Perante o Tribunal de Cesaréia


Dia 301 - Sunday, 27 de October de 2024
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21 min

Romanos 9

Ouça o áudio do capítulo:

1 Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo):

2 Que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração.

3 Porque eu mesmo poderia desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;

4 Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas;

5 Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém.

6 Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas;

7 Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.

8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência.

9 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho.

10 E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai;

11 Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama),

12 Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor.

13 Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.

14 Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.

15 Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.

16 Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.

17 Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.

18 Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.

19 Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?

20 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?

21 Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?

22 E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição;

23 Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,

24 Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

25 Como também diz em Oséias:Chamarei meu povo ao que não era meu povo;E amada à que não era amada.

26 E sucederá que no lugar em que lhes foi dito:Vós não sois meu povo;Aí serão chamados filhos do Deus vivo.

27 Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo.

28 Porque ele completará a obra e abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra.

29 E como antes disse Isaías:Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência,Teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra.

30 Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé.

31 Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça.

32 Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço;

33 Como está escrito:Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo;E todo aquele que crer nela não será confundido.

Romanos 10

Ouça o áudio do capítulo:

1 Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação.

2 Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento.

3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.

4 Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.

5 Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas.

6 Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo. )

7 Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo. )

8 Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos,

9 A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

10 Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.

11 Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.

12 Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.

13 Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

14 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?

15 E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.

16 Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?

17 De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.

18 Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo, pois Por toda a terra saiu a voz deles,E as suas palavras até aos confins do mundo.

19 Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés:Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo,Com gente insensata vos provocarei à ira.

20 E Isaías ousadamente diz:Fui achado pelos que não me buscavam,Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.

21 Mas para Israel diz:Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.

Atos 24

Ouça o áudio do capítulo:

1 E, cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias desceu com os anciãos, e um certo Tértulo, orador, os quais compareceram perante o presidente contra Paulo.

2 E, sendo chamado, Tértulo começou a acusá-lo, dizendo: Visto como por ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços,

3 Sempre e em todo o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer.

4 Mas, para que não te detenha muito, rogo-te que, conforme a tua eqüidade, nos ouças por pouco tempo.

5 Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos;

6 O qual intentou também profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar.

7 Mas, sobrevindo o tribuno Lísias, no-lo tirou de entre as mãos com grande violência,

8 Mandando aos seus acusadores que viessem a ti; e dele tu mesmo, examinando-o, poderás entender tudo o de que o acusamos.

9 E também os judeus consentiam, dizendo serem estas coisas assim.

10 Paulo, porém, fazendo-lhe o presidente sinal que falasse, respondeu: Porque sei que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo por mim.

11 Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar;

12 E não me acharam no templo falando com alguém, nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade.

13 Nem tampouco podem provar as coisas de que agora me acusam.

14 Mas confesso-te isto que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.

15 Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos.

16 E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.

17 Ora, muitos anos depois, vim trazer à minha nação esmolas e ofertas.

18 Nisto me acharam já santificado no templo, não em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Ásia,

19 Os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem.

20 Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante o conselho,

21 A não ser estas palavras que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreição dos mortos.

22 Então Félix, havendo ouvido estas coisas, lhes pôs dilação, dizendo: Havendo-me informado melhor deste Caminho, quando o tribuno Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios.

23 E mandou ao centurião que o guardasse em prisão, tratando-o com brandura, e que a ninguém dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele.

24 E alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo.

25 E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei.

26 Esperando ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, para que o soltasse; pelo que também muitas vezes o mandava chamar, e falava com ele.

27 Mas, passados dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo; e, querendo Félix comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.

Atos dos Apóstolos

Perante o Tribunal de Cesaréia

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Atos 24.

Cinco dias depois de haver Paulo chegado a Cesaréia, seus acusadores chegaram de Jerusalém, acompanhados por Tértulo, um orador a quem tinham aliciado como conselheiro. Foi concedida ao caso imediata audiência. Paulo foi levado perante a assembléia, e Tértulo “começou a acusá-lo” Julgando que a lisonja pudesse ter sobre o governador romano mais influência que as simples afirmações da verdade e da justiça, o astuto orador começou seu discurso louvando a Félix: “Visto como por ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços, sempre e em todo o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer”. Atos 24:2, 3. AA 234.1

Tértulo desceu aqui a deslavada falsidade; pois o caráter de Félix era indigno e desprezível. Dele foi dito que “na prática de toda espécie de luxúria e crueldade, exerceu o poder de um rei com a têmpera de um escravo” Tácito, História, cap. 5, par. 9. Todos os que ouviram Tértulo sabiam que suas aduladoras palavras eram uma mentira; mas seu desejo de assegurar a condenação de Paulo era mais forte que seu amor à verdade. AA 234.2

Em seu discurso, Tértulo acusou Paulo de crimes que, se provados, teriam resultado em sua condenação por alta traição contra o governo. “Temos achado que este homem é uma peste”, declarou o orador, “e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos, o qual intentou também profanar o templo”. Atos 24:5, 6. Tértulo afirmou, então, que Lísias, comandante da guarnição em Jerusalém, tinha arrebatado Paulo aos judeus com violência, quando estavam para julgá-lo por sua lei eclesiástica, e que assim os forçou a apresentar o assunto perante Félix. Essas afirmações eram feitas com o desígnio de induzir o procurador a devolver Paulo à corte judaica. Todas as acusações foram sustentadas com veemência pelos judeus presentes, os quais nenhum esforço fizeram para ocultar seu ódio ao prisioneiro. AA 234.3

Félix teve suficiente perspicácia para ler a disposição e caráter dos acusadores de Paulo. Sabia por que motivo o tinham lisonjeado, e viu também que não tinham conseguido provar suas acusações contra Paulo. Voltando-se para o acusado, acenou-lhe para que respondesse por si. Paulo não gastou palavras em cumprimentos, mas afirmou simplesmente que com tanto maior ânimo se defendia perante Félix, uma vez que este era, havia tanto tempo, procurador, e portanto tinha bom conhecimento das leis e costumes dos judeus. Referindo-se às acusações apresentadas contra ele, mostrou plenamente que nenhuma era verdadeira. Declarou que não havia provocado distúrbio em parte alguma de Jerusalém, nem profanado o santuário. “Não me acharam no templo falando com alguém”, declarou, “nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade. Nem tão pouco podem provar as coisas de que agora me acusam”. Atos 24:12, 13. AA 234.4

Conquanto confessando que “conforme aquele caminho que chamam seita” adorava ao Deus de seus pais, sustentou que sempre havia crido em “tudo quanto está escrito na lei e nos profetas”; e que em harmonia com o claro ensino das Escrituras, cria na ressurreição dos mortos. Declarou ainda mais que o propósito orientador de sua vida era “sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens”. Atos 24:14-16. AA 235.1

De maneira sincera e reta ele declarou o objetivo de sua visita a Jerusalém, e as circunstâncias de sua prisão e julgamento: “Ora, muitos anos depois, vim trazer a minha nação esmolas e ofertas. Nisto me acharam já santificado no templo, não em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Ásia, os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem. Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante o conselho, a não ser estas palavras, que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreição dos mortos”. Atos 24:17-21. AA 235.2

O apóstolo falou com ardorosa e evidente sinceridade, e suas palavras levavam um peso de convicção. Cláudio Lísias, em sua carta a Félix, tinha dado testemunho similar com respeito à conduta de Paulo. Além disso, Félix tinha melhor conhecimento da religião judaica do que muitos supunham. A clara exposição que Paulo fizera dos fatos, capacitou Félix neste caso a entender ainda mais claramente os motivos pelos quais os judeus eram dominados ao procurar acusar o apóstolo de sedição e conduta desleal. O governador não queria agradar a eles condenando injustamente um cidadão romano, nem o poderia entregar para que o matassem sem um reto julgamento. No entanto, Félix não conhecia mais alto motivo que o interesse próprio, e era controlado pelo amor da fama e desejo de promoção. O temor de ofender os judeus o impediu de fazer inteira justiça a um homem que sabia ser inocente. Decidiu, portanto, suspender o julgamento até que Lísias estivesse presente, dizendo: “Quando o tribuno Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios” AA 235.3

O apóstolo permaneceu prisioneiro, mas Félix ordenou ao centurião que havia sido indicado para guardar Paulo, “que o guardassem em prisão, tratando-o com brandura, e que a ninguém dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele”. Atos 24:22, 23. AA 235.4

Não foi muito depois disso que Félix e sua esposa, Drusila, mandaram chamar Paulo para, em entrevista privada, poderem ouvi-lo “acerca da fé em Cristo”. Atos 24:24. Eles estavam desejosos e mesmo ávidos de ouvir a respeito dessas novas verdades — verdades que poderiam jamais ouvir de novo, e que, se rejeitadas, dariam um pronto testemunho contra eles no dia de Deus. AA 236.1

Paulo considerou essa oportunidade como provida por Deus, e fielmente a aproveitou. Sabia achar-se na presença de um homem que tinha poder de o condenar à morte ou de o livrar; contudo não se dirigiu a Félix e Drusila com palavras de elogio ou lisonjas. Sabia que suas palavras seriam para eles um cheiro de vida ou de morte, e esquecendo toda consideração egoísta, procurou despertá-los para o senso de seu perigo. AA 236.2

O apóstolo compreendia que o evangelho tinha uma reivindicação sobre quem quer que atentasse para suas palavras; que um dia eles estariam ou entre os puros e santos ao redor do grande trono branco, ou com aqueles a quem Cristo haveria de dizer: “Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade”. Mateus 7:23. Ele sabia que teria de encontrar cada um de seus ouvintes diante do tribunal do Céu, e que aí teria de prestar contas, não apenas de tudo o que havia dito e feito, mas do motivo e espírito de suas palavras e ações. AA 236.3

Tão violenta e cruel havia sido a conduta de Félix, que poucos haviam alguma vez ousado dar-lhe a entender que seu caráter e conduta não estavam isentos de faltas. Paulo, porém, não tinha temor do homem. Expôs claramente sua fé em Cristo, e as razões dessa fé, e foi assim levado a falar particularmente das virtudes essenciais do caráter cristão, de que o arrogante par diante dele era tão sensivelmente destituído. AA 236.4

Ele exaltou perante Félix e Drusila o caráter de Deus — Sua retidão, justiça e eqüidade, e a natureza de Sua lei. Mostrou claramente que é dever do homem levar uma vida de sobriedade e temperança, mantendo as paixões sob o controle da razão, em conformidade com a lei de Deus, e preservando as faculdades físicas e mentais em condições sadias. Declarou que viria, seguramente, um dia de juízo, quando todos seriam recompensados de acordo com o que tivessem feito no corpo, e quando seria plenamente revelado que a riqueza, posição ou títulos são destituídos de poder para alcançar para o homem o favor de Deus, ou para livrá-lo dos resultados do pecado. Mostrou que essa vida é o tempo de preparo do homem para a vida futura. Negligenciassem eles os presentes privilégios e oportunidades, e sofreriam eterna perda; nenhuma nova oportunidade de graça lhes poderia ser dada. AA 236.5

Paulo frisou especialmente os profundos reclamos da lei de Deus. Mostrou como ela alcança os íntimos segredos da natureza moral do homem, derramando um dilúvio de luz sobre aquilo que tem estado oculto à vista e ao conhecimento dos seres humanos. O que as mãos podem fazer ou a língua proferir — isso que a vida exterior revela — mostra, imperfeitamente embora, o caráter moral do homem. A lei esquadrinha seus pensamentos, motivos e propósitos. As perigosas paixões que permanecem ocultas à vista dos homens, a inveja, o ódio, o sensualismo, a ambição, as propostas perversas nos profundos recessos do coração, ainda não executadas por falta de oportunidade — tudo isso a lei de Deus condena. AA 236.6

Paulo procurou dirigir a mente de seus ouvintes para o grande sacrifício pelo pecado. Apontou aos sacrifícios que constituíam sombra dos bens futuros, e apresentou, então, a Cristo como o antítipo de todas essas cerimônias — o objeto para o qual elas apontavam como a única fonte de vida e esperança para o homem caído. Santos homens do passado foram salvos pela fé no sangue de Cristo. Ao contemplarem as agonias de morte das vítimas sacrificais, olhavam através dos séculos para o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo. AA 237.1

Deus, com justiça, reclama o amor e obediência de todas as Suas criaturas. Deu-lhes em Sua lei uma perfeita norma de retidão. Muitos, porém, se esquecem de seu Criador, e escolhem seguir seus próprios caminhos, em oposição à vontade de Deus. Pagam com inimizade o amor que é tão alto quanto o Céu e tão amplo quanto o Universo. Deus não pode baixar os reclamos de Sua lei a fim de corresponder à norma de homens ímpios; nem pode o homem em sua própria capacidade, cumprir as exigências da lei. Só pela fé em Cristo pode o pecador ser purificado da culpa e capacitado a prestar obediência à lei de seu Criador. AA 237.2

Assim Paulo, o prisioneiro, apresentou as exigências da lei divina tanto para judeus como para gentios, e apresentou a Jesus, o desprezado Nazareno, como o Filho de Deus, e Redentor do mundo. AA 237.3

A princesa judia bem compreendia o sagrado caráter daquela lei que tão desavergonhadamente transgredia; mas seu preconceito contra o Homem do Calvário endureceu-lhe o coração contra a palavra de vida. Mas Félix nunca ouvira antes a verdade; e à medida que o Espírito de Deus lhe imprimia convicção à alma, sentia-se profundamente agitado. A consciência, agora desperta, fez ouvir sua voz; e Félix sentiu que as palavras de Paulo eram verdadeiras. Sua memória retornou ao culposo passado. Com terrível clareza surgiram perante ele os segredos de seus primeiros tempos de homem sanguinário e perverso, e o relatório tenebroso de seus últimos anos. Viu-se licencioso, cruel, desonesto. Jamais tinha sido a verdade assim levada ao íntimo de seu coração. Nunca antes seu coração se enchera de terror. O pensamento de que todos os segredos de sua carreira de crimes estavam abertos aos olhos de Deus, e que ele seria julgado conforme as suas obras fê-lo tremer de pavor. AA 237.4

Mas em vez de permitir que suas convicções o guiassem ao arrependimento, procurou livrar-se dessas reflexões indesejáveis. A entrevista com Paulo foi abreviada. “Por agora vai-te”, disse; “e em tendo oportunidade te chamarei” AA 237.5

Quão amplo é o contraste entre o procedimento de Félix e o do carcereiro de Filipos! Os servos do Senhor foram levados em cadeias ao carcereiro, como Paulo a Félix. A evidência que deram de estar sendo sustidos por um divino poder, seu regozijo sob o sofrimento e desventura, seu destemor quando a terra vacilou com o terremoto, e seu espírito de perdão semelhante ao de Cristo levaram a convicção ao coração do carcereiro, que tremente confessou seus pecados e encontrou perdão. Félix tremeu, mas não se arrependeu. O carcereiro, jubiloso, abriu ao Espírito de Deus o coração e o lar; Félix ordenou que o mensageiro divino se retirasse. Um escolheu tornar-se filho de Deus e herdeiro do Céu; o outro preferiu os que praticavam a iniqüidade. AA 238.1

Durante dois anos, nenhuma outra atitude foi tomada contra Paulo, embora permanecesse prisioneiro. Félix visitou-o várias vezes e ouviu-lhe atentamente as palavras. Mas o motivo real dessa aparente benevolência era o desejo de ganho, e insinuou que mediante grande soma de dinheiro Paulo poderia assegurar sua liberdade. O apóstolo, entretanto, era de natureza demasiado nobre para libertar-se por meio de suborno. Não era culpado de crime algum, e não se aviltaria cometendo um mal para alcançar a liberdade. Demais era muito pobre para poder pagar esse resgate, caso a isso estivesse disposto, e não apelaria, em seu próprio benefício, para a simpatia e generosidade de seus conversos. Compreendia que estava nas mãos de Deus, e não poderia interferir no propósito divino a respeito de sua pessoa. AA 238.2

Félix foi finalmente chamado a Roma, por causa de graves males feitos aos judeus. Antes de deixar Cesaréia em resposta a esse chamado, desejou “comprazer aos judeus” (Atos 24:27), deixando Paulo na prisão. Mas Félix não alcançou êxito em sua tentativa de readquirir a confiança dos judeus. Foi removido do cargo em desonra, e Pórcio Festo foi indicado para sucedê-lo, com sede em Cesaréia. AA 238.3

Havia sido permitido que um raio de luz do Céu brilhasse sobre Félix, quando Paulo arrazoou com ele a respeito da justiça, temperança e juízo vindouro. Essa foi a oportunidade que o Céu lhe enviara para que visse seus pecados e os abandonasse. Mas dissera ao mensageiro de Deus: “Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei”. Atos 24:25. Menosprezara a última oferta de misericórdia. Nunca mais deveria receber outro convite de Deus. AA 238.4

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