A Visita Pascoal
- Isaías 31-33
- Lucas 2:41-51
Isaías 31
Ouça o áudio do capítulo:
1 Ai dos que descem ao Egito a buscar socorro, e se estribam em cavalos; e têm confiança em carros, porque são muitos; e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e não atentam para o Santo de Israel, e não buscam ao SENHOR.
2 Todavia também ele é sábio, e fará vir o mal, e não retirará as suas palavras; e levantar-se-á contra a casa dos malfeitores, e contra a ajuda dos que praticam a iniqüidade.
3 Porque os egípcios são homens, e não Deus; e os seus cavalos, carne, e não espírito; e quando o Senhor estender a sua mão, tanto tropeçará o auxiliador, como cairá o ajudado, e todos juntamente serão consumidos.
4 Porque assim me disse o Senhor: Como o leão e o leãozinho rugem sobre a sua presa, ainda que se convoque contra ele uma multidão de pastores, não se espantam das suas vozes, nem se abatem pela sua multidão, assim o Senhor dos Exércitos descerá, para pelejar sobre o monte Sião, e sobre o seu outeiro.
5 Como as aves voam, assim o Senhor dos Exércitos amparará a Jerusalém; ele a amparará, a livrará e, passando, a salvará.
6 Convertei-vos, pois, àquele contra quem os filhos de Israel se rebelaram tão profundamente.
7 Porque naquele dia cada um lançará fora os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que vos fabricaram as vossas mãos para pecardes,
8 E a Assíria cairá pela espada, não de poderoso homem; e a espada, não de homem desprezível, a consumirá; e fugirá perante a espada e os seus jovens serão tributários.
9 E de medo passará a sua rocha, e os seus príncipes terão pavor da bandeira, diz o Senhor, cujo fogo está em Sião e a sua fornalha em Jerusalém.
Isaías 32
Ouça o áudio do capítulo:
1 Eis que reinará um rei com justiça, e dominarão os príncipes segundo o juízo.
2 E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta.
3 E os olhos dos que vêem não olharão para trás; e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos.
4 E o coração dos imprudentes entenderá o conhecimento; e a língua dos gagos estará pronta para falar distintamente.
5 Ao vil nunca mais se chamará liberal; e do avarento nunca mais se dirá que é generoso.
6 Porque o vil fala obscenidade, e o seu coração pratica a iniqüidade, para usar hipocrisia, e para proferir mentiras contra o Senhor, para deixar vazia a alma do faminto, e fazer com que o sedento venha a ter falta de bebida.
7 Também todas as armas do avarento são más; ele maquina invenções malignas, para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre chega a falar retamente.
8 Mas o liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé.
9 Levantai-vos, mulheres, que estais sossegadas, e ouvi a minha voz; e vós, filhas, que estais tão seguras, inclinai os ouvidos às minhas palavras.
10 Porque num ano e dias vireis a ser turbadas, ó mulheres que estais tão seguras; porque a vindima se acabará, e a colheita não virá.
11 Tremei, mulheres que estais sossegadas, e turbai-vos vós, que estais tão seguras; despi-vos, e ponde-vos nuas, e cingi com saco os vossos lombos.
12 Baterão nos peitos, pelos campos desejáveis, e pelas vinhas frutíferas.
13 Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e sarças, como também sobre todas as casas onde há alegria, na cidade jubilosa.
14 Porque os palácios serão abandonados, a multidão da cidade cessará; e as fortificações e as torres servirão de cavernas para sempre, para alegria dos jumentos monteses, e para pasto dos rebanhos;
15 Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque.
16 E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil.
17 E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.
18 E o meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso.
19 Mas, descendo ao bosque, cairá saraiva e a cidade será inteiramente abatida.
20 Bem-aventurados vós os que semeais junto a todas as águas; e deixais livres os pés do boi e do jumento.
Isaías 33
Ouça o áudio do capítulo:
1 Ai de ti, despojador, que não foste despojado, e que procedes perfidamente contra os que não procederam perfidamente contra ti! Acabando tu de despojar, serás despojado; e, acabando tu de tratar perfidamente, perfidamente te tratarão.
2 Senhor, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da tribulação.
3 Ao ruído do tumulto fugirão os povos; à tua exaltação as nações serão dispersas.
4 Então ajuntar-se-á o vosso despojo como se ajunta a lagarta; como os gafanhotos saltam, assim ele saltará sobre eles.
5 O Senhor está exaltado, pois habita nas alturas; encheu a Sião de juízo e justiça.
6 E haverá estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; e o temor do Senhor será o seu tesouro.
7 Eis que os seus embaixadores estão clamando de fora; e os mensageiros de paz estão chorando amargamente.
8 As estradas estão desoladas, cessou o que passava pela vereda, ele rompeu a aliança, desprezou as cidades, e já não faz caso dos homens.
9 A terra geme e pranteia, o Líbano se envergonha e se murcha; Sarom se tornou como um deserto; e Basã e Carmelo foram sacudidos.
10 Agora, pois, me levantarei, diz o Senhor; agora me erguerei. Agora serei exaltado.
11 Concebestes palha, dareis à luz restolho; e o vosso espírito vos devorará como o fogo.
12 E os povos serão como as queimas de cal; como espinhos cortados arderão no fogo.
13 Ouvi, vós os que estais longe, o que tenho feito; e vós que estais vizinhos, conhecei o meu poder.
14 Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?
15 O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal.
16 Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas.
17 Os teus olhos verão o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe.
18 O teu coração considerará o assombro dizendo: Onde está o escrivão? Onde está o que pesou o tributo? Onde está o que conta as torres?
19 Não verás mais aquele povo atrevido, povo de fala obscura, que não se pode compreender e de língua tão estranha que não se pode entender.
20 Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será removida, cujas estacas nunca serão arrancadas e das suas cordas nenhuma se quebrará.
21 Mas ali o glorioso Senhor será para nós um lugar de rios e correntes largas; barco nenhum de remo passará por ele, nem navio grande navegará por ele.
22 Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei, ele nos salvará.
23 As tuas cordas se afrouxaram; não puderam ter firme o seu mastro, e nem desfraldar a vela; então a presa de abundantes despojos se repartirá; e até os coxos dividirão a presa.
24 E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da iniqüidade.
Lucas 2:41-51
Ouça o áudio do capítulo:
41 Ora, todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa;
42 E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.
43 E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe.
44 Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos;
45 E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele.
46 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os.
47 E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.
48 E quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos.
49 E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?
50 E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.
51 E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas.
O Desejado de Todas as Nações
A Visita Pascoal
Ouça o áudio do capítulo:
Este capítulo é baseado em Lucas 2:41-51.
Lucas 2:41-51
Entre os judeus, os doze anos eram a linha divisória entre a infância e a juventude. Ao completar esta idade, um menino hebreu era considerado filho da lei, e também filho de Deus. Eram-lhe dadas especiais oportunidades para instruções religiosas, e esperava-se que participasse das festas e observâncias sagradas. Foi em harmonia com esse costume, que Jesus fez em Sua meninice a visita pascoal a Jerusalém. Como todos os israelitas devotos, José e Maria iam todos os anos assistir à Páscoa; e quando Jesus havia atingido a necessária idade, levaram-no consigo. DTN 45.1
Havia três festividades anuais — a Páscoa, o Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos — festas em que todos os homens de Israel tinham ordem de comparecer perante o Senhor em Jerusalém. Destas, era a Páscoa a mais concorrida. Havia presentes muitos de todos os países por onde os judeus tinham sido espalhados. De todas as partes da Palestina, vinham os adoradores em grande número. A viagem da Galiléia levava diversos dias, e os viajantes reuniam-se em grandes grupos, já pela companhia, já pela proteção. As mulheres e os homens de idade viajavam em bois e asnos, pelos acidentados e pedregosos caminhos. Os homens mais fortes e os jovens viajavam a pé. O tempo da Páscoa era o fim de Março ou começo de Abril, e toda a terra estava adornada de flores, alegrada com os cânticos dos pássaros. Por todo o caminho, encontravam-se lugares memoráveis na história de Israel, e pais e mães contavam aos filhos as maravilhas que Deus operara por Seu povo, nos séculos passados. Entretinham a jornada com cânticos e música e quando, afinal, se avistavam as torres de Jerusalém, todas as vozes se juntavam nos triunfantes cânticos: DTN 45.2
“Os nossos pés estão dentro de tuas portas, ó Jerusalém ... DTN 45.3
Haja a paz dentro dos teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios”. Salmos 122:2, 7. DTN 45.4
Salmos 122:2, 7
A observância da Páscoa começou com o nascimento da nação hebraica. Na última noite de sua servidão no Egito, quando não havia sinal de libertação, Deus lhes ordenou que se preparassem para um imediato livramento. Advertira Faraó do juízo final sobre os egípcios, e deu aos hebreus instruções para reunirem suas famílias dentro das próprias casas. Havendo aspergido as ombreiras e vergas da porta com o sangue do cordeiro imolado, deviam comer o cordeiro, assado, com pão sem fermento, e ervas amargas. “Assim pois o comereis”, disse Ele: “os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do Senhor”. Êxodo 12:11. À meia-noite, todos os primogênitos dos egípcios foram mortos. Então o rei enviou a Israel a mensagem: “Levantai-vos, saí do meio do meu povo [...] e ide, servi ao Senhor, como tendes dito”. Êxodo 12:31. Os hebreus saíram do Egito como nação independente. O Senhor ordenara que a Páscoa fosse observada anualmente. “E”, disse Ele, “quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? vós lhes direis: É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios”. Êxodo 12:27. Assim, de geração em geração devia ser narrada a história desse maravilhoso livramento. DTN 45.5
Êxodo 12:11
Êxodo 12:31
Êxodo 12:27
A Páscoa era seguida pela festa dos sete dias de pães asmos. No segundo dia da festa, os primeiros frutos da colheita anual, um molho de cevada, eram apresentados ao Senhor. Todas as cerimônias da festa eram símbolos da obra de Cristo. A libertação de Israel do Egito era uma lição objetiva da redenção, que a Páscoa se destinava a conservar na memória. O cordeiro imolado, o pão asmo, o molho dos primeiros frutos, representavam o Salvador. DTN 46.1
Para a maioria das pessoas, ao tempo de Cristo, a observância dessa festa degenerara em mera formalidade. Qual, porém, sua significação para o Filho de Deus?! DTN 46.2
Pela primeira vez, contemplou o menino Jesus o templo. Viu os sacerdotes de vestes brancas, realizando seu solene ministério. Viu a ensangüentada vítima sobre o altar do sacrifício. Com os adoradores, inclinou-Se em oração, enquanto ascendia perante Deus a nuvem de incenso. Testemunhou os impressivos ritos da cerimônia pascoal. Dia a dia, observava mais claramente a significação dos mesmos. Cada ato parecia estar ligado a Sua própria vida. No íntimo acordavam-se-Lhe novos impulsos. Silencioso e absorto, parecia estudar a solução de um grande problema. O mistério de Sua missão desvendava-se ao Salvador. DTN 46.3
Enlevado pela contemplação dessas cenas, não permaneceu ao lado dos pais. Buscou estar sozinho. Ao terminarem as cerimônias pascoais, demorou-Se ainda no pátio do templo; e, ao partirem os adoradores de Jerusalém, Jesus foi deixado ali. Nessa visita a Jerusalém, os pais de Jesus desejavam pô-Lo em contato com os grandes mestres de Israel. Conquanto fosse obediente em todos os particulares à Palavra de Deus, não Se conformava com os ritos e usos dos rabis. José e Maria esperavam que fosse levado a reverenciar os doutos rabinos, e a atender mais diligentemente a suas exigências. Mas Jesus, no templo, fora instruído por Deus. Aquilo que recebera, começou imediatamente a comunicar. DTN 46.4
Naquela época, um aposento ligado ao templo estava sendo ocupado por uma escola sagrada, à maneira das escolas dos profetas. Ali se reuniam mestres de destaque, com os alunos, e ali foi ter o menino Jesus. Sentando-Se aos pés desses homens sérios e doutos, ouvia-lhes as instruções. Como pessoa que busca saber, interrogava esses mestres relativamente às profecias, e a acontecimentos que estavam então ocorrendo e indicavam o advento do Messias. DTN 46.5
Jesus Se apresentou como pessoa sedenta de conhecimento de Deus. Suas perguntas eram sugestivas de profundas verdades que havia muito jaziam obscurecidas, e eram, todavia, vitais para a salvação das pessoas. Ao mesmo tempo que revelavam quão limitado e superficial era o conhecimento dos sábios, cada pergunta punha perante eles uma lição divina, e apresentava a verdade sob novo aspecto. Falavam os rabis da maravilhosa elevação que a vinda do Messias havia de trazer à nação judaica; mas Jesus apresentava a profecia de Isaías, e perguntava-lhes o sentido daqueles textos que indicavam o sofrimento e a morte do Cordeiro de Deus. DTN 47.1
Os doutores voltavam-se para Ele com perguntas, e pasmavam de Suas respostas. Com a humildade de criança, repetia as palavras da Escritura, dando-lhes profundeza de sentido que os sábios não haviam alcançado. Seguidos, os traços da verdade por Ele indicados teriam operado uma reforma na religião da época. Ter-se-ia despertado profundo interesse nas coisas espirituais; e quando Jesus começasse Seu ministério, muitos estariam preparados para O receber. DTN 47.2
Os rabis sabiam que Jesus não havia sido instruído em suas escolas; no entanto, Seu conhecimento das profecias excedia em muito o deles próprios. Nesse refletido Rapazinho galileu divisaram grandes promessas. Desejaram angariá-Lo como aluno, a fim de que Se tornasse mestre em Israel. Queriam encarregar-se de Sua educação, convencidos de que um espírito tão original devia ser educado sob sua direção. DTN 47.3
As palavras de Jesus lhes moveram o coração como este nunca o havia sido por palavras de lábios humanos. Deus estava procurando comunicar luz àqueles guias em Israel, e servia-Se do único meio pelo qual poderiam ser atingidos. Em seu orgulho, teriam desdenhado a hipótese de receber instruções de quem quer que fosse. Se houvesse parecido que Jesus procurava ensiná-los, desdenhariam ouvi-Lo. Mas lisonjeavam-se com a idéia de que O estavam ensinando a Ele ou, pelo menos, examinando Seu conhecimento das Escrituras. A modéstia juvenil e a graça de Jesus lhes desarmava os preconceitos. Inconscientemente, seu espírito abriu-se à Palavra de Deus, e o Espírito Santo lhes falou ao coração. DTN 47.4
Não puderam deixar de ver que sua expectação com respeito ao Messias, não tinha o apoio da profecia; mas não queriam renunciar as teorias que lhes tinham lisonjeado a ambição. Não admitiam haver compreendido mal as Escrituras que pretendiam ensinar. Interrogaram-se uns aos outros: Como tem esse rapaz conhecimento, não havendo nunca aprendido? A luz estava brilhando nas trevas; mas “as trevas não a compreenderam”. João 1:5. DTN 47.5
João 1:5
Entretanto, José e Maria achavam-se em grande perplexidade e aflição. Na partida de Jerusalém, haviam perdido de vista a Jesus, e não sabiam que Se demorara atrás. O país era então densamente povoado, e muito grandes as caravanas dos galileus. Havia muita confusão quando deixaram a cidade. Pelo caminho, o prazer de viajar com os amigos e conhecidos absorveu-lhes a atenção, e não Lhe perceberam a ausência até que chegou a noite. Então, ao pararem para o repouso, sentiram falta das prestimosas mãos de seu filho. Julgando que estivesse com os companheiros, não haviam sentido ansiedade. Jovem como era, nEle confiavam inteiramente, esperando que, quando necessário, estaria pronto a auxiliá-los, antecipando-lhes as necessidades, como sempre fizera. Agora, porém, se suscitaram temores. Procuraram-nO entre os que os acompanhavam, mas em vão. Tremendo, lembraram-se de como Herodes O buscara destruir em Sua infância. Negros pressentimentos lhes encheram o coração. Faziam-se a si mesmos amargas recriminações. DTN 48.1
Voltando a Jerusalém, prosseguiram suas buscas. No dia seguinte, ao misturarem-se com os adoradores no templo, uma voz familiar lhes chamou a atenção. Não a podiam confundir; nenhuma outra era como a Sua, tão séria e grave, não obstante tão melodiosa. DTN 48.2
Na escola dos rabinos, encontraram Jesus. Regozijando-se, embora, não puderam esquecer seu desgosto e ansiedade. Tendo-O novamente consigo, disse a mãe, em palavras que envolviam uma reprovação: “Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que Teu pai e eu ansiosos Te procurávamos.” “Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” Lucas 2:48, 49. E, como parecessem não compreender Suas palavras, apontou para cima. Havia em Seu rosto uma luz que os levou a meditar. A divindade estava irradiando através da humanidade. Encontrando-O no templo, haviam escutado o que se passava entre Ele e os rabis, e ficaram admirados de Suas perguntas e respostas. Suas palavras despertaram uma corrente de idéias que nunca mais seriam esquecidas. DTN 48.3
Lucas 2:48, 49
E a resposta que lhes dera encerrava uma lição. “Não sabeis”, dissera Ele, “que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” Jesus estava empenhado na obra para cumprimento da qual viera a este mundo; mas José e Maria haviam negligenciado a sua. Grande honra lhes conferira Deus em confiar-lhes Seu Filho. Santos anjos tinham dirigido a José, a fim de proteger a vida de Jesus. Mas, por um dia inteiro haviam perdido de vista Aquele a quem não deviam ter esquecido nem por um momento. E, ao ser-lhes aliviada a ansiedade, não se censuraram a si mesmos, mas lançaram sobre Ele a culpa. DTN 48.4
Era natural que os pais de Jesus O considerassem como seu próprio filho. Estava diariamente com eles, em muitos aspectos Sua vida era como a das outras crianças, e era-lhes difícil compreender ser Ele o Filho de Deus. Estavam em risco de deixar de apreciar a bênção a eles concedida pela presença do Redentor do mundo. O desgosto de se haverem separado dEle, e a branda reprovação contida em Suas palavras, visavam impressioná-los quanto à santidade do depósito que lhes fora confiado. DTN 48.5
Na resposta dada a Sua mãe, Jesus mostrou pela primeira vez que compreendia Sua relação para com Deus. Antes de Seu nascimento o anjo dissera a Maria: “Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi Seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó”. Lucas 1:32, 33. Aquelas palavras, Maria ponderara em seu coração; no entanto, ao passo que acreditava que Seu filho havia de ser o Salvador de Israel, não Lhe compreendia a missão. Agora, não Lhe entendeu as palavras; mas sabia que negara Seu parentesco com José, e declarara Sua filiação de Deus. DTN 49.1
Lucas 1:32, 33
Jesus não deixara de respeitar Sua relação para com os pais terrestres. Voltou de Jerusalém com eles, e ajudou-os em sua vida de labor. Ocultava o mistério de Sua missão, esperando submisso o tempo designado para iniciar Sua obra. Durante dezoito anos, depois de haver reconhecido ser o Filho de Deus, reconheceu também os laços que O ligavam ao lar de Nazaré, e cumpriu os deveres de filho, irmão, amigo e cidadão. DTN 49.2
Ao ser-Lhe Sua missão revelada no templo, Jesus Se esquivou ao contato da multidão. Desejava voltar de Jerusalém quietamente, com os que sabiam o segredo de Sua existência. Mediante a cerimônia pascoal, Deus estava procurando desviar Seu povo dos cuidados terrenos que tinham, e fazê-lo lembrar a maravilhosa obra que fizera em sua libertação do Egito. Desejava que vissem nessa obra uma promessa de libertação do pecado. Como o sangue do cordeiro morto protegera os lares de Israel, assim lhes salvaria o sangue de Cristo; mas eles só se podiam salvar por meio de Cristo, apoderando-se, pela fé, de Sua vida, como sendo deles mesmos. Só havia virtude no simbólico cerimonial, ao serem os adoradores por ele dirigidos a Cristo como seu Salvador pessoal. Deus desejava que fossem levados a estudar a missão de Cristo, e sobre ela meditar com oração. Ao partirem de Jerusalém, as multidões, no entanto, o despertar da viagem e a comunicação social absorviam freqüentemente a atenção deles, e era esquecido o cerimonial que acabavam de testemunhar. O Salvador não foi atraído para a companhia deles. DTN 49.3
Ao voltarem José e Maria de Jerusalém sozinhos com Jesus, Ele esperava dirigir-lhes a atenção às profecias concernentes aos sofrimentos do Salvador. Sobre o Calvário, procurou aliviar a dor de Sua mãe. Estava agora pensando nela. Maria tinha que testemunhar Sua última agonia, e Jesus desejava que ela compreendesse Sua missão, a fim de fortalecer-se para resistir, quando a espada lhe houvesse de traspassar o coração. Como Jesus estivera separado dela, e por três dias O procurara aflita, assim, quando fosse oferecido pelos pecados do mundo, estaria novamente perdido para ela três dias. E ao ressurgir Ele do sepulcro, sua tristeza se transformaria outra vez em júbilo. Mas quão melhor teria ela suportado a angústia da morte do Filho, se houvesse compreendido as Escrituras para as quais Ele lhe procurava agora volver os pensamentos! DTN 49.4
Se José e Maria houvessem firmado a mente em Deus, mediante meditação e oração, teriam avaliado a santidade do depósito que lhes era confiado, e não teriam perdido de vista a Jesus. Pela negligência de um dia perderam o Salvador; custou-lhes, porém, três dias de ansiosas buscas o tornar a encontrá-Lo. O mesmo quanto a nós; por conversas ociosas, por maledicência ou negligência da oração, podemos perder num dia a presença do Salvador, e talvez leve muitos dias de dolorosa busca o tornar a achá-Lo, e reconquistar a paz que perdemos. DTN 50.1
Em nossas relações uns com os outros, devemos estar atentos para não perder a Jesus, continuando o caminho sem nos advertir de que Ele não Se acha conosco. Quando nos absorvemos em coisas mundanas, de maneira que não temos um pensamento para Aquele em quem se concentra nossa esperança de vida eterna, separamo-nos de Jesus e dos anjos celestiais. Esses santos seres não podem permanecer onde a presença do Salvador não é desejada, e Sua ausência não é sentida. Eis porque tantas vezes se faz sentir o desânimo entre os professos seguidores de Cristo. DTN 50.2
Muitos assistem a cultos e são refrigerados e confortados pela Palavra de Deus; mas, devido à negligência da meditação, vigilância e orações, perdem a bênção, sentindo-se mais vazios do que antes de a receberem. Sentem freqüentemente que Deus os tem tratado duramente. Não vêem que a falta está com eles mesmos. Separando-se de Jesus, afugentaram a luz da Sua presença. DTN 50.3
Faria muito bem para nós passar diariamente uma hora refletindo sobre a vida de Jesus. Deveríamos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de aprender ao pé da cruz a lição de arrependimento e humilhação. DTN 50.4
Ao comunicarmos uns com os outros, podemos ser, mutuamente, uma bênção. Se somos de Cristo, nossos mais gratos pensamentos serão em torno dEle. Teremos prazer em falar a Seu respeito; e ao falarmos uns aos outros em Seu amor, nosso coração será abrandado por influências divinas. Contemplando a beleza de Seu caráter, seremos “transformados de glória em glória na mesma imagem”. 2 Coríntios 3:18. DTN 50.5