A Travessia do Jordão


Dia 51 - Tuesday, 20 de February de 2024
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23 min

Josué 1

Ouça o áudio do capítulo:

1 E sucedeu depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, que o SENHOR falou a Josué, filho de Num, servo de Moisés, dizendo:

2 Moisés, meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel.

3 Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés.

4 Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo.

5 Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei.

6 Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.

7 Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares.

8 Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.

9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.

10 Então Josué deu ordem aos príncipes do povo, dizendo:

11 Passai pelo meio do arraial e ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de comida, porque dentro de três dias passareis este Jordão, para que entreis a possuir a terra que vos dá o Senhor vosso Deus, para a possuirdes.

12 E falou Josué aos rubenitas, e aos gaditas, e à meia tribo de Manassés, dizendo:

13 Lembrai-vos da palavra que vos mandou Moisés, o servo do Senhor, dizendo: O Senhor vosso Deus vos dá descanso, e vos dá esta terra.

14 Vossas mulheres, vossos meninos e vosso gado fiquem na terra que Moisés vos deu deste lado do Jordão; porém vós passareis armados na frente de vossos irmãos, todos os valentes e valorosos, e ajudá-los-eis.

15 Até que o Senhor dê descanso a vossos irmãos, como a vós, e eles também possuam a terra que o Senhor vosso Deus lhes dá; então tornareis à terra da vossa herança, e possuireis a que vos deu Moisés, o servo do Senhor, deste lado do Jordão, para o nascente do sol.

16 Então responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer que nos enviares iremos.

17 Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti, tão-somente que o Senhor teu Deus seja contigo, como foi com Moisés.

18 Todo o homem, que for rebelde às tuas ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, morrerá. Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.

Josué 2

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Josué, filho de Num, enviou secretamente, de Sitim, dois homens a espiar, dizendo: Ide reconhecer a terra e a Jericó. Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raabe, e dormiram ali.

2 Então deu-se notícia ao rei de Jericó, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens dos filhos de Israel, para espiar a terra.

3 Por isso mandou o rei de Jericó dizer a Raabe: Tira fora os homens que vieram a ti e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra.

4 Porém aquela mulher tomou os dois homens, e os escondeu, e disse: É verdade que vieram homens a mim, porém eu não sabia de onde eram.

5 E aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram; não sei para onde aqueles homens se foram; ide após eles depressa, porque os alcançareis.

6 Porém ela os tinha feito subir ao eirado, e os tinha escondido entre as canas do linho, que pusera em ordem sobre o eirado.

7 E foram-se aqueles homens após eles pelo caminho do Jordão, até aos vaus; e, havendo eles saído, fechou-se a porta.

8 E, antes que eles dormissem, ela subiu a eles no eirado;

9 E disse aos homens: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desfalecidos diante de vós.

10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes.

11 O que ouvindo, desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos céus e em baixo na terra.

12 Agora, pois, jurai-me, vos peço, pelo Senhor, que, como usei de misericórdia convosco, vós também usareis de misericórdia para com a casa de meu pai, e dai-me um sinal seguro,

13 De que conservareis com a vida a meu pai e a minha mãe, como também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo o que têm e de que livrareis as nossas vidas da morte.

14 Então aqueles homens responderam-lhe: A nossa vida responderá pela vossa até à morte, se não denunciardes este nosso negócio, e será, pois, que, dando-nos o Senhor esta terra, usaremos contigo de misericórdia e de fidelidade.

15 Ela então os fez descer por uma corda pela janela, porquanto a sua casa estava sobre o muro da cidade, e ela morava sobre o muro.

16 E disse-lhes: Ide-vos ao monte, para que, porventura, não vos encontrem os perseguidores, e escondei-vos lá três dias, até que voltem os perseguidores, e depois ide pelo vosso caminho.

17 E, disseram-lhe aqueles homens: Desobrigados seremos deste juramento que nos fizeste jurar.

18 Eis que, quando nós entrarmos na terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e recolherás em casa contigo a teu pai, e a tua mãe, e a teus irmãos e a toda a família de teu pai.

19 Será, pois, que qualquer que sair fora da porta da tua casa o seu sangue será sobre a sua cabeça, e nós seremos inocentes; mas qualquer que estiver contigo, em casa, o seu sangue seja sobre a nossa cabeça, se alguém nele puser mão.

20 Porém, se tu denunciares este nosso negócio, seremos desobrigados do juramento que nos fizeste jurar.

21 E ela disse: Conforme as vossas palavras, assim seja. Então os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela.

22 Foram-se, pois, e chegaram ao monte, e ficaram ali três dias, até que voltaram os perseguidores, porque os perseguidores os buscaram por todo o caminho, porém não os acharam.

23 Assim aqueles dois homens voltaram, e desceram do monte, e passaram, e chegaram a Josué, filho de Num, e contaram-lhe tudo quanto lhes acontecera;

24 E disseram a Josué: Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão atemorizados diante de nós.

Josué 3

Ouça o áudio do capítulo:

1 Levantou-se, pois, Josué de madrugada, e partiram de Sitim, ele e todos os filhos de Israel; e vieram até ao Jordão, e pousaram ali, antes que passassem.

2 E sucedeu, ao fim de três dias, que os oficiais passaram pelo meio do arraial;

3 E ordenaram ao povo, dizendo: Quando virdes a arca da aliança do Senhor vosso Deus, e que os sacerdotes levitas a levam, partireis vós também do vosso lugar, e a seguireis.

4 Haja contudo, entre vós e ela, uma distância de dois mil côvados; e não vos chegueis a ela, para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir; porquanto por este caminho nunca passastes antes.

5 Disse Josué também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós.

6 E falou Josué aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca da aliança, e passai adiante deste povo. Levantaram, pois, a arca da aliança, e foram andando adiante do povo.

7 E o Senhor disse a Josué: Hoje começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que, assim como fui com Moisés, assim serei contigo.

8 Tu, pois, ordenarás aos sacerdotes que levam a arca da aliança, dizendo: Quando chegardes à beira das águas do Jordão, parareis aí.

9 Então disse Josué aos filhos de Israel: Chegai-vos para cá, e ouvi as palavras do Senhor vosso Deus.

10 Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós; e que certamente lançará de diante de vós aos cananeus, e aos heteus, e aos heveus, e aos perizeus, e aos girgaseus, e aos amorreus, e aos jebuseus.

11 Eis que a arca da aliança do Senhor de toda a terra passa o Jordão diante de vós.

12 Tomai, pois, agora doze homens das tribos de Israel, de cada tribo um homem;

13 Porque há de acontecer que, assim que as plantas dos pés dos sacerdotes, que levam a arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, repousem nas águas do Jordão, se separarão as águas do Jordão, e as águas, que vêm de cima, pararão amontoadas.

14 E aconteceu que, partindo o povo das suas tendas, para passar o Jordão, levavam os sacerdotes a arca da aliança adiante do povo.

15 E quando os que levavam a arca, chegaram ao Jordão, e os seus pés se molharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa),

16 Pararam-se as águas, que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adão, que está ao lado de Zaretã; e as que desciam ao mar das campinas, que é o Mar Salgado, foram de todo separadas; então passou o povo em frente de Jericó.

17 Porém os sacerdotes, que levavam a arca da aliança do Senhor, pararam firmes, em seco, no meio do Jordão, e todo o Israel passou a seco, até que todo o povo acabou de passar o Jordão.

Josué 4

Ouça o áudio do capítulo:

1 Sucedeu que, acabando todo o povo de passar o Jordão, falou o SENHOR a Josué, dizendo:

2 Tomai do povo doze homens, de cada tribo um homem;

3 E mandai-lhes, dizendo: Tirai daqui, do meio do Jordão, do lugar onde estavam firmes os pés dos sacerdotes, doze pedras; e levai-as convosco à outra margem e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite.

4 Chamou, pois, Josué os doze homens, que escolhera dos filhos de Israel; de cada tribo um homem;

5 E disse-lhes Josué: Passai adiante da arca do Senhor vosso Deus, ao meio do Jordão; e cada um levante uma pedra sobre o ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel;

6 Para que isto seja por sinal entre vós; e quando vossos filhos no futuro perguntarem, dizendo: Que significam estas pedras?

7 Então lhes direis que as águas do Jordão se separaram diante da arca da aliança do Senhor; passando ela pelo Jordão, separaram-se as águas do Jordão; assim estas pedras serão para sempre por memorial aos filhos de Israel.

8 Fizeram, pois, os filhos de Israel assim como Josué tinha ordenado, e levantaram doze pedras do meio do Jordão como o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; e levaram-nas consigo ao alojamento, e as depositaram ali.

9 Levantou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no lugar onde estiveram parados os pés dos sacerdotes, que levavam a arca da aliança; e ali estão até ao dia de hoje.

10 Pararam, pois, os sacerdotes, que levavam a arca, no meio do Jordão, em pé, até que se cumpriu tudo quanto o Senhor mandara Josué dizer ao povo, conforme a tudo quanto Moisés tinha ordenado a Josué; e apressou-se o povo, e passou.

11 E sucedeu que, assim que todo o povo acabou de passar, então passou a arca do Senhor, e os sacerdotes, à vista do povo.

12 E passaram os filhos de Rúben, e os filhos de Gade, e a meia tribo de Manassés, armados na frente dos filhos de Israel, como Moisés lhes tinha falado;

13 Uns quarenta mil homens de guerra, armados, passaram diante do Senhor para batalha, às campinas de Jericó.

14 Naquele dia o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida.

15 Falou, pois, o Senhor a Josué, dizendo:

16 Dá ordem aos sacerdotes, que levam a arca do testemunho, que subam do Jordão.

17 E deu Josué ordem aos sacerdotes, dizendo: Subi do Jordão.

18 E aconteceu que, como os sacerdotes, que levavam a arca da aliança do Senhor, subiram do meio do Jordão, e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar, e corriam, como antes, sobre todas as suas ribanceiras.

19 Subiu, pois, o povo, do Jordão no dia dez do mês primeiro; e alojaram-se em Gilgal, do lado oriental de Jericó.

20 E as doze pedras, que tinham tomado do Jordão, levantou-as Josué em Gilgal.

21 E falou aos filhos de Israel, dizendo: Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?

22 Fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão.

23 Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, como o Senhor vosso Deus fez ao Mar Vermelho que fez secar perante nós, até que passássemos.

24 Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias.

Patriarcas e Profetas

A Travessia do Jordão

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Josué 1-5:12.

Os israelitas prantearam sentidamente seu finado líder, e trinta dias foram dedicados a cerimônias especiais em honra à sua memória. Nunca, até que fosse retirado dentre eles, se compenetraram tanto do valor de seus conselhos sábios, de sua paternal ternura, e de sua fé inabalável. Com uma apreciação nova e mais profunda, recordaram-se das preciosas lições que dera enquanto ainda com eles se encontrava. PP 351.1

Moisés morrera, mas sua influência não desapareceu com ele. Deveria continuar a viver, reproduzindo-se nos corações de seu povo. A memória daquela vida santa, abnegada, durante muito tempo seria acariciada, modelando com um poder silencioso, persuasivo, a vida daqueles mesmos que haviam negligenciado suas palavras vivas. Assim como a luz do Sol poente ilumina os picos das montanhas muito tempo depois que o próprio Sol se haja imergido por trás das colinas, assim as obras dos puros, santos e bons derramam luz sobre o mundo muito tempo depois que os próprios atores se foram. Suas obras, suas palavras, seu exemplo, para sempre viverão: “O justo ficará em memória eterna”. Salmos 112:6. PP 351.2

Conquanto estivessem cheios de pesar pela sua grande perda, o povo sabia que não fora deixado só. A coluna de nuvem repousava sobre o tabernáculo de dia, e à noite a coluna de fogo, como segurança de que Deus seria seu guia e auxiliador se andassem no caminho de Seus mandamentos. PP 351.3

Josué era agora o reconhecido líder de Israel. Havia sido conhecido principalmente como guerreiro, e seus dotes e virtudes eram especialmente valiosos nesta etapa da história de seu povo. Corajoso, resoluto e perseverante, rápido, incorruptível, despreocupado de interesses egoístas em seus cuidados pelos que se achavam confiados à sua guarda, e, acima de tudo, inspirado por uma fé viva em Deus — tal era o caráter do homem divinamente escolhido para conduzir os exércitos de Israel em sua entrada na Terra Prometida. Durante a permanência no deserto agira como primeiro-ministro de Moisés, e pela sua fidelidade serena, despretensiosa, sua perseverança quando outros vacilavam, sua firmeza para manter a verdade em meio do perigo, dera prova de sua aptidão para suceder a Moisés, mesmo antes que fosse pela voz de Deus chamado. PP 351.4

Foi com grande ansiedade e desconfiança em si mesmo que Josué encarou a obra que se achava diante de si; seus temores, porém, foram removidos pela segurança dada por Deus: “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. [...] Tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.” “Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado, como Eu disse a Moisés.” Até às montanhas do Líbano à grande distância, até às praias do Mar Grande, e, ao longe, até às margens do Eufrates no Oriente — tudo deveria ser deles. PP 351.5

A essa promessa foi acrescentada a ordem: “Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que Meu servo Moisés te ordenou.” A determinação do Senhor foi: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite”; “não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda”; “porque então farás prosperar o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás”. Josué 1:5, 6, 3, 7, 8. PP 352.1

Os israelitas estavam ainda acampados no lado oriental do Jordão, que apresentava a primeira barreira à ocupação de Canaã. “Levanta-te pois agora”, fora a primeira mensagem de Deus a Josué, “passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que Eu dou aos filhos de Israel”. Josué 1:2. Nenhuma instrução foi dada quanto ao modo por que deveriam fazer a passagem. Josué sabia, entretanto, que o que quer que Deus mandasse, Ele daria os meios para que Seu povo o fizesse, e nesta fé o intrépido chefe de pronto iniciou os preparativos para avançarem. PP 352.2

Poucos quilômetros além do rio, precisamente defronte do lugar em que os israelitas estavam acampados, achava-se a cidade de Jericó, grande e solidamente fortificada. Esta cidade era virtualmente a chave de todo o território, e apresentaria formidável obstáculo ao êxito de Israel. Josué enviou portanto dois moços como espias a fim de visitarem essa cidade, e verificarem algo quanto à sua população, seus recursos, e a resistência de suas fortificações. Os habitantes da cidade, aterrorizados e cheios de suspeita, estavam constantemente alerta, e os mensageiros estiveram em grande perigo. Foram contudo preservados por Raabe, mulher de Jericó, com perigo de sua própria vida. Como recompensa à sua bondade, deram-lhe a promessa de proteção quando a cidade fosse tomada. PP 352.3

Os espias voltaram sãos e salvos com a notícia: “Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão desmaiados diante de nós.” Fora-lhes declarado em Jericó: “Temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Seom e a Ogue, que estavam de além do Jordão, os quais destruístes. Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus e embaixo na Terra”. Josué 2:10, 11. PP 352.4

Foram expedidas ordens a fim de se aprontarem para o avanço. O povo devia preparar um suprimento de alimentos para três dias, e o exército devia estar de prontidão para a batalha. Todos concordaram cordialmente aos planos de seu líder, e asseguraram-lhe sua confiança e apoio: “Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente que o Senhor teu Deus seja contigo, como foi com Moisés”. Josué 1:16, 17. PP 352.5

Partindo de seu acampamento nos bosques de acácia de Sitim, a hoste desceu à margem do Jordão. Todos sabiam, entretanto, que sem auxílio divino não poderiam esperar fazer a passagem. Nesta época do ano, na primavera, a neve que derretia das montanhas havia de tal maneira avolumado o Jordão que o rio transbordou, tornando-se impossível atravessá-lo nos vaus usuais. Deus queria que a passagem de Israel no Jordão fosse miraculosa. Josué, por indicação divina, ordenou ao povo que se santificasse; deveriam remover seus pecados, e livrar-se de toda a impureza exterior; pois “amanhã”, disse ele, “fará o Senhor maravilhas no meio de vós”. A “arca do concerto” deveria abrir o caminho diante das hostes. Quando vissem o sinal da presença de Jeová, levado pelos sacerdotes, mudar-se de seu lugar para o centro do acampamento, e avançar em direção ao rio, deveriam então partir de seu lugar e segui-la. As circunstâncias da passagem foram minuciosamente descritas; e disse Josué: “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós, e que de todo lançará de diante de vós aos cananeus. [...] Eis que a arca do concerto do Senhor de toda a Terra passa o Jordão diante de vós”. Josué 3:5, 6, 10, 11. PP 353.1

No momento adequado, iniciou-se o movimento para a frente, indo a arca na vanguarda, aos ombros dos sacerdotes. Determinara-se ao povo ficar mais atrás, de modo que houvesse um espaço vazio de cerca de um quilômetro em redor da arca. Todos, com profundo interesse, estavam atentos ao avançarem os sacerdotes para a margem do Jordão. Viram-nos com a arca sagrada a moverem-se com firmeza para a frente, em direção à corrente encapelada, até que se mergulharam na água os pés dos portadores. Subitamente a correnteza estancou-se do lado de cima, enquanto a torrente continuou a fluir do lado de baixo; e o leito do rio ficou descoberto. PP 353.2

Ao mando divino os sacerdotes avançaram para o meio do canal, e ali ficaram de pé, enquanto descia a hoste inteira, e atravessava para o lado oposto. Assim impressionou as mentes de todo o Israel o fato de que o poder que deteve as águas do Jordão foi o mesmo que abrira o Mar Vermelho a seus pais, quarenta anos antes. Quando todo o povo havia passado, a arca mesma foi levada para a margem ocidental. Mal alcançara esta um lugar seguro, “e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco” (Josué 4:18), as águas represadas, sendo soltas, arremeteram-se para baixo, como uma inundação irresistível, no canal natural da torrente. PP 353.3

As gerações vindouras não deveriam ficar sem testemunho deste grande prodígio. Enquanto os sacerdotes que levavam a arca ainda se achavam no meio do Jordão, doze homens previamente escolhidos, um de cada tribo, apanharam cada um uma pedra do leito do rio onde os sacerdotes estavam em pé, e as levaram para a margem ocidental. Estas pedras deviam ser erguidas como um monumento no primeiro lugar de acampamento além do rio. Ordenava-se ao povo contar a seus filhos e filhos de seus filhos a história do livramento que Deus operara em prol deles, conforme disse Josué: “Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias”. Josué 4:24. PP 353.4

A influência deste prodígio, tanto sobre os hebreus como sobre seus inimigos, foi de grande importância. Foi uma segurança para Israel da presença e proteção contínua de Deus — prova de que Ele agiria em prol deles por intermédio de Josué como operara por meio de Moisés. Tal certeza era necessária para fortalecer-lhes o coração, dando eles início à conquista da terra — estupenda tarefa que havia esmorecido a fé de seus pais quarenta anos antes. O Senhor declarara a Josué antes da travessia: “Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo”. Josué 3:7. E cumpriu-se a promessa. “Naquele dia o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida”. Josué 4:14. PP 354.1

Essa demonstração do poder divino em favor de Israel destinava-se também a aumentar o temor com que eram olhados pelas nações circunjacentes, e assim preparar o caminho para o seu triunfo mais fácil e completo. Quando a notícia de que Deus detivera as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, chegou aos reis dos amorreus e dos cananeus, seus corações tremeram de medo. Os hebreus já haviam matado os cinco reis de Midiã, o poderoso Seom, rei dos amorreus, e Ogue de Basã, e agora a passagem pelo Jordão, dilatado e impetuoso, encheu de terror todas as nações circunvizinhas. Para os cananeus, para todo o Israel, e para o próprio Josué, prova inequívoca fora dada de que o Deus vivo, o Rei do Céu e da Terra, estava entre Seu povo, e não os deixaria nem os desampararia. PP 354.2

À pequena distância do Jordão os hebreus fizeram seu primeiro acampamento em Canaã. Ali Josué “circuncidou aos filhos de Israel”; e os filhos de Israel acamparam-se em Gilgal, e “celebraram a Páscoa”. Josué 5:3, 10, 9. A suspensão do rito da circuncisão desde a rebelião de Cades fora um testemunho constante a Israel de que seu concerto com Deus, do qual era aquela o símbolo designado, estivera invalidado. E a interrupção da Páscoa, memorial de seu livramento do Egito, fora prova do desagrado do Senhor pelo seu desejo de voltarem à terra do cativeiro. Agora, porém, estavam terminados os anos da rejeição. Mais uma vez Deus reconhecia a Israel como Seu povo, e restabeleceu-se o sinal do concerto. O rito da circuncisão foi levado a efeito em todo o povo nascido no deserto. E o Senhor declarou a Josué: “Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito” (Josué 5:9), e em alusão a isto o lugar de seu acampamento foi chamado Gilgal, que é “círculo” ou “roda”. PP 354.3

Nações gentílicas tinham vituperado ao Senhor e Seu povo porque os hebreus não puderam tomar posse de Canaã, como era sua expectativa, logo depois de saírem do Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque Israel vagueara tanto tempo no deserto, e zombeteiramente haviam declarado que o Deus dos hebreus não era capaz de os levar à Terra Prometida. O Senhor manifestara agora de maneira assinalada o Seu poder e favor, abrindo o Jordão diante de Seu povo; e os inimigos deste não mais os podiam exprobrar. PP 355.1

“No dia catorze do mês, à tarde”, a Páscoa foi celebrada nas planícies de Jericó. “E comeram do trigo da terra do ano antecedente, ao outro dia depois da Páscoa, pães asmos e espigas tostadas, no mesmo dia. E cessou o maná no dia seguinte depois que comeram do trigo da terra do ano antecedente; e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram das novidades da terra de Canaã”. Josué 5:9-12. Os longos anos de suas vagueações pelo deserto haviam-se findado. Os pés de Israel estavam finalmente a pisar na Terra Prometida. PP 355.2

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