O Chamado à Beira-Mar


Dia 170 - Tuesday, 18 de June de 2024
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23 min

Jeremias 16

Ouça o áudio do capítulo:

1 E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:

2 Não tomarás para ti mulher, nem terás filhos nem filhas neste lugar.

3 Porque assim diz o Senhor, acerca dos filhos e das filhas que nascerem neste lugar, acerca de suas mães, que os tiverem, e de seus pais que os gerarem nesta terra:

4 Morrerão de enfermidades dolorosas, e não serão pranteados nem sepultados; servirão de esterco sobre a face da terra; e pela espada e pela fome serão consumidos, e os seus cadáveres servirão de mantimento para as aves do céu e para os animais da terra.

5 Porque assim diz o Senhor: Não entres na casa do luto, nem vás a lamentar, nem te compadeças deles; porque deste povo, diz o Senhor, retirei a minha paz, benignidade e misericórdia.

6 E morrerão grandes e pequenos nesta terra, e não serão sepultados, e não os prantearão, nem se farão por eles incisões, nem por eles se raparão os cabelos.

7 E não se partirá pão para consolá-los por causa de seus mortos; nem lhes darão a beber do copo de consolação, pelo pai ou pela mãe de alguém.

8 Nem entres na casa do banquete, para te assentares com eles a comer e a beber.

9 Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que farei cessar, neste lugar, perante os vossos olhos, e em vossos dias, a voz de gozo e a voz de alegria, a voz do esposo e a voz da esposa.

10 E será que, quando anunciares a este povo todas estas palavras, e eles te disserem: Por que pronuncia o Senhor sobre nós todo este grande mal? E qual é a nossa iniqüidade, e qual é o nosso pecado, que cometemos contra o Senhor nosso Deus?

11 Então lhes dirás: Porquanto vossos pais me deixaram, diz o Senhor, e se foram após outros deuses, e os serviram, e se inclinaram diante deles, e a mim me deixaram, e a minha lei não a guardaram.

12 E vós fizestes pior do que vossos pais; porque, eis que cada um de vós anda segundo o propósito do seu mau coração, para não me dar ouvidos a mim.

13 Portanto lançar-vos-ei fora desta terra, para uma terra que não conhecestes, nem vós nem vossos pais; e ali servireis a deuses alheios de dia e de noite, porque não usarei de misericórdia convosco.

14 Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito.

15 Mas: Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, a qual dei a seus pais.

16 Eis que mandarei muitos pescadores, diz o Senhor, os quais os pescarão; e depois enviarei muitos caçadores, os quais os caçarão de sobre todo o monte, e de sobre todo o outeiro, e até das fendas das rochas.

17 Porque os meus olhos estão sobre todos os seus caminhos; não se escondem da minha face, nem a sua maldade se encobre aos meus olhos.

18 E primeiramente pagarei em dobro a sua maldade e o seu pecado, porque profanaram a minha terra com os cadáveres das suas coisas detestáveis, e das suas abominações encheram a minha herança.

19 Ó Senhor, fortaleza minha, e força minha, e refúgio meu no dia da angústia; a ti virão os gentios desde os fins da terra, e dirão: Nossos pais herdaram só mentiras, e vaidade, em que não havia proveito.

20 Porventura fará um homem deuses para si, que contudo não são deuses?

21 Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha mão e o meu poder; e saberão que o meu nome é o Senhor.

Jeremias 17

Ouça o áudio do capítulo:

1 O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos vossos altares.

2 Como também seus filhos se lembram dos seus altares, e dos seus bosques, junto às árvores frondosas, sobre os altos outeiros,

3 Ó meu monte, no campo, a tua riqueza e todos os teus tesouros, darei por presa, como também os teus altos, por causa do pecado, em todos os teus termos.

4 Assim por ti mesmo te privarás da tua herança que te dei, e far-te-ei servir os teus inimigos, na terra que não conheces; porque o fogo que acendeste na minha ira arderá para sempre.

5 Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!

6 Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.

7 Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor.

8 Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.

9 Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?

10 Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.

11 Como a perdiz, que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim será um insensato.

12 Um trono de glória, posto bem alto desde o princípio, é o lugar do nosso santuário.

13 Ó Senhor, esperança de Israel, todos aqueles que te deixam serão envergonhados; os que se apartam de mim serão escritos sobre a terra; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas.

14 Cura-me, Senhor, e sararei; salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor.

15 Eis que eles me dizem: Onde está a palavra do Senhor? Venha agora.

16 Porém eu não me apressei em ser o pastor seguindo-te; nem tampouco desejei o dia da aflição, tu o sabes; o que saiu dos meus lábios está diante de tua face.

17 Não me sejas por espanto; meu refúgio és tu no dia do mal.

18 Envergonhem-se os que me perseguem, e não me envergonhe eu; assombrem-se eles, e não me assombre eu; traze sobre eles o dia do mal, e destrói-os com dobrada destruição.

19 Assim me disse o Senhor: Vai, e põe-te à porta dos filhos do povo, pela qual entram os reis de Judá, e pela qual saem; como também em todas as portas de Jerusalém.

20 E dize-lhes: Ouvi a palavra do Senhor, vós, reis de Judá e todo o Judá, e todos os moradores de Jerusalém que entrais por estas portas.

21 Assim diz o Senhor: Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém;

22 Nem tireis cargas de vossas casas no dia de sábado, nem façais obra alguma; antes santificai o dia de sábado, como eu ordenei a vossos pais.

23 Mas não escutaram, nem inclinaram os seus ouvidos; antes endureceram a sua cerviz, para não ouvirem, e para não receberem correção.

24 Mas se vós diligentemente me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele obra alguma,

25 Então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, que se assentem sobre o trono de Davi, andando em carros e em cavalos; e eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será habitada para sempre.

26 E virão das cidades de Judá, e dos arredores de Jerusalém, e da terra de Benjamim, e das planícies, e das montanhas, e do sul, trazendo holocaustos, e sacrifícios, e ofertas de alimentos, e incenso, trazendo também sacrifícios de louvores à casa do Senhor.

27 Mas, se não me ouvirdes, para santificardes o dia de sábado, e para não trazerdes carga alguma, quando entrardes pelas portas de Jerusalém no dia de sábado, então acenderei fogo nas suas portas, o qual consumirá os palácios de Jerusalém, e não se apagará.

Jeremias 18

Ouça o áudio do capítulo:

1 A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo:

2 Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras.

3 E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas,

4 Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.

5 Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:

6 Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.

7 No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir,

8 Se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.

9 No momento em que falar de uma nação e de um reino, para edificar e para plantar,

10 Se fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha falado que lhe faria.

11 Ora, pois, fala agora aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Eis que estou forjando mal contra vós; e projeto um plano contra vós; convertei-vos, pois, agora cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos caminhos e as vossas ações.

12 Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos segundo as nossas imaginações; e cada um fará segundo o propósito do seu mau coração.

13 Portanto, assim diz o Senhor: Perguntai agora entre os gentios quem ouviu tal coisa? Coisa mui horrenda fez a virgem de Israel.

14 Porventura a neve do Líbano deixará a rocha do campo ou esgotar-se-ão as águas frias que correm de terras estranhas?

15 Contudo o meu povo se tem esquecido de mim, queimando incenso à vaidade, que os fez tropeçar nos seus caminhos, e nas veredas antigas, para que andassem por veredas afastadas, não aplainadas;

16 Para fazerem da sua terra objeto de espanto e de perpétuos assobios; todo aquele que passar por ela se espantará, e meneará a sua cabeça;

17 Com vento oriental os espalharei diante do inimigo; mostrar-lhes-ei as costas e não o rosto, no dia da sua perdição.

18 Então disseram: Vinde, e maquinemos projetos contra Jeremias; porque não perecerá a lei do sacerdote, nem o conselho do sábio, nem a palavra do profeta; vinde e firamo-lo com a língua, e não atendamos a nenhuma das suas palavras.

19 Olha para mim, Senhor, e ouve a voz dos que contendem comigo.

20 Porventura pagar-se-á mal por bem? Pois cavaram uma cova para a minha alma. Lembra-te de que eu compareci à tua presença, para falar a favor deles, e para desviar deles a tua indignação;

21 Portanto entrega seus filhos à fome, e entrega-os ao poder da espada, e sejam suas mulheres roubadas dos filhos, e fiquem viúvas; e seus maridos sejam feridos de morte, e os seus jovens sejam feridos à espada na peleja.

22 Ouça-se o clamor de suas casas, quando de repente trouxeres uma tropa sobre eles. Porquanto cavaram uma cova para prender-me e armaram laços aos meus pés.

23 Mas tu, ó Senhor, sabes todo o seu conselho contra mim para matar-me; não perdoes a sua maldade, nem apagues o seu pecado de diante da tua face; mas tropecem diante de ti; trata-os assim no tempo da tua ira.

Lucas 5:1-11

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré;

2 E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes.

3 E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão.

4 E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.

5 E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede.

6 E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.

7 E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.

8 E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador.

9 Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito.

10 E, de igual modo, também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E disse Jesus a Simão: Não temas; de agora em diante serás pescador de homens.

11 E, levando os barcos para terra, deixaram tudo, e o seguiram.

O Desejado de Todas as Nações

O Chamado à Beira-Mar

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Mateus 4:18-22; Marcos 1:16-20; Lucas 5:1-11.

Raiava o dia sobre o Mar da Galiléia. Os discípulos, fatigados por uma noite de infrutífero labor, achavam-se ainda em seus barcos, no lago. Jesus viera passar uma hora de calma à beira-mar. Esperava, pela manhãzinha, fruir um período de sossego da multidão que O acompanhava dia a dia. Mas em breve começou o povo a aglomerar-se em torno dEle. Seu número cresceu rapidamente, de maneira que Se sentia comprimido de todos os lados. Entretanto, os discípulos haviam vindo para terra. A fim de escapar à pressão da massa, Jesus entrou no barco de Pedro, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da praia. Daí Jesus podia ser visto e ouvido melhor por todos e, do barco, ensinava à multidão na praia. DTN 164.1

Que cena aquela que se oferecia à contemplação dos anjos! Seu glorioso Comandante, sentado num barco de pescador, jogado de um lado para outro pelas desassossegadas ondas, e proclamando as boas-novas de salvação ao povo atento, que se comprimia até à beira da água! Aquele que era o Honrado do Céu estava declarando os grandes princípios do Seu reino ao ar livre, ao povo comum. E, no entanto, não teria podido ter cenário mais adaptado aos seus labores. O lago, as montanhas, os vastos campos, a luz a inundar a terra, tudo Lhe oferecia ilustrações aos ensinos, de modo a gravá-los nos espíritos. E nenhuma lição de Cristo foi infrutífera. Toda mensagem de Seus lábios foi atingir a alguma alma como a Palavra da vida eterna. DTN 164.2

A cada momento crescia a multidão na praia. Homens de idade a apoiar-se em seus bordões, robustos camponeses das colinas, pescadores do lago, comerciantes e rabis, ricos e instruídos, velhos e jovens, trazendo seus enfermos e sofredores, apertavam-se para ouvir as palavras do divino Mestre. Essas cenas haviam contemplado antecipadamente os profetas, e escreveram: “A terra de Zebulom e a terra de Naftali; [...] junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz”. Isaías 9:1, 2. DTN 164.3

Além da multidão da praia de Genesaré, tinha Jesus, em Seu sermão junto ao mar, outros auditórios em mente. Olhando através dos séculos, viu Seus fiéis no cárcere e no tribunal, em tentação, isolamento e dor. Toda cena de alegria e de luta e perplexidade se achava aberta perante Ele. Nas palavras proferidas aos que estavam reunidos ao Seu redor, falava também a essas outras pessoas as próprias palavras que chegariam até elas com uma mensagem de esperança na provação, de conforto na dor, de celeste luz em meio das trevas. Por meio do Espírito Santo, aquela voz que falava do barco de pescador, no Mar da Galiléia, far-se-ia ouvir comunicando paz a corações humanos até à consumação dos séculos. DTN 164.4

Findo o discurso, Jesus voltou-Se para Pedro, e pediu-lhe que se fizesse ao mar alto, e lançasse as redes para pescar. Mas Pedro estava desanimado. Toda a noite não apanhara coisa alguma. Durante as solitárias horas, pensara na sorte de João Batista, definhando sozinho na prisão. Pensara na perspectiva diante de Jesus e Seus seguidores, no mau êxito da missão na Judéia, e na maldade dos sacerdotes e rabis. Sua própria ocupação lhe falhava; e, ao olhar às redes vazias, o futuro afigurava-se-lhe sombrio e desanimador. “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a Tua Palavra, lançarei a rede”. Lucas 5:5. DTN 165.1

A noite era o único tempo propício para pescar com redes nas claras águas do lago. Depois de labutar a noite inteira sem resultado, parecia inútil lançar a rede de dia; Jesus, porém, dera a ordem, e o amor por seu Mestre levou os discípulos a obedecer. Simão e seu irmão deitaram juntos a rede. Ao tentarem recolhê-la, tão grande era a quantidade de peixes apanhados, que começou a romper-se. Foram forçados a chamar Tiago e João em seu auxílio. E havendo recolhido o conteúdo, tão grande era a carga em ambos os barcos, que se viram ameaçados de ir a pique. DTN 165.2

Mas Pedro não cuidava agora de barcos e carregamentos. Esse milagre, acima de todos quantos havia presenciado, foi-lhe uma manifestação de poder divino. Viu em Jesus Alguém que tinha toda a natureza sob Seu comando. A presença da divindade revelou-lhe a própria ausência de santidade. Amor por seu Mestre, vergonha de sua incredulidade, gratidão pela complacência de Cristo e, sobretudo, o sentimento de sua impureza em presença da pureza infinita, tudo o subjugou. Enquanto os companheiros punham em segurança o conteúdo da rede, Pedro caiu aos pés do Salvador, exclamando: “Senhor, ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador”. Lucas 5:8. DTN 165.3

Fora a mesma presença da santidade divina que fizera o profeta Daniel cair como morto perante o anjo do Senhor. Disse ele: “Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma”. Daniel 10:8. Assim quando Isaías viu a glória do Senhor, exclamou: “Ai de mim, que vou perecendo! porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” Isaías 6:5. A humanidade com sua fraqueza e pecado, fora posta em contraste com a perfeição da divindade, e ele se sentiu inteiramente deficiente e falto de santidade. Assim tem sido com todos quantos alcançaram uma visão da grandeza e majestade de Deus. DTN 165.4

Pedro exclamou: “Ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador”; todavia, apegou-se aos pés de Jesus, sentindo que dEle não se podia separar. O Salvador respondeu: “Não temas; de agora em diante serás pescador de homens”. Lucas 5:10. Foi depois de Isaías haver contemplado a santidade de Deus e sua própria indignidade, que lhe foi confiada a mensagem divina. Foi depois de Pedro haver sido levado à renúncia de si mesmo e à dependência do poder divino, que recebeu o chamado para sua obra por Cristo. DTN 166.1

Até então nenhum dos discípulos se havia inteiramente unido a Jesus como colaborador Seu. Tinham testemunhado muitos de Seus milagres e Lhe escutado os ensinos; não haviam, porém, abandonado de todo sua anterior ocupação. O encarceramento de João Batista lhes fora a todos amarga decepção. Se tal devia ser o resultado da missão do profeta pouca esperança podiam ter quanto a seu Mestre, com todos os guias religiosos unidos contra Ele. Sob essas circunstâncias, era-lhes um alívio tornar por algum tempo à sua pesca. Mas agora Jesus os convidava a abandonar a vida anterior, unindo aos dEle os seus interesses. Pedro aceitara o chamado. Ao chegar à praia, Jesus pediu aos outros três discípulos: “Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens.” Imediatamente deixaram tudo e O seguiram. DTN 166.2

Antes de lhes pedir que abandonassem as redes e barcos, Jesus lhes dera a certeza de que Deus lhes supriria as necessidades. O serviço do barco de Pedro para a obra do evangelho, fora abundantemente pago. Aquele que é “rico para com todos os que O invocam” (Romanos 10:12), disse: “Dai, e ser-vos á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando”. Lucas 6:38. Nessa medida havia Ele recompensado o serviço dos discípulos. E todo sacrifício, feito em Seu serviço, será recompensado segundo “as abundantes riquezas da Sua graça”. DTN 166.3

Durante aquela triste noite no lago, enquanto separados de Cristo, os discípulos foram duramente premidos pela incredulidade, e cansaram-se num infrutífero labor. Sua presença, porém, lhes ateou a fé, e trouxe-lhes alegria e bom êxito. O mesmo se dá conosco; separados de Cristo, nosso trabalho não dá fruto, e fácil se torna desconfiar e murmurar. Quando Ele está perto, porém, e trabalhamos sob Sua direção, regozijamo-nos nas demonstrações de Seu poder. É a obra de Satanás desanimar a pessoa; a de Cristo é inspirar fé e esperança. DTN 166.4

A mais profunda lição que o milagre ensinou aos discípulos, é também uma lição para nós — que Aquele cuja palavra pôde apanhar os peixes do mar, podia igualmente impressionar corações humanos, atraindo-os com as cordas de Seu amor, de maneira que Seus servos se tornassem “pescadores de homens”. DTN 166.5

Eram humildes e ignorantes, aqueles pescadores da Galiléia; mas Cristo, a luz do mundo, era sobejamente capaz de habilitá-los para a posição a que os chamara. O Salvador não desprezava a educação; pois, quando regida pelo amor de Deus e consagrada a Seu serviço, a cultura intelectual é uma bênção. Mas Ele passou por alto os sábios de Seu tempo, porque eram tão cheios de confiança em si mesmos, que não podiam simpatizar com a humanidade sofredora, e tornar-se colaboradores do Homem de Nazaré. Em sua hipocrisia, desdenhavam ser instruídos por Cristo. O Senhor Jesus procura a cooperação dos que se tornem desimpedidos condutos para comunicação de Sua graça. A primeira coisa a ser aprendida por todos os que desejam tornar-se coobreiros de Deus é a desconfiança de si mesmos; acham-se então preparados para lhes ser comunicado o caráter de Cristo. Este não se adquire por meio de educação recebida nas mais competentes escolas. É unicamente fruto da sabedoria obtida do divino Mestre. DTN 166.6

Jesus escolheu homens ignorantes, porque não haviam sido instruídos nas tradições e errôneos costumes de seu tempo. Eram dotados de natural capacidade, humildes e dóceis — homens a quem podia educar para Sua obra. Há, nas ocupações comuns da vida, muitos homens que seguem a rotina dos labores diários, inconscientes de possuírem faculdades que, exercitadas, os ergueriam à altura dos mais honrados homens do mundo. Requer-se o toque de uma hábil mão para despertar essas faculdades adormecidas. Foram esses os homens que Jesus chamou para colaboradores, e deu-lhes a vantagem da convivência com Ele. Nunca tiveram os grandes homens do mundo um mestre assim. Ao saírem os discípulos do preparo ministrado pelo Salvador, já não eram mais ignorantes e incultos. Haviam-se tornado como Ele no espírito e no caráter, e os homens conheciam que haviam estado com Jesus. DTN 167.1

A mais elevada obra da educação não é comunicar conhecimentos, meramente, mas aquela vitalizante energia recebida mediante o contato de espírito com espírito, de pessoa com pessoa. Somente vida gera vida. Que privilégio, pois, foi o deles, por três anos em contato com aquela divina vida de onde tem provindo todo impulso doador de vida que tem abençoado o mundo! João, o discípulo amado, mais que todos os seus companheiros, entregou-se ao influxo daquela assombrosa existência. Diz ele: “A vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada”. 1 João 1:2. “Todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça”. João 1:16. DTN 167.2

Não havia, nos apóstolos de nosso Senhor, coisa alguma que lhes trouxesse glória. Era evidente que o êxito de seus esforços se devia unicamente a Deus. A vida desses homens, o caráter que desenvolveram, e a poderosa obra por Deus operada por intermédio deles, são testemunhos do que fará por todos quantos forem dóceis e obedientes. DTN 167.3

Aquele que mais ama a Cristo, maior soma de bem fará. Não há limites à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o próprio eu, oferece margem à operação do Espírito Santo na pessoa, e vive uma vida de inteira consagração a Deus. Caso os homens suportem a necessária disciplina, sem queixume ou desfalecimento pelo caminho, Deus os ensinará a cada hora, a cada dia. Anseia revelar Sua graça. Remova Seu povo os obstáculos, e Ele derramará as águas da salvação em torrentes, mediante os condutos humanos. Se os homens de condição humilde fossem animados a fazer todo o bem ao seu alcance, não houvesse sobre eles mãos repressivas a refrear-lhes o zelo, e haveria uma centena de obreiros de Cristo onde temos agora apenas um. DTN 168.1

Deus toma os homens tais quais são, e educa-os para Seu serviço, uma vez que se entreguem a Ele. O Espírito de Deus, recebido na mente, vivificar-lhes-á todas as faculdades. Sob a direção do Espírito Santo, o intelecto que se consagra sem reservas a Deus desenvolve-se harmonicamente, e é fortalecido para compreender e cumprir o que Deus requer. O caráter fraco e vacilante muda-se em outro forte e firme. A devoção contínua estabelece uma relação tão íntima entre Jesus e Seu discípulo, que o cristão se torna como Ele em espírito e caráter. Mediante ligação com Cristo terá visão mais clara e ampla. O discernimento se tornará mais penetrante, mais equilibrado o juízo. Aquele que anela ser de utilidade a Cristo é tão vivificado pelo vitalizante poder do Sol da Justiça, que é habilitado a produzir muito fruto para glória de Deus. DTN 168.2

Homens da mais elevada educação em ciências e artes, têm aprendido preciosas lições de cristãos de condição humilde, classificados pelo mundo como ignorantes. Mas esses obscuros discípulos haviam recebido educação na mais alta das escolas. Tinham-se sentado aos pés dAquele que falava “como nunca homem algum falou”. João 7:46. DTN 168.3

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