crendo;

13 E os que estão sobre pedra, estes são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas crêem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam;

14 E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo pordiante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição;

15 E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a palavra, a conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.

16 E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz.

17 Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz.

18 Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado.

19 E foram ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele, por causa da multidão.

20 E foi-lhe dito: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos, que querem ver-te.

21 Mas, respondendo ele, disse-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam.

22 E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: Passemos para o outro lado do lago. E partiram.

23 E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água, estando em perigo.

24 E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança.

25 E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?

26 E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galiléia.

27 E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demônios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.

28 E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com grande voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.

29 Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavamno preso, com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.

30 E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.

31 E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo.

32 E andava ali pastando no monte uma vara de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho.

33 E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago, e afogou-se.

34 E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.

35 E saíram a ver o que tinha acontecido, e vieram ter com Jesus. Acharam então o homem, de quem haviam saído os demônios, vestido, e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram.

36 E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado.

37 E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. E entrando ele no barco, voltou.

38 E aquele homem, de quem haviam saído os demônios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:

39 Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito.

O Desejado de Todas as Nações

Cala-te, Aquieta-te

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Mateus 8:23-34; Marcos 4:35-41; 5:1-20; Lucas 8:22-39.

Fora um dia farto de acontecimentos na vida de Jesus. Junto ao Mar da Galiléia, propusera Suas primeiras parábolas, por meio de ilustrações familiares, expondo novamente ao povo a natureza de Seu reino, e a maneira por que devia ser estabelecido. DTN 231.1

Comparara Ele Sua obra à do semeador; o desenvolvimento de Seu reino à semente da mostarda e ao efeito do fermento na medida de farinha. A grande separação final dos justos e os ímpios, descrevera-a nas parábolas do trigo e do joio e da rede de pescar. A inexcedível preciosidade das verdades que ensinava, tinha sido ilustrada pelo tesouro escondido e a pérola de grande preço, ao passo que, na parábola do pai de família, ensinara aos discípulos a maneira de trabalhar como representantes Seus. DTN 231.2

Todo o dia estivera Ele ensinando e curando; e, ao baixar a tarde, ainda as multidões se achavam aglomeradas ao Seu redor. Ajudara dia a dia a essas massas, mal Se detendo para tomar alimento ou ter algum repouso. A crítica perversa e as calúnias com que os fariseus constantemente O perseguiam, tornava-Lhe o trabalho muito mais árduo e fatigante; e agora, o fim do dia O encontrava tão extenuado, que decidiu buscar refúgio em algum lugar solitário, do outro lado do lago. DTN 231.3

A costa oriental de Genesaré não era desabitada, pois havia aldeias aqui e ali à margem do lago; era, no entanto, uma desolada região, em confronto com a parte ocidental. A população aí era mais de pagãos que de judeus, e tinha pouca comunicação com a Galiléia. Oferecia assim o retiro que Ele buscava, e convidando os discípulos, para lá Se dirigiu. DTN 231.4

Tendo despedido a multidão, tomaram-nO eles no barco mesmo “assim como estava”, e afastaram-se rapidamente. Não haviam, porém, de partir sós. Havia outros barquinhos de pesca ali por perto, na praia, os quais se encheram em breve de gente que seguiu a Jesus, ansiosa de vê-Lo e ouvi-Lo ainda. DTN 231.5

O Salvador desafogou-Se enfim do aperto da multidão e, vencido pela fadiga e a fome, deitou-se na popa do barco, adormecendo em seguida. A tarde fora calma e aprazível, e espelhava-se por todo o lago a tranqüilidade; de súbito, porém, sombrias nuvens cobriram o céu, o vento soprou rijo das gargantas das montanhas sobre a costa oriental, rebentando sobre o lago violenta tempestade. DTN 231.6

Pusera-se o Sol, e a escuridão da noite baixou por sobre o tormentoso mar. As ondas, furiosamente açoitadas pelos ululantes ventos, sacudiam com violência o barco dos discípulos, ameaçando submergi-lo. Aqueles intrépidos pescadores haviam passado a vida no lago, e guiado a salvo a embarcação em meio de muita tormenta; agora, porém, sua resistência e habilidade nada valiam. Achavam-se impotentes nas garras da tempestade, e sentiram desampará-los a esperança ao ver o barco a inundar-se. DTN 231.7

Absorvidos nos esforços de se salvar, haviam esquecido a presença de Jesus ali no barco. Enfim, vendo nulos os seus esforços, e nada menos que a morte diante de si, lembraram por ordem de quem haviam empreendido a travessia do lago. Jesus era sua única esperança. Em seu desamparo e desespero, exclamaram: “Mestre, Mestre!” Mas a densa treva O ocultava aos olhos deles. Suas vozes eram abafadas pelo rugido da tempestade, e nenhuma resposta se ouviu. A dúvida e o temor os assaltaram. Havê-los-ia Jesus abandonado? Seria Aquele que vencera a enfermidade e os demônios, e até mesmo a morte, impotente para ajudar os discípulos? Havê-los-ia acaso esquecido em sua aflição? DTN 232.1

E chamaram novamente, mas nenhuma resposta, a não ser o irado uivar do vento. Eis que o barco já vai a afundar. Um momento, e parece que serão tragados pelas revoltosas águas. DTN 232.2

De repente, o clarão de um relâmpago penetra as trevas, e vêem Jesus adormecido, imperturbado pelo tumulto. Surpreendidos, exclamaram em desespero: “Mestre, não se Te dá que pereçamos?” Marcos 4:38. Como pode Ele repousar assim tão serenamente, enquanto se encontram em perigo, lutando contra a morte? DTN 232.3

Seus gritos despertam Jesus. Ao vê-Lo à luz do relâmpago, notam-Lhe no rosto uma celeste paz; lêem-Lhe no olhar o esquecimento de Si mesmo, um terno amor e, corações voltados para Ele, exclamam: “Senhor, salva-nos, que perecemos.” DTN 232.4

Nunca soltou uma alma aquele brado em vão. Ao empunharem os discípulos os remos, tentando um último esforço, ergue-Se Jesus. Está em meio dos discípulos, enquanto a tempestade ruge, as ondas rebentam por sobre eles, e o relâmpago vem iluminar-Lhe o semblante. Ergue a mão, tantas vezes ocupada em atos de misericórdia, e diz ao irado mar: “Cala-te, aquieta-te”. Marcos 4:39. DTN 232.5

Cessa a tormenta. As ondas entram em repouso. As nuvens dispersam-se, e brilham as estrelas. O barco descansa sobre o mar sereno. Volvendo-se então para os discípulos, Jesus pergunta, magoado: “Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?” DTN 232.6

Os discípulos emudeceram. Nem mesmo Pedro tentou exprimir o assombro que lhe enchia o coração. Os barcos que partiram seguindo a Jesus, achavam-se no mesmo perigo que o dos discípulos. Terror e desespero apoderem-se dos tripulantes; a ordem de Jesus, porém, trouxera sossego à cena de tumulto. A fúria da tempestade levara os barcos a mais próxima vizinhança, e todos os que havia a bordo testemunharam o milagre. Na paz que se seguiu, foi esquecido o temor. O povo segredava entre si: “Que Homem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem?” DTN 232.7

Quando Jesus foi despertado para enfrentar a tempestade, estava em perfeita paz. Nenhum indício de temor na fisionomia ou olhar, pois receio algum havia em Seu coração. Contudo, não era na posse da força onipotente que Ele descansava. Não era como o “Senhor da Terra, do mar e do Céu” que repousava em sossego. Esse poder, depusera-o Ele, e diz: “Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma”. João 5:30. Confiava no poder de Seu Pai. Foi pela fé — no amor e cuidado de Deus — que Jesus repousou, e o poder que impôs silêncio à tempestade, foi o poder de Deus. DTN 233.1

Como Jesus descansou pela fé no cuidado do Pai, assim devemos repousar no de nosso Salvador. Houvessem os discípulos confiado nEle, e ter-se-iam conservado calmos. Seu temor, no tempo do perigo, revelava-lhes a incredulidade. Em seu esforço para se salvarem, esqueceram a Jesus; e foi apenas quando, desesperando de si mesmos, se voltaram para Ele, que os pôde socorrer. DTN 233.2

Quantas vezes se repete em nós a experiência dos discípulos Quando as tempestades das tentações se levantam, e fuzilam os terríveis relâmpagos, e as ondas se avolumam por sobre nossa cabeça, sozinhos combatemos contra a tormenta, esquecendo-nos de que existe Alguém que nos pode valer. Confiamos em nossa própria força até que nos foge a esperança, e vemo-nos quase a perecer. Lembramo-nos então de Jesus, e se O invocarmos para nos salvar, não o faremos em vão. Embora nos reprove magoado a incredulidade e a confiança em nós mesmos, nunca deixa de nos conceder o auxílio de que necessitamos. Seja em terra ou no mar, se, temos no coração o Salvador, nada há a temer. A fé viva no Redentor serena o mar da vida, e Ele nos guardará do perigo pela maneira que sabe ser a melhor. DTN 233.3

Outra lição espiritual há neste milagre de acalmar a tempestade. A vida de todo homem testifica da veracidade das palavras da Escritura: “Os ímpios são como o mar bravo, que se não pode aquietar. [...] Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz”. Isaías 57:20, 21. O pecado destruiu-nos a paz. E enquanto o eu não é subjugado, não podemos encontrar repouso. As paixões dominantes do coração, poder algum humano pode sujeitar. Somos aí tão impotentes, quanto os discípulos para acalmar a esbravejante tempestade. Mas Aquele que mandou aquietarem-se as ondas da Galiléia, proferiu para cada alma a palavra de paz. Por mais furiosa que seja a tormenta, os que para Jesus se volverem com o grito: “Senhor, salva-nos”, encontrarão livramento. Sua graça, que reconcilia a alma com Deus, acaba com a luta da paixão humana, e em Seu amor encontra paz o coração. “Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as ondas. Então se alegram com a bonança; e Ele assim os leva ao porto desejado”. Salmos 107:29, 30. “Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.” “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça repouso e segurança, para sempre”. Romanos 5:1; Isaías 32:17. DTN 233.4

De manhã cedo o Salvador e Seus companheiros chegaram à praia, e a luz do Sol nascente banhava a terra como bênção de paz. Mas assim que pisaram a terra, deparou-se-lhes uma cena ainda mais terrível que a fúria da tempestade. De um lugar oculto, entre os sepulcros, dois loucos avançaram sobre eles, como se os quisessem despedaçar. Pendiam-lhes pedaços de cadeias que haviam partido para fugir à prisão. Tinham a carne dilacerada e sangrando nos lugares em que se haviam ferido com pedras agudas. Brilhavam-lhes os olhos por entre os longos e emaranhados cabelos; como que se apagara neles a própria semelhança humana, pela presença dos demônios que os possuíam, parecendo mais feras que criaturas humanas. DTN 234.1

Os discípulos e seus companheiros fugiram aterrorizados; notaram, porém, depois, que Jesus não Se achava com eles, e voltaram em Sua procura. Encontrava-Se onde O tinham deixado. Aquele que acalmara a tempestade, que enfrentara anteriormente a Satanás, vencendo-o, não fugiu em presença desses demônios. Quando os homens, rangendo os dentes e espumando, dEle se aproximaram, Jesus ergueu a mão que acenara às ondas impondo silêncio, e os homens não se puderam aproximar mais. Quedaram furiosos, mas impotentes diante dEle. DTN 234.2

Ordenou com autoridade aos espíritos imundos que saíssem deles. Suas palavras penetraram no espírito entenebrecido dos desventurados. Percebiam, fracamente, estar ali Alguém capaz de salvá-los dos demônios atormentadores. Caíram aos pés do Salvador para O adorar; mas, ao abrirem-se-lhes os lábios para suplicar-Lhe a misericórdia, os demônios falaram por eles, gritando fortemente: “Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-Te que não me atormentes.” DTN 234.3

Jesus indagou: “Qual é o teu nome?” E a resposta foi: “Legião é o meu nome, porque somos muitos.” Servindo-se dos atormentados homens como meio de comunicação, rogaram a Jesus que os não enviasse para longe daquela região. Sobre uma montanha, não muito distante, pastava grande manada de porcos. Os demônios pediram que se lhes permitisse entrar nos mesmos, e Jesus o consentiu. Da manada subitamente se apoderou o pânico. Precipitaram-se loucamente penhasco abaixo e, incapaz de se deterem ao chegar à praia, imergiram no mar, ali perecendo. DTN 234.4

Enquanto isso, maravilhosa mudança se operara nos possessos. Fizera-se-lhes luz no cérebro. Brilharam-lhes os olhos de inteligência. A fisionomia, por tanto tempo mudada à semelhança de Satanás, tornara-se repentinamente branda, tranqüilas as ensangüentadas mãos, e louvaram alegremente a Deus por sua libertação. DTN 234.5

Dos penhascos, os guardadores dos porcos tudo presenciaram, e correram a contá-lo aos patrões e a todo o povo. Surpreendida e atemorizada, afluía toda a população ao encontro de Jesus. Os dois possessos haviam sido o terror da região. Ninguém se sentia seguro ao passar por onde estavam, pois avançavam em cima de todo viajante com fúria de demônios. Agora, esses homens achavam-se vestidos e em perfeito juízo, sentados junto de Jesus, ouvindo-Lhe as palavras e glorificando o nome dAquele que os curara. Mas o povo que testemunhou essa admirável cena não se regozijou. A perda dos porcos afigurava-se-lhes de maior importância que a libertação desses cativos de Satanás. DTN 235.1

Fora por misericórdia para com os donos desses animais, que Jesus permitira lhes sobreviesse o prejuízo. Achavam-se absorvidos em coisas terrestres, e não se importavam com os grandes interesses da vida espiritual. Cristo desejava quebrar o encanto da indiferença egoísta, a fim de Lhe poderem aceitar a graça. Mas o desgosto e a indignação pela perda temporal cegou-os à misericórdia do Salvador. DTN 235.2

A manifestação do poder sobrenatural despertou as superstições do povo, despertando-lhes os temores. Novas calamidades seguir-se-iam, se conservassem entre si esse Estranho. Suspeitaram de ruína econômica, e decidiram livrar-se de Sua presença. Os que atravessaram o lago com Jesus contaram tudo quanto sucedera na noite anterior; seu perigo na tempestade, e de como o vento e o mar se haviam aquietado. Suas palavras, porém, não produziram efeito. Aterrorizado, o povo aglomerava-se em volta de Jesus, pedindo-Lhe que Se afastasse deles, e concordou, tomando imediatamente o barco para a outra margem. DTN 235.3

O povo de Gergesa tinha diante de si o vivo testemunho do poder e misericórdia de Cristo. Viam os homens a quem fora restituída a razão; mas atemorizavam-se tanto com o risco para seus interesses terrestres, que Aquele que vencera perante seus olhos o príncipe das trevas foi tratado como intruso, e o Dom do Céu despedido de suas portas. Não temos a oportunidade de nos desviar da pessoa de Cristo como aconteceu aos gergesenos; há, porém, ainda muitos que Lhe recusam obedecer a palavra, por isso que a obediência representaria o sacrifício de algum interesse mundano. Para que Sua presença não ocasione perda financeira, rejeitam-Lhe muitos a graça e afugentam de si o Seu Espírito. DTN 235.4

Muito diverso, todavia, foi o sentimento dos restabelecidos endemoninhados. Desejavam a companhia de seu Libertador. Em Sua presença, sentiam-se seguros contra os demônios que lhes haviam atormentado a existência e arruinado a varonilidade. Quando Jesus ia para tomar o barco, mantiveram-se bem perto dEle, ajoelharam-se-Lhe aos pés, e rogaram que os deixasse estar sempre ao Seu lado, para que sempre O pudessem ouvir. Mas Jesus lhes mandou que fossem para casa e contassem quão grandes coisas o Senhor fizera por eles. DTN 235.5

Ali estava para eles uma obra a realizar — ir para um lar pagão, e contar as bênçãos que haviam recebido de Jesus. Foi-lhes duro separar-se do Salvador. Grandes dificuldades os rodeariam, por certo, no convívio com seus patrícios pagãos. E seu longo isolamento da sociedade parecia torná-los inaptos para a obra que Ele lhes indicara. Mas assim que Jesus lhes apontou o dever, prontificaram-se a cumpri-lo. Não somente à sua casa e aos vizinhos falaram acerca de Jesus; mas foram através de Decápolis, declarando por toda parte Seu poder de salvar, e descrevendo como os libertara dos demônios. Assim fazendo, era maior a bênção que recebiam do que se, para seu próprio benefício apenas houvessem permanecido em Sua presença. É em trabalhar para difundir as boas-novas de salvação, que somos levados para perto do Salvador. DTN 236.1

Os dois curados possessos foram os primeiros missionários enviados por Cristo a pregar o evangelho na região de Decápolis. Só por poucos momentos tinham esses homens tido o privilégio de escutar os ensinos de Cristo. Nem um dos sermões de Seus lábios lhes caíra jamais ao ouvido. Não podiam ensinar o povo, como os discípulos, que se achavam diariamente com Cristo, estavam no caso de fazer. Apresentavam, porém, em si mesmos o testemunho de que Jesus era o Messias. Podiam dizer o que sabiam; o que eles próprios tinham visto e ouvido, e experimentado do poder de Cristo. É o que a todo aquele cujo coração foi tocado pela graça de Deus, é dado fazer. João, o discípulo amado, escreveu: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida [...] o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos”. 1 João 1:1-3. Como testemunhas de Cristo, cumpre-nos dizer o que sabemos, o que nós mesmos temos visto e ouvido e sentido. Se estivemos a seguir a Jesus passo a passo, havemos de ter qualquer coisa bem positiva a contar acerca da maneira por que nos tem conduzido. Podemos dizer como Lhe temos provado as promessas e as achado fiéis. Podemos dar testemunho do que temos conhecido da graça de Cristo. É esse o testemunho que nosso Senhor pede de nós, e por falta do qual está o mundo a perecer. DTN 236.2

Embora o povo de Gergesa não houvesse recebido a Jesus, Ele não os abandonou às trevas que tinham preferido. Quando lhes pediram que Se afastasse deles, não Lhe tinham ouvido a palavra. Ignoravam o que estavam rejeitando. Portanto, Ele lhes tornou a enviar a luz, e por intermédio daqueles a quem não recusariam ouvir. DTN 236.3

Ocasionando a destruição dos porcos, era desígnio de Satanás desviar o povo do Salvador, e impedir a pregação do evangelho naquela região. Esse próprio acontecimento, no entanto, despertou todo o país como nenhuma outra coisa o poderia ter feito, atraindo a atenção para Cristo. Embora o próprio Salvador partisse, permaneceram os homens curados, como testemunhas de Seu poder. Os que haviam sido instrumentos do príncipe das trevas, tornaram-se condutos de luz, mensageiros do Filho de Deus. Os homens maravilhavam-se ao ouvir as assombrosas novas. Abriu-se naquela região uma porta ao evangelho. Quando Jesus voltou a Decápolis, o povo aglomerou-se ao Seu redor, e durante três dias, não somente os habitantes de uma cidade, mas milhares de toda a região circunvizinha, escutaram a mensagem da salvação. O próprio poder dos demônios está sob o domínio de nosso Salvador, e a operação do mal é sujeitada para o bem. DTN 236.4

O encontro com os endemoninhados de Gergesa foi uma lição para os discípulos. Mostrou as profundezas de degradação a que Satanás está procurando arrastar toda a raça humana e a missão de Cristo, de libertar os homens de seu poder. Aqueles míseros seres, habitando entre os sepulcros, possuídos de demônios, escravizados a desenfreadas paixões e repugnantes concupiscências, representam o que se tornaria a humanidade se fosse abandonada à jurisdição de Satanás. A influência de Satanás é constantemente exercida sobre os homens para perturbar os sentidos, dominar a mente para o mal, incitar à violência e ao crime. Enfraquece o corpo, obscurece o intelecto e corrompe a alma. Sempre que os homens rejeitam o convite do Salvador, estão-se entregando a Satanás. Em todos os estados da vida — no lar, nos negócios e mesmo na igreja — há multidões fazendo assim hoje em dia. É por isso que a violência e o crime se têm alastrado na Terra, e a treva moral, como um sudário, envolve a habitação dos homens. Por meio de suas sedutoras tentações, o maligno conduz os homens a males cada vez piores, até que o resultado seja a depravação e a ruína. A única salvaguarda contra seu poder encontra-se na presença de Jesus. Em face dos homens e dos anjos, foi Satanás revelado como inimigo e destruidor da humanidade; Cristo, como seu amigo e libertador. Seu Espírito desenvolverá no homem tudo quanto enobreça o caráter e dignifique a natureza. Ele edificará o homem para a glória de Deus, tanto no corpo, como na alma e no espírito. “Pois Deus não vos deu o espírito de timidez, mas de força, de amor, e de prudência”. 2 Timóteo 1:7. Ele nos chamou para alcançarmos “a glória” — o caráter — “de nosso Senhor Jesus Cristo”; chamou-nos para ser “conformes à imagem de Seu Filho”. 2 Tessalonicenses 2:14; Romanos 8:29. DTN 237.1

E pessoas que têm sido degradadas a instrumentos de Satanás, são ainda, mediante o poder de Cristo, transformadas em mensageiras da justiça, e enviadas pelo Filho de Deus a contar quão “grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti”. DTN 237.2

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