Ide, Ensinai a Todas as Nações


Dia 231 - Sunday, 18 de August de 2024
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Jó 16

Ouça o áudio do capítulo:

1 Então respondeu Jó, dizendo:

2 Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos.

3 Porventura não terão fim essas palavras de vento? Ou o que te irrita, para assim responderes?

4 Falaria eu também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma, ou amontoaria palavras contra vós, e menearia contra vós a minha cabeça?

5 Antes vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor.

6 Se eu falar, a minha dor não cessa, e, calando-me eu, qual é o meu alívio?

7 Na verdade, agora tu me tens fatigado; tu assolaste toda a minha companhia,

8 Testemunha disto é que já me fizeste enrugado, e a minha magreza já se levanta contra mim, e no meu rosto testifica contra mim.

9 Na sua ira me despedaçou, e ele me perseguiu; rangeu os seus dentes contra mim; aguça o meu adversário os seus olhos contra mim.

10 Abrem a sua boca contra mim; com desprezo me feriram nos queixos, e contra mim se ajuntam todos.

11 Entrega-me Deus ao perverso, e nas mãos dos ímpios me faz cair.

12 Descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pela cerviz, e me despedaçou; também me pôs por seu alvo.

13 Cercam-me os seus flecheiros; atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama sobre a terra,

14 Fere-me com ferimento sobre ferimento; arremete contra mim como um valente.

15 Cosi sobre a minha pele o cilício, e revolvi a minha cabeça no pó.

16 O meu rosto está todo avermelhado de chorar, e sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte:

17 Apesar de não haver violência nas minhas mãos, e de ser pura a minha oração.

18 Ah! terra, não cubras o meu sangue e não haja lugar para ocultar o meu clamor!

19 Eis que também agora a minha testemunha está no céu, e nas alturas o meu testemunho está.

20 Os meus amigos são os que zombam de mim; os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus.

21 Ah! se alguém pudesse contender com Deus pelo homem, como o homem pelo seu próximo!

22 Porque decorridos poucos anos, eu seguirei o caminho por onde não tornarei.

Jó 17

Ouça o áudio do capítulo:

1 O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura.

2 Deveras estou cercado de zombadores, e os meus olhos contemplam as suas provocações.

3 Promete agora, e dá-me um fiador para contigo; quem há que me dê a mão?

4 Porque aos seus corações encobriste o entendimento, por isso não os exaltarás.

5 O que denuncia os seus amigos, a fim de serem despojados, também os olhos de seus filhos desfalecerão.

6 Porém a mim me pôs por um provérbio dos povos, de modo que me tornei uma abominação para eles.

7 Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros são como a sombra.

8 Os retos pasmarão disto, e o inocente se levantará contra o hipócrita.

9 E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em força.

10 Mas, na verdade, tornai todos vós e vinde; porque sábio nenhum acharei entre vós.

11 Os meus dias passaram, e malograram os meus propósitos, as aspirações do meu coração.

12 Trocaram a noite em dia; a luz está perto do fim, por causa das trevas.

13 Se eu esperar, a sepultura será a minha casa; nas trevas estenderei a minha cama.

14 À corrupção clamo: Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã.

15 Onde, pois, estaria agora a minha esperança? Sim, a minha esperança, quem a poderá ver?

16 As barras da sepultura descerão quando juntamente no pó teremos descanso.

Jó 18

Ouça o áudio do capítulo:

1 Então respondeu Bildade, o suíta, e disse:

2 Até quando poreis fim às palavras? Considerai bem, e então falaremos.

3 Por que somos tratados como animais, e como imundos aos vossos olhos?

4 Oh tu, que despedaças a tua alma na tua ira, será a terra deixada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?

5 Na verdade, a luz dos ímpios se apagará, e a chama do seu fogo não resplandecerá.

6 A luz se escurecerá nas suas tendas, e a sua lâmpada sobre ele se apagará.

7 Os seus passos firmes se estreitarão, e o seu próprio conselho o derrubará.

8 Porque por seus próprios pés é lançado na rede, e andará nos fios enredados.

9 O laço o apanhará pelo calcanhar, e a armadilha o prenderá.

10 Está escondida debaixo da terra uma corda, e uma armadilha na vereda.

11 Os assombros o espantarão de todos os lados, e o perseguirão a cada passo.

12 Será faminto o seu vigor, e a destruição está pronta ao seu lado.

13 Serão devorados os membros do seu corpo; sim, o primogênito da morte devorará os seus membros.

14 A sua confiança será arrancada da sua tenda, onde está confiado, e isto o fará caminhar para o rei dos terrores.

15 Morará na sua mesma tenda, o que não lhe pertence; espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação.

16 Por baixo se secarão as suas raízes e por cima serão cortados os seus ramos.

17 A sua memória perecerá da terra, e pelas praças não terá nome.

18 Da luz o lançarão nas trevas, e afugentá-lo-ão do mundo.

19 Não terá filho nem neto entre o seu povo, e nem quem lhe suceda nas suas moradas.

20 Do seu dia se espantarão os do ocidente, assim como se espantam os do oriente.

21 Tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o lugar do que não conhece a Deus.

Mateus 28:16-20

Ouça o áudio do capítulo:

16 E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado.

17 E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.

18 E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.

19 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;

20 Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.

O Desejado de Todas as Nações

Ide, Ensinai a Todas as Nações

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Mateus 28:16-20.

Este capítulo é baseado em Lucas 24:50-53; Atos 1:9-12.

Achando-Se a um passo de Seu trono celestial, deu Cristo aos discípulos a comissão. “É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra”, disse Ele. “Portanto ide, ensinai todas as nações”. Mateus 28:18, 19. “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura”. Marcos 16:15. Várias vezes foram as palavras repetidas, a fim de que os discípulos lhes apreendessem o significado. Sobre todos os habitantes da Terra, elevados e humildes, ricos e pobres, devia a luz do Céu resplandecer em claros, poderosos raios. Os discípulos deviam ser colaboradores de seu Redentor na obra de salvar o mundo. DTN 577.1

A comissão fora dada aos doze quando Cristo Se encontrara com eles no cenáculo; devia, porém, ser transmitida agora a um maior número. Em uma montanha da Galiléia se realizou uma reunião na qual se congregaram todos os crentes que podiam ser convocados. Para essa reunião, o próprio Cristo, antes de Sua morte, designara o tempo e o lugar. O anjo, no sepulcro, relembrara os discípulos de Sua promessa de os encontrar na Galiléia. A promessa foi repetida aos crentes reunidos em Jerusalém durante a semana da Páscoa, e por intermédio destes chegara a muitos outros, isolados, que pranteavam a morte de seu Senhor. Com vivo interesse aguardavam todos esse encontro. Dirigiram-se ao lugar de reunião por desvios, chegando ali de várias direções, a fim de evitar as suspeitas dos ciumentos judeus. Chegaram cheios de antecipações, falando entre si calorosamente das novas que lhes haviam sido transmitidas acerca de Cristo. DTN 577.2

Ao tempo designado, cerca de quinhentos crentes estavam reunidos em pequenos grupos na encosta da montanha, ansiosos por saber tudo quanto fosse possível colher dos que tinham visto Jesus depois da ressurreição. Os discípulos passavam de grupo em grupo, dizendo tudo quanto haviam visto e ouvido do Salvador, e raciocinando sobre as Escrituras, como Ele fizera com eles. Tomé contava de novo a história de sua incredulidade, e dizia como se lhe haviam dissipado as dúvidas. De súbito, achou-Se Jesus no meio deles. Ninguém podia dizer de onde nem como viera. Muitos dos presentes nunca O tinham visto; em Suas mãos e pés, porém, divisaram os sinais da crucifixão; Seu semblante era como a face de Deus, e quando O viram, adoraram-nO. DTN 577.3

Alguns, porém, duvidaram. Assim será sempre. Há os que acham difícil exercer fé e se colocam do lado da dúvida. Estes perdem muito por causa de sua incredulidade. DTN 578.1

Foi essa a única entrevista que Jesus teve com muitos dos crentes, depois de Sua crucifixão. Chegou e falou-lhes, dizendo: “É-Me dado todo o poder, no Céu e na Terra.” Os discípulos O haviam adorado antes de Ele falar; mas Suas palavras, proferidas por lábios que haviam estado selados pela morte, os comoveram com poder particular. Ele era agora o Salvador ressuscitado. Muitos deles O haviam visto exercer poder na cura de doentes e dominar instrumentos satânicos. Acreditavam que possuía poder para estabelecer Seu reino em Jerusalém, poder para dominar toda oposição, poder sobre os elementos da natureza. Fizera emudecer as águas revoltas; caminhara por cima das espumejantes vagas; erguera para a vida os mortos. Agora declarava que Lhe era dado “todo o poder”. Suas palavras levaram a mente dos ouvintes acima das coisas terrenas e temporais, às celestiais e eternas. Foram erguidos à mais elevada concepção de Sua dignidade e glória. DTN 578.2

As palavras de Cristo, na encosta da montanha, foram o anúncio de que Seu sacrifício em favor do homem era pleno, completo. As condições para a expiação haviam sido cumpridas; realizara-se a obra para que Ele viera a este mundo. Achava-Se a caminho para o trono de Deus, a fim de ser honrado pelos anjos, os principados e as potestades. Entrara em Sua obra mediadora. Revestido de ilimitada autoridade, dera aos discípulos a comissão: “Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Mateus 28:19, 20. DTN 578.3

Os judeus foram feitos depositários da sagrada verdade; o farisaísmo, porém, os tornara os mais exclusivistas, os mais fanáticos de toda a raça humana. Tudo que dizia respeito aos sacerdotes e aos príncipes — seu vestuário, seus costumes, suas cerimônias, e tradições — tudo os tornava inaptos para ser a luz do mundo. Consideravam-se, a nação judaica, como sendo o mundo. Mas Cristo comissionou Seus discípulos a proclamarem uma fé e um culto que nada encerravam de segregação ou nacionalismo; uma fé que se adaptaria a todos os povos, todas as nações, todas as classes de homens. DTN 578.4

Antes de deixar os discípulos, Cristo declarou positivamente a natureza de Seu reino. Trouxe-lhes à memória o que lhes disse anteriormente a respeito do mesmo. Disse-lhes não ser desígnio Seu estabelecer no mundo um reino temporal, mas sim espiritual. Não havia de governar como rei terrestre no trono de Davi. De novo lhes abriu as Escrituras, mostrando que tudo por que Ele passara fora ordenado no Céu, nos conselhos entre Seu Pai e Ele próprio. Tudo fora predito por homens inspirados pelo Espírito Santo. Disse-lhes: Vedes que tudo quanto vos revelei acerca de Minha rejeição como o Messias, veio a cumprir-se. Verificou-se tudo quanto disse a respeito da humilhação que Eu devia suportar e da morte de que devia morrer. Ao terceiro dia, ressuscitei. Examinai mais diligentemente as Escrituras e vereis que, em todas essas coisas, se cumpriram as especificações da profecia a Meu respeito. DTN 578.5

Cristo ordenou aos discípulos que fizessem a obra que lhes deixara nas mãos, começando em Jerusalém. Jerusalém fora o cenário de Sua alarmante condescendência para com a raça humana. Lá sofrera Ele, sendo rejeitado e condenado. A terra da Judéia era Seu berço. Ali, revestido da humanidade, andara com os homens, e poucos haviam discernido quão perto o Céu chegara da Terra, quando Jesus Se achava entre eles. Em Jerusalém devia começar a obra dos discípulos. DTN 579.1

Em vista de tudo quanto Cristo ali sofrera e do não apreciado trabalho que realizara, os discípulos poderiam ter pedido um campo mais prometedor; não fizeram, entretanto, essa petição. O próprio terreno em que Ele espalhara a semente da verdade devia ser cultivado pelos discípulos, e a semente brotaria, produzindo abundante colheita. Em sua obra, teriam os discípulos de sofrer perseguição por causa do ciúme e o ódio dos judeus; mas isso fora suportado pelo Mestre, e não deviam dela fugir. As primeiras ofertas de misericórdia, cumpria apresentá-las aos assassinos do Salvador. DTN 579.2

E existiam em Jerusalém muitos que tinham crido secretamente em Jesus, e muitos que haviam sido iludidos pelos sacerdotes e os príncipes. Também a estes devia o evangelho ser apresentado. Deviam ser chamados ao arrependimento. Cumpria patentear a admirável verdade de que unicamente por meio de Cristo se poderia obter remissão de pecados. Enquanto toda Jerusalém estava agitada com os emocionantes acontecimentos das últimas semanas, a pregação do evangelho causaria a mais profunda impressão. DTN 579.3

Mas a obra não pararia aí. Dever-se-ia estender aos remotos confins da Terra. Cristo dissera aos discípulos: Fostes testemunhas de Minha vida de sacrifício em favor do mundo. Presenciastes Meus labores por Israel. Embora não quisessem vir a Mim para ter vida, se bem que sacerdotes e principais Me tivessem feito o que lhes aprouve, embora Me rejeitassem segundo a predição das Escrituras, terão ainda outra oportunidade de aceitar o Filho de Deus. Vistes que a todos quantos vêm a Mim, confessando os pecados, Eu os aceito livremente. Aquele que vem a Mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. Todos quantos quiserem, serão reconciliados com Deus e receberão vida eterna. A vós, Meus discípulos, confio esta mensagem de misericórdia. Seja anunciada primeiro a Israel, e depois a todas as nações, línguas e povos. Proclame-se a judeus e gentios. Todos quantos crerem, serão reunidos em uma igreja. DTN 579.4

Mediante o dom do Espírito Santo, receberiam os discípulos maravilhoso poder. Seu testemunho seria confirmado por sinais e maravilhas. Seriam operados milagres, não somente pelos apóstolos, mas também pelos que lhes recebessem a mensagem. Disse Jesus: “Em Meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”. Marcos 16:17, 18. DTN 580.1

Naquela época era muitas vezes empregado o envenenamento. Homens sem escrúpulos não hesitavam em afastar, por essa maneira, os que estavam no caminho de suas ambições. Jesus sabia que a vida dos discípulos seria assim posta em perigo. Muitos julgariam estar servindo a Deus ao matar Suas testemunhas. Portanto, prometeu protegê-los contra esses perigos. DTN 580.2

Os discípulos deviam ter o mesmo poder que Cristo possuía para curar “todas as enfermidades e moléstias entre o povo”. Curando em Seu nome as doenças do corpo, davam testemunho de Seu poder para a cura da alma. Mateus 4:23. E um novo dom foi então prometido. Deviam pregar entre outras nações, e receberiam poder de falar outras línguas. Os apóstolos e seus cooperadores eram homens iletrados, todavia mediante o derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes, sua linguagem, fosse no próprio idioma ou num estrangeiro, tornou-se pura, simples e correta, tanto nas palavras como na pronúncia. DTN 580.3

Assim deu Cristo aos discípulos sua missão. Tomou plenas medidas para a seqüência da obra, assumindo Ele próprio a responsabilidade do êxito da mesma. Enquanto Lhe obedecessem à palavra e trabalhassem em ligação com Ele, não poderiam falhar. Ide a todas as nações, ordenou-lhes. Ide às mais longínquas partes do globo habitado, mas sabei que Minha presença ali Se achará. Trabalhai com fé e confiança, pois nunca virá tempo em que Eu vos abandone. DTN 580.4

A comissão do Salvador aos discípulos incluía todos os crentes. Abrange todos os crentes em Cristo até ao fim dos séculos. É um erro fatal supor que a obra de salvar almas depende apenas do pastor ordenado. Todos a quem veio a celestial inspiração, são depositários do evangelho. Todos quantos recebem a vida de Cristo são mandados trabalhar pela salvação de seus semelhantes. Para essa obra foi estabelecida a igreja, e todos quantos tomam sobre si os seus sagrados votos, comprometem-se, assim, a ser coobreiros de Cristo. DTN 580.5

“O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: vem”. Apocalipse 22:17. Todo aquele que ouve deve repetir o convite. Seja qual for a vocação de uma pessoa na vida, seu primeiro interesse deve ser ganhar almas para Cristo. Talvez ela não seja capaz de falar às congregações; pode, no entanto, trabalhar em favor dos indivíduos. Pode comunicar-lhes as instruções recebidas do Senhor. O ministério não consiste apenas em pregar. Exercem-no os que aliviam os doentes e os sofredores, ajudam os necessitados, dirigem palavras de conforto aos desanimados e aos de pouca fé. Por perto e por longe encontram-se almas vergadas ao peso de um sentimento de culpa. Não são as penas, as labutas, a pobreza que degradam a humanidade. É a culpa, o mau proceder. Isso traz desassossego e descontentamento. Cristo quer que Seus servos ajudem as almas enfermas de pecado. DTN 580.6

Os discípulos deviam começar sua obra onde se achavam. O mais duro campo, o menos prometedor, não devia ser passado por alto. Cumpre, assim, a cada um dos obreiros de Cristo começar onde está. Em nossa própria família pode haver almas sequiosas de simpatia, famintas do pão da vida. Talvez haja crianças a serem educadas para Cristo. Há pagãos às nossas próprias portas. Façamos fielmente a obra que nos fica mais próxima. Depois, estendamos nossos esforços tão longe quanto a mão de Deus no-la indicar. A obra de muitos parecerá ser restringida pelas circunstâncias; mas seja onde for, se executada com fé e diligência, far-se-á sentir até às mais remotas partes da Terra. Quando Cristo estava no mundo, Sua obra parecia limitada a um estreito campo; no entanto multidões de todas as terras ouviram-Lhe a mensagem. Deus Se serve muitas vezes dos mais simples meios para produzir os maiores resultados. É Seu plano que cada parte de Sua obra dependa de outra parte, como uma roda dentro de outra, funcionando todas em harmonia. O mais humilde obreiro, movido pelo Espírito Santo, poderá tocar cordas invisíveis, cujas vibrações hão de soar até aos confins da Terra e produzir melodias através dos séculos eternos. DTN 581.1

Mas cumpre não perder de vista a ordem: “Ide por todo o mundo”. Marcos 16:15. Somos chamados a erguer os olhos para as terras distantes. Cristo derruba o muro divisório, os separadores preconceitos de nacionalidade, ensinando amor por toda a família humana. Ergue os homens do estreito círculo que o egoísmo lhes prescreve; apaga todas as fronteiras territoriais e as artificiais distinções de classe. Não faz diferença entre vizinhos e estranhos, amigos e inimigos. Ensina-nos a olhar a toda alma necessitada como nosso irmão, e o mundo como nosso campo. DTN 581.2

Quando o Salvador disse: “Ide, ensinai todas as nações”, disse também: “Estes sinais seguirão aos que crerem: Em Meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”. Marcos 16:17, 18. A promessa é tão vasta como a comissão. Não que todos os dons sejam comunicados a cada crente. O Espírito reparte “particularmente a cada um como quer”. 1 Coríntios 12:11. Mas os dons do Espírito são prometidos a todo crente segundo sua necessidade para a obra do Senhor. A promessa é, hoje, exatamente tão categórica e digna de confiança, como nos dias dos apóstolos. “Estes sinais seguirão aos que creram”. Marcos 16:17. Este é o privilégio dos filhos de Deus, e a fé deve lançar mão de tudo quanto é possível possuir como apoio. DTN 581.3

“Porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.” Este mundo é um vasto hospital, mas Cristo veio curar os enfermos, proclamar liberdade aos cativos de Satanás. Era em Si mesmo saúde e vigor. Comunicava Sua vida aos doentes, aos aflitos, aos possessos de demônios. Não repelia ninguém que viesse receber Seu poder vivificador. Sabia que os que Lhe pediam auxílio haviam trazido sobre si mesmos a doença; todavia, não Se recusava a curá-los. E quando a virtude provinda de Cristo penetrava nessas pobres almas, sentiam a convicção do pecado, e muitos eram curados de suas enfermidades espirituais, bem como das do corpo. O evangelho possui ainda o mesmo poder, e por que não deveríamos testemunhar hoje idênticos resultados? DTN 582.1

Cristo sente as misérias de todo sofredor. Quando os espíritos maus arruínam o organismo humano, Cristo sente essa ruína. Quando a febre consome a corrente vital, Ele sente a agonia. E está tão disposto a curar o enfermo hoje, como quando Se achava em pessoa na Terra. Os servos de Cristo são Seus representantes, instrumentos pelos quais opera. Ele deseja, por intermédio dos mesmos, exercer Seu poder de curar. DTN 582.2

Na maneira por que o Salvador curava, havia lições para os discípulos. Uma ocasião, ungiu com terra os olhos de um cego, dizendo-lhe: “Vai, lava-te no tanque de Siloé. [...] Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo”. João 9:7. A cura só se podia operar pelo poder do grande Médico; todavia, Cristo fez uso dos simples agentes da natureza. Conquanto não recomendasse as medicações compostas de drogas, sancionou o emprego de remédios simples e naturais. DTN 582.3

A muitos dos aflitos que foram curados, disse Cristo: “Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior”. João 5:14. Assim ensinou que a doença é o resultado da violação das leis de Deus, tanto naturais como espirituais. Não existiria no mundo a grande miséria que há, se tão-somente os homens vivessem em harmonia com o plano do Criador. DTN 582.4

Cristo fora o guia e mestre do antigo Israel, e ensinara-lhe que a saúde é o prêmio da obediência às leis divinas. O grande Médico que curava os doentes da Palestina, falara a Seu povo da coluna de nuvem, dizendo-lhe o que devia fazer, e o que Deus faria por ele. “Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus”, disse, “e obrares o que é reto diante de Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre os egípcios; porque Eu sou o Senhor que te sara”. Êxodo 15:26. Cristo deu a Israel definidas instruções acerca de seus hábitos de vida, e assegurou-lhe: “E o Senhor de ti desviará toda a enfermidade”. Deuteronômio 7:15. Quando cumpriam as condições, verificavam-se as promessas. “Entre as suas tribos não houve um só enfermo”. Salmos 105:37. DTN 582.5

Essas lições são para nós. Há condições que devem ser observadas por todos os que queiram conservar a saúde. Cumpre aprenderem todos quais são essas condições. Deus não Se agrada da ignorância com respeito a Suas leis, sejam naturais, sejam espirituais. Devemos ser coobreiros Seus, para restauração da saúde do corpo bem como do espírito. DTN 583.1

E devemos ensinar os outros a conservar e a recuperar a saúde. Empregar para os doentes os remédios providos por Deus na natureza, bem como encaminhá-los Àquele que, unicamente, pode restaurar. É nossa obra apresentar os doentes e sofredores a Cristo, nos braços de nossa fé. Devemos ensinar-lhes a crer no grande Médico. Lançar mão de Sua promessa, e orar pela manifestação de Seu poder. A própria essência do evangelho é restauração, e o Salvador quer que induzamos os enfermos, os desamparados e os aflitos a se apoderarem de Sua força. DTN 583.2

O poder do amor estava em todas as curas de Cristo, e unicamente participando desse amor, pela fé, podemos ser instrumentos para Sua obra. Se negligenciamos pôr-nos em divina ligação com Cristo, a corrente de energia vitalizante não pode fluir em abundantes torrentes de nós para o povo. Houve lugares em que o próprio Salvador não pôde realizar muitas obras poderosas, devido à incredulidade. Assim agora a incredulidade separa a igreja de seu divino Ajudador. Fraco é seu apego às realidades eternas. Por sua falta de fé, fica Deus decepcionado, e é roubado de Sua glória. DTN 583.3

É fazendo a obra de Cristo que a igreja tem a promessa de Sua presença. Ide, ensinai a todas as nações, disse Ele; “e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Mateus 28:20. Tomar o Seu jugo é uma das primeiras condições para receber-Lhe o poder. A própria vida da igreja depende de sua fidelidade em cumprir a comissão do Senhor. Certo, negligenciar essa obra é convidar a fraqueza e a decadência espirituais. Onde não há ativo trabalho em benefício de outros, o amor diminui e definha a fé. DTN 583.4

É intento de Cristo que Seus ministros sejam educadores da igreja na obra evangélica. Cumpre-lhes ensinar o povo a buscar e salvar os perdidos. É esta, porém, a obra que estão fazendo? Ai! quantos estão porfiando por avivar a centelha da vida numa igreja quase a perecer! Quantas igrejas são cuidadas como ovelhas enfermas, pelos que deviam estar buscando a ovelha perdida! E todo o tempo milhões e milhões estão perecendo sem Cristo. DTN 583.5

O amor divino moveu-se a suas insondáveis profundidades em favor dos homens, e os anjos maravilham-se de ver nos objetos de tão grande amor uma gratidão meramente superficial. Os anjos pasmam de quão limitada é a apreciação que o homem tem do amor de Deus. O Céu se indigna ante a negligência manifestada para com a alma dos homens. Queremos saber como Cristo o considera? Como sentiria um pai, uma mãe, soubessem eles que, estando seu filho perdido no frio e na neve, fora desdenhado e deixado a perecer pelos que o poderiam haver salvado? Não ficariam terrivelmente ofendidos, furiosamente indignados? Não os acusariam com uma ira tão ardente como suas lágrimas, tão intensa como seu amor? Os sofrimentos de cada homem são os sofrimentos de um filho de Deus, e os que não estendem a mão em socorro de seus semelhantes quase a perecer, provocam-Lhe a justa ira. Esta é a ira do Cordeiro. Aos que professam ser companheiros de Cristo, e todavia se têm mostrado indiferentes às necessidades dos semelhantes, declarará Ele no grande dia do Juízo: “Não sei de onde vós sois; apartai-vos de Mim, vós todos os que praticais a iniqüidade”. Lucas 13:27. DTN 583.6

Na comissão dada aos discípulos, Cristo não somente lhes delineou a obra, mas deu-lhes a mensagem. Ensinai o povo, disse, “a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado”. Os discípulos deviam ensinar o que Cristo ensinara. O que Ele falara, não só em pessoa, mas através de todos os profetas e mestres do Antigo Testamento, aí se inclui. É excluído o ensino humano. Não há lugar para a tradição, para as teorias e conclusões dos homens, nem para a legislação da igreja. Nenhuma das leis ordenadas por autoridade eclesiástica se acha incluída na comissão. Nenhuma dessas têm os servos de Cristo de ensinar. “A lei e os profetas” com a narração de Suas próprias palavras e atos, eis os tesouros confiados aos discípulos para serem dados ao mundo. O nome de Cristo é-lhes senha, distintivo, traço de união, autoridade para seu modo de proceder, bem como fonte de êxito. Coisa alguma que não traga a assinatura dEle há de ser reconhecida em Seu reino. DTN 584.1

O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus deseja que os que recebem Sua graça sejam testemunhas do poder da mesma. Aceita francamente aqueles cuja maneira de proceder mais ofensiva Lhe tem sido; quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, coloca-os nos mais altos postos de confiança e envia-os ao acampamento dos desleais, para Lhe proclamar a ilimitada misericórdia. Quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, podem os homens possuir caráter semelhante ao de Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que testifiquemos de que Ele não pode ficar satisfeito, enquanto a raça humana não for reavida e reintegrada em seus santos privilégios de filhos e filhas de Deus. DTN 584.2

Em Cristo se resumem a ternura do pastor, a afeição do pai e a incomparável graça do compassivo Salvador. Apresenta Suas bênçãos nos mais fascinantes termos. Não Se contenta apenas em anunciar essas bênçãos; oferece-as da maneira mais atrativa, para despertar o desejo de as possuir. Assim devem Seus servos apresentar as riquezas da glória do inexprimível Dom. O maravilhoso amor de Cristo abrandará e subjugará os corações, quando a simples reiteração de doutrinas nada conseguiria. “Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus.” “Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe tu a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. [...] Como pastor apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço”. Isaías 40:1, 9-11. Falai ao povo dAquele que “traz a bandeira entre dez mil”, e que é “totalmente desejável”. Cânticos 5:10, 16. As palavras, meramente, não o podem dizer. Seja refletido no caráter e manifestado na vida. Cristo posa para ser retratado em cada discípulo. A todos predestinou Deus para serem “conformes à imagem de Seu Filho”. Romanos 8:29. Em cada um se tem de manifestar ao mundo o longânimo amor de Cristo, Sua santidade, mansidão, misericórdia e verdade. DTN 584.3

Os primeiros discípulos saíram pregando a Palavra. Eles revelaram Cristo em sua vida. E o Senhor andava com eles, “confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram”. Marcos 16:20. Estes discípulos se prepararam para a obra. Antes do dia de Pentecostes se reuniram e tiraram dentre eles todas as desinteligências. Estavam de um mesmo sentimento. Acreditavam na promessa de Cristo, de que a bênção seria dada, e oravam com fé. Não pediam a bênção apenas para si; estavam preocupados com a responsabilidade quanto à salvação de almas. O evangelho devia ser levado até aos confins da Terra, e eles reclamavam a doação do poder que Cristo prometera. Foi então que o Espírito Santo foi derramado, e milhares se converteram num dia. DTN 585.1

Assim pode ser agora. Em vez das especulações dos homens, seja pregada a Palavra de Deus. Tirem os cristãos do meio deles as dissensões, e entreguem-se a Deus para salvação dos perdidos. Peçam a bênção com fé, e ela há de vir. O derramamento do Espírito, nos dias apostólicos, foi a “chuva temporã” (Joel 2:23), e glorioso foi o resultado. Mas a “chuva serôdia” será mais abundante. DTN 585.2

Todos quantos consagram a Deus alma, corpo e espírito, estarão constantemente recebendo nova dotação de poder físico e mental. As inesgotáveis provisões do Céu acham-se à sua disposição. Cristo lhes dá o alento de Seu próprio espírito, a vida de Sua própria vida. O Espírito Santo desenvolve Suas mais elevadas energias para operarem no coração e na mente. A graça divina amplia-lhes e multiplica-lhes as faculdades, e toda perfeição da divina natureza lhes acode em auxílio na obra de salvar almas. Mediante a cooperação com Cristo, são completos nEle e, em sua fraqueza humana, habilitados a realizar os feitos da Onipotência. DTN 585.3

O Salvador anela manifestar Sua graça e estampar Seu caráter no mundo inteiro. Este é Sua comprada possessão, e deseja tornar as pessoas livres, puras e santas. Embora Satanás trabalhe para impedir esse desígnio, mediante o sangue derramado pelo mundo, há triunfos a serem realizados, triunfos que trarão glória a Deus e ao Cordeiro. Cristo não Se manifestará enquanto a vitória não for completa, e Ele vir “o trabalho de Sua alma”. Isaías 53:11. Todas as nações da Terra ouvirão o evangelho de Sua graça. Nem todos a receberão; mas “uma semente O servirá; falará do Senhor de geração em geração”. Salmos 22:30. “E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo” (Daniel 7:27), e “a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar”. Isaías 11:9. “Então temerão o nome do Senhor desde o poente, e a Sua glória desde o nascente do Sol”. Isaías 59:19. DTN 585.4

“Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! [...] exultai juntamente, desertos [...] porque o Senhor consolou o Seu povo. [...] O Senhor desnudou o Seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus”. Isaías 52:7-10. DTN 586.1

Chegou o momento de Cristo ascender ao trono do Pai. Estava prestes a voltar para as cortes celestiais, como divino vencedor, levando consigo os troféus da vitória. Antes de Sua morte, declarara ao Pai: “Eu acabei a obra que Tu Me encarregaste que fizesse” (João 17:4, Trad. Figueiredo). Depois de Sua ressurreição, demorou-Se na Terra por algum tempo, a fim de que os discípulos ficassem familiarizados com Ele em Seu corpo ressurgido e glorificado. Agora estava pronto para as despedidas. Tornara autêntico o fato de que era um Salvador vivo. Os discípulos não necessitavam mais de relacioná-Lo com o sepulcro. Podiam pensar nEle como glorificado perante o Universo celestial. DTN 587.1

Como local de Sua ascensão, escolheu Jesus aquele tantas vezes consagrado por Sua presença, enquanto habitava entre os homens. Não o Monte Sião, o lugar da cidade de Davi, não o Monte Moriá, sítio do templo, deviam ser assim honrados. Ali fora Jesus escarnecido e rejeitado. Ali as ondas de misericórdia, voltando ainda em mais poderosa vaga de amor, foram devolvidas por corações duros como as pedras. Dali Jesus, fatigado e oprimido de coração, saíra em busca de descanso no Monte das Oliveiras. O santo shekinah, partindo do primeiro templo, pousara sobre a montanha oriental, como se relutasse em abandonar a escolhida cidade; assim estava Cristo sobre o Olivete, contemplando com o coração anelante a Jerusalém. Os bosques e depressões da montanha haviam sido consagrados por Suas orações e lágrimas. Essas mesmas encostas ecoaram as triunfantes aclamações da multidão que O proclamava rei. Na descida desse monte encontrara Ele um lar em companhia de Lázaro, em Betânia. No Jardim de Getsêmani, ao sopé do Olivete, orara e Se angustiara sozinho. Desse monte devia ascender ao Céu. No cume do mesmo pousarão Seus pés quando vier outra vez. Não como varão de dores, mas como glorioso e triunfante rei estará sobre o Monte das Oliveiras, enquanto as aleluias dos hebreus se misturarão com os hosanas dos gentios, e as vozes dos remidos, qual poderosa hoste, hão de avolumar-se na aclamação: “Coroai-O Senhor de todos.” DTN 587.2

Com os onze discípulos, dirige-Se Jesus agora para o monte. Ao passarem pela porta de Jerusalém, muitos olhares curiosos seguem o pequeno grupo, chefiado por Aquele que, poucas semanas antes, fora condenado pelos principais, e crucificado. Não sabiam os discípulos que essa seria sua última entrevista com o Mestre. Jesus passou o tempo em conversa com eles, repetindo as anteriores instruções. Ao aproximarem-se de Getsêmani, Ele guardou silêncio, a fim de que se lembrassem das lições que lhes dera na noite de Sua grande agonia. Olhou outra vez para a videira pela qual representara a união de Sua igreja consigo e com o Pai; repetiu as verdades que então desdobrara. Tudo quanto O rodeava eram recordações de Seu não retribuído amor. Os próprios discípulos, que tão caros Lhe eram ao coração, na hora de Sua humilhação O vituperaram e abandonaram. DTN 587.3

Por trinta e três anos peregrinara Cristo na Terra; suportara-lhe o desdém, o insulto e a zombaria; fora rejeitado e crucificado. Agora, quando prestes a ascender para Seu trono de glória — ao repassar as ingratidões do povo que viera salvar — não retiraria dele Sua simpatia e amor? Não se concentrariam Seus afetos naquele reino onde era apreciado e onde imaculados anjos esperavam Suas ordens para as cumprir? — Não; eis Sua promessa aos amados que deixa na Terra: “Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Mateus 28:20. DTN 588.1

Chegando ao Monte das Oliveiras, Jesus vai abrindo o caminho até o cume, à vizinhança de Betânia. Ali Se detém, e os discípulos reúnem-se-Lhe em torno. Raios de luz parecem irradiar-Lhe do semblante, enquanto os contempla amorosamente. Não lhes lança em rosto suas faltas e fracassos; as últimas palavras que lhes chegam aos ouvidos, vindas dos lábios do Senhor, são da mais profunda ternura. Com as mãos estendidas numa bênção, e como numa firme promessa de Seu protetor cuidado, ascende Jesus lentamente dentre eles, atraído para o Céu por um poder mais forte que qualquer atração terrestre. Ao subir mais e mais, os assombrados discípulos, numa tensão visual, buscam um último vislumbre de seu Senhor assunto. Uma nuvem de glória O oculta aos seus olhos; e ao recebê-Lo o carro da nuvem de anjos, soam-lhes ainda aos ouvidos as palavras: “Eis que Eu estou convosco todo os dias, até à consumação dos séculos”. Mateus 28:20. A flutuar veio baixando até eles, ao mesmo tempo, a mais suave e mais jubilosa música produzida pelo coro angélico. DTN 588.2

Enquanto os discípulos continuam a olhar para cima ouvem, qual música maviosa, vozes que se lhes dirigem. Voltam-se e vêem dois anjos em forma humana, os quais lhes falam, dizendo: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir”. Atos 1:11. DTN 588.3

Esses anjos eram do grupo que estivera esperando numa nuvem brilhante, para acompanhar Jesus à morada celestial. Os mais exaltados, dentre a multidão angélica, eram os dois que foram ao sepulcro na ressurreição de Cristo e com Ele estiveram durante Sua vida na Terra. Ardente era o desejo com que o Céu aguardava o fim de Sua estada num mundo manchado pela maldição do pecado. Chegara agora a ocasião de o Universo celestial receber o seu Rei. Não ansiaram os dois anjos unir-se à multidão que saudava a Jesus? Em simpatia e amor pelos que Ele deixara, porém, ficaram para os confortar. “Não são porventura todos espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” Hebreus 1:14. DTN 588.4

Cristo ascendera ao Céu na forma humana. Os discípulos viram a nuvem recebê-Lo. O mesmo Jesus que andara, e falara e orara com eles; Aquele que partira com eles o pão; que com eles estivera nos botes, no lago; e que fizeram com eles, naquele mesmo dia, a penosa subida do Olivete — o mesmo Jesus fora agora para partilhar do trono do Pai. E os anjos lhes asseguraram que Aquele mesmo que viram subir ao Céu, voltaria outra vez assim como subira. Virá “com as nuvens, e todo o olho O verá”. Apocalipse 1:7. “Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão”. 1 Tessalonicenses 4:16. “Quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória”. Mateus 25:31. Então se cumprirá a promessa do próprio Senhor aos discípulos. “Se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também”. João 14:3. Bem podiam os discípulos se regozijar na esperança da vinda do Senhor. DTN 589.1

Quando voltaram a Jerusalém, o povo olhava para eles com espanto. Pensava-se que, depois do julgamento e crucifixão de Cristo, se mostrariam abatidos e envergonhados. Seus inimigos esperavam ver-lhes no rosto uma expressão de tristeza e derrota. Ao invés disso, havia simplesmente alegria e triunfo. Sua fisionomia era iluminada por uma felicidade que não provinha da Terra. Não lamentavam malogradas esperanças, mas estavam cheios de louvor e ações de graças a Deus. Com regozijo contavam a maravilhosa história da ressurreição de Cristo e de Sua ascensão ao Céu, e seu testemunho foi recebido por muitos. DTN 589.2

Não mais tinham os discípulos qualquer desconfiança do futuro. Sabiam que Jesus estava no Céu e que continuavam a ser o objeto de Seu compassivo interesse. Sabiam que tinham um amigo junto ao trono de Deus e estavam ansiosos por apresentar ao Pai suas petições em nome de Jesus. Em solene respeito curvavam-se em oração, repetindo a firme Promessa: “Tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra”. João 16:23, 24. Estenderam mais e mais alto a mão da fé, com o poderoso argumento: “Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós”. Romanos 8:34. E o Pentecostes lhes trouxe plenitude de alegria na presença do Consolador, exatamente como Cristo prometera. DTN 589.3

Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva. DTN 590.1

Ao aproximar-se da cidade de Deus, cantam, como em desafio, os anjos que compõem o séquito: DTN 590.2

“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória”! DTN 590.3

Jubilosamente respondem as sentinelas de guarda: “Quem é este Rei da Glória?” DTN 590.4

Isto dizem elas, não porque não saibam quem Ele é, mas porque querem ouvir a resposta de exaltado louvor: “O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória”! DTN 590.5

Novamente se faz ouvir o desafio: “Quem é este Rei da Glória?” pois os anjos nunca se cansam de ouvir o Seu nome ser exaltado. E os anjos da escolta respondem: “O Senhor dos Exércitos; Ele é o Rei da Glória!” Salmos 24:7-10. DTN 590.6

Então se abrem de par em par as portas da cidade de Deus, e a angélica multidão entra por elas, enquanto a música prorrompe em arrebatadora melodia. DTN 590.7

Ali está o trono, e ao seu redor, o arco-íris da promessa. Ali estão querubins e serafins. Os comandantes das hostes celestiais, os filhos de Deus, os representantes dos mundos não caídos, acham-se congregados. O conselho celestial, perante o qual Lúcifer acusara a Deus e a Seu Filho, os representantes daqueles reinos imaculados sobre os quais Satanás pensara estabelecer seu domínio — todos ali estão para dar as boas-vindas ao Redentor. Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar seu Rei. DTN 590.8

Mas Ele os detém com um gesto. Ainda não. Não pode receber a coroa de glória e as vestes reais. Entra à presença do Pai. Mostra a fronte ferida, o atingido flanco, os dilacerados pés; ergue as mãos que apresentam os vestígios dos cravos. Aponta para os sinais de Seu triunfo; apresenta a Deus o molho movido, aqueles ressuscitados com Ele como representantes da grande multidão que há de sair do sepulcro por ocasião de Sua segunda vinda. Aproxima-Se do Pai, em quem há alegria a cada pecador que se arrepende; que sobre ele Se regozija com júbilo. Antes que os fundamentos da Terra fossem lançados, o Pai e o Filho Se haviam unido num concerto para redimir o homem, se ele fosse vencido por Satanás. Haviam-Se dado as mãos, num solene compromisso de que Cristo Se tornaria o fiador da raça humana. Esse compromisso cumprira Cristo. Quando, sobre a cruz soltara o brado: “Está consumado” (João 19:30), dirigira-Se ao Pai. O pacto fora plenamente satisfeito. Agora Ele declara: “Pai, está consumado. Fiz, ó Meu Deus, a Tua vontade. Concluí a obra da redenção. Se a Tua justiça está satisfeita, ‘quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo’”. João 17:24. DTN 590.9

Ouve-se a voz de Deus proclamando que a justiça está satisfeita. Está vencido Satanás. Os filhos de Cristo, que lutam e se afadigam na Terra, são “agradáveis [...] no Amado”. Efésios 1:6. Perante os anjos celestiais e os representantes dos mundos não caídos, são declarados justificados. Onde Ele está, ali estará a Sua igreja. “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram”. Salmos 85:10. Os braços do Pai circundam o Filho, e é dada a ordem: “E todos os anjos de Deus O adorem”. Hebreus 1:6. DTN 591.1

Com inexprimível alegria, governadores, principados e potestades reconhecem a supremacia do Príncipe da Vida. A hoste dos anjos prostra-se perante Ele, ao passo que enche todas as cortes celestiais a alegre aclamação: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças”! Apocalipse 5:12. DTN 591.2

Hinos de triunfo misturam-se com a música das harpas angélicas, de maneira que o Céu parece transbordar de júbilo e louvor. O amor venceu. Achou-se a perdida. O Céu ressoa com altissonantes vozes que proclamam: “Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”. Apocalipse 5:13. DTN 591.3

Daquela cena de alegria celestial, chega até nós na Terra, o eco das maravilhosas palavras do próprio Cristo: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. João 20:17. A família no Céu e a família na Terra, são uma só. Para nosso bem subiu nosso Senhor, para nosso bem Ele vive. “Portanto pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”. Hebreus 7:25. DTN 591.4

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