O Chamado de Isaías
- Isaías 1-6
Isaías 1
Ouça o áudio do capítulo:
1 Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá.
2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o Senhor tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.
3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.
4 Ai, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao Senhor, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás.
5 Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.
6 Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo.
7 A vossa terra está assolada, as vossas cidades estão abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença; e está como devastada, numa subversão de estranhos.
8 E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como uma cidade sitiada.
9 Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra.
10 Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra.
11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes.
12 Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?
13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene.
14 As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.
15 Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
16 Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal.
17 Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.
18 Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.
19 Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.
20 Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse.
21 Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas.
22 A tua prata tornou-se em escórias, o teu vinho se misturou com água.
23 Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva.
24 Portanto diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah! tomarei satisfações dos meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos.
25 E voltarei contra ti a minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza.
26 E te restituirei os teus juízes, como foram dantes; e os teus conselheiros, como antigamente; e então te chamarão cidade de justiça, cidade fiel.
27 Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela com justiça.
28 Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos.
29 Porque vos envergonhareis pelos carvalhos que cobiçastes, e sereis confundidos pelos jardins que escolhestes.
30 Porque sereis como o carvalho, ao qual caem as folhas, e como o jardim que não tem água.
31 E o forte se tornará em estopa, e a sua obra em faísca; e ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague.
Isaías 2
Ouça o áudio do capítulo:
1 Palavra que viu Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e de Jerusalém.
2 E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações.
3 E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor.
4 E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear.
5 Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor.
6 Mas tu desamparaste o teu povo, a casa de Jacó, porque se encheram dos costumes do oriente e são agoureiros como os filisteus; e associam-se com os filhos dos estrangeiros,
7 E a sua terra está cheia de prata e ouro, e não têm fim os seus tesouros; também a sua terra está cheia de cavalos, e os seus carros não têm fim.
8 Também a sua terra está cheia de ídolos; inclinam-se perante a obra das suas mãos, diante daquilo que fabricaram os seus dedos.
9 E o povo se abate, e os nobres se humilham; portanto não lhes perdoarás.
10 Entra nas rochas, e esconde-te no pó, do terror do Senhor e da glória da sua majestade.
11 Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; e só o Senhor será exaltado naquele dia.
12 Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido;
13 E contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã;
14 E contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros elevados;
15 E contra toda a torre alta, e contra todo o muro fortificado;
16 E contra todos os navios de Társis, e contra todas as pinturas desejáveis.
17 E a arrogância do homem será humilhada, e a sua altivez se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia.
18 E todos os ídolos desaparecerão totalmente.
19 Então os homens entrarão nas cavernas das rochas, e nas covas da terra, do terror do Senhor, e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para assombrar a terra.
20 Naquele dia o homem lançará às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que fizeram para diante deles se prostrarem.
21 E entrarão nas fendas das rochas, e nas cavernas das penhas, por causa do terror do Senhor, e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para abalar terrivelmente a terra.
22 Deixai-vos do homem cujo fôlego está nas suas narinas; pois em que se deve ele estimar?
Isaías 3
Ouça o áudio do capítulo:
1 Porque, eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tirará de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio; a todo o sustento de pão e a todo o sustento de água;
2 O poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião,
3 O capitão de cinqüenta, e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloqüente orador.
4 E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles.
5 E o povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre.
6 Quando alguém pegar de seu irmão na casa de seu pai, dizendo: Tu tens roupa, sê nosso governador, e toma sob a tua mão esta ruína;
7 Naquele dia levantará este a sua voz, dizendo: Não posso ser médico, nem tampouco há em minha casa pão, ou roupa alguma; não me haveis de constituir governador sobre o povo.
8 Porque Jerusalém está arruinada, e Judá caída; porque a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para provocarem os olhos da sua glória.
9 O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos.
10 Dizei ao justo que bem lhe irá; porque comerão do fruto das suas obras.
11 Ai do ímpio! Mal lhe irá; porque se lhe fará o que as suas mãos fizeram.
12 Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas.
13 O Senhor se levanta para pleitear, e põe-se de pé para julgar os povos.
14 O Senhor entrará em juízo contra os anciãos do seu povo, e contra os seus príncipes; é que fostes vós que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas casas.
15 Que tendes vós, que esmagais o meu povo e moeis as faces dos pobres? Diz o Senhor DEUS dos Exércitos.
16 Diz ainda mais o Senhor: Porquanto as filhas de Sião se exaltam, e andam com o pescoço erguido, lançando olhares impudentes; e quando andam, caminham afetadamente, fazendo um tilintar com os seus pés;
17 Portanto o Senhor fará tinhoso o alto da cabeça das filhas de Sião, e o Senhor porá a descoberto a sua nudez,
18 Naquele dia tirará o Senhor os ornamentos dos pés, e as toucas, e adornos em forma de lua,
19 Os pendentes, e os braceletes, as estolas,
20 Os gorros, e os ornamentos das pernas, e os cintos e as caixinhas de perfumes, e os brincos,
21 Os anéis, e as jóias do nariz,
22 Os vestidos de festa, e os mantos, e os xales, e as bolsas.
23 Os espelhos, e o linho finíssimo, e os turbantes, e os véus.
24 E será que em lugar de perfume haverá mau cheiro; e por cinto uma corda; e em lugar de encrespadura de cabelos, calvície; e em lugar de veste luxuosa, pano de saco; e queimadura em lugar de formosura.
25 Teus homens cairão à espada e teus poderosos na peleja.
26 E as suas portas gemerão e prantearão; e ela, desolada, se assentará no chão.
Isaías 4
Ouça o áudio do capítulo:
1 E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio.
2 Naquele dia o renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel.
3 E será que aquele que for deixado em Sião, e ficar em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os viventes em Jerusalém;
4 Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém, do meio dela, com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor.
5 E criará o Senhor sobre todo o lugar do monte de Sião, e sobre as suas assembléias, uma nuvem de dia e uma fumaça, e um resplendor de fogo flamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção.
6 E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva.
Isaías 5
Ouça o áudio do capítulo:
1 Agora cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil.
2 E cercou-a, e limpando-a das pedras, plantou-a de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, porém deu uvas bravas.
3 Agora, pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha.
4 Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas?
5 Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja pisada;
6 E a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; porém crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela.
7 Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercesse juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor.
8 Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no meio da terra!
9 A meus ouvidos disse o Senhor dos Exércitos: Em verdade que muitas casas ficarão desertas, e até as grandes e excelentes sem moradores.
10 E dez jeiras de vinha não darão mais do que um bato; e um ômer de semente não dará mais do que um efa.
11 Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice; e continuam até à noite, até que o vinho os esquente!
12 E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nos seus banquetes; e não olham para a obra do Senhor, nem consideram as obras das suas mãos.
13 Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; e os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede.
14 Portanto o inferno grandemente se alargou, e se abriu a sua boca desmesuradamente; e para lá descerão o seu esplendor, e a sua multidão, e a sua pompa, e os que entre eles se alegram.
15 Então o plebeu se abaterá, e o nobre se humilhará; e os olhos dos altivos se humilharão.
16 Porém o Senhor dos Exércitos será exaltado em juízo; e Deus, o Santo, será santificado em justiça.
17 Então os cordeiros pastarão como de costume, e os estranhos comerão dos lugares devastados pelos gordos.
18 Ai dos que puxam a iniqüidade com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de carro!
19 E dizem: Avie-se, e acabe a sua obra, para que a vejamos; e aproxime-se e venha o conselho do Santo de Israel, para que o conheçamos.
20 Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!
21 Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!
22 Ai dos que são poderosos para beber vinho, e homens de poder para misturar bebida forte;
23 Dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos justos negam a justiça!
24 Por isso, como a língua de fogo consome a palha, e o restolho se desfaz pela chama, assim será a sua raiz como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel.
25 Por isso se acendeu a ira do Senhor contra o seu povo, e estendeu a sua mão contra ele, e o feriu, de modo que as montanhas tremeram, e os seus cadáveres se fizeram como lixo no meio das ruas; com tudo isto não tornou atrás a sua ira, mas a sua mão ainda está estendida.
26 E ele arvorará o estandarte para as nações de longe, e lhes assobiará para que venham desde a extremidade da terra; e eis que virão apressurada e ligeiramente.
27 Não haverá entre eles cansado, nem quem tropece; ninguém tosquenejará nem dormirá; não se lhe desatará o cinto dos seus lombos, nem se lhe quebrará a correia dos seus sapatos.
28 As suas flechas serão agudas, e todos os seus arcos retesados; os cascos dos seus cavalos são reputados como pederneiras, e as rodas dos seus carros como redemoinho.
29 O seu rugido será como o do leão; rugirão como filhos de leão; sim, rugirão e arrebatarão a presa, e a levarão, e não haverá quem a livre.
30 E bramarão contra eles naquele dia, como o bramido do mar; então olharão para a terra, e eis que só verão trevas e ânsia, e a luz se escurecerá nos céus.
Isaías 6
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1 No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo.
2 Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.
3 E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
4 E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.
5 Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.
6 Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz;
7 E com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e expiado o teu pecado.
8 Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.
9 Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.
10 Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado.
11 Então disse eu: Até quando Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada.
12 E o Senhor afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo.
13 Porém ainda a décima parte ficará nela, e tornará a ser pastada; e como o carvalho, e como a azinheira, que depois de se desfolharem, ainda ficam firmes, assim a santa semente será a firmeza dela.
Profetas e Reis
O Chamado de Isaías
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O longo reinado de Uzias (também conhecido como Azarias) na terra de Judá e Benjamim foi caracterizado por uma prosperidade maior que a de qualquer outro rei desde a morte de Salomão, cerca de dois séculos antes. Por muitos anos o rei governou com discrição. Sob as bênçãos do Céu, seus exércitos reconquistaram alguns dos territórios que tinham sido perdidos nos anos anteriores. Cidades foram reconstruídas e fortificadas, e a posição da nação entre os povos vizinhos foi grandemente fortalecida. Reavivou-se o comércio, e as riquezas das nações fluíram para Jerusalém. O nome de Uzias voou “até muito longe; porque foi maravilhosamente ajudado, até que se tornou forte”. 2 Crônicas 26:15. PR 155.1
2 Crônicas 26:15
Essa prosperidade, no entanto, não foi acompanhada por um correspondente avivamento do poder espiritual. Os cultos do templo prosseguiram como nos anos anteriores, e multidões se reuniram para adorar ao Deus vivo; mas o orgulho e o formalismo gradualmente tomaram o lugar da humildade e sinceridade. Do próprio Uzias está escrito: “Mas, havendo-se já fortalecido, exaltou-se o seu coração até se corromper, e transgrediu contra o Senhor seu Deus”. 2 Crônicas 26:16. PR 155.2
2 Crônicas 26:16
O pecado que produziu tão desastrosos resultados para Uzias foi o da presunção. Em violação de um claro mandamento de Jeová, segundo o qual ninguém que não os descendentes de Arão devia oficiar como sacerdote, o rei entrou no santuário “para queimar incenso no altar”. O sumo sacerdote Azarias e seus associados protestaram, e suplicaram a Uzias que abandonasse seu propósito. “Transgrediste”, disseram eles; “e não será isto para honra tua”. 2 Crônicas 26:16, 18. PR 155.3
2 Crônicas 26:16, 18
Uzias encheu-se de ira, que sendo ele o rei, fosse assim repreendido. Mas não lhe foi permitido profanar o santuário contra os protestos unidos dos que tinham autoridade. Enquanto permanecia ali, em irada rebelião, foi ele subitamente ferido pelo juízo divino. Em sua testa apareceu lepra. Atribulado, deixou o recinto do templo, para nunca mais aí entrar. Até o dia de sua morte, alguns anos mais tarde, Uzias ficou leproso — um exemplo vivo da loucura de abandonar um claro “Assim diz o Senhor”. Nem sua exaltada posição nem sua longa vida de serviço poderiam ser invocadas como desculpa pelo presunçoso pecado com que mareou os anos finais de seu reinado, atraindo sobre si o juízo do Céu. PR 155.4
Deus não faz acepção de pessoas. “A alma que fizer alguma coisa à mão levantada, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; e tal alma será extirpada do meio do seu povo”. Números 15:30. PR 156.1
Números 15:30
O juízo que caiu sobre Uzias pareceu ter tido sobre seu filho uma influência refreadora. Jotão levou pesadas responsabilidades durante os últimos anos do reinado de seu pai, e subiu ao trono após a morte de Uzias. De Jotão está escrito: “Fez o que era reto aos olhos do Senhor; fez conforme tudo quanto fizera seu pai Uzias. Tão-somente os altos se não tiraram; porque ainda o povo sacrificava e queimava incenso nos altos”. 2 Reis 15:34, 35. PR 156.2
2 Reis 15:34, 35
O reinado de Uzias estava chegando ao fim, e Jotão estava já levando muitas das tarefas do Estado, quando Isaías, da linhagem real, foi chamado, embora ainda jovem, para a missão profética. Os tempos em que Isaías devia trabalhar estavam repletos de perigos peculiares para o povo de Deus. O profeta devia testemunhar a invasão de Judá pelos exércitos combinados do norte de Israel e da Síria; devia ele contemplar as tropas assírias acampadas diante das principais cidades do reino. Durante a trajetória de sua vida, Samaria devia cair, e as dez tribos de Israel deviam ser espalhadas entre as nações. Judá seria mais de uma vez invadida pelos exércitos assírios, e Jerusalém devia sofrer um cerco do qual teria resultado sua queda, não Se tivesse Deus atuado miraculosamente. Graves perigos ameaçavam já a paz do reino do sul. A divina proteção estava sendo removida, e as forças assírias estavam prestes a se espalhar sobre a terra de Judá. PR 156.3
Mas os perigos de fora, esmagadores como pudessem parecer, não eram tão sérios quanto os perigos internos. Era a perversidade de seu povo que levava ao servo do Senhor a maior perplexidade e a mais profunda depressão. Por sua apostasia e rebelião, os que podiam ter permanecido como portadores de luz entre as nações, estavam atraindo os juízos de Deus. Muitos dos males que apressaram a rápida destruição do reino do norte, e que tinham sido recentemente denunciados em termos inequívocos por Oséias e Amós, depressa estavam corrompendo o reino de Judá. PR 156.4
A perspectiva era particularmente desencorajadora em referência à condição social do povo. Em seu desejo de ganho, estavam os homens adicionando casa a casa, herdade a herdade. Oséias 5:8. A justiça fora pervertida; e nenhuma piedade era mostrada ao pobre. A respeito desses males Deus declarou: “O espólio do pobre está em vossas casas”. “Que tendes vós que afligir o Meu povo e moer as faces do pobre?” Isaías 3:14, 15. Mesmo os juízes, cujo dever era proteger o desajudado, faziam ouvidos moucos aos clamores do pobre e necessitado, das viúvas e dos órfãos. Isaías 10:1, 2. PR 156.5
Oséias 5:8
Isaías 3:14, 15
Isaías 10:1, 2
Com a opressão e a opulência vieram o orgulho e o amor à ostentação (Isaías 2:11, 12), embriaguez e o espírito de orgia. Isaías 5:22, 11, 12. E nos dias de Isaías a própria idolatria já não provocava surpresa. Isaías 2:8, 9. Práticas iníquas tinham-se tornado tão predominantes entre todas as classes, que os poucos que permaneciam fiéis a Deus eram não raro tentados a perder o ânimo, dando lugar ao desencorajamento e desespero. Era como se o propósito de Deus para Israel estivesse para falhar, e a nação rebelde devesse sofrer sorte semelhante à de Sodoma e Gomorra. PR 156.6
Isaías 2:11, 12
Isaías 5:22, 11, 12
Isaías 2:8, 9
Em face de tais condições, não é surpreendente que Isaías recuasse da responsabilidade, quando chamado a levar a Judá as mensagens de advertência e reprovação da parte de Deus, durante o último ano do reinado de Uzias. Ele bem sabia que haveria de encontrar obstinada resistência. Considerando sua própria incapacidade para enfrentar a situação, e tomando em conta a obstinação e incredulidade do povo para quem ia trabalhar, sua tarefa pareceu-lhe inexeqüível. Devia ele em desespero renunciar a sua missão, deixando Judá entregue a sua idolatria? Deviam os deuses de Nínive reger a terra em desafio ao Deus do Céu? PR 157.1
Tais eram os pensamentos que fervilhavam na mente de Isaías ao estar sob o pórtico do templo. Subitamente, pareceu-lhe que o portal e o véu interior do templo eram levantados ou afastados, e foi-lhe permitido olhar para dentro, sobre o santo dos santos, onde nem mesmo os pés do profeta podiam entrar. Ali surgiu ante ele a visão de Jeová assentado em Seu trono alto e sublime, enquanto o séquito de Sua glória enchia o templo. De cada lado do trono pairavam serafins, as faces veladas em adoração, enquanto ministravam perante seu Criador, e se uniam em solene invocação: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória” (Isaías 6:3), de maneira que a coluna, o pilar e a porta de cedro pareciam sacudidos com o som, e a casa se encheu com seu tributo de louvor. PR 157.2
Isaías 6:3
Contemplando Isaías esta revelação da glória e majestade de seu Senhor, sentiu-se oprimido com o senso da pureza e santidade de Deus. Quão saliente o contraste entre a incomparável perfeição de seu Criador, e a conduta pecaminosa dos que, como ele, havia muito foram contados entre o povo escolhido de Israel e Judá “Ai de mim”, exclamou, “que vou perecendo porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos”. Isaías 6:5. Em pé, por assim dizer, na plena luz da divina presença do santuário, ele sentiu que, se deixado a sua própria imperfeição e ineficiência, seria inteiramente incapaz de executar a missão para a qual havia sido chamado. Mas um serafim foi enviado para libertá-lo de sua angústia, e capacitá-lo para a sua grande missão. Uma brasa viva do altar foi colocada sobre seus lábios com as palavras: “Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado.” Então a voz de Deus se fez ouvir dizendo: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” e Isaías respondeu: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Isaías 6:7, 8. PR 157.3
Isaías 6:5
Isaías 6:7, 8
O celestial visitante ordenou ao expectante mensageiro: PR 158.1
“Vai, e dize a este povo: PR 158.2
Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. PR 158.3
Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; PR 158.4
Não venha ele a ver com os olhos, e a ouvir com seus ouvidos, e a entender com o seu coração, e a converter-se, e a ser sarado”. Isaías 6:9, 10. PR 158.5
Isaías 6:9, 10
O dever do profeta era claro; ele devia levantar sua voz em protesto contra os males predominantes. Mas assustava-o tomar a tarefa sem alguma segurança de sucesso. “Até quando, Senhor?” (Isaías 6:11) ele perguntou. Nenhum dentre Teu povo escolhido há de compreender, e arrepender-se e ser sarado? PR 158.6
Isaías 6:11
Sua angústia de alma em favor do extraviado Judá não devia ser sofrida em vão. Sua missão não devia ser inteiramente infrutífera. Contudo os males que estiveram a se multiplicar por muitas gerações não seriam removidos em seus dias. No transcurso de sua vida ele teria que ser um corajoso e paciente ensinador — um profeta da esperança, bem como da condenação. O divino propósito seria finalmente cumprido, os frutos de seus esforços e dos labores de todos os fiéis mensageiros de Deus, haveriam de aparecer. Um remanescente devia ser salvo. Para que isto pudesse ser alcançado, e as mensagens de advertência e súplica fossem levadas à nação rebelde, o Senhor declarou: PR 158.7
“Até que se assolem as cidades, e fiquem sem habitantes, e nas casas não fique morador, e a terra seja assolada de todo, e o Senhor afaste dela os homens e no meio da terra seja grande o desamparo”. Isaías 6:11, 12. PR 158.8
Isaías 6:11, 12
Os pesados juízos que deviam cair sobre os impenitentes — guerra, exílio, opressão, a perda de poder e prestígio entre as nações — tudo isso devia vir, para que os que neles reconhecessem a mão de um Deus ofendido, pudessem ser levados ao arrependimento. As dez tribos do reino do norte deviam logo ser espalhadas entre as nações, e suas cidades ficariam em desolação; os exércitos destruidores de nações hostis deviam varrer sua terra vez após vez; até mesmo Jerusalém devia finalmente cair, e Judá devia ser levada cativa; contudo, a terra prometida não devia permanecer inteiramente abandonada para sempre. O celeste visitante de Isaías assegurou: PR 158.9
“Se ainda a décima parte dela ficar, tornará a ser pastada. PR 158.10
Como o carvalho, e como a azinheira, que, depois de se desfolharem, ainda ficam firmes, assim a santa semente será a firmeza dela”. Isaías 6:13. PR 158.11
Isaías 6:13
Essa garantia do cumprimento final do propósito de Deus levou coragem ao coração de Isaías. Que importava que poderes terrestres se arregimentassem contra Judá? Que importava que o mensageiro do Senhor enfrentasse oposição e resistência? Isaías tinha visto o Rei, o Senhor dos exércitos; ouvira o cântico dos serafins: “Toda a Terra está cheia de Sua glória” (Isaías 6:3); ele tivera a promessa de que as mensagens de Jeová ao apostatado Judá seriam acompanhadas pelo convincente poder do Espírito Santo; e o profeta foi revigorado para a obra que tinha diante de si. Através de sua longa e árdua missão, levou consigo a lembrança desta visão. Durante sessenta anos ou mais ele permaneceu diante dos filhos de Judá como um profeta de esperança, tornando-se cada vez mais ousado em suas predições do futuro triunfo da igreja. PR 158.12