A Voz do Deserto
- Lucas 1
- Mateus 3:1-12
Lucas 1
Ouça o áudio do capítulo:
1 Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde oprincípio, e foram ministros da palavra,
3 Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio;
4 Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.
5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel.
6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma,
9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso.
10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso.
11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.
13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.
14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento,
15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus,
17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.
20 E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir.
21 E o povo estava esperando a Zacarias, e maravilhava-se de que tanto se demorasse no templo.
22 E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visão no templo. E falava por acenos, e ficou mudo.
23 E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa.
24 E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo:
25 Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens.
26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29 E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta.
30 Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus.
31 E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai;
33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?
35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;
37 Porque para Deus nada é impossível.
38 Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.
39 E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá,
40 E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.
41 E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.
42 E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
43 E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
44 Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
45 Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.
46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,
47 E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
48 Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
49 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.
51 Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos no pensamento de seus corações.
52 Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.
53 Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos.
54 Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia;
55 Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
56 E Maria ficou com ela quase três meses, e depois voltou para sua casa.
57 E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
58 E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
59 E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.
60 E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado João.
61 E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
62 E perguntaram por acenos ao pai como queria que lhe chamassem.
63 E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam.
64 E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
65 E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas.
66 E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele.
67 E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo:
68 Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo,
69 E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo.
70 Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo;
71 Para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam;
72 Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança,
73 E do juramento que jurou a Abraão nosso pai,
74 De conceder-nos que, Libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor,
75 Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida.
76 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77 Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados;
78 Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;
79 Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
80 E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.
Mateus 3:1-12
Ouça o áudio do capítulo:
1 E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia,
2 E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.
3 Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse:Voz do que clama no deserto:Preparai o caminho do Senhor,Endireitai as suas veredas.
4 E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.
5 Então ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão;
6 E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.
7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;
9 E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.
10 E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.
11 E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.
12 Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.
O Desejado de Todas as Nações
A Voz do Deserto
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Este capítulo é baseado em Lucas 1:5-23, 57-80; 3:1-18; Marcos 1:1-8.
Lucas 1:5-23, 57-80; 3:1-18
5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel.
6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma,
9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso.
10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso.
11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.
13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.
14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento,
15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus,
17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.
20 E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir.
21 E o povo estava esperando a Zacarias, e maravilhava-se de que tanto se demorasse no templo.
22 E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visão no templo. E falava por acenos, e ficou mudo.
23 E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa.
57 E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
58 E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
59 E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.
60 E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado João.
61 E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
62 E perguntaram por acenos ao pai como queria que lhe chamassem.
63 E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam.
64 E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
65 E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas.
66 E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele.
67 E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo:
68 Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo,
69 E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo.
70 Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo;
71 Para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam;
72 Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança,
73 E do juramento que jurou a Abraão nosso pai,
74 De conceder-nos que, Libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor,
75 Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida.
76 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77 Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados;
78 Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;
79 Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
80 E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.
1 E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene,
2 Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.
3 E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;
4 Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas.
5 Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão;
6 E toda a carne verá a salvação de Deus.
7 Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.
9 E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.
10 E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
11 E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.
12 E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13 E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.
14 E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.
15 E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo,
16 Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
17 Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.
18 E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.
Marcos 1:1-8
1 Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus;
2 Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti.
3 Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.
4 Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados.
5 E toda a província da Judéia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
6 E João andava vestido de pêlos de camelo, e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre.
7 E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas alparcas.
8 Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
Dentre os fiéis de Israel, que desde longo tempo esperavam a vinda do Messias, surgiu o precursor de Cristo. O idoso sacerdote Zacarias e Sua esposa Isabel eram “ambos justos perante Deus”; (Lucas 1:6) e em sua vida tranqüila e santa, brilhava a luz da fé como uma estrela entre as trevas daqueles dias maus. A esse piedoso par foi dada a promessa de um filho, o qual havia de “ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos”. Lucas 1:76. DTN 57.1
Lucas 1:6
6 E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
Lucas 1:76
76 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
Zacarias habitava nas “montanhas da Judéia”, mas fora a Jerusalém, para ministrar por uma semana no templo, serviço requerido duas vezes por ano dos sacerdotes de todas as turmas. “E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem de sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer incenso”. Lucas 1:8, 9. DTN 57.2
Lucas 1:8, 9
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma,
9 Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso.
Achava-se ele diante do altar de ouro, no lugar santo do santuário. A nuvem de incenso ascendia perante Deus, com as orações de Israel. Súbito, sentiu-se consciente da presença divina. Um anjo do Senhor achava-se “em pé, à direita do altar do incenso”. Lucas 1:11. A posição do anjo era uma indicação de favor, mas Zacarias não reparou nisso. Por muitos anos orara pela vinda do Redentor; agora o Céu enviara seu mensageiro para anunciar que essas orações estavam prestes a ser atendidas; a misericórdia de Deus, porém, parecia-lhe demasiadamente grande para ele acreditar. Encheu-se de temor e condenação própria. DTN 57.3
Lucas 1:11
11 E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso.
Foi, no entanto, saudado com a alegre promessa: “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; e terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento. Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo. [...] E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá adiante dEle no espírito de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos; com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois já sou velho, e minha mulher avançada em idade”. Lucas 1:13-18. DTN 57.4
Lucas 1:13-18
13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João.
14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento,
15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus,
17 E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
18 Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade.
Zacarias bem sabia como fora dado a Abraão um filho em sua velhice, porque ele crera fiel Aquele que prometera. Por um momento, porém, o velho sacerdote volvera os pensamentos para a fraqueza da humanidade. Esqueceu-se de que Deus é capaz de cumprir aquilo que promete. Que contraste entre essa incredulidade, e a fé simples e infantil de Maria, a donzela de Nazaré, cuja resposta ao maravilhoso anúncio do anjo, foi: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Lucas 1:38. DTN 57.5
Lucas 1:38
38 Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.
O nascimento de um filho a Zacarias, como o do filho de Abraão, e o de Maria, visava ensinar uma grande verdade espiritual, verdade que somos tardios em aprender e prontos a esquecer. Somos por nós mesmos incapazes de fazer qualquer bem; mas o que não somos capazes de fazer, o poder de Deus há de operar em toda pessoa submissa e crente. Por meio da fé foi dado o filho da promessa. Mediante a fé é gerada a vida espiritual, e somos habilitados a realizar as obras da justiça. DTN 58.1
À pergunta de Zacarias, disse o anjo: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas”. Lucas 1:19. Quinhentos anos antes, Gabriel dera a conhecer a Daniel o período profético que se devia estender até à vinda de Cristo. O conhecimento de que o fim desse período estava próximo, movera a Zacarias a orar pelo advento do Redentor. Agora, o próprio mensageiro por meio de quem a profecia fora dada, viera anunciar o seu cumprimento. DTN 58.2
Lucas 1:19
19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas.
As palavras do anjo: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus”, mostram que ocupa posição de elevada honra, nas cortes celestiais. Quando viera com uma mensagem para Daniel, dissera: “Ninguém há que se esforce comigo contra aqueles, a não ser Miguel [Cristo], vosso príncipe”. Daniel 10:21. De Gabriel, diz o Salvador em Apocalipse: “Pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a João Seu servo”. Apocalipse 1:1. E a João o anjo declarou: “Eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas”. Apocalipse 22:9. Maravilhoso pensamento — que o anjo que ocupa, em honra, o lugar logo abaixo do Filho de Deus, é o escolhido para revelar os desígnios de Deus a homens pecadores. DTN 58.3
Daniel 10:21
21 Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso príncipe.
Apocalipse 1:1
1 Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo;
Apocalipse 22:9
9 E disse-me: Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus.
Zacarias exprimira dúvida quanto às palavras do anjo. Não falaria outra vez enquanto elas não se cumprissem. “Eis”, disse o anjo, “que ficarás mudo [...] até ao dia em que estas coisas aconteçam”. Lucas 1:20. Era dever do sacerdote, nesse serviço, orar pelo perdão dos pecados públicos e nacionais, e pela vinda do Messias; quando, porém, Zacarias tentou fazer isso, não podia emitir uma palavra. DTN 58.4
Lucas 1:20
20 E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a seu tempo se hão de cumprir.
Saindo para abençoar o povo, “falava por acenos, e ficou mudo”. Haviam-no esperado muito, e começado a temer que houvesse sido ferido pelo juízo de Deus. Mas ao sair do lugar santo, seu rosto resplandecia com a glória de Deus, “e entenderam que tinha visto alguma visão no templo”. Zacarias comunicou-lhes o que vira e ouvira; e “terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa”. Lucas 1:22, 23. DTN 58.5
Lucas 1:22, 23
22 E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que tinha tido uma visão no templo. E falava por acenos, e ficou mudo.
23 E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa.
Pouco depois do nascimento da prometida criança, a língua do pai se desprendeu, “e falava, louvando a Deus. E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas. E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações dizendo: Quem será pois esse menino?” Lucas 1:64-66. Tudo isso tendia a chamar a atenção para a vinda do Messias, ao qual João devia preparar o caminho. DTN 58.6
Lucas 1:64-66
64 E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
65 E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas.
66 E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele.
O Espírito Santo repousou sobre Zacarias, e ele profetizou, por estas belas palavras, a missão de seu filho: DTN 59.1
“E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos; para dar ao Seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados; pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o Oriente do alto nos visitou; para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra de morte; a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz”. Lucas 1:76-79. DTN 59.2
Lucas 1:76-79
76 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77 Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados;
78 Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;
79 Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
“E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel”. Lucas 1:80. Antes do nascimento de João, o anjo dissera: “Será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo”. Lucas 1:15. Deus chamara o filho de Zacarias para uma grande obra, a maior já confiada a homens. A fim de cumprir essa obra, precisava de que o Senhor com ele cooperasse. E o Espírito de Deus seria com ele, caso desse ouvidos às instruções do anjo. DTN 59.3
Lucas 1:80
80 E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.
Lucas 1:15
15 Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
João devia ir como mensageiro de Jeová, para levar aos homens a luz de Deus. Devia imprimir-lhes nova direção aos pensamentos. Devia impressioná-los com a santidade dos reclamos divinos, e sua necessidade da perfeita justiça de Deus. Esse mensageiro tem que ser santo. Precisa ser um templo para a presença do Espírito de Deus. A fim de cumprir sua missão, deve ter sã constituição física, bem como resistência mental e espiritual. Era, portanto, necessário que regesse os apetites e paixões. Deveria ser por forma tal capaz de dominar suas faculdades, que pudesse estar entre os homens, tão inabalável ante as circunstâncias ambientes, como as rochas e montanhas do deserto. DTN 59.4
Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e o amor do luxo e da ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais, e insensibilizando ao pecado. João devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época. Daí as instruções dadas aos pais de João — uma lição de temperança dada por um anjo do trono do Céu. DTN 59.5
Na infância e mocidade, o caráter é extremamente impressionável. Deve ser adquirido então o domínio próprio. Exercem-se, no círculo de família, ao redor da mesa, influências cujos resultados são duradouros como a eternidade. Acima de quaisquer dotes naturais, os hábitos estabelecidos nos primeiros anos decidem se a pessoa será vitoriosa ou vencida na batalha da vida. A juventude é o tempo da semeadura. Determina o caráter da colheita, para esta vida e para a outra. DTN 59.6
Como profeta, João devia “converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes às prudência dos justos; com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto”. Preparando o caminho para o primeiro advento de Cristo, era representante dos que têm que preparar um povo para a segunda vinda de nosso Senhor. O mundo está entregue à condescendência com as próprias inclinações. Está cheio de erros e fábulas. Multiplicam-se os ardis de Satanás para a destruição. Todos quantos querem aperfeiçoar a santidade no temor de Deus, têm que aprender as lições da temperança e do domínio próprio. Os apetites e paixões devem ser mantidos em sujeição às mais elevadas faculdades do espírito. Esta autodisciplina é essencial àquela resistência mental e visão espiritual que nos habilitarão para compreender e praticar as sagradas verdades da Palavra de Deus. É por esta razão que a temperança tem seu lugar na obra de preparação para a segunda vinda de Cristo. DTN 60.1
Segundo a ordem natural, o filho de Zacarias teria sido educado para o sacerdócio. A educação das escolas dos rabis, no entanto, tê-lo-ia incapacitado para sua obra. Deus não o mandou aos mestres de teologia para aprender a interpretar as Escrituras. Chamou-o ao deserto, a fim de aprender acerca da natureza, e do Deus da natureza. DTN 60.2
Foi numa região isolada que encontrou seu lar, em meio de despidas colinas, ásperos barrancos e cavernas das rochas. Preferiu, porém, renunciar às diversões e luxos da vida pela rigorosa disciplina do deserto. Ali, o ambiente era propício aos hábitos de simplicidade e abnegação. Não perturbado pela agitação do mundo, poderia estudar as lições da natureza, da revelação e da Providência. As palavras do anjo a Zacarias haviam sido muitas vezes repetidas a João por seus piedosos pais. Desde a infância fora-lhe conservada diante dos olhos a missão a ele confiada e aceitara o sagrado depósito. Para ele, a solidão do deserto era um convidativo lugar de escape da sociedade quase geralmente contaminada de suspeita, incredulidade e impureza. Desconfiava de suas forças para resistir à tentação, e fugia do constante contato com o pecado, não viesse a perder o sentimento de sua inexcedível culpabilidade. DTN 60.3
Dedicado a Deus como nazireu desde o nascimento, fez por si mesmo o voto de uma consagração de toda a vida. Vestia-se como os antigos profetas, duma túnica de pêlo de camelo, presa por um cinto de couro. Comia “gafanhotos e mel silvestre”, achados no deserto, e bebia a água pura que vinha das montanhas. DTN 60.4
A vida de João não era, entretanto, passada em ociosidade, em ascética tristeza, em isolamento egoísta. Ia de tempos a tempos misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes chegar ao coração com a mensagem do Céu. Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava preparar-se para a obra de sua vida. Se bem que habitando no deserto, não estava livre de tentações. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder. DTN 60.5
João encontrou no deserto sua escola e santuário. Qual Moisés entre as montanhas de Midiã, era circundado da presença de Deus, e das demonstrações de Seu poder. Não teve, como o grande líder de Israel, a sorte de habitar entre a solene majestade da solidão das montanhas; achavam-se, porém, diante dele as alturas de Moabe, além do Jordão, a falar-lhe dAquele que firmara os montes, cingindo-os de fortaleza. O triste e terrível aspecto da natureza no deserto em que morava, pintava vivamente o estado de Israel. A frutífera vinha do Senhor, tornara-se em desolada ruína. Sobre o deserto, no entanto, curvava-se o céu luminoso e belo. As nuvens que se acumulavam, com o negror da tempestade, eram aureoladas pelo arco-íris da promessa. Assim, por sobre a degradação de Israel, brilhava a prometida glória do reino do Messias. As nuvens da ira eram emparelhadas pelo arco-íris do Seu misericordioso concerto. DTN 61.1
Sozinho, no silêncio da noite, lia a promessa feita por Deus a Abraão, de uma semente tão inumerável como as estrelas. A luz da aurora, dourando as montanhas de Moabe, falava-lhe dAquele que havia de ser “como a luz da manhã quando sai o Sol, da manhã sem nuvens”. 2 Samuel 23:4. E no brilho do meio-dia via o esplendor de Sua revelação, quando “a glória do Senhor” se manifestar, “e toda carne juntamente” a vir. Isaías 40:5. DTN 61.2
2 Samuel 23:4
4 E será como a luz da manhã, quando sai o sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra.
Isaías 40:5
5 E a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse.
Num misto de respeito e regozijo, examinava nos rolos dos profetas as revelações da vinda do Messias — a Semente prometida que haveria de esmagar a cabeça da serpente; Siló, “o doador da paz”, que deveria aparecer antes de um rei deixar de reinar sobre o trono de Davi. Agora chegara o tempo. No palácio do monte de Sião senta-se um governador romano. Segundo a firme palavra do Senhor, o Cristo já nascera. DTN 61.3
As arrebatadas descrições da glória do Redentor por Isaías, eram dia e noite objeto de estudo de sua parte — o Rebento do tronco de Jessé; um Rei que reinará em justiça, julgando “com eqüidade os mansos da Terra” (Isaías 11:4); “um refúgio contra a tempestade, [...] a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” (Isaías 32:2); Israel não mais sendo chamado “Desamparada”, nem sua terra “Assolada”, mas chamado pelo Senhor “o Meu Prazer”, e Sua terra “Desposada”. Isaías 62:4. O coração do solitário exilado enchia-se de gloriosa visão. DTN 61.4
Isaías 11:4
4 Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com eqüidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio,
Isaías 32:2
2 E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta.
Isaías 62:4
4 Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: O meu prazer está nela, e à tua terra: A casada; porque o Senhor se agrada de ti, e a tua terra se casará.
Contemplou o Rei em Sua beleza, e o próprio eu foi esquecido. Via a majestade da santidade, e sentiu-se ineficiente e indigno. Estava disposto a ir como mensageiro do Céu, não atemorizado pelo humano, pois contemplara o Divino. Podia ficar ereto e destemido em presença de governantes terrestres, porque se prostrara diante do Rei dos reis. DTN 62.1
João não compreendia plenamente a natureza do reino do Messias. Esperava que Israel fosse libertado de seus inimigos nacionais; mas a vinda de um Rei em justiça, e o estabelecimento de Israel como nação santa, era o grande objetivo de sua esperança. Assim acreditava se viesse a cumprir a profecia dada em seu nascimento. “Para [...] lembrar-Se do Seu santo concerto, [...] Que, libertados da mão de nossos inimigos, O serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante Ele, todos os dias de nossa vida”. DTN 62.2
Via seu povo enganado, satisfeito consigo mesmo e adormecido em pecados. Anelava despertá-los para vida mais santa. A mensagem que Deus lhe dera, destinava-se a acordá-los da letargia, e fazê-los tremer por sua grande iniqüidade. Antes de a semente do evangelho poder encontrar guarida, o solo do coração deveria ser revolvido. Antes de lhes ser possível buscar cura em Jesus, precisavam ser despertados para o perigo que corriam em razão das feridas do pecado. DTN 62.3
Deus não manda mensageiros para lisonjear o pecador. Não transmite mensagem de paz para embalar os não santificados numa segurança fatal. Depõe pesados fardos sobre a consciência do malfeitor, e penetra o coração com as setas da convicção. Os anjos ministradores apresentam-lhe os terríveis juízos de Deus para aprofundar o sentimento da necessidade, e instigar ao brado: “Que devo fazer para me salvar?” Então a mão que humilhou até o pó, ergue o penitente. A voz que repreendeu o pecado, e expôs à vergonha o orgulho e a ambição, indaga com a mais terna simpatia: “Que queres que te faça?” DTN 62.4
Ao começar o ministério do Batista, a nação achava-se em estado de agitação e descontentamento próximos da revolta. Com a remoção de Arquelau, a Judéia fora posta sob o domínio de Roma. A tirania e extorsão dos governadores romanos, e seus decididos esforços para introduzir símbolos e costumes gentílicos, atearam a revolta, extinta com sangue de milhares dos mais valorosos de Israel. Tudo isso intensificara o ódio nacional contra Roma, e aumentara os anseios de libertação de seu poder. DTN 62.5
Entre a discórdia e o conflito, ouviu-se uma voz do deserto, voz vibrante e severa, sim, mas plena de esperança: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus”. Com novo e estranho poder sacudia o povo. Os profetas haviam predito a vinda de Cristo como um acontecimento que se achava em futuro muito distante, mas eis ali o aviso de que estava às portas. O singular aspecto de João fazia a mente dos ouvintes reportar-se aos antigos videntes. Nas maneiras e no vestuário, assemelhava-se ao profeta Elias. Com o espírito e poder deste, denunciava a corrupção nacional, e repreendia os pecados dominantes. Suas palavras eram claras, incisivas, convincentes. Muitos acreditavam que fosse um dos profetas ressuscitado. Toda a nação se comoveu. Multidões afluíam ao deserto. DTN 62.6
João proclamava a vinda do Messias, e chamava o povo ao arrependimento. Como símbolo da purificação do pecado, batizava-os nas águas do Jordão. Assim, por uma significativa lição prática, declarava que os que pretendiam ser o povo escolhido de Deus estavam contaminados pelo pecado, e sem purificação de coração e vida, não poderiam ter parte no reino do Messias. DTN 63.1
Príncipes e rabis, soldados, publicanos e camponeses iam ouvir o profeta. Alarmou-os por algum tempo a solene advertência de Deus. Muitos foram levados ao arrependimento, e receberam o batismo. Pessoas de todas as categorias submeteram-se às exigências do Batista, a fim de participar do reino que anunciava. DTN 63.2
Muitos dos escribas e fariseus foram ter com ele, confessando os pecados e pedindo o batismo. Haviam-se exaltado como sendo melhores que os outros homens, levando o povo a ter alta opinião acerca de sua piedade; agora, os criminosos segredos de sua vida eram revelados. Mas João foi impressionado pelo Espírito Santo quando a não terem, muitos desses homens, real convicção do pecado. Eram oportunistas. Esperavam, como amigos do profeta, obter favor diante do Príncipe que haveria de vir. E, recebendo o batismo das mãos desse popular e jovem mestre, pensava fortalecer sua influência para com o povo. DTN 63.3
João os enfrentou com a fulminante pergunta: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi pois frutos dignos de arrependimento; e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão”. Mateus 3:7-9. DTN 63.4
Mateus 3:7-9
7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;
9 E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Os judeus haviam compreendido mal a promessa de Deus, de dispensar para sempre Seu favor a Israel: “Assim diz o Senhor, que dá o Sol para luz do dia, e as ordenanças da Lua e das estrelas para luz da noite, que fende o mar, e faz bramir as suas ondas; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome. Se se desviarem essas ordenanças de diante de Mim, diz o Senhor, deixará também a semente de Israel de ser uma nação diante de Mim para sempre. Assim disse o Senhor: Se puderem ser medidos os céus para cima, e sondados os fundamentos da Terra para baixo, também Eu rejeitarei toda a semente de Israel por tudo quanto fizeram, diz o Senhor”. Jeremias 31:35-37. Os judeus olhavam a sua descendência natural de Abraão, como lhes dando direito a esta promessa. Deixavam de atender, porém, às condições que Deus estipulara. Antes de dar a promessa dissera: “Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração, e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. [...] Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados”. Jeremias 31:33, 34. DTN 63.5
Jeremias 31:35-37
35 Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, e as ordenanças da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, bramando as suas ondas; o Senhor dos Exércitos é o seu nome.
36 Se falharem estas ordenanças de diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.
37 Assim disse o Senhor: Se puderem ser medidos os céus lá em cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o Senhor.
Jeremias 31:33, 34
33 Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
34 E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.
A um povo em cujo coração Sua lei está escrita, é assegurado o favor de Deus. São um com Deus. Mas os judeus se haviam dEle separado. Em razão de seus pecados, estavam sofrendo sob Seus juízos. Era essa a causa de estarem escravizados a uma nação pagã. O espírito deles estava obscurecido pela transgressão, e por lhes haver o Senhor em tempos anteriores mostrado tão grande favor, desculpavam seus pecados. Lisonjeavam-se de ser melhores que os outros homens, e merecedores de Suas bênçãos. DTN 64.1
Estas coisas “estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. 1 Coríntios 10:11. Quantas vezes interpretamos mal as bênçãos de Deus, e nos lisonjeamos de ser favorecidos em virtude de alguma bondade que haja em nós! Deus não pode fazer por nós aquilo que almeja. Seus dons, empregamo-los para nos aumentar a satisfação pessoal, e nos endurecer o coração em incredulidade e pecado. DTN 64.2
1 Coríntios 10:11
11 Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.
João declarava aos mestres de Israel que seu orgulho, egoísmo e crueldade demonstravam serem eles uma raça de víboras, uma terrível maldição para o povo, em vez de filhos do justo e obediente Abraão. Em vista da luz que haviam recebido de Deus, eram ainda piores que os gentios, a quem se sentiam tão superiores. Haviam-se esquecido da rocha de onde foram cortados, e da caverna do poço de onde foram cavados. Deus não dependia deles para cumprimento de Seu desígnio. Como chamara a Abraão dentre um povo gentio, assim poderia chamar outros a Seu serviço. O coração destes poderia parecer agora tão morto como as pedras do deserto, mas o Espírito de Deus o poderia vivificar para fazer Sua vontade, e receber o cumprimento da promessa. DTN 64.3
“E também”, disse o profeta, “já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo”. Mateus 3:10. Não por seu nome, mas por seus frutos, é determinado o valor de uma árvore. Se o fruto é sem valor, o nome não pode salvar a árvore da destruição. João declarou aos judeus que sua aceitação diante de Deus era decidida por seu caráter e vida. A declaração de nada valia. Se sua vida e caráter não estivessem em harmonia com a lei de Deus, não eram seu povo. DTN 64.4
Mateus 3:10
10 E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.
Sob a influência das penetrantes palavras de João, os ouvintes sentiam-se convictos. Chegavam-se a ele com a interrogação: “Que faremos pois?” Ele respondia: “Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira”. Lucas 3:10, 11. E advertia os publicanos contra a injustiça, e os soldados contra a violência. DTN 64.5
Lucas 3:10, 11
10 E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
11 E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.
Todos quantos se houvessem de tornar súditos do reino de Cristo, tinham que dar demonstrações de fé e arrependimento. Bondade, honestidade e fidelidade se manifestariam na vida dessas pessoas. Ajudariam os necessitados, e levariam a Deus suas ofertas. Defenderiam os desamparados, dando exemplo de virtude e compaixão. Assim os seguidores de Cristo darão provas do poder transformador do Espírito Santo. Revelar-se-ão na vida diária justiça, misericórdia e amor de Deus. Do contrário, são como palha, que se lança ao fogo. DTN 64.6
“Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento”, disse João, “mas Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. Mateus 3:11. O profeta Isaías declarara que o Senhor purificaria o Seu povo de suas iniqüidades “com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor”. Isaías 4:4. As palavras do Senhor a Israel, eram: “E porei contra ti a Minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza”. Isaías 1:25. Para o pecado, onde quer que se encontre, “nosso Deus é um fogo consumidor”. Hebreus 12:29. O Espírito de Deus consumirá pecado em todos quantos se submeterem a Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem ao pecado, ficarão com ele identificados. Então a glória de Deus, que destrói o pecado, tem que destruí-los. Depois de sua noite de luta com o anjo, Jacó exclamou: “Tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva”. Gênesis 32:30. Jacó fora culpado de um grande pecado em sua conduta para com Esaú; mas arrependera-se. Sua transgressão fora perdoada, e seu pecado purificado; podia, portanto, suportar a revelação da presença de Deus. Mas sempre que os homens chegaram à presença dEle, enquanto voluntariamente nutrindo o mal, foram destruídos. Por ocasião do segundo advento de Cristo, os ímpios hão de ser consumidos “pelo assopro da Sua boca”, e aniquilados “pelo resplendor da Sua vinda”. 2 Tessalonicenses 2:8. A luz da glória de Deus, que comunica vida aos justos, matará os ímpios. DTN 65.1
Mateus 3:11
11 E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.
Isaías 4:4
4 Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém, do meio dela, com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor.
Isaías 1:25
25 E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza.
Hebreus 12:29
29 Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.
Gênesis 32:30
30 E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.
2 Tessalonicenses 2:8
8 E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;
No tempo de João Batista, Cristo estava prestes a Se manifestar como o revelador do caráter de Deus. Sua própria presença tornaria aos homens manifesto o seu pecado. Somente em virtude da boa vontade da parte deles para serem purificados do pecado, podiam entrar em comunhão com Jesus. Só os puros de coração podiam permanecer em Sua presença. DTN 65.2
Assim declarava o Batista a mensagem de Deus a Israel. Muitos deram ouvidos a suas instruções. Muitos sacrificaram tudo, a fim de obedecer. Multidões seguiam a esse novo mestre de um lugar para outro, e não poucos nutriam a esperança de que fosse o Messias. Mas, vendo João o povo voltar-se para ele, buscava todas as oportunidades de encaminhar-lhes a fé para Aquele que haveria de vir. DTN 65.3