Beréia e Atenas


Dia 285 - Friday, 11 de October de 2024
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24 min

  • 1 Timóteo 1-3
  • Atos 17:10-34

1 Timóteo 1

Ouça o áudio do capítulo:

1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, segundo o mandado de Deus, nosso Salvador, e do Senhor Jesus Cristo, esperança nossa,

2 A Timóteo meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor.

3 Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina,

4 Nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora.

5 Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.

6 Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas;

7 Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.

8 Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente;

9 Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas,

10 Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina,

11 Conforme o evangelho da glória de Deus bem-aventurado, que me foi confiado.

12 E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério;

13 A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade.

14 E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo.

15 Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.

16 Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna.

17 Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém.

18 Este mandamento te dou, meu filho Timóteo, que, segundo as profecias que houve acerca de ti, milites por elas boa milícia;

19 Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.

20 E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.

1 Timóteo 2

Ouça o áudio do capítulo:

1 Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens;

2 Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade;

3 Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,

4 Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.

5 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.

6 O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.

7 Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios na fé e na verdade.

8 Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda.

9 Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos,

10 Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.

11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.

12 Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.

13 Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.

14 E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.

15 Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação.

1 Timóteo 3

Ouça o áudio do capítulo:

1 Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.

2 Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;

3 Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;

4 Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia

5 (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? );

6 Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.

7 Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.

8 Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;

9 Guardando o mistério da fé numa consciência pura.

10 E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.

11 Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.

12 Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas.

13 Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.

14 Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa;

15 Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.

16 E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.

Atos 17:10-34

Ouça o áudio do capítulo:

10 E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.

11 Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.

12 De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens.

13 Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus também era anunciada por Paulo em Beréia, foram lá, e excitaram as multidões.

14 No mesmo instante os irmãos mandaram a Paulo que fosse até ao mar, mas Silas e Timóteo ficaram ali.

15 E os que acompanhavam Paulo o levaram até Atenas, e, recebendo ordem para que Silas e Timóteo fossem ter com ele o mais depressa possível, partiram.

16 E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria.

17 De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam.

18 E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição.

19 E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?

20 Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos pois saber o que vem a ser isto

21 (Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade).

22 E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos;

23 Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio.

24 O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;

25 Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;

26 E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação;

27 Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;

28 Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.

29 Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.

30 Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;

31 Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

32 E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.

33 E assim Paulo saiu do meio deles.

34 Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros.

Atos dos Apóstolos

Beréia e Atenas

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Atos 17:11-34.

Em Beréia, Paulo encontrou judeus dispostos a pesquisar as verdades por ele ensinadas. A respeito deles declara o relatório de Lucas: “Estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a Palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos varões”. Atos 17:11, 12. AA 128.1

A mente dos bereanos não se achava limitada pelo preconceito. Estavam dispostos a pesquisar a veracidade das doutrinas pregadas pelos apóstolos. Estudavam a Bíblia, não por curiosidade, mas para que pudessem aprender o que havia sido escrito a respeito do Messias prometido. Diariamente examinavam os relatos inspirados e, ao compararem texto com texto, anjos celestiais se colocavam ao lado deles, iluminando-lhes a mente e impressionando-lhes o coração. AA 128.2

Onde quer que as verdades do evangelho sejam proclamadas, os que honestamente desejam proceder com retidão serão levados a exame diligente das Escrituras. Se, nas cenas finais da história da Terra, aqueles a quem são proclamadas verdades decisivas seguissem o exemplo dos bereanos, examinando diariamente as Escrituras, e comparando com a Palavra de Deus as mensagens a eles levadas, haveria hoje em dia grande número de pessoas leais aos preceitos da lei de Deus, onde agora existem relativamente poucos. Mas, quando são apresentadas verdades bíblicas impopulares, muitos se recusam a pesquisá-las. Embora incapazes de refutar os claros ensinos da Escritura, manifestam extrema relutância em estudar as evidências oferecidas. Alguns presumem que mesmo sendo essas doutrinas verdades incontestes, pouco importa aceitarem ou não a nova luz; e apegam-se a fábulas agradáveis usadas pelo inimigo para desviar as pessoas. Assim são suas mentes cegadas pelo erro, e ficam separados do Céu. AA 128.3

Todos serão julgados de acordo com a luz que tem sido dada. O Senhor envia Seus embaixadores com a mensagem de salvação, e aos que a ouvem, Ele faz responsáveis pela maneira por que tratam as palavras de Seus servos. Os que sinceramente buscarem a verdade pesquisarão cuidadosamente, à luz da Palavra de Deus, as doutrinas a eles apresentadas. AA 128.4

Os judeus incrédulos de Tessalônica, cheios de ciúme e ódio contra os apóstolos, e não satisfeitos com havê-los expulsado de sua própria cidade, seguiram-nos até Beréia e levantaram contra eles as paixões excitáveis da classe mais baixa. Temendo que seria exercida violência contra Paulo caso ele permanecesse ali, os irmãos o enviaram para Atenas, acompanhado de alguns novos conversos bereanos. AA 128.5

Assim, a perseguição seguiu os pregadores da verdade de cidade em cidade. Os inimigos de Cristo não puderam impedir o avanço do evangelho, mas conseguiram tornar a tarefa dos apóstolos extremamente difícil. Embora em face de oposição e conflito, Paulo prosseguia firmemente, determinado a executar o propósito de Deus a ele revelado na visão de Jerusalém: “Hei de enviar-te aos gentios de longe”. Atos 22:21. AA 129.1

A inesperada partida de Paulo de Beréia privou-o da oportunidade por ele acariciada de visitar os irmãos de Tessalônica. AA 129.2

Chegando a Atenas, o apóstolo enviou de retorno os irmãos bereanos com a mensagem para que Silas e Timóteo fossem reunir-se a ele imediatamente. Timóteo tinha vindo a Beréia antes da partida de Paulo e, com Silas, tinha permanecido para prosseguir com a obra tão bem começada nesse lugar e instruir os novos conversos nos princípios da fé. AA 129.3

A cidade de Atenas era a metrópole do paganismo. Aí Paulo não se encontrou com uma população crédula e ignorante, como em Listra, mas com um povo famoso por sua inteligência e cultura. Em todos os lugares estavam à vista estátuas de seus deuses e de heróis divinizados da História e da Poesia, enquanto magnificentes arquiteturas e pinturas representavam a glória nacional e o culto popular de deidades pagãs. O senso do povo estava empolgado com o esplendor e a beleza da arte. De todos os lados santuários, altares e templos representando enorme despesa, exibiam suas formas maciças. Vitórias das armas e feitos de homens célebres eram comemorados pela escultura, relicários e placas. Tudo isso fez de Atenas uma vasta galeria de arte. AA 129.4

Olhando Paulo a beleza e a grandeza que o rodeavam, e vendo a cidade toda entregue à idolatria, seu espírito se encheu de zelo por Deus, a quem via desonrado por todos os lados. Seu coração se comoveu de piedade pelo povo de Atenas, que, apesar de sua cultura intelectual, era ignorante do verdadeiro Deus. AA 129.5

O apóstolo não se deixou seduzir pelo que viu nesse centro de cultura. Sua natureza espiritual estava tão atenta às atrações das coisas celestiais, que a alegria e magnificência das riquezas que nunca perecerão tornavam de nenhum valor aos seus olhos a pompa e o esplendor daquilo que o circundava. Vendo a magnificência de Atenas, ele compreendeu seu poder sedutor sobre os amantes da Arte e da Ciência, e seu espírito ficou profundamente impressionado com a importância da obra que tinha diante de si. AA 129.6

Nessa grande cidade onde Deus não era adorado, Paulo foi oprimido por um sentimento de solidão, e anelou a simpatia e o auxílio de seus colaboradores. No que respeita à amizade humana, sentia-se inteiramente só. Em sua epístola aos tessalonicenses, ele exprimiu seus sentimentos nas palavras: “Deixar-nos ficar sós em Atenas”. 1 Tessalonicenses 3:1. Obstáculos aparentemente intransponíveis se apresentaram diante dele, fazendo com que se lhe afigurasse quase sem esperança a tentativa de alcançar o coração do povo. AA 129.7

Enquanto esperava por Silas e Timóteo, Paulo não ficou ocioso. “Dissertava na sinagoga entre os judeus e os piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali”. Atos 17:17. Mas a sua principal obra em Atenas era levar as boas-novas de salvação aos que não tinham clara concepção de Deus e de Seu propósito em favor da raça caída. O apóstolo logo havia de enfrentar o paganismo em sua forma mais sutil e sedutora. AA 130.1

Não demorou que os grandes homens de Atenas ouvissem a respeito da presença de mestre tão singular em sua cidade, que estava apresentando perante o povo doutrinas novas e estranhas. Alguns desses homens procuraram Paulo e entraram em conversação com ele. Logo, uma multidão de ouvintes se lhes reuniu em torno. Alguns estavam preparados para ridicularizar o apóstolo como alguém que estivesse muito abaixo deles, tanto intelectual como socialmente, e esses diziam zombeteiros: “Que quer dizer este paroleiro?” Outros, “porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição”, diziam: “parece que é pregador de deuses estranhos”. Atos 17:18. AA 130.2

Entre os que se encontraram com Paulo na praça havia “alguns dos filósofos epicureus e estóicos”; mas esses, e todos os demais que entraram em contato com ele, logo viram que ele tinha um conhecimento superior mesmo ao deles. Sua capacidade intelectual impunha respeito aos letrados, ao passo que seu fervoroso e lógico raciocínio e seu poder de oratória captavam a atenção de todo o auditório. Seus ouvintes reconheciam que ele não era nenhum aprendiz, mas era capaz de enfrentar todas as classes com argumentos convincentes em favor das doutrinas que ensinava. Assim, o apóstolo permaneceu invicto, enfrentando seus opositores no próprio terreno deles, contrapondo lógica a lógica, filosofia a filosofia, eloqüência a eloqüência. AA 130.3

Seus oponentes pagãos chamavam-lhe a atenção para o fim de Sócrates, que, por ser pregador de deuses estranhos, tinha sido condenado à morte; e aconselhavam Paulo a não pôr sua vida em perigo enveredando pelo mesmo caminho. Mas os discursos do apóstolo cativavam a atenção do povo, e sua sabedoria sem afetação impunha-lhes admiração e respeito. Ele não foi posto em silêncio pela Ciência nem pela ironia dos filósofos; e convencendo-se de que ele estava disposto a concluir sua missão entre eles, e, apesar dos riscos, a contar sua história, decidiram ouvi-lo com boa disposição. AA 130.4

Portanto, conduziram-no ao Areópago. Esse era um dos locais mais sagrados de Atenas, e suas evocações e reminiscências eram tais que o faziam ser considerado com uma supersticiosa reverência que, na mente de alguns, chegava ao terror. Era nesse local que os assuntos relacionados com a religião eram muitas vezes considerados cuidadosamente por homens que atuavam como juízes finais em todas as questões mais importantes, tanto morais como civis. AA 130.5

Ali, afastado do ruído e agitação das ruas apinhadas e do tumulto da discussão promíscua, o apóstolo podia ser ouvido sem interrupção. Ao seu redor reuniram-se poetas, artistas, e filósofos — intelectuais e sábios de Atenas, que a ele assim se dirigiram: “Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos pois saber o que vem a ser isto”. Atos 17:19, 20. AA 131.1

Nessa hora de solene responsabilidade, o apóstolo estava calmo e confiante. Tinha o coração possuído de importante mensagem, e as palavras que lhe caíram dos lábios, convenceram seus ouvintes de que ele não era nenhum paroleiro. “Varões atenienses”, disse ele, “em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse pois que vós honrais, não O conhecendo, é o que eu vos anuncio”. Atos 17:22, 23. Com toda a sua inteligência e conhecimento generalizado, eram eles ignorantes do Deus que criara o Universo. Alguns, todavia, que ali estavam, almejavam maior luz. Estavam procurando alcançar o infinito. AA 131.2

Com a mão estendida em direção ao templo apinhado de ídolos, Paulo esvaziou seu coração e expôs os erros da religião dos atenienses. Os mais sábios entre seus ouvintes ficaram admirados ao atentarem para a sua argumentação. Ele mostrou estar familiarizado com suas obras de arte, literatura e religião. Apontando para o estatuário e ídolos deles, declarou que Deus não pode ser assemelhado a formas de imaginação humana. Aquelas imagens esculpidas não podiam, mesmo da maneira mais pálida, representar a glória de Jeová. Fê-los pensar no fato de que aquelas imagens não tinham vida, mas eram controladas pelo poder humano, movendo-se apenas quando as mãos dos homens as moviam; de maneira que os adoradores eram, em tudo, superiores ao objeto adorado. AA 131.3

Paulo levou a mente de seus ouvintes idólatras para além dos limites de sua falsa religião, a uma visão correta da Divindade a que eles denominaram “Deus desconhecido” Este Ser que ele agora lhes anunciava, era independente do homem, nada necessitando das mãos humanas que Lhe viesse acrescentar poder e glória. AA 131.4

O povo foi tomado de admiração pela fervorosa e lógica apresentação feita por Paulo dos atributos do verdadeiro Deus — Seu poder criador e a existência de Sua soberana providência. Com ardente e poderosa eloqüência, o apóstolo declarou: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Senhor do Céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas”. Atos 17:24, 25. Os Céus não eram suficientemente grandes para conter Deus, quanto mais os templos feitos por mãos humanas. AA 131.5

Nesse século de tantas diferenças sociais, quando os direitos dos homens não eram muitas vezes reconhecidos, Paulo expôs a grande verdade da fraternidade humana, declarando que Deus “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra” À vista de Deus, todos são iguais; e cada ser humano deve ao Criador suprema obediência. Então, o apóstolo mostrou como, mediante todo o trato de Deus com o homem, Seu propósito de graça e misericórdia corre como um fio de ouro. Ele tem determinado “os tempos já antes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós”. Atos 17:26, 27. AA 132.1

Apontando os nobres espécimes da humanidade em torno de si, com palavras tomadas de um de seus poetas, Paulo pintou o infinito Deus como um Pai, de quem eram filhos. “NEle vivemos, e nos movemos, e existimos”, declarou ele, “como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também Sua geração. Sendo nós pois geração de Deus, não havemos de cuidar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. AA 132.2

“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam”. Atos 17:28-30. Nos séculos de trevas que precederam o advento de Cristo, o divino Soberano passou por alto a idolatria dos gentios; mas agora, por intermédio de Seu Filho, enviara Ele aos homens a luz da verdade; e esperava de todos o arrependimento para a salvação, não somente do pobre e humilde, mas também do altivo filósofo e dos príncipes da Terra. “Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou; e disto deu certeza a todos, ressuscitando-O dos mortos” Como Paulo se referisse à ressurreição dos mortos, “uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez”. Atos 17:31, 32. AA 132.3

Terminou assim o trabalho do apóstolo em Atenas, o centro da cultura pagã; pois os atenienses, apegando-se persistentemente a sua idolatria, viraram as costas à luz da verdadeira religião. Quando um povo está inteiramente satisfeito com suas próprias realizações, pouco mais se pode esperar dele. Conquanto presumindo-se de refinamento e instrução, os atenienses estavam se tornando constantemente mais corruptos, e mais satisfeitos com os vagos mistérios da idolatria. AA 132.4

Entre os que ouviram as palavras de Paulo estavam alguns a cuja mente as verdades apresentadas levaram a convicção; mas eles não se quiseram humilhar para conhecer a Deus e aceitar o plano da salvação. Nenhuma eloqüência de palavras, nem força de argumentos pode converter o pecador. Somente o poder de Deus pode imprimir a verdade no coração. Aquele que persistentemente se desvia desse poder, não pode ser alcançado. Os gregos buscavam a sabedoria, e a mensagem da cruz era para eles loucura, porquanto valorizavam sua própria sabedoria mais que a sabedoria que vem do alto. AA 132.5

Em sua sabedoria humana e orgulho intelectual se encontra a razão por que a mensagem do evangelho teve comparativamente pouco êxito entre os atenienses. Os sábios segundo o mundo, que forem a Cristo como pobres e perdidos pecadores, tornar-se-ão sábios para a salvação; mas os que a Ele forem como pessoas de importância, gabando-se de sua própria sabedoria, deixarão de receber a luz e o conhecimento que só Ele pode dar. AA 133.1

Assim enfrentou Paulo o paganismo de seus dias. Seus esforços em Atenas não foram inteiramente em vão. Dionísio, um dos mais preeminentes cidadãos, e alguns outros, aceitaram a mensagem do evangelho e uniram-se completamente aos crentes. AA 133.2

Para que se visse como Deus, por intermédio de Seu servo, repreendeu a idolatria e os pecados de um povo orgulhoso e presumido, a inspiração nos deu este apanhado da vida dos atenienses que, com todo o seu conhecimento, refinamento e arte, estavam, não obstante, chafurdados no vício. As palavras do apóstolo, e a descrição de sua atitude e circunstâncias, tais como as traçou a inspiração, deviam atingir todas as gerações futuras, dando testemunho de sua inamovível confiança, sua coragem na adversidade, e a vitória por ele obtida para o cristianismo no coração do paganismo. AA 133.3

As palavras de Paulo contêm um tesouro de conhecimento para a igreja. Estava ele numa posição em que facilmente poderia ter dito qualquer coisa que teria irritado seus orgulhosos ouvintes, colocando-se em dificuldade. Tivesse seu sermão sido um ataque direto aos deuses e aos grandes homens da cidade, e ele teria corrido o perigo de sofrer a sorte de Sócrates. Mas, com o tato nascido do divino amor, cuidadosamente ele afastou-lhes a mente de suas divindades pagãs, revelando-lhes o verdadeiro Deus, para eles desconhecido. AA 133.4

Hoje, as verdades das Escrituras devem ser levadas perante os grandes homens do mundo, para que possam escolher entre a obediência à lei de Deus e a aliança com o príncipe do mal. Deus põe perante eles a verdade eterna — verdade que os fará sábios para a salvação — mas não os força a aceitá-la. Se Lhe voltam as costas, Ele os deixa entregues a si mesmos para que se fartem com os frutos de suas próprias ações. AA 133.5

“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são”. 1 Coríntios 1:18, 19, 27, 28. Muitos dos mais eminentes homens do mundo, doutos e estadistas, nestes últimos dias volver-se-ão da luz porque o mundo por sua própria sabedoria desconhece a Deus. Entretanto, os servos de Deus deverão aproveitar cada oportunidade para comunicar a verdade a esses homens. Alguns reconhecerão sua ignorância em relação às coisas de Deus e assentar-se-ão como humildes discípulos aos pés de Jesus, o Mestre por excelência. AA 133.6

Em cada esforço para alcançar as mais altas classes, o obreiro de Deus necessita de forte fé. As aparências podem parecer desoladoras, mas na hora mais escura, há luz do alto. A força dos que amam a Deus e a Ele servem será renovada cada dia. A mente do infinito está posta a seu serviço para que ao executarem Seu propósito não cometam erro. Mantenham esses obreiros firme até o fim, o princípio de sua confiança, lembrando-se de que a luz da verdade de Deus deve brilhar em meio às trevas que envolvem nosso mundo. Não deve haver nenhum desalento em relação com o trabalho de Deus. A fé do consagrado obreiro tem de resistir a cada prova que o alcance. Deus pode e está disposto a outorgar a Seus servos toda a fortaleza de que precisem e a dar-lhes a sabedoria que suas variadas necessidades imponham. Ele fará mais que cumprir as mais altas expectativas dos que nEle põem sua confiança. AA 134.1

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