De Israel a Horebe


Dia 95 - Thursday, 04 de April de 2024
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23 min

  • 1 Crônicas 20 e 21
  • 1 Reis 19

1 Crônicas 20

Ouça o áudio do capítulo:

1 Aconteceu que, no decurso de um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, Joabe levou o exército, e destruiu a terra dos filhos de Amom, e veio, e cercou a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém; e Joabe feriu a Rabá, e a destruiu.

2 E Davi tirou a coroa da cabeça do rei deles, e achou nela o peso de um talento de ouro, e havia nela pedras preciosas; e foi posta sobre a cabeça de Davi; e levou da cidade mui grande despojo.

3 Também levou o povo que estava nela, e os fez trabalhar com a serra, e com talhadeiras de ferro e com machados; e assim fez Davi com todas as cidades dos filhos de Amom; então voltou Davi, com todo o povo, para Jerusalém.

4 E, depois disto, aconteceu que, levantando-se guerra em Gezer, com os filisteus, então Sibecai, o husatita, feriu a Sipai, dos filhos do gigante; e ficaram subjugados.

5 E tornou a haver guerra com os filisteus; e El-Hanã, filho de Jair, feriu a Lami, irmão de Golias, o giteu, cuja haste da lança era como órgão de tecelão.

6 E houve ainda outra guerra em Gate; onde havia um homem de grande estatura, e tinha vinte e quatro dedos, seis em cada mão, e seis em cada pé, e que também era filho do gigante.

7 E injuriou a Israel; porém Jônatas, filho de Simei, irmão de Davi, o feriu;

8 Estes nasceram ao gigante em Gate; e caíram pela mão de Davi e pela mão dos seus servos.

1 Crônicas 21

Ouça o áudio do capítulo:

1 Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.

2 E disse Davi a Joabe e aos maiorais do povo: Ide, numerai a Israel, desde Berseba até Dã; e trazei-me a conta para que saiba o número deles.

3 Então disse Joabe: O SENHOR acrescente ao seu povo cem vezes tanto como é; porventura, ó rei meu senhor, não são todos servos de meu senhor? Por que procura isto o meu senhor? Porque seria isto causa de delito para com Israel.

4 Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe; por isso saiu Joabe, e passou por todo o Israel; então voltou para Jerusalém.

5 E Joabe deu a Davi a soma do número do povo; e era todo o Israel um milhão e cem mil homens, dos que arrancavam da espada; e de Judá quatrocentos e setenta mil homens, dos que arrancavam da espada.

6 Porém os de Levi e Benjamim não contou entre eles, porque a palavra do rei foi abominável a Joabe.

7 E este negócio também pareceu mau aos olhos de Deus; por isso feriu a Israel.

8 Então disse Davi a Deus: Gravemente pequei em fazer este negócio; porém agora sê servido tirar a iniqüidade de teu servo, porque procedi mui loucamente.

9 Falou, pois, o Senhor a Gade, o vidente de Davi, dizendo:

10 Vai, e fala a Davi, dizendo: Assim diz o Senhor: Três coisas te proponho; escolhe uma delas, para que eu ta faça.

11 E Gade veio a Davi, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Escolhe para ti,

12 Ou três anos de fome, ou que três meses sejas consumido diante dos teus adversários, e a espada de teus inimigos te alcance, ou que três dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra, e o anjo do Senhor destrua todos os termos de Israel; vê, pois, agora, que resposta hei de levar a quem me enviou.

13 Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens.

14 Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens.

15 E Deus mandou um anjo a Jerusalém para a destruir; e, destruindo-a ele, o Senhor olhou, e se arrependeu daquele mal, e disse ao anjo destruidor: Basta, agora retira a tua mão. E o anjo do Senhor estava junto à eira de Ornã, o jebuseu.

16 E, levantando Davi os seus olhos, viu o anjo do Senhor, que estava entre a terra e o céu, com a sua espada desembainhada na sua mão estendida contra Jerusalém; então Davi e os anciãos, cobertos de sacos, se prostraram sobre os seus rostos.

17 E disse Davi a Deus: Não sou eu o que disse que se contasse o povo? E eu mesmo sou o que pequei, e fiz muito mal; mas estas ovelhas que fizeram? Ah! Senhor, meu Deus, seja a tua mão contra mim, e contra a casa de meu pai, e não para castigo de teu povo.

18 Então o anjo do Senhor ordenou a Gade que dissesse a Davi para subir e levantar um altar ao Senhor na eira de Ornã, o jebuseu.

19 Subiu, pois, Davi, conforme a palavra de Gade, que falara em nome do Senhor.

20 E, virando-se Ornã, viu o anjo, e esconderam-se seus quatro filhos que estavam com ele; e Ornã estava trilhando o trigo.

21 E Davi veio a Ornã; e olhou Ornã, e viu a Davi, e saiu da eira, e se prostrou perante Davi com o rosto em terra.

22 E disse Davi a Ornã: Dá-me este lugar da eira, para edificar nele um altar ao Senhor; dá-mo pelo seu valor, para que cesse este castigo sobre o povo.

23 Então disse Ornã a Davi: Toma-o para ti, e faça o rei meu senhor dele o que parecer bem aos seus olhos; eis que dou os bois para holocaustos, e os trilhos para lenha, e o trigo para oferta de alimentos; tudo dou.

24 E disse o rei Davi a Ornã: Não, antes, pelo seu valor, a quero comprar; porque não tomarei o que é teu, para o Senhor, para que não ofereça holocausto sem custo.

25 E Davi deu a Ornã, por aquele lugar, o peso de seiscentos siclos de ouro.

26 Então Davi edificou ali um altar ao Senhor, e ofereceu nele holocaustos e sacrifícios pacíficos; e invocou o Senhor, o qual lhe respondeu com fogo do céu sobre o altar do holocausto.

27 E o Senhor deu ordem ao anjo, e ele tornou a sua espada à bainha.

28 Vendo Davi, no mesmo tempo, que o Senhor lhe respondera na eira de Ornã, o jebuseu, sacrificou ali.

29 Porque o tabernáculo do Senhor, que Moisés fizera no deserto, e o altar do holocausto, estavam naquele tempo no alto de Gibeom.

30 E não podia Davi ir perante ele consultar a Deus; porque estava aterrorizado por causa da espada do anjo do Senhor.

1 Reis 19

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como totalmente matara todos os profetas à espada.

2 Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles.

3 O que vendo ele, se levantou e, para escapar com vida, se foi, e chegando a Berseba, que é de Judá, deixou ali o seu servo.

4 Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.

5 E deitou-se, e dormiu debaixo do zimbro; e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te, come.

6 E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se.

7 E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho.

8 Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.

9 E ali entrou numa caverna e passou ali a noite; e eis que a palavra do Senhor veio a ele, e lhe disse: Que fazes aqui Elias?

10 E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.

11 E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto;

12 E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada.

13 E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?

14 E ele disse: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei; e buscam a minha vida para ma tirarem.

15 E o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e, chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria.

16 Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar.

17 E há de ser que o que escapar da espada de Hazael, matá-lo-á Jeú; e o que escapar da espada de Jeú, matá-lo-á Eliseu.

18 Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou.

19 Partiu, pois, Elias dali, e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, e ele estava com a duodécima; e Elias passou por ele, e lançou a sua capa sobre ele.

20 Então deixou ele os bois, e correu após Elias; e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. E ele lhe disse: Vai, e volta; pois, que te fiz eu?

21 Voltou, pois, de o seguir, e tomou a junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram; então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.

Profetas e Reis

De Israel a Horebe

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em 1 Reis 18:41-46; 19:1-8.

Com a exterminação dos profetas de Baal, estava aberto o caminho para uma poderosa reforma espiritual entre as dez tribos do reino do norte. Elias havia exposto ao povo a sua apostasia; tinha-os convidado a humilhar o coração e tornar-se para o Senhor. Os juízos do Céu tinham sido executados; o povo havia confessado seus pecados e reconhecido o Deus de seus pais como o Deus vivo; e agora a maldição do Céu devia ser retirada e renovadas as bênçãos temporais de vida. A terra devia ser refrescada com chuva. “Sobe, come e bebe”, disse Elias a Acabe, “porque ruído há de uma abundante chuva”. 1 Reis 18:41. Então o profeta se dirigiu ao alto do monte para entregar-se a oração. PR 76.1

Não foi porque houvesse qualquer evidência externa de que águas estavam para desabar, que Elias tão confiantemente mandou que Acabe se preparasse para a chuva. O profeta não viu nenhuma nuvem nos céus; ele não ouvira nenhum trovão. Simplesmente proferira a palavra que o Espírito do Senhor o havia movido a falar em resposta a sua firme fé. Resolutamente havia ele feito a vontade de Deus através do dia, e havia manifestado implícita confiança nas profecias da Palavra de Deus; e agora, havendo feito tudo que estava em seu poder, sabia que o Céu outorgaria livremente as bênçãos preditas. O mesmo Deus que havia enviado a estiagem tinha prometido abundância de chuvas como recompensa do reto proceder; e agora Elias esperava pelo derramamento prometido. Em atitude de humildade, “o seu rosto entre os seus joelhos” (1 Reis 18:42), intercedeu com Deus em favor do penitente Israel. PR 76.2

Uma e outra vez Elias enviou seu servo a observar de um ponto que dominava o Mediterrâneo, a fim de verificar se havia qualquer sinal visível de que Deus tivesse ouvido sua oração. A cada vez o servo retornava com a resposta: “Não há nada”. O profeta não se impacientou ou perdeu a fé, mas continuou sua fervente petição. Seis vezes o servo retornou com a declaração de que não havia nenhum sinal de chuva nos céus de bronze. Confiante, Elias enviou-o uma vez mais; e agora o servo retornou com a declaração: “Eis aqui uma pequena nuvem, como a mão dum homem, subindo do mar”. PR 76.3

Isto bastou. Elias não esperou que os céus escurecessem. Na pequena nuvem ele contemplou pela fé uma abundância de chuva; e agiu em harmonia com sua fé, enviando depressa seu servo a Acabe com esta mensagem: “Aparelha o teu carro, e desce, para que a chuva te não apanhe”. 1 Reis 18:43, 44. PR 76.4

Foi porque Elias era um homem de grande fé que Deus pôde usá-lo nesta grave crise na história de Israel. Enquanto orava, sua fé alcançou as promessas do Céu e agarrou-as; e perseverou na oração até que suas petições fossem respondidas. Ele não esperou pela inteira evidência de que Deus o ouvira, mas se dispôs a aventurar tudo ante o mais leve sinal do divino favor. E no entanto, tudo que ele foi habilitado a fazer sob a orientação de Deus, todos podem fazer em sua esfera de atividade no serviço de Deus; pois do profeta das montanhas de Gileade está escrito: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra”. Tiago 5:17. PR 77.1

Fé semelhante é necessária no mundo hoje — fé que descanse nas promessas da Palavra de Deus, e recuse desistir até que o Céu ouça. Fé semelhante a esta liga-nos intimamente com o Céu, e traz-nos força para batalhar com os poderes das trevas. Pela fé os filhos de Deus “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos”. Hebreus 11:33, 34. E pela fé devemos alcançar hoje os mais altos propósitos de Deus para nós. “Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê”. Marcos 9:23. PR 77.2

A fé é um elemento essencial da oração perseverante. “É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam”. Hebreus 11:6. “Se pedirmos alguma coisa segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fazemos”. 1 João 5:14, 15. Com a perseverante fé de Jacó, com a inquebrantável persistência de Elias, podemos apresentar nossas petições ao Pai, reclamando tudo o que nos tem prometido. A honra de Seu trono está comprometida no cumprimento de Sua palavra. PR 77.3

As sombras da noite envolveram o Monte Carmelo enquanto Acabe se preparava para descer. “E sucedeu que, entretanto, os céus se enegreceram com nuvens e ventos, e veio uma grande chuva; e Acabe subiu ao carro, e foi para Jezreel”. 1 Reis 18:45. Enquanto viajava para a cidade real através das trevas e da ofuscante chuva, Acabe não podia enxergar o caminho diante de si. Elias que, como profeta de Deus, tinha nesse dia humilhado Acabe diante de seus súditos e morto seus sacerdotes, reconhecia ainda nele o rei de Israel; e agora, como um ato de homenagem, e fortalecido pelo poder de Deus, corria na frente da carruagem real, guiando o rei à entrada da cidade. PR 77.4

Nesse gracioso ato do mensageiro de Deus mostrado a um ímpio rei, há para todos que se dizem servos de Deus, mas que são exaltados em sua própria estima, uma lição. Há os que se sentem acima da obrigação de realizar tarefas que lhes parecem amesquinhantes. Hesitam em fazer até mesmo serviço necessário, temendo serem achados fazendo a obra de um servo. Esses têm muito que aprender do exemplo de Elias. Mediante sua palavra os tesouros do céu haviam por três e meio anos sido retidos de sobre a terra; havia ele sido significativamente honrado por Deus quando, em resposta a sua oração no Carmelo, descera fogo do céu e consumira o sacrifício; sua mão tinha executado o juízo de Deus no extermínio dos profetas idólatras; sua petição para que chovesse havia sido atendida. E contudo, após os assinalados triunfos com que Deus Se agradara honrar seu ministério público, ele se dispusera a realizar o trabalho de um servo. PR 77.5

À entrada de Jezreel, Elias e Acabe se separaram. O profeta, preferindo permanecer fora dos muros, envolveu-se em seu manto, e deitou-se sobre a terra nua para dormir. O rei, entrando na cidade, alcançou logo o resguardado abrigo de seu palácio, e aí relatou a sua esposa os maravilhosos acontecimentos do dia, e a admirável revelação do poder divino que provara a Israel ser Jeová o verdadeiro Deus e Elias Seu mensageiro escolhido. Contando Acabe à rainha o morticínio dos profetas idólatras, Jezabel, endurecida e impenitente, ficou enfurecida. Ela se recusou a reconhecer nos sucessos do Carmelo a soberana providência de Deus e, desafiadora ainda, ousadamente declarou que Elias devia morrer. PR 78.1

Nessa noite um mensageiro despertou o fadigado profeta e transmitiu-lhe a palavra de Jezabel: “Assim me façam os deuses, e outro tanto, se decerto amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles”. 1 Reis 19:2. PR 78.2

Poderá parecer que depois de haver mostrado tão grande coragem, após haver triunfado tão completamente sobre o rei, sacerdotes e povo, Elias não devesse jamais haver dado caminho ao desânimo, nem ter sido levado à intimidação. Mas aquele que havia sido abençoado com tantas evidências do amorável cuidado de Deus, não estava acima das fragilidades humanas, e nesta hora escura sua fé e coragem abandonaram-no. Desorientado, despertou. A chuva caía dos céus, e havia trevas por todos os lados. Esquecendo que três anos antes Deus havia dirigido seus passos a um lugar de refúgio contra o ódio de Jezabel e as buscas de Acabe, o profeta agora escapava por sua vida. Alcançando Berseba, “deixou ali o seu moço. E ele se foi ao deserto, caminho de um dia”. 1 Reis 19:4. PR 78.3

Elias não devia ter desertado de seu posto de dever. Devia ter enfrentado a ameaça de Jezabel, apelando para a proteção dAquele que o havia comissionado para que vindicasse a honra de Jeová. Ele devia ter dito ao mensageiro que o Deus em quem confiava o protegeria contra o ódio da rainha. Apenas poucas horas haviam decorrido desde que ele testemunhara a maravilhosa manifestação do poder divino, e isto devia ter-lhe dado a segurança de que ele não seria agora abandonado. Tivesse ele ficado onde estava, tivesse feito de Deus seu refúgio e fortaleza, permanecendo firme pela verdade, e teria sido abrigado do perigo. O Senhor lhe teria dado outra assinalada vitória, enviando Seus juízos sobre Jezabel; e a impressão feita sobre o rei e o povo teria dado lugar a uma grande reforma. PR 78.4

Elias havia esperado muito do milagre produzido no Carmelo. Supusera que depois daquela exibição do poder de Deus, Jezabel não mais teria influência sobre a mente de Acabe, e que haveria uma imediata reforma em todo o Israel. O dia todo no alto do Carmelo ele estivera em atividade, sem alimento. Contudo, quando guiava o carro de Acabe à entrada de Jezreel, sua coragem foi forte, a despeito da debilidade física sob a qual havia trabalhado. PR 79.1

Mas uma reação como a que freqüentemente segue elevada fé e gloriosos sucessos estava exercendo pressão sobre Elias. Ele temeu que a reforma iniciada no Carmelo não fosse duradoura; e a depressão se apoderou dele. Havia sido exaltado ao topo do Pisga; agora estava no vale. Enquanto sob a inspiração do Onipotente, ele tinha resistido à mais severa prova de fé; mas neste tempo de desencorajamento, com a ameaça de Jezabel soando-lhe aos ouvidos, e Satanás ainda aparentemente prevalecendo mediante a trama desta ímpia mulher, ele perdeu sua firmeza em Deus. Havia sido exaltado acima da medida, e a reação foi tremenda. Esquecendo-se de Deus, Elias fugia mais e mais, até que se encontrou num árido deserto, sozinho. Indescritivelmente cansado, assentou-se para repousar debaixo de um zimbro. Assentando-se aí, pediu a morte para si mesmo. “Já basta, ó Senhor”, disse ele, “toma agora a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. 1 Reis 19:4. Fugitivo, longe da habitação dos homens, o espírito causticado pelo amargo desapontamento, ele desejou nunca mais olhar a face de um homem. Afinal, extremamente exausto, adormeceu. PR 79.2

Na experiência de todos surgem ocasiões de profundo desapontamento e extremo desencorajamento — dias em que só predomina a tristeza, e é difícil crer que Deus é ainda o bondoso benfeitor de Seus filhos na Terra; dias em que o dissabor mortifica a alma, de maneira que a morte pareça preferível à vida. É então que muitos perdem sua confiança em Deus, e são levados à escravidão da dúvida, ao cativeiro da incredulidade. Pudéssemos em tais ocasiões discernir com intuição espiritual o significado das providências de Deus, veríamos anjos procurando salvar-nos de nós mesmos, esforçando-se por firmar nossos pés num fundamento mais firme que os montes eternos; e nova fé, nova vida jorrariam para dentro do ser. PR 79.3

O fiel Jó, no dia de sua aflição e trevas, declarou: PR 79.4

“Pereça o dia em que nasci”. “Oh! se a minha mágoa retamente se pesasse. E a minha miséria juntamente se pusesse numa balança!” “Quem dera que se cumprisse o meu desejo e que Deus me desse o que espero! E que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a Sua mão, e acabasse comigo! Isto ainda seria a minha consolação”. Jó 3:3; 6:2, 8-10. PR 79.5

“Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma.” “Pelo que a minha alma escolheria [...] Antes a morte do que estes meus ossos. A minha vida abomino, pois não viverei para sempre; retira-Te de mim, Pois vaidade são os meus dias”. Jó 7:11, 15, 16. PR 80.1

Mas embora cansado da vida, a Jó não foi permitido morrer. Foram-lhe indicadas as possibilidades do futuro, e deu-se-lhe a mensagem de esperança: PR 80.2

“Estarás firme e não temerás. Porque te esquecerás dos trabalhos, e te lembrarás deles como das águas que já passaram. E a tua vida mais clara se levantará do que o meio-dia; ainda que haja trevas, será como a manhã. E terás confiança, porque haverá esperança. [...] E deitar-te-ás, E ninguém te espantará; muitos acariciarão o teu rosto. Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma”. Jó 11:15-20. PR 80.3

Das profundezas do desencorajamento e desânimo Jó se levanta para as alturas da implícita confiança na misericórdia e o poder salvador de Deus. Triunfantemente declarou: PR 80.4

“Ainda que Ele me mate, nEle esperarei; [...] Também isto será a minha salvação”. Jó 13:15, 16. PR 80.5

“Por que eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, O verão”. Jó 19:25-27. PR 80.6

“Depois disto o Senhor respondeu a Jó dum redemoinho” (Jó 38:1), e revelou a Seu servo a força do Seu poder. Quando Jó teve um vislumbre de seu Criador, abominou-se a si mesmo, e se arrependeu no pó e na cinza. Então o Senhor pôde abençoá-lo abundantemente, e fazer os seus últimos dias os melhores de sua vida. PR 80.7

Esperança e coragem são essenciais ao perfeito serviço para Deus. Esses são frutos da fé. O desânimo é pecaminoso e irrazoável. Deus está em condições e disposto a outorgar a Seus servos “mais abundantemente” a força de que necessitam para a tentação e prova. Os planos dos inimigos de Sua obra podem parecer bem assentados e firmemente estabelecidos; mas Deus pode subverter os mais fortes deles. E isto Ele faz em seu devido tempo e maneira, quando vê que a fé de Seus servos foi suficientemente testada. PR 80.8

Para o desalentado há um seguro remédio — fé, oração e trabalho. Fé e atividade proverão segurança e satisfação que hão de aumentar dia após dia. Estais tentados a dar guarida a sentimentos de ansiedade ou obstinado desânimo? Nos dias mais negros, quando as aparências parecem mais agressivas, não temais. Tende fé em Deus. Ele conhece vossas necessidades; possui todo o poder. Seu infinito amor e compaixão são incansáveis. Não temais que Ele deixe de cumprir Sua promessa. Ele é eterna verdade. Jamais mudará o concerto que fez com os que O amam. E concederá a Seus fiéis servos a medida de eficiência que suas necessidades requerem. O apóstolo Paulo testificou: “E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. [...] Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Deus. Porque quando estou fraco, então sou forte”. 2 Coríntios 12:9, 10. PR 80.9

Abandonou Deus a Elias em sua hora de provas? Oh, não! Ele não amava menos Seu servo quando este se sentiu abandonado de Deus e dos homens, do que quando, em resposta a sua oração, flamejou fogo do céu e iluminou o topo do monte. E agora, havendo Elias adormecido, um suave toque e delicada voz o despertou. Ele se ergue aterrado, como quem vai fugir, temendo que o inimigo o tivesse descoberto. Mas a face compassiva que se inclinava sobre ele não era a de um inimigo, mas de um amigo. Deus tinha enviado um anjo do Céu com alimento para Seu servo. “Levanta-te e come”, disse o anjo. “E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água”. 1 Reis 19:5, 6. PR 81.1

Depois de haver-se servido do alimento para ele preparado, Elias deitou-se de novo e adormeceu. Pela segunda vez veio o anjo. Tocando o exausto homem, disse com terna piedade: “Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus” (1 Reis 19:7, 8), onde encontrou refúgio numa caverna. PR 81.2

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