Servo dos Servos
- Miquéias 4-5
- João 13:1-20
Miquéias 4
Ouça o áudio do capítulo:
1 Mas nos últimos dias acontecerá que o monte da casa do SENHOR será estabelecido no cume dos montes, e se elevará sobre os outeiros, e a ele afluirão os povos.
2 E irão muitas nações, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor.
3 E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.
4 Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse.
5 Porque todos os povos andam, cada um em nome do seu deus; mas nós andaremos em nome do Senhor nosso Deus, para todo o sempre.
6 Naquele dia, diz o Senhor, congregarei a que coxeava, e recolherei a que tinha sido expulsa, e a que eu tinha maltratado.
7 E da que coxeava farei um remanescente, e da que tinha sido arrojada para longe, uma nação poderosa; e o Senhor reinará sobre eles no monte Sião, desde agora e para sempre.
8 E a ti, ó torre do rebanho, fortaleza da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio, o reino da filha de Jerusalém.
9 E agora, por que fazes tão grande pranto? Não há em ti rei? Pereceu o teu conselheiro? Apoderou-se de ti a dor, como da que está de parto?
10 Sofre dores, e trabalha, para dar à luz, ó filha de Sião, como a que está de parto, porque agora sairás da cidade, e morarás no campo, e virás até babilônia; ali, porém, serás livrada; ali te remirá o SENHOR da mão de teus inimigos.
11 Agora se congregaram muitas nações contra ti, que dizem: Seja profanada, e vejam os nossos olhos o seu desejo sobre Sião.
12 Mas não sabem os pensamentos do Senhor, nem entendem o seu conselho; porque as ajuntou como gavelas numa eira.
13 Levanta-te e trilha, ó filha de Sião; porque eu farei de ferro o teu chifre, e de bronze as tuas unhas; e esmiuçarás a muitos povos, e o seu ganho será consagrado ao Senhor, e os seus bens ao Senhor de toda a terra.
Miquéias 5
Ouça o áudio do capítulo:
1 Agora ajunta-te em tropas, ó filha de tropas; pôr-se-á cerco contra nós; ferirão com a vara na face ao juiz de Israel.
2 E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
3 Portanto os entregará até ao tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
4 E ele permanecerá, e apascentará ao povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora será engrandecido até aos fins da terra.
5 E este será a nossa paz; quando a Assíria vier à nossa terra, e quando pisar em nossos palácios, levantaremos contra ela sete pastores e oito príncipes dentre os homens.
6 Esses consumirão a terra da Assíria à espada, e a terra de Ninrode nas suas entradas. Assim nos livrará da Assíria, quando vier à nossa terra, e quando calcar os nossos termos.
7 E o remanescente de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho da parte do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda a filhos de homens.
8 E o restante de Jacó estará entre os gentios, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais do bosque, como um leãozinho entre os rebanhos de ovelhas, o qual, quando passar, pisará e despedaçará, sem que haja quem as livre.
9 A tua mão se exaltará sobre os teus adversários; e todos os teus inimigos serão exterminados.
10 E sucederá naquele dia, diz o Senhor, que eu exterminarei do meio de ti os teus cavalos, e destruirei os teus carros.
11 E destruirei as cidades da tua terra, e derrubarei todas as tuas fortalezas;
12 E exterminarei as feitiçarias da tua mão; e não terás adivinhadores;
13 E destruirei do meio de ti as tuas imagens de escultura e as tuas estátuas; e tu não te inclinarás mais diante da obra das tuas mãos.
14 E arrancarei os teus bosques do meio de ti; e destruirei as tuas cidades.
15 E com ira e com furor farei vingança sobre os gentios que não ouvem.
João 13:1-20
Ouça o áudio do capítulo:
1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,
3 Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
4 Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
11 Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.
18 Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar.
19 Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou.
20 Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
O Desejado de Todas as Nações
Servo dos Servos
Ouça o áudio do capítulo:
Este capítulo é baseado em Lucas 22:7-18, 24; João 13:1-17.
Lucas 22:7-18, 24
7 Chegou, porém, o dia dos ázimos, em que importava sacrificar a páscoa.
8 E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.
9 E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?
10 E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar.
11 E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?
12 Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos.
13 E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa.
14 E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos.
15 E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça;
16 Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.
17 E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós;
18 Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus.
24 E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.
João 13:1-17
1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,
3 Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
4 Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
11 Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.
No cenáculo de uma morada de Jerusalém, achava-Se Cristo à mesa com os discípulos. Tinham-se reunido para celebrar a páscoa. O Salvador desejava celebrar essa festa a sós com os doze. Sabia que era chegada a Sua hora; Ele próprio era o verdadeiro Cordeiro pascoal, e no dia em que se comia a páscoa, devia Ele ser sacrificado. Estava prestes a beber o cálice da ira; devia logo receber o final batismo do sofrimento. Algumas horas tranqüilas Lhe restavam, porém, e essas deviam ser empregadas em benefício dos amados discípulos. DTN 455.1
Toda a vida de Cristo fora de abnegado serviço. “Não [...] para ser servido, mas para servir” (Mateus 20:28), fora a lição de cada ato Seu. Mas ainda os discípulos não haviam aprendido a lição. Nessa última ceia pascoal, Jesus repetiu Seus ensinos mediante uma ilustração que os gravou para sempre na mente e no coração deles. DTN 455.2
Mateus 20:28
28 Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.
As entrevistas de Jesus com os discípulos eram geralmente períodos de calma alegria, altamente apreciados por todos eles. As ceias pascoais haviam sido cenas de especial interesse; mas nessa ocasião Jesus estava perturbado. Tinha o coração oprimido, e havia uma sombra a toldar-Lhe o semblante. Ao encontrar-Se com os discípulos no cenáculo, perceberam eles que qualquer coisa Lhe pesava fortemente no espírito, e conquanto não conhecessem a causa, possuíram-se de piedoso interesse por Sua dor. DTN 455.3
Enquanto se achavam reunidos ao redor da mesa, disse Ele em tom de tocante tristeza: “Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus”. Lucas 22:15, 16. DTN 455.4
Lucas 22:15, 16
15 E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça;
16 Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.
Cristo sabia que chegara o tempo de partir deste mundo, e ir para o Pai. E havendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Achava-Se agora na sombra da cruz, e a dor torturava-Lhe o coração. Sabia que seria abandonado na hora de ser entregue. Sabia que, pelo mais humilhante processo a que se submetiam os criminosos, seria condenado à morte. Conhecia a ingratidão e crueldade daqueles a quem viera salvar. Sabia quão grande o sacrifício que devia fazer, e para quantos seria ele em vão. Sabendo tudo quanto se achava diante de Si, poderia ser naturalmente esmagado ao pensamento da própria humilhação e sofrimento. Mas olhou aos doze, os quais estiveram com Ele como Seus mesmos, e que, depois de Sua vergonha e dor, e passados os dolorosos maus-tratos, seriam deixados a lutar no mundo. O pensamento do que Ele próprio deveria sofrer estava sempre relacionado com os discípulos em Seu espírito. Não pensava em Si mesmo. O cuidado por eles era o que predominava em Sua mente. DTN 455.5
Nessa última noite em que estava com os discípulos, Jesus tinha muito a dizer-lhes. Estivessem eles preparados para receber o que lhes almejava comunicar, e teriam sido poupados a desoladora angústia, a decepção e incredulidade. Mas Jesus viu que não podiam suportar o que lhes tinha a dizer. Ao olhar-lhes o rosto, as palavras de advertência e conforto estacaram-Lhe nos lábios. Passaram-se momentos em silêncio. Parecia que Jesus esperava. Os discípulos não se sentiam à vontade. O compassivo interesse despertado pelo pesar de Cristo parecia haver-se dissipado. Suas dolorosas palavras, indicando os próprios sofrimentos, pouca impressão produziram. Os olhares que trocavam entre si, traduziam ciúmes e rivalidade. DTN 456.1
Havia “entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior”. Essa rivalidade, manifestada na presença de Cristo, O entristeceu e magoou. Apegavam-se os discípulos a sua idéia favorita de que Cristo firmaria Seu poder, e tomaria Seu posto no trono de Davi. E no coração cada um continuava a anelar a posição mais elevada no reino. Haviam-estimado a si mesmos e uns aos outros, e em lugar de considerar seus irmãos mais dignos, colocavam-se em primeiro lugar. O pedido de Tiago e João, de se assentarem à direita e à esquerda do trono de Cristo, despertara a indignação dos outros. O terem os dois irmãos tido a presunção de pedir a mais alta posição despertara por tal forma os dez, que havia ameaça de alheamento. Pensaram que eram mal julgados, que sua fidelidade e seus talentos não eram apreciados. Judas era o mais rigoroso contra Tiago e João. DTN 456.2
Quando os discípulos entraram na sala da ceia, tinham o coração cheio de ressentimentos. Judas apressou-se a tomar lugar junto de Cristo, à esquerda; João estava à direita. Se houvesse lugar mais elevado, Judas estava decidido a ocupá-lo, e esse lugar, julgava-se, era junto de Cristo. E Judas era um traidor. DTN 456.3
Surgira outra causa de dissensão. Numa festa, era costume que um servo lavasse os pés aos hóspedes, e nessa ocasião se fizeram preparativos para esse serviço. O jarro, a bacia e a toalha ali estavam, prontos para a lavagem dos pés; não havia nenhum servo presente, porém, e cabia aos discípulos fazer isso. Mas cada um deles, cedendo ao orgulho ferido, resolveu não desempenhar a parte de servo. Todos manifestaram total desinteresse, parecendo inconscientes de haver qualquer coisa para fazerem. Por seu silêncio, recusavam-se a humilhar-se. DTN 456.4
Como havia Cristo de levar essas pobres almas a um ponto em que Satanás não obtivesse sobre elas decidida vitória? Como poderia mostrar que uma simples profissão de discipulado não os tornava discípulos, nem lhes garantia um lugar no reino? Como lhes mostraria que é o amoroso serviço, a verdadeira humildade, que constitui a genuína grandeza? Como haveria Ele de acender amor no coração deles, e habilitá-los a compreender aquilo que lhes ansiava dizer? DTN 456.5
Os discípulos não fizeram nenhum gesto no sentido de se servirem uns aos outros. Jesus esperou por algum tempo a ver o que fariam. Então Ele, o divino Mestre, Se ergueu da mesa. Pondo de lado a veste exterior, que Lhe poderia estorvar os movimentos, tomou uma toalha e cingiu-Se. Com surpreendido interesse olhavam os discípulos, esperando em silêncio ver o que se ia seguir. “Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. João 13:5. Esta ação abriu os olhos deles. Profunda vergonha e humilhação os possuiu. Entenderam a muda repreensão, e viram-se sob um aspecto inteiramente novo. DTN 457.1
João 13:5
5 Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
Assim exprimiu Cristo Seu amor pelos discípulos. O espírito egoísta que os animava, encheu-O de pesar, mas não entrou em discussão com eles a respeito do caso. Deu-lhes em vez disso um exemplo que nunca esqueceriam. Seu amor a eles não se alterava nem esfriava facilmente. Sabia que o Pai entregara todas as coisas em Suas mãos, e que viera de Deus e ia para Deus. Tinha plena consciência de Sua divindade; mas pusera de lado a coroa real e as régias vestimentas, e tomara a forma de servo. Um dos últimos atos de Sua vida na Terra foi cingir-Se como servo, e desempenhar a parte de servo. DTN 457.2
Antes da páscoa, Judas se encontrara pela segunda vez com os sacerdotes e escribas, fechando o acordo de entregar Jesus em suas mãos. Todavia misturou-se depois com os discípulos como se fosse inocente de qualquer mal, interessando-se no preparo da festa. Os discípulos nada sabiam do desígnio de Judas. Unicamente Jesus podia ler-lhe o segredo. Não obstante, não o expôs. Jesus estava sequioso de sua alma. Sentia-Se por ele tão oprimido como por Jerusalém, quando chorara sobre a condenada cidade. Seu coração bradava: “Como posso renunciar a ti?” O empolgante poder daquele amor foi sentido por Judas. Quando as mãos do Salvador estavam lavando aqueles empoeirados pés, e enxugando-os com a toalha, o coração de Judas comoveu-se intensamente com o impulso de confessar no mesmo instante e ali mesmo o seu pecado. Mas não se queria humilhar. Endureceu o coração contra o arrependimento, e os velhos impulsos, no momento postos de lado, dominaram-no novamente. Judas escandalizou-se então com o ato de Cristo, de lavar os pés dos discípulos. Se Jesus assim Se humilhava, pensou, não podia ser o Rei de Israel. Estava destruída toda esperança de honra mundana num reino temporal. Judas ficou convencido de que nada tinha a ganhar por seguir a Cristo. Depois de O ver rebaixar a Si mesmo, segundo pensava, confirmou-se em seu propósito de negar a Cristo e confessar-se enganado. Foi possuído por um demônio, e resolveu completar a obra que concordara em fazer, entregando seu Senhor. DTN 457.3
Escolhendo sua posição à mesa, Judas procurara colocar-se em primeiro lugar, e Cristo, como servo, servira-o primeiro. João, para com quem Judas sentira tão grande amargura, foi deixado para o fim. Mas João não tomou isso como repreensão ou menosprezo. Observando os discípulos a ação de Cristo, sentiram-se sobremaneira comovidos. Ao chegar a vez de Pedro, exclamou ele com espanto: “Senhor, Tu lavas-me os pés a mim?” A condescendência de Cristo quebrantou-lhe o coração. Encheu-se de vergonha, ao pensar que um dos discípulos não estava fazendo esse serviço. “O que Eu faço”, disse Cristo, “não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois”. João 13:7. Pedro não podia suportar ver seu Senhor, que Ele acreditava ser o Filho de Deus, fazendo o papel de um servo. Todo o seu ser ergueu-se em protesto contra essa humilhação. Não compreendia que para isso viera Cristo ao mundo. Com grande veemência, exclamou: “Nunca me lavarás os pés”. João 13:8. DTN 458.1
João 13:7
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
João 13:8
8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
Solenemente disse Cristo a Pedro: “Se Eu te não lavar, não tens parte comigo.” O serviço que Pedro recusava, era símbolo de uma purificação mais elevada. Cristo viera para lavar o coração da mancha do pecado. Recusando deixar Cristo lavar-lhe os pés, Pedro estava recusando a purificação superior incluída na mais humilde. Estava na verdade rejeitando seu Senhor. Não é humilhante para o Mestre permitirmos-Lhe que trabalhe para nossa purificação. A verdadeira humildade é receber com coração agradecido qualquer providência tomada em nosso favor, e prestar fervoroso serviço a Cristo. DTN 458.2
Às palavras: “Se Eu te não lavar, não tens parte comigo”, Pedro subjugou seu orgulho e vontade própria. Não podia suportar a idéia de separar-se de Cristo; isto teria sido para ele a morte. “Não só os meus pés”, disse, “mas também as mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. João 13:9, 10. DTN 458.3
João 13:9, 10
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
Essas palavras querem dizer mais que a limpeza do corpo. Cristo está falando ainda da mais alta purificação, ilustrada pela menor. Aquele que viera do banho, estava limpo, mas os pés calçados de sandálias logo se encheram de pó, e necessitavam novamente de ser lavados. Assim Pedro e seus irmãos tinham sido lavados na grande fonte aberta para o pecado e a impureza. Cristo os reconhecia como Seus. Mas a tentação os levara ao mal, e necessitavam ainda de Sua graça purificadora. Quando Jesus Se cingira com a toalha para lhes lavar o pó dos pés, desejava, por aquele mesmo ato, lavar-lhes do coração a discórdia, o ciúme e o orgulho. Isso era de muito mais importância que a lavagem de seus empoeirados pés. Com o espírito que então os animava, nenhum deles estava preparado para a comunhão com Cristo. Enquanto não fossem levados a um estado de humildade e amor, não estavam preparados para participar na ceia pascoal, ou tomar parte na cerimônia comemorativa que Cristo estava para instituir. Seu coração devia ser limpo. O orgulho e o interesse egoísta criaram dissensão e ódio, mas tudo isso lavou Cristo ao lavar-lhes os pés. Operou-se uma mudança de sentimentos. Olhando para eles, Jesus podia dizer: “Vós estais limpos”. João 13:10. Agora havia união de coração, amor de um para com o outro. Tornaram-se humildes e dóceis. Com exceção de Judas, cada um estava disposto a conceder ao outro o mais alto lugar. Então, com coração submisso e grato, estavam aptos a receber as palavras de Cristo. DTN 458.4
João 13:10
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
Como Pedro e seus irmãos, também nós fomos lavados no sangue de Cristo; todavia muitas vezes, pelo contato com o mal, a pureza do coração é maculada. Devemos chegar a Cristo em busca de Sua purificadora graça. Pedro recuou ante a idéia de pôr em contato com as mãos de Seu Senhor e Mestre os pés menos limpos; mas quantas vezes pomos nosso coração pecaminoso, poluído, em contato com o coração de Cristo Quão ofensivo para Ele é nosso mau gênio, nossa vaidade e orgulho. Não obstante devemos levar-Lhe todas as nossas fraquezas e contaminação. Unicamente Ele nos pode lavar e deixar limpos. Não estamos preparados para a comunhão com Ele, a menos que sejamos limpos por Sua eficácia. DTN 459.1
Jesus disse aos discípulos: “Vós estais limpos, mas não todos”. João 13:10. Ele lavara os pés de Judas, que, porém, não Lhe entregara o coração. Este não estava purificado. Judas não se submetera a Cristo. DTN 459.2
João 13:10
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.
Depois de haver lavado os pés dos discípulos, tomou Suas vestes e, sentando-Se outra vez, disse-lhes: “Entendeis o que vos tenho feito? Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu o sou. Ora se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque vos dei o exemplo, para que, como vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou”. João 13:12-14. DTN 459.3
João 13:12-14
12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
Cristo queria que Seus discípulos entendessem que, se bem que Ele lhes houvesse lavado os pés, isto em nada Lhe diminuía a dignidade. “Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu sou”. João 13:13. E, sendo tão infinitamente superior, Ele comunicou graça e significação a esse serviço. Ninguém tão exaltado como Cristo, e todavia abaixou-Se até ao mais humilde dever. Para que Seu povo não fosse extraviado pelo egoísmo que habita no coração natural, e se fortaleça com o servir ao próprio eu, Cristo mesmo estabeleceu o exemplo da humildade. Não deixaria esse grande assunto a cargo do homem. De tanta conseqüência o considerava, que Ele próprio, igual a Deus, fez o papel de servo para com Seus discípulos. Enquanto eles contendiam pela mais alta posição, Aquele diante de quem todo joelho se dobrará, a quem os anjos da glória reputam uma honra servir, curvou-Se para lavar os pés daqueles que Lhe chamavam Senhor. Lavou os pés de Seu traidor. DTN 459.4
João 13:13
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
Em Sua vida e ensinos, Cristo deu um perfeito exemplo do abnegado ministério que tem sua origem em Deus. Deus não vive para Si. Criando o mundo, mantendo todas as coisas, Ele está constantemente ministrando em benefício de outros. “Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos”. Mateus 5:45. Esse ideal de ministério confiou Deus a Seu Filho. A Jesus foi dado pôr-Se como cabeça da humanidade, para que por Seu exemplo pudesse ensinar o que significa servir. Toda a Sua vida esteve sob a lei do serviço. Serviu a todos, a todos ajudou. Assim viveu Ele a lei de Deus, e por Seu exemplo mostrou como podemos obedecer à mesma. DTN 459.5
Mateus 5:45
45 Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Repetidamente procurara Jesus estabelecer este princípio entre os discípulos. Quando Tiago e João pediram para ser postos em destaque, disse: “Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal”. Mateus 20:26. Em Meu reino não tem lugar o princípio de preferência ou supremacia. A grandeza única é a grandeza da humildade. A única distinção baseia-se na dedicação ao serviço dos outros. DTN 460.1
Mateus 20:26
26 Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal;
Depois, havendo lavado os pés aos discípulos, Ele disse: “Eu vos dei o exemplo, para que como Eu vos fiz, façais vós também”. João 13:15. Nestas palavras Cristo não somente estava ordenando a prática da hospitalidade. Queria significar mais do que a lavagem dos pés dos hóspedes para tirar-lhes o pó dos caminhos. Cristo estava aí instituindo um culto. Pelo ato de nosso Senhor, esta cerimônia humilhante tornou-se uma ordenança consagrada. Devia ser observada pelos discípulos, a fim de poderem conservar sempre em mente Suas lições de humildade e serviço. DTN 460.2
João 13:15
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
Essa ordenança é o preparo designado por Cristo para o serviço sacramental. Enquanto o orgulho, desinteligência e luta por superioridade forem nutridos, o coração não pode entrar em associação com Cristo. Não estamos preparados para receber a comunhão de Seu corpo e de Seu sangue. Por isso Jesus indicou que se observasse primeiramente a comemoração de Sua humilhação. DTN 460.3
Ao chegarem a esta ordenança, os filhos de Deus devem evocar as palavras do Senhor da vida e da glória: “Entendeis o que vos tenho feito? Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu o sou. Ora se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”. João 13:16, 17. Existe no homem a disposição de se estimar em mais alta conta do que a seu irmão, de trabalhar para si mesmo, de procurar o mais alto lugar; e muitas vezes isso dá em resultado ruins suspeitas e amargura de espírito. A ordenança que precede à ceia do Senhor, deve remover esses desentendimentos, tirar o homem de seu egoísmo, fazê-lo baixar de seus tacões de exaltação própria à humildade de coração que o levará a servir a seu irmão. DTN 460.4
João 13:16, 17
16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.
O santo Vigia do Céu acha-Se presente nesses períodos para torná-los uma ocasião de exame de consciência, de convicção de pecado, e de bendita segurança de pecados perdoados. Cristo, na plenitude de Sua graça, acha-Se aí para mudar a corrente dos pensamentos que têm seguido direções egoístas. O Espírito Santo aviva as sensibilidades dos que seguem o exemplo de seu Senhor. Ao ser lembrada a humilhação do Salvador por nós, pensamento liga-se a pensamento; evoca-se uma cadeia de lembranças, a recordação da grande bondade de Deus e do favor e ternura dos amigos terrestres. Bênçãos esquecidas, misericórdias de que se abusou, bondades menosprezadas são trazidas à memória. Patenteiam-se raízes de amargura que expulsaram a preciosa planta do amor. São trazidos à lembrança defeitos de caráter, negligência de deveres, ingratidão para com Deus, frieza para com nossos irmãos. O pecado é visto sob o aspecto por que o vê o próprio Deus. Nossos pensamentos não são de complacência com nós mesmos, mas de severa censura ao próprio eu, e de humilhação. Fortalece-se a mente para derribar toda barreira que tem causado separação. O pensar e falar mal são postos de lado. São confessados os pecados, e perdoados. Penetra na alma a subjugante graça de Cristo, e Seu amor liga os corações numa bendita unidade. DTN 460.5
Ao ser assim aprendida a lição do serviço preparatório, desperta-se o desejo de uma vida espiritual mais elevada. A esse desejo atenderá o divino Vigia. A alma será elevada. Podemos participar da comunhão com a consciência do perdão dos pecados. A luz da justiça de Cristo encherá as câmaras da mente e o templo da alma. Contemplamos “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. João 1:29. DTN 461.1
João 1:29
29 No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
A todos quantos recebem o espírito deste serviço, ele nunca se poderá tornar uma simples cerimônia. Sua constante lição será: “Servi-vos uns aos outros pela caridade”. Gálatas 5:13. Ao lavar os pés aos discípulos, Cristo deu nova prova de que estaria disposto a fazer qualquer serviço, por mais humilde que fosse, que os tornasse co-herdeiros Seus da fortuna eterna do tesouro celeste. Seus discípulos, ao realizarem o mesmo rito, penhoram-se para servir de igual maneira aos seus irmãos. Sempre que essa ordenança é devidamente celebrada, os filhos de Deus são levados a uma santa relação uns para com os outros, para se ajudar e beneficiar mutuamente. Comprometem-se a dar a vida a um desinteressado ministério. E isto não somente uns pelos outros. Seu campo de labor é tão vasto como era o de Seu Mestre. O mundo está cheio de pessoas necessitadas de nosso ministério. Os pobres, os ignorantes, os desamparados, acham-se por toda parte. Aqueles que comungaram com Cristo no cenáculo, sairão para servir como Ele serviu. DTN 461.2
Gálatas 5:13
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor.
Jesus, o que era servido por todos, veio a tornar-Se Servo de todos. E porque ministrou a todos, por todos há de ser novamente servido e honrado. E os que quiserem partilhar de Seus divinos atributos, participando com Ele da alegria de ver almas redimidas, devem seguir-Lhe o exemplo de abnegado ministério. DTN 461.3
Tudo isso estava compreendido nas palavras de Cristo: “Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também”. João 13:15. Esse era o intuito do serviço por Ele estabelecido. E Ele diz: “Se sabeis estas coisas”, se sabeis o desígnio de Suas lições, “bem-aventurados sois se as fizerdes.” DTN 461.4
João 13:15
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.