Os Doze Espias


Dia 38 - Wednesday, 07 de February de 2024
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Números 11

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu que, queixou-se o povo falando o que era mal aos ouvidos do SENHOR; e ouvindo o SENHOR a sua ira se acendeu; e o fogo do SENHOR ardeu entre eles e consumiu os que estavam na última parte do arraial.

2 Então o povo clamou a Moisés, e Moisés orou ao Senhor, e o fogo se apagou.

3 Pelo que chamou aquele lugar Taberá, porquanto o fogo do Senhor se acendera entre eles.

4 E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer?

5 Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos.

6 Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos.

7 E era o maná como semente de coentro, e a sua cor como a cor de bdélio.

8 Espalhava-se o povo e o colhia, e em moinhos o moía, ou num gral o pisava, e em panelas o cozia, e dele fazia bolos; e o seu sabor era como o sabor de azeite fresco.

9 E, quando o orvalho descia de noite sobre o arraial, o maná descia sobre ele.

10 Então Moisés ouviu chorar o povo pelas suas famílias, cada qual à porta da sua tenda; e a ira do Senhor grandemente se acendeu, e pareceu mal aos olhos de Moisés.

11 E disse Moisés ao Senhor: Por que fizeste mal a teu servo, e por que não achei graça aos teus olhos, visto que puseste sobre mim o cargo de todo este povo?

12 Concebi eu porventura todo este povo? Dei-o eu à luz? para que me dissesses: leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que juraste a seus pais?

13 De onde teria eu carne para dar a todo este povo? Porquanto contra mim choram, dizendo: Dá-nos carne a comer;

14 Eu só não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim.

15 E se assim fazes comigo, mata-me, peço-te, se tenho achado graça aos teus olhos, e não me deixes ver o meu mal.

16 E disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali estejam contigo.

17 Então eu descerei e ali falarei contigo, e tirarei do espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que tu não a leves sozinho.

18 E dirás ao povo: Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do Senhor, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Pois íamos bem no Egito; por isso o Senhor vos dará carne, e comereis;

19 Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias;

20 Mas um mês inteiro, até vos sair pelas narinas, até que vos enfastieis dela; porquanto rejeitastes ao Senhor, que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizendo: Por que saímos do Egito?

21 E disse Moisés: Seiscentos mil homens de pé é este povo, no meio do qual estou; e tu tens dito: Dar-lhes-ei carne, e comerão um mês inteiro.

22 Degolar-se-ão para eles ovelhas e vacas que lhes bastem? Ou ajuntar-se-ão para eles todos os peixes do mar, que lhes bastem?

23 Porém, o Senhor disse a Moisés: Teria sido encurtada a mão do Senhor? Agora verás se a minha palavra se há de cumprir ou não.

24 E saiu Moisés, e falou as palavras do Senhor ao povo, e ajuntou setenta homens dos anciãos do povo e os pôs ao redor da tenda.

25 Então o Senhor desceu na nuvem, e lhe falou; e, tirando do espírito, que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas depois nunca mais.

26 Porém no arraial ficaram dois homens; o nome de um era Eldade, e do outro Medade; e repousou sobre eles o espírito (porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não saíram à tenda), e profetizavam no arraial.

27 Então correu um moço e anunciou a Moisés e disse: Eldade e Medade profetizam no arraial.

28 E Josué, filho de Num, servidor de Moisés, um dos seus jovens escolhidos, respondeu e disse: Moisés, meu senhor, proíbe-lho.

29 Porém, Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu espírito sobre ele!

30 Depois Moisés se recolheu ao arraial, ele e os anciãos de Israel.

31 Então soprou um vento do Senhor e trouxe codornizes do mar, e as espalhou pelo arraial quase caminho de um dia, de um lado e de outro lado, ao redor do arraial; quase dois côvados sobre a terra.

32 Então o povo se levantou todo aquele dia e toda aquela noite, e todo o dia seguinte, e colheram as codornizes; o que menos tinha, colhera dez ômeres; e as estenderam para si ao redor do arraial.

33 Quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a ira do Senhor contra o povo, e feriu o Senhor o povo com uma praga mui grande.

34 Por isso o nome daquele lugar se chamou Quibrote-Ataavá, porquanto ali enterraram o povo que teve o desejo.

35 De Quibrote-Ataavá caminhou o povo para Hazerote, e pararam em Hazerote.

Números 12

Ouça o áudio do capítulo:

1 E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita.

2 E disseram: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu.

3 E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.

4 E logo o Senhor disse a Moisés, a Arão e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três.

5 Então o Senhor desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã e ambos saíram.

6 E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele.

7 Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa.

8 Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?

9 Assim a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se.

10 E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã ficou leprosa como a neve; e olhou Arão para Miriã, e eis que estava leprosa.

11 Por isso Arão disse a Moisés: Ai, senhor meu, não ponhas sobre nós este pecado, pois agimos loucamente, e temos pecado.

12 Ora, não seja ela como um morto, que saindo do ventre de sua mãe, a metade da sua carne já esteja consumida.

13 Clamou, pois, Moisés ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures.

14 E disse o Senhor a Moisés: Se seu pai cuspira em seu rosto, não seria envergonhada sete dias? Esteja fechada sete dias fora do arraial, e depois a recolham.

15 Assim Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias, e o povo não partiu, até que recolheram a Miriã.

16 Porém, depois o povo partiu de Hazerote; e acampou-se no deserto de Parã.

Números 13

Ouça o áudio do capítulo:

1 E falou o SENHOR a Moisés, dizendo:

2 Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada um príncipe entre eles.

3 E enviou-os Moisés do deserto de Parã, segundo a ordem do Senhor; todos aqueles homens eram cabeças dos filhos de Israel.

4 E estes são os seus nomes: Da tribo de Rúben, Samua, filho de Zacur;

5 Da tribo de Simeão, Safate, filho de Hori;

6 Da tribo de Judá, Calebe, filho de Jefoné;

7 Da tribo de Issacar, Jigeal, filho de José;

8 Da tribo de Efraim, Oséias, filho de Num;

9 Da tribo de Benjamim, Palti, filho de Rafu;

10 Da tribo de Zebulom, Gadiel, filho de Sodi;

11 Da tribo de José, pela tribo de Manassés, Gadi filho de Susi;

12 Da tribo de Dã, Amiel, filho de Gemali;

13 Da tribo de Aser, Setur, filho de Micael;

14 Da tribo de Naftali, Nabi, filho de Vofsi;

15 Da tribo de Gade, Geuel, filho de Maqui.

16 Estes são os nomes dos homens que Moisés enviou a espiar aquela terra; e a Oséias, filho de Num, Moisés chamou Josué.

17 Enviou-os, pois, Moisés a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi por aqui para o lado do sul, e subi à montanha:

18 E vede que terra é, e o povo que nela habita; se é forte ou fraco; se pouco ou muito.

19 E como é a terra em que habita, se boa ou má; e quais são as cidades em que eles habitam; se em arraiais, ou em fortalezas.

20 Também como é a terra, se fértil ou estéril; se nela há árvores, ou não; e esforçai-vos, e tomai do fruto da terra. E eram aqueles dias os dias das primícias das uvas.

21 Assim subiram e espiaram a terra desde o deserto de Zim, até Reobe, à entrada de Hamate.

22 E subiram para o lado do sul, e vieram até Hebrom; e estavam ali Aimã, Sesai e Talmai, filhos de Anaque (Hebrom foi edificada sete anos antes de Zoã no Egito).

23 Depois foram até ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens, sobre uma vara; como também das romãs e dos figos.

24 Chamaram àquele lugar o vale de Escol, por causa do cacho que dali cortaram os filhos de Israel.

25 E eles voltaram de espiar a terra, ao fim de quarenta dias.

26 E caminharam, e vieram a Moisés e a Arão, e a toda a congregação dos filhos de Israel no deserto de Parã, em Cades; e deram-lhes notícias, a eles, e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra.

27 E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto.

28 O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Anaque.

29 Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam junto do mar, e pela margem do Jordão.

30 Então Calebe fez calar o povo perante Moisés, e disse: Certamente subiremos e a possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela.

31 Porém, os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós.

32 E infamaram a terra que tinham espiado, dizendo aos filhos de Israel: A terra, pela qual passamos a espiá-la, é terra que consome os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura.

33 Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos.

Patriarcas e Profetas

Os Doze Espias

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Números 13-14.

Onze dias depois de partir do Monte Horebe, as tribos hebréias acamparam-se em Cades, no deserto de Parã, que não ficava longe das fronteiras da Terra Prometida. Ali foi proposto pelo povo que fossem enviados espias a fim de examinarem o país. Isto foi apresentado ao Senhor por Moisés, e Ele lhes concedeu permissão, com a instrução de que um dos príncipes de cada tribo fosse escolhido para tal fim. Os homens foram escolhidos, conforme ficara determinado, e Moisés mandou-os ir ver o país: qual era o mesmo, sua situação e vantagens naturais, e o povo que nele habitava, notando se eram fortes ou fracos, poucos ou muitos; bem como deveriam observar a natureza do solo e sua produtividade, e trazer do fruto da terra. PP 279.1

Eles foram e examinaram a terra toda, entrando pela fronteira ao sul e indo até à extremidade norte. Voltaram depois de uma ausência de quarenta dias. O povo de Israel estava acariciando grandes esperanças, e os aguardavam com ávida expectação. A notícia da volta dos espias foi levada de tribo a tribo, e saudada com regozijo. O povo precipitou-se ao encontro dos mensageiros, que saíram ilesos dos perigos de sua arriscada empresa. Os espias trouxeram amostras do fruto, que comprovavam a fertilidade do solo. Era o tempo da maturação das uvas, e trouxeram um cacho tão grande que era carregado entre dois homens. Trouxeram também figos e romãs que ali cresciam em abundância. PP 279.2

O povo regozijava-se de que devesse entrar na posse de uma terra tão boa, e escutaram atentamente ao ser o relatório apresentado a Moisés, a fim de que nenhuma palavra se lhes escapasse. “Fomos à terra a que nos enviaste”, começaram os espias; “e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o fruto”. Números 13:17-33. O povo ficou entusiasmado; queriam com avidez obedecer à voz do Senhor, e subir sem demora a possuir a terra. Mas, depois de descreverem a beleza e fertilidade da terra, todos os espias, com exceção de dois, exageraram as dificuldades e perigos que estavam diante dos israelitas caso empreendessem a conquista de Canaã. Enumeraram as poderosas nações localizadas nas várias partes do país, e disseram que as cidades eram muradas e muito grandes, e o povo que nelas habitava era forte; e seria impossível vencê-los. Declararam também que tinham visto ali gigantes, os filhos de Enaque, e era inútil pensar em possuir a terra. PP 279.3

Agora a cena mudou. A esperança e o ânimo deram lugar ao desespero covarde, ao proferirem os espias os sentimentos de seu coração incrédulo, que estava cheio de desânimo inspirado por Satanás. Sua incredulidade lançou escura sombra à congregação, e o grande poder de Deus, tantas vezes manifesto em prol da nação eleita, foi esquecido. O povo não se deteve a refletir; não raciocinou que Aquele que os trouxera até ali certamente lhes daria a terra; não se lembravam de quão maravilhosamente Deus os libertara de seus opressores, abrindo caminho através do mar, e destruindo as hostes perseguidoras de Faraó. Puseram a Deus fora da questão, e agiram como se devessem confiar apenas no poder das armas. PP 280.1

Em sua incredulidade limitaram o poder de Deus, e não confiaram na mão que até ali os guiara com segurança. E repetiram seu erro anterior de murmurar contra Moisés e Arão. “Este, pois, é o fim de todas as nossas grandes esperanças?” disseram. “É esta a terra para possuir a qual viajamos desde o Egito.” Acusaram seus chefes de enganar o povo, e acarretar angústia sobre Israel. PP 280.2

O povo ficou desesperado em seu desapontamento e aflição. Ergueu-se um pranto agoniado, e misturou-se com o murmúrio confuso das vozes. Calebe compreendeu a situação e, bastante ousado para tomar a defesa da palavra de Deus, fez tudo ao seu alcance para desfazer a má influência de seus companheiros infiéis. Por um momento o povo ficou em silêncio para ouvir-lhe as palavras de esperança e ânimo, com respeito à boa terra. Ele não contradizia o que já havia sido dito; os muros eram altos, e fortes os cananeus. Mas Deus prometera a Israel a terra. “Subamos animosamente, e possuamo-la em herança”, insistiu Calebe; “porque certamente prevaleceremos contra ela.” PP 280.3

Mas os dez, interrompendo-o descreveram os obstáculos em cores mais negras do que ao princípio. “Não podemos subir contra aquele povo”, declararam; “porque é mais forte do que nós. [...] Todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos”. Números 13:31-33. PP 280.4

Estes homens, tendo enveredado por um mau caminho, insistentemente se puseram contra Calebe e Josué, contra Moisés, e contra Deus. Cada passo para frente os tornava mais decididos. Estavam resolvidos a frustrar todo o esforço para se apossarem de Canaã. Torciam a verdade a fim de sustentar sua influência nociva. “É terra que consome seus moradores” (Números 13:32), disseram eles. Isto era não somente uma notícia ruim, mas também mentirosa. Era incoerente. Os espias tinham declarado ser o país frutífero e próspero, e o povo de estatura gigantesca, coisas estas que seriam impossíveis se o clima fosse tão insalubre que se pudesse dizer da terra que consumia os habitantes. Mas quando os homens entregam o coração à incredulidade, colocam-se sob o domínio de Satanás, e ninguém poderá dizer até aonde ele os levará. PP 280.5

“Então levantou-se toda a congregação, e alçaram a sua voz; e o povo chorou naquela mesma noite.” Revolta e franca sedição seguiram-se rapidamente; pois Satanás teve pleno domínio, e o povo parecia despojado da razão. Amaldiçoaram Moisés e Arão, esquecendo-se de que Deus escutava suas ímpias palavras, e que, cercado pela coluna de nuvem, o Anjo de Sua presença estava a testemunhar a terrível explosão de ira por parte deles. Com amargura exclamaram: “Ah! se morrêramos na terra do Egito! ou, ah! se morrêramos neste deserto!” Então seus sentimentos se insurgiram contra Deus: “Por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão, e voltemos ao Egito.” Desta maneira não somente acusavam a Moisés, mas ao próprio Deus, de os enganar, prometendo-lhes uma terra que eram incapazes de possuir. E chegaram a ponto de designar um capitão para os guiar de volta à terra de seu sofrimento e cativeiro, da qual haviam sido libertos pelo braço forte da Onipotência. PP 281.1

Com humilhação e angústia, “Moisés e Arão caíram sobre os seus rostos perante todo o ajuntamento dos filhos de Israel” (Números 14:1-5), não sabendo o que fazer para os desviar de seu precipitado e apaixonado propósito. Calebe e Josué tentaram acalmar o tumulto. Rasgando as vestes em sinal de pesar e indignação, arrojaram-se entre o povo, e suas vozes penetrantes foram ouvidas acima da tormenta das lamentações e mágoa revoltosa: “A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão. Retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais”. Números 14:7-9. PP 281.2

Os cananeus tinham enchido a medida de sua iniqüidade, e o Senhor não mais os suportaria. Sendo removida a sua proteção, seriam presa fácil. Pelo concerto de Deus, a terra estava assegurada a Israel. Mas o relato falso dos espias infiéis foi aceito, e por meio dele toda a congregação foi iludida. Os traidores haviam feito a sua obra. Se apenas dois homens houvessem trazido o mau relato, e todos os dez os animassem a possuir a terra em nome do Senhor, teriam também adotado o conselho dos dois de preferência ao dos dez, por causa de sua ímpia incredulidade. Mas dois apenas haviam advogado o que era reto, enquanto dez estavam do lado da rebelião. PP 281.3

Os espias infiéis denunciavam em alta voz a Calebe e Josué, e levantou-se o clamor para os apedrejar. A turba insana apanhou pedras para matar aqueles homens fiéis. Avançaram com uivos de furor, quando subitamente as pedras lhes caíram das mãos, tombou sobre eles um silêncio, e tremeram de medo. Deus interviera para impedir o seu desígnio assassino. A glória de Sua presença, como uma luz chamejante, iluminou o tabernáculo. Todo o povo viu o sinal do Senhor. Alguém que era mais poderoso do que eles Se revelara, e ninguém ousava prosseguir com a resistência. Os espias que trouxeram o mau relatório, agacharam-se tomados de terror, e com a respiração contida procuraram suas tendas. PP 281.4

Moisés levantou-se então e entrou no tabernáculo. O Senhor declarou-lhe: “Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei; e farei de ti povo maior”. Números 14:12. Mas de novo Moisés pleiteou em favor de seu povo. Não podia consentir em que fossem destruídos, e dele se fizesse uma nação mais poderosa. Apelando para a misericórdia de Deus, disse: “Rogo-Te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo, e grande em beneficência. [...] Perdoa pois a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da Tua benignidade; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui”. Números 14:17-19. PP 282.1

O Senhor prometeu poupar Israel de destruição imediata; mas, por causa de sua incredulidade e covardia, não poderia manifestar Seu poder para subjugar os inimigos deles. Portanto, em Sua misericórdia ordenou-lhes, como o único meio seguro, que volvessem em direção ao Mar Vermelho. PP 282.2

Em sua rebelião o povo declarara: “Ah! se morrêramos neste deserto!” Números 14:2. Agora esta oração devia ser atendida. O Senhor declarou: “Como falastes aos Meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos e para cima. [...] Mas os vossos filhos de que dizeis: Por presa serão, meterei nela, e eles saberão da terra que vós desprezastes.” E quanto a Calebe, Ele disse: “Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-Me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá”. Números 14:28, 29, 31, 24. Assim como os espias haviam despendido quarenta dias em sua viagem, deveriam semelhantemente as hostes de Israel vaguear pelo deserto quarenta anos. PP 282.3

Quando Moisés fez saber ao povo a decisão divina, a ira deste transformou-se em lamentação. Sabiam que seu castigo era justo. Os dez espias infiéis, feridos por determinação divina pela praga, pereceram diante dos olhos de todo o Israel; e em sua sorte o povo leu sua própria condenação. PP 282.4

Agora pareciam arrepender-se sinceramente de sua conduta pecaminosa; mas entristeciam-se por causa do resultado de seu mau caminho, em vez de o ser pela intuição de sua ingratidão e desobediência. Quando viram que o Senhor não Se abrandava na execução de Seu decreto, surgiu de novo sua voluntariosidade, e declararam que não voltariam ao deserto. Ordenando-lhes que se retirassem da terra de seus inimigos, Deus pusera à prova a sua aparente submissão, e demonstrara que a mesma não era real. Sabiam ter pecado gravemente consentindo em que seus sentimentos temerários os dominassem, e procurando matar os espias que insistiam com eles para que obedecessem a Deus; mas apenas estavam aterrorizados por achar que tinham cometido um erro terrível, cujas conseqüências se lhes mostrariam desastrosas. Seu coração não estava mudado, e tão-somente necessitavam de um pretexto para darem lugar a outra rebelião semelhante. Este se apresentou quando Moisés, pela autoridade de Deus, lhes ordenou voltarem ao deserto. PP 282.5

O decreto de que Israel não deveria entrar em Canaã antes de passarem quarenta anos, foi um amargo desapontamento para Moisés e Arão, Calebe e Josué; todavia, sem murmurar, aceitaram a decisão divina. Mas aqueles que estiveram a queixar-se do trato de Deus para com eles, e a declarar que voltariam ao Egito, choraram e lamentaram grandemente quando as bênçãos que desprezaram lhes foram tiradas. Haviam-se queixado de coisas irreais, e agora Deus lhes deu motivo para chorar. Houvessem deplorado o seu pecado, quando este se lhes apresentou lealmente, não teria sido pronunciada aquela sentença; mas lamentavam pelo motivo do juízo; sua tristeza não era arrependimento, e não poderia obter a revogação da sentença. PP 283.1

Passaram a noite em lamentação; porém, com a manhã veio a esperança. Resolveram reparar sua covardia. Quando Deus lhes mandara subir e tomar a terra, tinham-se recusado; e agora que lhes determinava retroceder estavam igualmente rebeldes. Decidiram-se a tomar a terra e possuí-la; poderia ser que Deus lhes aceitasse o trabalho, e modificasse Seu propósito em relação a eles. PP 283.2

Deus tornara privilégio e dever deles entrar na terra no tempo por Ele designado; mas, pela sua voluntariosa negligência, fora retirada aquela permissão. Satanás conseguira seu objetivo impedindo-os de entrar em Canaã; e agora, em face da proibição divina, insistia com eles para que fizessem a mesma coisa que se haviam recusado a fazer quando Deus a ordenara. Assim o grande enganador alcançou a vitória, levando-os à rebelião pela segunda vez. Não haviam confiado no poder de Deus a operar juntamente com seus esforços ao se apoderarem eles de Canaã; todavia contavam agora com sua própria força para efetuarem o trabalho independente do auxílio divino. “Pecamos contra o Senhor”, exclamaram; “nós subiremos e pelejaremos, conforme a tudo o que nos ordenou o Senhor nosso Deus”. Deuteronômio 1:41. Tão terrivelmente cegos ficaram eles pela transgressão. O Senhor nunca lhes mandara “subir e pelejar”. Não era Seu propósito que adquirissem a terra pela guerra, mas pela obediência estrita às Suas ordens. PP 283.3

Se bem que seu coração não estivesse mudado, o povo fora levado a confessar a pecaminosidade e loucura de sua rebelião diante do relatório dos espias. Viam agora o valor da bênção que tão temerariamente haviam rejeitado. Confessaram que sua própria incredulidade os excluíra de Canaã. “Pecamos”, disseram eles, reconhecendo que a falta estava neles mesmos, e não com Deus, a quem tão impiamente acusaram de deixar de cumprir Suas promessas para com eles. Se bem que sua confissão não partisse do verdadeiro arrependimento, serviu para reivindicar a justiça de Deus, em Seu trato com eles. PP 283.4

O Senhor ainda opera de modo semelhante para glorificar o Seu nome, levando homens a reconhecerem Sua justiça. Quando aqueles que professam amá-Lo se queixam de Sua providência, desprezam-Lhe as promessas e, cedendo à tentação, se unem com os anjos maus para frustrar os propósitos de Deus, o Senhor muitas vezes encaminha de tal maneira as circunstâncias que essas mesmas pessoas são levadas ao ponto em que se convençam de seu pecado e sejam constrangidas a reconhecer a impiedade de sua conduta, e a justiça e bondade de Deus em Seu trato com elas, e isto embora não tenham verdadeiro arrependimento. É assim que Deus põe em ação forças contrárias a fim de tornar manifestas as obras das trevas. E se bem que o espírito que inspirou a má conduta não esteja radicalmente transformado, fazem-se confissões para vindicar a honra de Deus, e justificar aqueles que da parte dEle reprovam fielmente, os quais sofreram oposição e foram caluniados. Assim será quando a ira de Deus for finalmente derramada. Quando o Senhor vier “com milhares de Seus santos para fazer juízo contra todos”, convencerá “dentre eles todos os ímpios por todas as suas obras de impiedade”. Judas 14, 15. Cada pecador será levado a ver e reconhecer a justiça de sua condenação. PP 284.1

Sem tomar em consideração a sentença divina, prepararam-se os israelitas para empreender a conquista de Canaã. Equipados de escudos e armas de guerra, achavam-se, quanto ao que calculavam, completamente preparados para a luta; mas eram deploravelmente deficientes à vista de Deus e de Seus entristecidos servos. Quando, quase quarenta anos mais tarde, o Senhor ordenou a Israel subir e tomar Jericó, prometeu ir com eles. A arca contendo a Sua lei foi levada diante dos exércitos deles. Os chefes que Ele designara deviam guiar-lhes os movimentos, sob a inspeção divina. Com tal direção, nenhum mal lhes poderia sobrevir. Mas agora, contrariamente ao mando de Deus e à proibição solene de seus chefes, sem a arca e sem Moisés, foram enfrentar os exércitos do inimigo. PP 284.2

A trombeta soou o alarma, e Moisés apressou-se após eles com o aviso: “Por que quebrantais o mandado do Senhor? pois isso não prosperará. Não subais, pois o Senhor não estará no meio de vós, para que não sejais feridos diante dos vossos inimigos. Porque os amalequitas e os cananeus estão ali diante da vossa face, e caireis à espada”. Números 14:41-43. PP 284.3

Os cananeus tinham ouvido falar do poder misterioso que parecia guardar esse povo, e dos prodígios operados em seu favor; e agora convocaram uma força poderosa para repelir os invasores. O exército atacante não tinha chefe. Nenhuma oração fora feita para que Deus lhes desse a vitória. Saíram com o desesperado intuito de revogar a sua sorte ou morrer na batalha. Posto que não fossem experimentados na guerra, eram uma vasta multidão de homens armados, e esperavam por um assalto de surpresa suplantar toda oposição. Presunçosamente desafiaram o adversário que não ousara atacá-los. PP 284.4

Os cananeus tinham-se estacionado sobre um planalto rochoso, acessível apenas por desfiladeiros incômodos, e subidas íngremes e perigosas. O imenso número dos hebreus apenas poderia tornar sua derrota mais terrível. Vagarosamente enfileiraram-se pelas sendas das montanhas, expostos aos projéteis mortíferos de seus inimigos no alto. Rochas pesadas vinham trovejando abaixo, assinalando o seu caminho com o sangue dos mortos. Aqueles que atingiam o cimo, exaustos com a ascensão, eram atrozmente repelidos, e expulsos com grandes perdas. O campo de carnificina ficou juncado de cadáveres. O exército de Israel foi derrotado completamente. Destruição e morte foram o resultado daquela experiência revoltosa. PP 285.1

Obrigados finalmente à submissão, os sobreviventes voltaram e choraram perante o Senhor, mas o Senhor não ouviu a sua voz. Deuteronômio 1:45. Pela sua assinalada vitória, os inimigos de Israel, que antes haviam esperado com tremor a aproximação daquele poderoso exército, inspiraram-se de confiança para lhes resistir. Todas as notícias que tinham ouvido concernentes às coisas maravilhosas que Deus operara pelo Seu povo, consideravam agora falsas, e entendiam não haver motivos de receio. Aquela primeira derrota de Israel, inspirando os cananeus com coragem e resolução, aumentara grandemente as dificuldades da conquista. Nada restava a Israel senão recuar da face de seus vitoriosos adversários para o deserto, sabendo que ali deveria ser o túmulo de uma geração inteira. PP 285.2

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