Na Sala de Julgamento de Pilatos
- Jó 1-3
- João 18:28-40
Jó 1
Ouça o áudio do capítulo:
1 Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal.
2 E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.
3 E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente.
4 E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles.
5 Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.
6 E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.
7 Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
8 E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.
9 Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde?
10 Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra.
11 Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face.
12 E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor.
13 E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito,
14 Que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles;
15 E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
16 Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova.
17 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova.
18 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito,
19 Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova.
20 Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou.
21 E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.
22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
Jó 2
Ouça o áudio do capítulo:
1 E, vindo outro dia, em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles, apresentar-se perante o SENHOR.
2 Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E respondeu Satanás ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.
3 E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa.
4 Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida.
5 Porém estende a tua mão, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!
6 E disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida.
7 Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de úlceras malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça.
8 E Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza.
9 Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre.
10 Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.
11 Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, e Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram condoer-se dele, para o consolarem.
12 E, levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; e levantaram a sua voz e choraram, e rasgaram cada um o seu manto, e sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar.
13 E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.
Jó 3
Ouça o áudio do capítulo:
1 Depois disto abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia.
2 E Jó, falando, disse:
3 Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!
4 Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz.
5 Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; a escuridão do dia o espante!
6 Quanto àquela noite, dela se apodere a escuridão; e não se regozije ela entre os dias do ano; e não entre no número dos meses!
7 Ah! que solitária seja aquela noite, e nela não entre voz de júbilo!
8 Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para suscitar o seu pranto.
9 Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pálpebras da alva;
10 Porque não fechou as portas do ventre; nem escondeu dos meus olhos a canseira.
11 Por que não morri eu desde a madre? E em saindo do ventre, não expirei?
12 Por que me receberam os joelhos? E por que os peitos, para que mamasse?
13 Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e então haveria repouso para mim.
14 Com os reis e conselheiros da terra, que para si edificam casas nos lugares assolados,
15 Ou com os príncipes que possuem ouro, que enchem as suas casas de prata,
16 Ou como aborto oculto, não existiria; como as crianças que não viram a luz.
17 Ali os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados.
18 Ali os presos juntamente repousam, e não ouvem a voz do exator.
19 Ali está o pequeno e o grande, e o servo livre de seu senhor.
20 Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?
21 Que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;
22 Que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?
23 Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?
24 Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.
25 Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu.
26 Nunca estive tranqüilo, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.
João 18:28-40
Ouça o áudio do capítulo:
28 Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer).
33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?
34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?
35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?
40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.
O Desejado de Todas as Nações
Na Sala de Julgamento de Pilatos
Ouça o áudio do capítulo:
Este capítulo é baseado em Mateus 27:2, 11-31; Marcos 15:1-20; Lucas 23:1-25; João 18:28-40; 19:1-16.
Mateus 27:2, 11-31
2 E maniatando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos.
11 E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.
12 E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.
13 Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti?
14 E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado.
15 Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse.
16 E tinham então um preso bem conhecido, chamado Barrabás.
17 Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?
18 Porque sabia que por inveja o haviam entregado.
19 E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.
20 Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram à multidão que pedisse Barrabás e matasse Jesus.
21 E, respondendo o presidente, disse-lhes: Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás.
22 Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.
23 O presidente, porém, disse: Mas que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: Seja crucificado.
24 Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.
25 E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
26 Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.
27 E logo os soldados do presidente, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda a coorte.
28 E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate;
29 E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus.
30 E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça.
31 E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.
Marcos 15:1-20
1 E, logo ao amanhecer, os principais dos sacerdotes, com os anciãos, e os escribas, e todo o Sinédrio, tiveram conselho; e, ligando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.
2 E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
3 E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas; porém ele nada respondia.
4 E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti.
5 Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.
6 Ora, no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
7 E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinado- res, tinha num motim cometido uma morte.
8 E a multidão, dando gritos, começou a pedir que fizesse como sempre lhes tinha feito.
9 E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?
10 Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.
11 Mas os principais dos sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás.
12 E Pilatos, respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos Judeus?
13 E eles tornaram a clamar: Crucifica-o.
14 Mas Pilatos lhes disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o.
15 Então Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhe Barrabás e, açoitado Jesus, o entregou para ser crucificado.
16 E os soldados o levaram dentro à sala, que é a da audiência, e convocaram toda a coorte.
17 E vestiram-no de púrpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.
18 E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus!
19 E feriram-no na cabeça com uma cana, e cuspiram nele e, postos de joelhos, o adoraram.
20 E, havendo-o escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e o vestiram com as suas próprias vestes; e o levaram para fora a fim de o crucificarem.
Lucas 23:1-25
1 E, levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos.
2 E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.
3 E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
4 E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.
5 Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.
6 Então Pilatos, ouvindo falar da Galiléia perguntou se aquele homem era galileu.
7 E, sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.
8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.
9 E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.
10 E estavam os principais dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12 E no mesmo dia, Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro.
13 E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo,
14 Disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.
15 Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte.
16 Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.
17 E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa.
18 Mas toda a multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás.
19 O qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.
20 Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21 Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o.
22 Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-lo-ei.
23 Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, prevaleciam.
24 Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.
25 E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
João 18:28-40; 19:1-16
28 Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não entraram na audiência, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus tinha dito, significando de que morte havia de morrer).
33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?
34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?
35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?
40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.
1 Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.
2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura.
3 E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas.
4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.
6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou.
9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César.
13 Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá.
14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.
16 Então, consequentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram.
Na sala de julgamento de Pilatos, o governador romano, acha-Se Cristo, atado como um preso. Em torno dEle está a guarda de soldados, e a sala enche-se rapidamente de espectadores. Logo fora da entrada encontram-se os juízes do Sinédrio, sacerdotes, príncipes, anciãos e povo. DTN 510.1
Depois de condenar a Jesus, o conselho do Sinédrio fora ter com Pilatos, a fim de obter a confirmação da sentença e sua execução. Mas esses oficiais judeus não queriam entrar no tribunal romano. Segundo sua lei cerimonial, ficariam assim contaminados e, portanto, impedidos de tomar parte na festa da páscoa. Não viam, em sua cegueira, que o ódio assassino lhes contaminava o coração. Não viam que Cristo era o verdadeiro cordeiro pascoal e que, uma vez que O rejeitaram, para eles perdera a grande festa sua significação. DTN 510.2
Ao ser o Salvador levado para o tribunal, não foi com bons olhos que Pilatos O contemplou. O governador romano fora chamado à pressa de sua câmara, e decidiu fazer o trabalho o mais rapidamente possível. Estava preparado para tratar o Preso com o rigor do magistrado. Assumindo a mais severa expressão, voltou-se para ver que espécie de homem tinha de interrogar, por causa do qual fora assim tão cedo despertado de seu repouso. Sabia que havia de ser alguém a quem as autoridades judaicas estavam ansiosas por ver julgado e punido quanto antes. DTN 510.3
Pilatos olhou para o homem que guardava Jesus, e depois seu olhar pousou perscrutadoramente no mesmo Jesus. Tivera de tratar com todas as espécies de criminosos; mas nunca antes fora levado a sua presença um homem com tais traços de bondade e nobreza. Não via em Seu semblante nenhum vestígio de culpa, nenhuma expressão de temor, nada de ousadia ou desafiadora atitude. Viu um homem de aspecto calmo e digno, cujo rosto não apresentava os estigmas do criminoso, mas o cunho do Céu. DTN 510.4
O aspecto de Cristo produziu favorável impressão em Pilatos. Foi despertado o lado melhor de sua natureza. Ouvira falar de Jesus e Suas obras. Sua esposa contara-lhe alguma coisa dos maravilhosos feitos realizados pelo Profeta galileu, que curara os doentes e ressuscitara os mortos. Agora, como se fora um sonho, isso se reavivou na memória de Pilatos. Recordou boatos que ouvira de várias fontes. Decidiu indagar dos judeus quais suas acusações contra o Preso. DTN 510.5
Quem é esse Homem, e para que O trouxestes? disse ele. Que acusações trazeis contra Ele? Os judeus ficaram desconcertados. Sabendo que não lhes era possível comprovar as acusações que tinham contra Cristo, não desejavam um interrogatório público. Disseram que era um enganador chamado Jesus de Nazaré. DTN 511.1
Novamente perguntou Pilatos: “Que acusações trazeis contra este Homem?” João 18:29. Os sacerdotes não lhe responderam à pergunta, mas, em palavras que manifestavam sua irritação, disseram: “Se Este não fosse malfeitor, não To entregaríamos”. João 18:30. Quando os que compõem o Sinédrio, os primeiros homens da nação, te trazem um homem que julgam digno de morte, haverá necessidade de pedir uma acusação contra ele? Esperavam impressionar Pilatos com o sentimento da importância deles, levando-o assim a concordar ao seu pedido sem muitos preliminares. Estavam ansiosos por ver ratificada a sentença; pois sabiam que o povo que testemunhara as maravilhosas obras de Cristo poderia contar uma história muito diversa da invenção que agora repetiam. DTN 511.2
João 18:29
29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem?
João 18:30
30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
Os sacerdotes pensavam que, com o fraco e vacilante Pilatos, poderiam sem dificuldade executar seus planos. Anteriormente, assinara, precipitado, sentenças de morte, condenando homens que sabiam não serem dignos disso. Em sua estimação, de pouca importância era a vida de um preso; se inocente ou culpado, não era de especial conseqüência. Os sacerdotes esperavam que Pilatos infligisse agora a pena de morte a Jesus, sem O ouvir. Isso pediram como favor por ocasião de sua grande festa nacional. DTN 511.3
Havia, porém, no Preso qualquer coisa que inibiu Pilatos de assim proceder. Não ousou fazê-lo. Leu o desígnio dos sacerdotes. Lembrou-se de como, não fazia muito, Jesus ressuscitara a Lázaro, um homem que estivera morto por quatro dias; e decidiu saber, antes de assinar a sentença de condenação, quais eram as acusações contra Ele, e se podiam ser provadas. DTN 511.4
Se vosso juízo é suficiente, disse ele, por que trazeis a mim o Preso? “Levai-O vós, e julgai-O segundo a vossa lei”. João 18:31. Assim apertados, os sacerdotes disseram que já haviam sentenciado a Jesus, mas que era preciso a sentença de Pilatos para dar validade a sua condenação. Qual é vossa sentença? perguntou Pilatos. A de morte, responderam, mas não nos é lícito condenar ninguém à morte. Pediram a Pilatos que aceitasse a palavra deles quanto à culpabilidade de Cristo, e cumprisse a sentença que haviam dado. Tomariam a responsabilidade do resultado. DTN 511.5
João 18:31
31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
Pilatos não era juiz justo ou consciencioso; mas fraco como era em poder moral, recusou conceder essa petição. Não condenaria Jesus enquanto não fosse apresentada acusação contra Ele. DTN 511.6
Os sacerdotes encontravam-se num dilema. Viam que deviam encobrir sua hipocrisia sob o mais espesso véu. Não deviam permitir a impressão de que Cristo fora preso por motivos religiosos. Fosse isso apresentado como razão, e seu procedimento não teria nenhum valor para com Pilatos. Precisavam fazer parecer que Jesus estava trabalhando contra a lei comum; então poderia ser castigado como ofensor político. Tumultos e insurreições contra o governo romano surgiam de contínuo entre os judeus. Os romanos haviam procedido muito rigorosamente para com essas revoltas, e estavam sempre alerta para reprimir qualquer coisa que pudesse levar a uma insurreição. DTN 511.7
Havia poucos dias apenas os fariseus tinham procurado enredar Cristo com a pergunta: “É-nos lícito dar tributo a César ou não?” Mateus 22:17. Mas Cristo lhes revelara a hipocrisia. Os romanos que se achavam presentes assistiram ao fracasso completo dos intrigantes, e seu desconcerto ante a resposta: “Dai pois a César o que é de César”. Lucas 20:22-25. DTN 512.1
Mateus 22:17
17 Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?
Lucas 20:22-25
22 É-nos lícito dar tributo a César ou não?
23 E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais?
24 Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César.
25 Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Agora os sacerdotes pensaram fazer parecer que, nessa ocasião, Cristo ensinara segundo esperavam que Ele ensinasse. Em seu apuro, chamaram falsas testemunhas para os ajudar, “e começaram a acusá-Lo, dizendo: Havemos achado Este, pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que Ele mesmo é Cristo, o rei”. Três acusações, cada uma destituída de fundamento. Os sacerdotes sabiam isso, mas estavam dispostos a jurar falso, contanto que conseguissem seu objetivo. DTN 512.2
Pilatos penetrou-lhes o desígnio. Não acreditou que o Preso houvesse conspirado contra o governo. Seu aspecto manso e humilde estava totalmente em desacordo com essa acusação. Pilatos convenceu-se de que se urdira artificioso trama contra um Inocente que embaraçava o caminho dos dignitários judeus. Volvendo-se para Jesus perguntou: “Tu és o rei dos judeus?” O Salvador respondeu: “Tu o dizes”. Marcos 15:2. E ao falar Ele, Sua fisionomia iluminou-se como se um raio de Sol sobre ela incidisse. DTN 512.3
Marcos 15:2
2 E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
Ao ouvirem-Lhe a resposta, Caifás e os que com ele estavam chamaram Pilatos como testemunha de que Jesus concordara com o crime de que O acusavam. Com ruidosos brados, sacerdotes, escribas e príncipes exigiram que fosse sentenciado à morte. Os gritos foram repetidos pela turba, fazendo-se um barulho ensurdecedor. Pilatos ficou confundido. Vendo que Jesus não dava nenhuma resposta a Seus acusadores, disse-Lhe Pilatos: “Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra Ti. Mas Jesus nada mais respondeu”. Marcos 15:4, 5. DTN 512.4
Marcos 15:4, 5
4 E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti.
5 Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.
De pé por trás de Pilatos, à vista de todo o pátio, ouvia Cristo os insultos; mas não respondeu nem uma palavra a todas as falsas acusações contra Ele feitas. Toda a Sua atitude dava prova da inocência consciente. Ficou inabalável em face da fúria das ondas que se Lhe quebravam em torno. Era como se os violentos ímpetos da ira, erguendo-se mais e mais alto, como as vagas do clamoroso oceano, se despedaçassem ao Seu redor sem O tocar, no entanto. Ficou mudo, mas eloqüente era o Seu silêncio. Era como se o homem exterior fosse iluminado por uma luz provinda do interior. DTN 512.5
Pilatos estava admirado de Seu porte. Despreza esse Homem os acontecimentos, por que não Se importa de salvar a vida? perguntava a si mesmo. Contemplando Jesus a suportar insultos e zombarias sem represália, sentiu que Ele não podia ser tão injusto como estavam sendo os sacerdotes que clamavam. Esperando obter dEle a verdade e escapar ao tumulto, Pilatos tomou Jesus à parte e tornou a interrogá-Lo: “Tu és o Rei dos judeus?” Marcos 15:2. DTN 513.1
Marcos 15:2
2 E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
Jesus não respondeu diretamente a essa pergunta. Sabia que o Espírito Santo estava lutando com Pilatos, e deu-lhe oportunidade de reconhecer a própria convicção. “Tu dizes isto de ti mesmo”, perguntou, “ou disseram-to outros de Mim?”. João 18:34. Isto é, era a acusação dos sacerdotes, ou o desejo de receber luz de Cristo, que motivava a pergunta de Pilatos? Pilatos compreendeu a intenção de Jesus; mas surgiu o orgulho em seu coração. Não queria reconhecer a convicção que o assaltava. “Porventura sou eu judeu?” disse. “A Tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-Te a mim; que fizeste?” João 18:35. DTN 513.2
João 18:34
34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?
João 18:35
35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
Passara a oportunidade áurea de Pilatos. Todavia, Jesus não o deixou ainda sem luz. Conquanto não respondesse diretamente à pergunta de Pilatos, declarou abertamente a própria missão. Deu a entender a Pilatos que não buscava um trono terrestre. DTN 513.3
“O Meu reino não é deste mundo”, disse Ele, “se o Meu reino fosse deste mundo, pelejariam os Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o Meu reino não é daqui. Disse-Lhe Pilatos: Logo Tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que Eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz”. João 18:36, 37. DTN 513.4
João 18:36, 37
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
Cristo afirmou que Sua palavra era em si mesma uma chave que revelaria o mistério aos que estivessem preparados para recebê-Lo. Ela possuía em si um poder que a recomendava, e isso era o segredo da ampliação de Seu reino de verdade. Desejava que Pilatos compreendesse que unicamente recebendo a verdade e dela se apoderando, poderia ser restaurada sua arruinada natureza. DTN 513.5
Pilatos teve desejo de conhecer a verdade. Seu espírito estava confundido. Apegou-se ansioso às palavras do Salvador, e o coração agitou-se-lhe num grande anelo de saber o que ela era realmente, e como a poderia obter. “Que é a verdade?” indagou. Mas não esperou a resposta. O tumulto lá fora lembrou-lhe os interesses do momento; pois os sacerdotes clamavam por ação imediata. Saindo para onde estavam os judeus, declarou com veemência: “Não acho nEle crime algum”. João 18:38. DTN 513.6
João 18:38
38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
Essas palavras de um juiz pagão foram uma demolidora repreensão à perfídia e falsidade dos príncipes de Israel, que acusavam o Salvador. Ao ouvirem os sacerdotes e anciãos isso de Pilatos, sua decepção e cólera não tiveram limites. Haviam tramado e esperado longamente essa oportunidade. Ao verem a perspectiva de Jesus ser solto, pareciam prontos a despedaçá-Lo. Acusavam Pilatos em altas vozes, e ameaçaram-no com a censura do governo romano. Culparam-no de não querer condenar a Jesus que, afirmavam, Se erguera contra César. DTN 513.7
Ouviram-se então vozes iradas, declarando que a sediciosa influência de Jesus era bem conhecida por todo o país. Diziam os sacerdotes: “Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui”. Lucas 23:5. DTN 514.1
Lucas 23:5
5 Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.
Por essa altura, não tinha Pilatos nenhuma idéia de condenar Jesus. Sabia que os judeus O haviam acusado, movidos por ódio e preconceitos. Sabia qual era seu dever. A justiça exigia que Jesus fosse imediatamente solto. Mas Pilatos temia a má vontade do povo. Recusasse ele entregar-lhes Jesus, erguer-se-ia um tumulto, e isso ele temia enfrentar. Ao ouvir que Cristo era da Galiléia, decidiu mandá-Lo a Herodes, governador daquela província, o qual se achava então em Jerusalém. Com esse procedimento pensava transferir a responsabilidade do julgamento para Herodes. Julgou também que era boa oportunidade de pacificar uma velha questão existente entre ele e Herodes. E assim aconteceu. Os dois magistrados tornaram-se amigos depois do julgamento do Salvador. DTN 514.2
Pilatos entregou novamente Jesus aos soldados e, por entre os escárnios e insultos da massa, foi Ele atropeladamente conduzido ao tribunal de Herodes. “E Herodes quando viu a Jesus, alegrou-se muito.” Nunca se encontrara com o Salvador, mas “havia muito que desejava vê-Lo, por ter ouvido dEle muitas coisas, e esperava que Lhe veria fazer algum sinal”. Lucas 23:8. Esse Herodes era aquele cujas mãos estavam manchadas do sangue de João Batista. Ao ouvir falar de Jesus, a princípio ficou aterrorizado e disse: “Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos” (Marcos 6:16); “por isso estas maravilhas operam nele”. Mateus 14:2. Todavia Herodes desejava ver a Jesus. Havia agora oportunidade de salvar a vida desse profeta, e o rei esperou banir para sempre de sua memória aquela cabeça sangrenta a ele levada num prato. Desejava também satisfazer sua curiosidade e pensava que, se oferecesse a Jesus alguma perspectiva de libertação, faria qualquer coisa que Lhe fosse solicitada. DTN 514.3
Lucas 23:8
8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.
Marcos 6:16
16 Herodes, porém, ouvindo isto, disse: Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dentre os mortos.
Mateus 14:2
2 E disse aos seus criados: Este é João o Batista; ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele.
Um grande grupo de sacerdotes e anciãos acompanhara Cristo a Herodes. E ao ser o Salvador introduzido, esses dignitários, falando todos com agitação, insistiram em suas acusações contra Ele. Mas Herodes pouca atenção lhes deu. Impôs silêncio, desejando ensejo de interrogar a Cristo. Ordenou que soltassem as cadeias de Jesus, repreendendo ao mesmo tempo Seus inimigos de O atarem rudemente. Olhando compassivamente o sereno rosto do Redentor do mundo, nEle leu unicamente sabedoria e pureza. Da mesma maneira que Pilatos, ficou convencido de que Cristo fora acusado por malignidade e inveja. DTN 514.4
Herodes interrogou a Cristo com muitas palavras, mas o Salvador Se manteve em profundo silêncio. Ao mando do rei, foram introduzidos decrépitos e mancos, sendo ordenado a Cristo que provasse Suas reivindicações pela operação de um milagre. Afirmam que podes curar os enfermos, disse-Lhe Herodes. Estou ansioso por ver que Tua grande fama não é mentira. Jesus não respondeu, e o rei continuou a insistir: Se podes operar milagres por outros, faze-os agora para Teu próprio bem, e isso Te servirá para um bom desígnio. Outra vez ordenou: Mostra-nos um sinal de que possuis o poder que a fama Te tem atribuído. Mas Cristo era como alguém que não visse nem ouvisse. O Filho de Deus tomara sobre Si a natureza humana. Devia agir como o tem de fazer o homem em idênticas circunstâncias. Portanto, não operaria um milagre para Se poupar à dor e à humilhação que o homem deve sofrer, quando colocado em condições semelhantes. DTN 514.5
Herodes prometeu que, se Jesus realizasse algum milagre em sua presença, seria solto. Os acusadores dEle eram testemunhas oculares das poderosas obras feitas por Seu poder. Tinham-nO ouvido ordenar à sepultura que desse os mortos. Viram-nos sair em obediência à Sua voz. Apoderou-se deles o temor, não operasse Jesus agora um milagre. De tudo, o que mais temiam, era uma manifestação de Seu poder. Essa manifestação se demonstraria um golpe mortal para seus planos, e talvez lhes custasse a vida. Outra vez sacerdotes e príncipes, em grande ansiedade, insistiram em suas acusações contra Ele. Elevando a voz, declararam: É um traidor, um blasfemo. Opera milagres por meio do poder que Lhe é dado por Belzebu, o príncipe dos demônios. A sala tornou-se cenário de confusão, uns gritando uma coisa, outros, outra. DTN 515.1
A consciência de Herodes estava agora muito menos sensível do que quando tremera de horror ante o pedido de Herodias, para que lhe desse a cabeça de João Batista. Durante algum tempo sentira os agudos espinhos do remorso por seu terrível ato; mas suas percepções morais se tinham rebaixado mais e mais em razão de sua vida licenciosa. Tinha agora tão endurecido o coração, que podia mesmo gabar-se do castigo infligido a João por ousar reprová-lo. E ameaçou então a Jesus, declarando repentinamente que tinha poder para libertá-Lo e para condená-Lo. Nenhum indício da parte de Jesus dava, entretanto, a compreender que Ele ouvisse uma palavra. DTN 515.2
Herodes irritou-se por esse silêncio. Parecia indicar completa indiferença por sua autoridade. Para o vão e pomposo rei, teria sido menos ofensiva uma franca censura, do que ser assim passado por alto. De novo ameaçou, irado, a Jesus, que permaneceu impassível e mudo. DTN 515.3
A missão de Cristo neste mundo não era satisfazer ociosas curiosidades. Veio para curar os quebrantados de coração. Pudesse Ele ter proferido qualquer palavra para sarar as feridas das almas enfermas de pecado, e não guardaria silêncio. Não tinha, no entanto, palavras para os que não fariam senão pisar a verdade com seus profanos pés. DTN 515.4
Cristo poderia ter dirigido a Herodes palavras que penetrariam nos ouvidos do endurecido rei. Podê-lo-ia haver sacudido com temor e tremor pela exposição de toda a iniqüidade de sua vida, e do horror de seu próximo fim. Mas o silêncio de Cristo era a mais severa repreensão que lhe poderia ter ministrado. Herodes rejeitara a verdade que lhe fora anunciada pelo maior dos profetas, e nenhuma outra mensagem havia de receber. Nem uma palavra tinha para ele a Majestade do Céu. Aqueles ouvidos sempre abertos para os lamentos humanos, não tinham lugar para as ordens de Herodes. Aqueles olhos sempre fixos no pecador arrependido, com um amor cheio de piedade, e de perdão, não tinham nenhum olhar para conceder a Herodes. Aqueles lábios que emitiram a mais impressiva verdade, que em acentos da mais terna súplica pleitearam com o mais pecador e mais degradado, cerraram-se para o soberbo rei que não sentia necessidade de um Salvador. DTN 515.5
O rosto de Herodes se ensombrou de paixão. Voltando-se para a turba, acusou, encolerizado, a Jesus de impostor. E depois, para Ele: se não deres prova de Tua pretensão, entregar-Te-ei aos soldados e ao povo. Talvez sejam bem-sucedidos em Te fazer falar. Se és um impostor, a morte por suas mãos é a única coisa que mereces; se és o Filho de Deus, salva-Te a Ti mesmo operando um milagre. DTN 516.1
Mal se proferiram essas palavras, e fez-se uma arremetida para Cristo. Como animais ferozes precipitou-se a multidão para sua presa. Jesus foi arrastado de um lado para outro, unindo-se Herodes à turba em buscar humilhar o Filho de Deus. Não se houvessem interposto os soldados romanos, repelindo para trás a massa enfurecida, e o Salvador teria sido feito em pedaços. DTN 516.2
“Herodes, com os seus soldados, desprezou-O, e, escarnecendo dEle, vestiu-O de uma roupa resplandecente”. Lucas 23:11. Os soldados romanos juntaram-se nesses ultrajes. Tudo quanto ímpios, corruptos soldados, ajudados por Herodes e os dignitários judeus podiam instigar, foi acumulado sobre o Salvador. Todavia, não perdeu Sua divina paciência. DTN 516.3
Lucas 23:11
11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
Os perseguidores de Cristo tentaram medir-Lhe o caráter pelo deles próprios; tinham-nO figurado tão vil como eles. Mas por trás de toda a presente aparência introduziu-se, malgrado seu, outra cena — cena que eles hão de ver um dia em toda a sua glória. Houve alguns que tremeram na presença de Cristo. Enquanto a rude multidão se inclinava diante dEle em zombaria, alguns que se adiantaram para esse fim recuaram, aterrorizados e mudos. Herodes ficou convicto. Os últimos raios de misericordiosa luz incidiam sobre seu coração endurecido pelo pecado. Sentiu que Este não era um homem comum; pois a divindade irradiara através da humanidade. Ao mesmo tempo que Cristo estava cercado de escarnecedores, adúlteros e homicidas, Herodes sentiu estar contemplando, um Deus sobre Seu trono. DTN 516.4
Endurecido como estava, não ousou Herodes ratificar a condenação de Cristo. Desejava livrar-se da terrível responsabilidade, e mandou Jesus de volta para o tribunal romano. DTN 516.5
Pilatos ficou decepcionado e muito desgostoso. Quando os judeus voltaram com o Preso, perguntou-lhes impaciente o que queriam que ele fizesse. Lembrou-lhes que já interrogara Jesus, e não achara nEle crime algum; disse-lhes que tinham trazido queixas contra Ele, mas não eram capazes de provar uma única. Mandara Jesus a Herodes, o tetrarca da Galiléia e compatriota seu, mas também ele não encontrara nEle coisa alguma digna de morte. “Castigá-Lo-ei pois”, disse Pilatos, “e soltá-Lo-ei”. Lucas 23:16. DTN 516.6
Lucas 23:16
16 Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.
Aí mostrou Pilatos sua fraqueza. Declarara que Jesus era inocente e, no entanto, estava disposto a fazê-lo açoitar para pacificar os acusadores. Sacrificaria a justiça e o princípio, a fim de contemporizar com a turba. Isso o colocou desvantajosamente. A turba contou com sua indecisão, e clamou tanto mais pela vida do Preso. Se a princípio Pilatos houvesse ficado firme, recusando-se a condenar um homem que considerava inocente, teria quebrado a fatal cadeia que o ligaria em remorso e culpa enquanto vivesse. Houvesse posto em ação suas convicções do direito, e os judeus não teriam ousado ditar-lhe a conduta. Cristo teria sido morto, mas a culpa não repousaria sobre ele. Mas Pilatos dera passo após passo na violação de sua consciência. Escusara-se a julgar com justiça e eqüidade, e viu-se agora quase impotente nas mãos dos sacerdotes e príncipes. Sua vacilação e indecisão foram a ruína dele. DTN 517.1
Mesmo então Pilatos não foi deixado a agir às cegas. Uma mensagem de Deus o advertiu do que estava para cometer. Em resposta às orações de Cristo, a esposa de Pilatos foi visitada por um anjo do Céu, e vira em sonho o Salvador, e com Ele conversara. A mulher de Pilatos não era judia, mas ao olhar a Jesus, durante o sonho, não tivera dúvidas de Seu caráter e missão. Sabia ser Ele o Príncipe de Deus. Contemplou-O em julgamento no tribunal. Viu-Lhe as mãos estreitamente ligadas como as de um criminoso. Viu Herodes e seus soldados praticando sua terrível ação. Ouviu os sacerdotes e príncipes, cheios de inveja e perversidade, acusando furiosamente. Ouviu as palavras: “Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer”. João 19:7. Viu Pilatos entregar Jesus aos açoites, depois de haver declarado: “Não acho nEle crime algum.” Ouviu a condenação pronunciada por Pilatos, e viu-o entregar Cristo a Seus matadores. Viu a cruz erguida no Calvário. Viu a Terra envolta em trevas, e ouviu o misterioso brado: “Está consumado”. João 19:30. Ainda outra cena se lhe deparou ao olhar. Viu Cristo sentado sobre uma grande nuvem branca, enquanto a Terra vacilava no espaço, e Seus assassinos fugiam da presença de Sua glória. Com um grito de terror despertou ela, e escreveu imediatamente a Pilatos palavras de advertência. DTN 517.2
João 19:7
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
João 19:30
30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Enquanto Pilatos hesitava quanto ao que havia de fazer, um mensageiro, abrindo apressadamente caminho por entre a multidão, passou-lhe uma carta de sua esposa, que dizia: “Não entres na questão deste justo, porque num sonho muito sofri por causa dEle”. Mateus 27:19. DTN 517.3
Mateus 27:19
19 E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.
Pilatos empalideceu. Estava confundido ante suas próprias contraditórias emoções. Mas enquanto demorava, os sacerdotes e príncipes inflamavam ainda mais o espírito do povo. Pilatos foi forçado a agir. Lembrou-se então de um costume que poderia trazer o libertamento de Jesus. Era uso, por ocasião dessa festa, soltar algum preso segundo a escolha do povo. Costume de invenção pagã, não havia sombra de justiça nesse proceder, mas era sobremaneira apreciado pelos judeus. As autoridades romanas tinham preso por esse tempo um homem de nome Barrabás, que se achava com sentença de morte. Esse homem afirmara ser o Messias. Pretendia autoridade para estabelecer uma nova ordem de coisas, para emendar o mundo. Sob uma ilusão satânica, pretendia que tudo quanto pudesse obter por furtos e assaltos era seu. Por meios diabólicos realizara coisas admiráveis, conseguira seguidores no meio do povo e despertara sedição contra o governo romano. Sob a capa de entusiasmo religioso, era um endurecido e consumado vilão, dado à rebelião e à crueldade. Oferecendo ao povo escolha entre esse homem e o inocente Salvador, Pilatos julgava despertar-lhes o sentimento da justiça. Esperava conquistar-lhes a simpatia para Jesus, em oposição aos sacerdotes e príncipes. Assim, voltando-se para a multidão, disse com grande ardor: “Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus chamado Cristo?” DTN 518.1
Como um urro de animais ferozes, veio a resposta da turba: Solta Barrabás! E avolumava-se mais e mais o clamor: Barrabás! Barrabás! Pensando que o povo talvez não houvesse compreendido a pergunta, Pilatos exclamou outra vez: “Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?” Mas eles clamaram novamente: “Fora daqui com Este, e solta-nos Barrabás!” “Que farei então de Jesus, chamado Cristo?” indagou Pilatos. De novo a multidão encapelada rugiu como demônios. Os próprios demônios, em forma humana, achavam-se na turba, e que se poderia esperar, senão a resposta: “Seja crucificado”? Mateus 27:22. DTN 518.2
Mateus 27:22
22 Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.
Pilatos turbou-se. Não julgara que os acontecimentos chegassem a esse ponto. Recuava de entregar um homem inocente à mais ignominiosa e cruel das mortes que se poderia infligir a alguém. Após haver cessado o bramido das vozes, voltou-se para o povo, dizendo: “Mas que mal fez Ele?” O caso chegara, no entanto, além de argumentação. Não eram provas da inocência de Cristo o que queriam, mas Sua condenação. DTN 518.3
Pilatos tentou ainda salvá-Lo. Disse-lhes pela terceira vez: “Mas que mal fez?” A só menção de soltá-Lo, porém, despertou o povo a um frenesi dez vezes maior. “Crucifica-O, crucifica-O!”, clamavam. Mais e mais se avolumava a tempestade a que dera motivo a indecisão de Pilatos. DTN 518.4
Desfalecido de fadiga e coberto de ferimentos, Jesus foi levado, sendo açoitado à vista da multidão. “E os soldados O levaram dentro à sala que é a de audiência, e convocaram toda a coorte; e vestiram-nO de púrpura e tomando uma coroa de espinhos, Lha puseram na cabeça. E começaram a saudá-Lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus. E [...] cuspiram nEle, e, postos de joelhos, O adoraram”. Mateus 27:27-31. Por vezes, mão perversa arrebatava a cana que Lhe fora posta na mão, e batia na coroa que Ele tinha na fronte, fazendo enterrarem-se-Lhe os espinhos nas fontes, e o sangue gotejar-Lhe pelo rosto e a barba. DTN 518.5
Mateus 27:27-31
27 E logo os soldados do presidente, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda a coorte.
28 E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate;
29 E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus.
30 E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça.
31 E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.
Maravilha-te, ó Céu! e pasma tu, ó Terra! Contemplai o opressor e o Oprimido. Uma turba enfurecida rodeia o Salvador do mundo. Escárnios e zombarias misturam-se com as baixas imprecações de blasfêmia. Seu humilde nascimento e modesta vida são comentados pela turba insensível. Sua declaração de ser o Filho de Deus é ridicularizada, e o gracejo vulgar e a insultuosa zombaria passam de boca em boca. DTN 519.1
Satanás dirigia a cruel massa nos maus-tratos ao Salvador. Era seu desígnio provocá-Lo, se possível, à represália, ou levá-Lo a realizar um milagre para Se libertar, frustrando assim o plano da salvação. Uma mancha sobre Sua vida humana, uma falha de Sua humildade para resistir à terrível prova, e o Cordeiro de Deus teria sido uma oferta imperfeita, um fracasso para a redenção do homem. Mas Aquele que, por uma ordem, poderia trazer em Seu auxílio a hoste celestial — Aquele que, ante uma súbita irradiação de Sua divina majestade, poderia haver afugentado de Sua face aquela turba aterrada — Se submeteu com perfeita calma aos mais vis insultos e ultrajes. DTN 519.2
Os inimigos de Cristo tinham pedido um milagre como prova de Sua divindade. Tiveram testemunho muito maior do que haviam buscado. Assim como a crueldade de Seus torturadores os degradava abaixo da humanidade, dando-lhes a semelhança de Satanás, a mansidão e paciência de Jesus O exaltavam acima da humanidade, demonstrando Seu parentesco com Deus. Sua humilhação era o penhor de Sua exaltação. As gotas de sangue de agonia que Lhe corriam das fontes feridas pelo rosto e a barba, eram o penhor de Sua unção com “óleo de alegria” (Hebreus 1:9), como nosso grande Sumo Sacerdote. DTN 519.3
Hebreus 1:9
9 Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiuCom óleo de alegria mais do que a teus companheiros.
Grande foi a ira de Satanás, ao ver que todos os maus-tratos infligidos ao Salvador não Lhe forçaram os lábios a soltar uma só queixa. Embora houvesse tomado sobre Si a natureza humana, era sustido por uma força divina, e não Se apartou num só ponto da vontade do Pai. DTN 519.4
Quando Pilatos entregou Jesus para ser açoitado e escarnecido, julgou despertar a piedade da multidão. Teve esperança de que achassem suficiente esse castigo. Mesmo a malignidade dos sacerdotes, pensava, ficaria então satisfeita. Com penetrante percepção, viram os judeus a fraqueza de assim punir um homem que fora declarado inocente. Sabiam que Pilatos estava procurando salvar a vida do Preso, e decidiram que Jesus não fosse solto. Para nos agradar e satisfazer, Pilatos O açoitou, pensaram, e se apertarmos a questão até um resultado definido, conseguiremos com certeza nosso intento. DTN 519.5
Pilatos mandou então buscar Barrabás para o pátio. Apresentou depois os dois presos um ao lado do outro, e, apontando ao Salvador, disse em tom solene: “Eis Aqui o Homem”. João 19:5. “Eis aqui vo-Lo trago fora, para que saibais que não acho nEle crime algum”. João 19:4. DTN 519.6
João 19:5
5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.
João 19:4
4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
Ali estava o Filho de Deus, com as vestes da zombaria e a coroa de espinhos. Despido até à cintura, as costas mostravam-Lhe os longos e cruéis vergões, de onde corria o sangue abundantemente. Tinha o rosto manchado de sangue, e apresentava os sinais da exaustão e dor; nunca, no entanto, parecera mais belo. O semblante do Salvador não se desfigurou diante dos inimigos. Cada traço exprimia brandura e resignação, e a mais terna piedade para com os cruéis inimigos. Não havia em Sua atitude nenhuma fraqueza covarde, mas a resistência e dignidade da longanimidade. Chocante era o contraste no preso ao Seu lado. Cada linha da fisionomia de Barrabás proclamava o endurecido criminoso que era. O contraste foi manifesto a todos os espectadores. Alguns dentre eles choravam. Ao olharem a Jesus, o coração encheu-se-lhes de simpatia. Mesmo os sacerdotes e principais convenceram-se de que Ele era tudo quanto dizia ser. DTN 520.1
Os soldados romanos que rodeavam Cristo não estavam todos endurecidos; alguns Lhe fixavam ansiosamente o semblante, em busca de um sinal de que Ele era um personagem criminoso e de temer. De quando em quando, voltavam-se e deitavam um olhar de desprezo a Barrabás. Não era preciso grande perspicácia para adivinhar o que lhe ia no íntimo. Outra vez olhavam Aquele que estava sendo julgado. Contemplavam o divino Sofredor com sentimentos de profunda piedade. A silenciosa submissão de Cristo gravou-lhes a cena no espírito, para nunca mais se apagar enquanto não reconhecessem nEle o Cristo, ou, rejeitando-O, decidissem o próprio destino. DTN 520.2
Pilatos estava cheio de espanto diante da paciência do Salvador, que não articulava uma queixa. Não duvidava de que a vista desse Homem, em contraste com Barrabás, movesse a simpatia dos judeus. Não compreendia, porém, o fanático ódio dos sacerdotes contra Aquele que, como a luz do mundo, lhes tornara manifestos as trevas e o erro. Incitaram a turba a uma fúria louca, e de novo os sacerdotes, príncipes e povo ergueram aquele tremendo brado: “Crucifica-O, crucifica-O!” Perdendo por fim toda a paciência ante sua irracional crueldade, Pilatos gritou em desespero: “Tomai-O vós e crucificai-O; porque eu nenhum crime acho nEle”. João 19:6. DTN 520.3
João 19:6
6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.
O governador romano, embora familiarizado com cenas cruéis, moveu-se de simpatia para com o paciente Preso que, condenado e açoitado, com a fronte a sangrar e laceradas as costas, mantinha ainda o porte de um rei sobre o trono. Mas os sacerdotes declaram: “Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus”. João 19:7. DTN 520.4
João 19:7
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
Pilatos sobressaltou-se. Não possuía nenhuma idéia exata de Cristo e Sua missão; mas tinha uma vaga fé em Deus e em seres superiores à humanidade. Um pensamento que lhe passara anteriormente pelo cérebro, tomou agora feição definida. Cogitava se não seria um Ser divino o que estava perante ele, revestido da púrpura da zombaria, e coroado de espinhos. DTN 520.5
Voltou novamente ao tribunal, e disse a Jesus: “De onde és Tu?” João 19:9. Mas Jesus não lhe deu resposta alguma. O Salvador falara francamente a Pilatos, explicando a própria missão como testemunha da verdade. Pilatos desprezara a luz. Abusara do alto posto de juiz, submetendo seus princípios e sua autoridade às exigências da turba. Jesus não tinha mais luz para ele. Mortificado com Seu silêncio, disse Pilatos altivamente: “Não me falas a mim? não sabes Tu que tenho poder para Te crucificar e tenho poder para Te soltar?” DTN 521.1
João 19:9
9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
Respondeu Jesus: “Nenhum poder terias contra Mim, se de cima te não fosse dado; mas aquele que Me entregou a ti maior pecado tem”. João 19:10, 11. DTN 521.2
João 19:10, 11
10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
Assim o piedoso Salvador, em meio de Seus intensos sofrimentos e dor, desculpou o quanto possível o ato do governador romano que O entregou para ser crucificado. Que cena esta, para ser transmitida ao mundo de século em século! Que luz projeta sobre o caráter dAquele que é o Juiz de toda a Terra! DTN 521.3
“Aquele que Me entregou a ti”, disse Jesus, “maior pecado tem”. João 19:11. Com estas palavras referia-Se Cristo a Caifás que, como sumo sacerdote, representava a nação judaica. Esta conhecia os princípios que governavam as autoridades romanas. Tivera luz nas profecias que testificavam de Cristo, bem como nos próprios ensinos e milagres dEle. Os juízes judaicos receberam inequívocas provas da divindade dAquele a quem condenavam à morte. E segundo a luz que tinham, seriam julgados. DTN 521.4
João 19:11
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
A maior culpa e mais grave responsabilidade, pesava sobre os que ocupavam os mais altos postos na nação, os depositários das sagradas verdades que estavam vilmente traindo. Pilatos, Herodes e os soldados romanos, ignoravam, relativamente, o que dizia respeito a Jesus. Pensavam agradar aos sacerdotes e príncipes, maltratando-O. Não tinham a luz que a nação judaica recebera em tanta abundância. Houvesse essa luz sido dada aos soldados, e não teriam tratado a Cristo tão cruelmente como o fizeram. DTN 521.5
Outra vez propôs Pilatos soltar o Salvador. “Mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas Este, não és amigo de César”. João 19:12. Assim pretendiam esses hipócritas ser zelosos da autoridade de César. De todos os adversários do governo romano, eram os judeus os mais terríveis. Quando lhes era dado fazê-lo com segurança, mostravam-se os mais tirânicos em impor suas exigências nacionais e religiosas; em querendo, porém, executar qualquer cruel desígnio, exaltava o poder de César. Para consumar o aniquilamento de Jesus, eram capazes de professar lealdade ao governo estrangeiro que odiavam. DTN 521.6
João 19:12
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César.
“Qualquer que se faz rei é contra o César”, continuaram. Isso era tocar num ponto fraco de Pilatos. Ele estava suspeito ao governo romano, e sabia que tal notícia constituía a ruína para si. Sabia que se os judeus fossem contrariados, sua cólera se voltaria contra ele. Não recuariam diante de coisa nenhuma para realizar sua vingança. Tinha diante de si o exemplo na persistência com que buscavam a vida dAquele a quem aborreciam sem causa. DTN 521.7
Pilatos assentou-se então no tribunal, no assento do juiz, e tornou a apresentar Jesus ao povo, dizendo: “Eis aqui o vosso Rei.” De novo se fez ouvir o furioso brado: “Tira, tira, crucifica-O.” Numa voz que se podia ouvir até longe, Pilatos perguntou: “Hei de crucificar o vosso Rei?” Mas de profanos e blasfemos lábios partiram as palavras: “Não temos rei, senão o César”. João 19:15. DTN 522.1
João 19:15
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.
Escolhendo assim um governo pagão, apartara-se a nação judaica da teocracia. Rejeitara a Deus como rei. Não tinha, daí em diante, mais libertador. Não tinha rei senão o César. A isso os sacerdotes e doutores levaram o povo. Por isso, bem como pelos terríveis resultados que se seguiram, eram eles responsáveis. O pecado de uma nação e sua ruína, eram devidos aos guias religiosos. DTN 522.2
“Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste Justo: considerai isso”. Mateus 27:24. Com temor e um sentimento de condenação própria, olhou Pilatos ao Salvador. No vasto oceano de rostos levantados, unicamente o Seu estava sereno. Parecia brilhar-Lhe em torno da cabeça uma suave luz. Pilatos disse consigo mesmo: Ele é um Deus. Virando-se para a multidão, declarou: Estou limpo de Seu sangue. Tomai-O vós e crucificai-O. Mas notai isto, sacerdotes e príncipes: Eu O declaro justo. Que Aquele que Ele diz ser Seu Pai vos julgue a vós e não a mim pela obra deste dia. Depois, para Jesus: Perdoa-me esta ação; não Te posso salvar. E fazendo açoitá-Lo, entregou-O para ser crucificado. DTN 522.3
Mateus 27:24
24 Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.
Pilatos anelava libertar a Jesus. Viu, porém, que não podia fazer isso e conservar ainda sua posição e honra. De preferência a perder seu poder no mundo, escolheu sacrificar uma vida inocente. Quantos há que, para escapar a um prejuízo ou sofrimento, de igual modo sacrificam o princípio! A consciência e o dever apontam um caminho, e o interesse egoísta indica outro. A corrente dirige-se vigorosamente para o lado errado, e aquele que transige com o mal é arrebatado para a espessa treva da culpa. DTN 522.4
Pilatos cedeu às exigências da turba. A arriscar sua posição, preferiu entregar Jesus para ser crucificado. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu alto posto e, aguilhoado pelo remorso e o orgulho ferido, pôs termo à própria vida não muito depois da crucifixão de Cristo. Assim todos quantos transigem com o pecado só conseguirão tristeza e ruína. “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. Provérbios 14:12. Quando Pilatos se declarou inocente do sangue de Cristo, Caifás respondeu DTN 522.5
Provérbios 14:12
12 Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.
desafiadoramente: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos”. Mateus 27:25. As tremendas palavras foram repetidas pelos sacerdotes e príncipes; e ecoadas pela turba, num bramir não humano de vozes. Toda a multidão respondeu, dizendo: “Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.” DTN 522.6
Mateus 27:25
25 E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
O povo de Israel fizera sua escolha. Apontando a Jesus, dissera: “Fora daqui com Este, e solta-nos Barrabás.” Este, ladrão e homicida, representava Satanás. Cristo era o representante de Deus. Cristo fora rejeitado; Barrabás, preferido. Barrabás teriam eles. Fazendo sua escolha, aceitaram aquele que desde o princípio, fora mentiroso e homicida. Satanás era seu guia. Como nação, seguir-lhe-iam os ditames. Fariam suas obras. Teriam de suportar-lhe o domínio. O povo que escolheu Barrabás, em vez de Cristo, havia de sentir a crueldade de Barrabás enquanto o tempo durasse. DTN 523.1
Olhando ao ferido Cordeiro de Deus, os judeus exclamaram: “O Seu sangue seja sobre nós e sobre nossos filhos”. Mateus 27:25. Aquele espantoso brado subiu ao trono de Deus. Aquela sentença pronunciada contra si mesmos, foi escrita no Céu. Foi ouvida aquela súplica. O sangue do Filho de Deus tornou-se perpétua maldição sobre seus filhos e os filhos de seus filhos. DTN 523.2
Mateus 27:25
25 E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
Terrivelmente se cumpriu isso na destruição de Jerusalém. Terrivelmente se tem manifestado na condição do povo judeu durante todos estes séculos — um ramo cortado da videira, um morto e estéril ramo para ser colhido e lançado no fogo. De terra para terra através do mundo, de século em século mortos, mortos em ofensas e pecados! DTN 523.3
Terrivelmente será aquela súplica atendida no grande dia do Juízo. Quando Cristo volver de novo à Terra, não como Preso rodeado pela plebe, hão de vê-Lo os homens. Hão de vê-Lo então como o Rei do Céu. Cristo virá em Sua própria glória, na glória do Pai e na dos santos anjos. Milhares de milhares de anjos, os belos e triunfantes filhos de Deus, possuindo extrema formosura e glória, hão de acompanhá-Lo. Então Se assentará no trono de Sua glória, e diante dEle se congregarão as nações. Então todo olho O verá, e também os que O traspassaram. Em lugar de uma coroa de espinhos, terá uma de glória — uma coroa dentro de outra. Em lugar do velho vestido real de púrpura, trajará vestes do mais puro branco, “tais como nenhum lavandeiro sobre a Terra os poderia branquear”. Marcos 9:3. E nas vestes e na Sua coxa estará escrito um nome: “Rei dos reis, e Senhor dos senhores”. Apocalipse 19:16. Os que dEle zombaram e O feriram, ali estarão. Os sacerdotes e príncipes contemplarão novamente a cena do tribunal. Cada circunstância há de aparecer diante deles, como se escrita com letras de fogo. Então os que rogaram: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27:25) receberão a resposta a sua súplica. Então o mundo inteiro saberá e compreenderá. Perceberão a quem eles, pobres, fracos e finitos seres humanos estiveram a combater. Em terrível agonia e horror hão de clamar às montanhas e às rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?” Apocalipse 6:16, 17. DTN 523.4
Marcos 9:3
3 E as suas vestes tornaram- se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear.
Apocalipse 19:16
16 E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.
Mateus 27:25
25 E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
Apocalipse 6:16, 17
16 E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;
17 Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?