A Morte de Saul


Dia 75 - Friday, 15 de March de 2024
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26 min

1 Samuel 27

Ouça o áudio do capítulo:

1 Disse, porém, Davi no seu coração: Ora, algum dia ainda perecerei pela mão de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar apressadamente para a terra dos filisteus, para que Saul perca a esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; e assim escaparei da sua mão.

2 Então Davi se levantou, e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, a Aquis, filho de Maoque, rei de Gate.

3 E Davi ficou com Aquis em Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua casa; Davi com ambas as suas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, a mulher de Nabal, o carmelita.

4 E, sendo Saul avisado que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.

5 E disse Davi a Aquis: Se eu tenho achado graça em teus olhos, dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite; pois por que razão habitaria o teu servo contigo na cidade real?

6 Então lhe deu Aquis, naquele dia, a cidade de Ziclague (por isso Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje).

7 E foi o número dos dias, que Davi habitou na terra dos filisteus, um ano e quatro meses.

8 E subia Davi com os seus homens, e davam sobre os gesuritas, e os gersitas, e os amalequitas; porque antigamente foram estes os moradores da terra que se estende na direção de Sur, até à terra do Egito.

9 E Davi feria aquela terra, e não dava vida nem a homem nem a mulher, e tomava ovelhas, e vacas, e jumentos, e camelos, e vestes; e voltava, e vinha a Aquis.

10 E dizendo Aquis: Onde atacastes hoje? Davi dizia: Sobre o sul de Judá, e sobre o sul dos jerameelitas, e sobre o sul dos queneus.

11 E Davi não deixava com vida nem a homem nem a mulher, para trazê-los a Gate, dizendo: Para que porventura não nos denunciem, dizendo: Assim Davi o fazia. E este era o seu costume por todos os dias que habitou na terra dos filisteus.

12 E Aquis confiava em Davi, dizendo: Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel; por isso me será por servo para sempre.

1 Samuel 28

Ouça o áudio do capítulo:

1 E sucedeu naqueles dias que, juntando os filisteus os seus exércitos à peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Sabe de certo que comigo sairás ao arraial, tu e os teus homens.

2 Então disse Davi a Aquis: Assim saberás o que fará o teu servo. E disse Aquis a Davi: Por isso te terei por guarda da minha pessoa para sempre.

3 E Samuel já estava morto, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade; e Saul tinha desterrado os adivinhos e os encantadores.

4 E ajuntaram-se os filisteus, e vieram, e acamparam-se em Suném; e ajuntou Saul a todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.

5 E, vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração.

6 E perguntou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.

7 Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela, e consulte por ela. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem o espírito de adivinhar.

8 E Saul se disfarçou, e vestiu outras roupas, e foi ele com dois homens, e de noite chegaram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser.

9 Então a mulher lhe disse: Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?

10 Então Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso.

11 A mulher então lhe disse: A quem te farei subir? E disse ele: Faze-me subir a Samuel.

12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou com alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul.

13 E o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra.

14 E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou.

15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer.

16 Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor te tem desamparado, e se tem feito teu inimigo?

17 Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu próximo, a Davi.

18 Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o fervor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.

19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus.

20 E imediatamente Saul caiu estendido por terra, e grandemente temeu por causa daquelas palavras de Samuel; e não houve força nele; porque não tinha comido pão todo aquele dia e toda aquela noite.

21 Então veio a mulher a Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua criada deu ouvidos à tua voz, e pus a minha vida na minha mão, e ouvi as palavras que disseste.

22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e porei um bocado de pão diante de ti, e come, para que tenhas forças para te pores a caminho.

23 Porém ele o recusou, e disse: Não comerei. Porém os seus criados e a mulher o constrangeram; e deu ouvidos à sua voz; e levantou-se do chão, e se assentou sobre uma cama.

24 E tinha a mulher em casa um bezerro cevado, e se apressou, e o matou, e tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.

25 E os trouxe diante de Saul e de seus criados, e comeram; depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite.

1 Samuel 29

Ouça o áudio do capítulo:

1 E ajuntaram os filisteus todos os seus exércitos em Afeque; e acamparam-se os israelitas junto à fonte que está em Jizreel.

2 E os príncipes dos filisteus se foram para lá com centenas e com milhares; porém Davi e os seus homens iam com Aquis na retaguarda.

3 Disseram então os príncipes dos filisteus: Que fazem aqui estes hebreus? E disse Aquis aos príncipes dos filisteus: Não é este Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que esteve comigo há alguns dias ou anos? Coisa nenhuma achei nele desde o dia em que se revoltou, até ao dia de hoje.

4 Porém os príncipes dos filisteus muito se indignaram contra ele; e disseram-lhe os príncipes dos filisteus: Faze voltar este homem, para que torne ao lugar em que tu o puseste, e não desça conosco à batalha, para que não se torne nosso adversário na batalha; pois, com que poderia este agradar a seu Senhor? Porventura não seria com as cabeças destes homens?

5 Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros cantaram nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares?

6 Então Aquis chamou a Davi e disse-lhe: Vive o Senhor, que tu és reto, e que a tua entrada e a tua saída comigo no arraial é boa aos meus olhos; porque nenhum mal em ti achei, desde o dia em que a mim vieste, até ao dia de hoje; porém aos olhos dos príncipes não agradas.

7 Volta, pois, agora, e vai em paz; para que não faças mal aos olhos dos príncipes dos filisteus.

8 Então Davi disse a Aquis: Por quê? Que fiz? Ou que achaste no teu servo, desde o dia em que estive diante de ti, até ao dia de hoje, para que não vá e peleje contra os inimigos do rei, meu senhor?

9 Respondeu, porém, Aquis, e disse a Davi: Bem o sei; e que na verdade aos meus olhos és bom como um anjo de Deus; porém disseram os príncipes dos filisteus: Não suba este conosco à batalha.

10 Agora, pois, amanhã de madrugada levanta-te com os servos de teu senhor, que têm vindo contigo; e, levantando-vos pela manhã, de madrugada, e havendo luz, parti.

11 Então Davi de madrugada se levantou, ele e os seus homens, para partirem pela manhã, e voltarem à terra dos filisteus; e os filisteus subiram a Jizreel.

1 Samuel 30

Ouça o áudio do capítulo:

1 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens ao terceiro dia a Ziclague, já os amalequitas tinham invadido o sul, e Ziclague, e tinham ferido a Ziclague e a tinham queimado a fogo.

2 E tinham levado cativas as mulheres, e todos os que estavam nela, tanto pequenos como grandes; a ninguém, porém, mataram, tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho.

3 E Davi e os seus homens chegaram à cidade e eis que estava queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas tinham sido levados cativos.

4 Então Davi e o povo que se achava com ele alçaram a sua voz, e choraram, até que neles não houve mais forças para chorar.

5 Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas; Ainoã, a jizreelita, e Abigail, a mulher de Nabal, o carmelita.

6 E Davi muito se angustiou, porque o povo falava de apedrejá-lo, porque a alma de todo o povo estava em amargura, cada um por causa dos seus filhos e das suas filhas; todavia Davi se fortaleceu no Senhor seu Deus.

7 E disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me, peço-te, aqui o éfode. E Abiatar trouxe o éfode a Davi.

8 Então consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu a esta tropa? Alcançá-la-ei? E lhe disse: Persegue-a, porque decerto a alcançarás e tudo libertarás.

9 Partiu, pois, Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde pararam os que ficaram atrás.

10 E perseguiu-os Davi, ele e os quatrocentos homens, pois que duzentos homens ficaram, por não poderem, de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.

11 E acharam no campo um homem egípcio, e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água.

12 Deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e dois cachos de passas, e comeu, e voltou-lhe o seu espírito, porque havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água.

13 Então Davi lhe disse: De quem és tu, e de onde és? E disse o moço egípcio: Sou servo de um homem amalequita, e meu senhor me deixou, porque adoeci há três dias.

14 Nós invadimos o lado do sul dos queretitas, e o lado de Judá, e o lado do sul de Calebe, e pusemos fogo a Ziclague.

15 E disse-lhe Davi: Poderias, descendo, guiar-me a essa tropa? E disse-lhe: Por Deus jura-me que não me matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor, e, descendo, te guiarei a essa tropa.

16 E, descendo, o guiou e eis que estavam espalhados sobre a face de toda a terra, comendo, e bebendo, e dançando, por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de Judá.

17 E feriu-os Davi, desde o crepúsculo até à tarde do dia seguinte; nenhum deles escapou, senão só quatrocentos moços que, montados sobre camelos, fugiram.

18 Assim salvou Davi tudo quanto tomaram os amalequitas; também as suas duas mulheres salvou Davi.

19 E ninguém lhes faltou, desde o menor até ao maior, e até os filhos e as filhas; e também desde o despojo até tudo quanto lhes tinham tomado, tudo Davi tornou a trazer.

20 Também tomou Davi todas as ovelhas e vacas, e levavam-nas adiante do outro gado, e diziam: Este é o despojo de Davi.

21 E, chegando Davi aos duzentos homens que, de cansados que estavam, não puderam seguir a Davi, e que deixaram ficar no ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; e, chegando-se Davi com o povo, os saudou em paz.

22 Então todos os maus e perversos, dentre os homens que tinham ido com Davi, responderam, e disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo que libertamos; mas que leve cada um sua mulher e seus filhos, e se vá.

23 Porém Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o que nos deu o Senhor, que nos guardou, e entregou a tropa que contra nós vinha, nas nossas mãos.

24 E quem vos daria ouvidos nisso? Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal também será a parte dos que ficaram com a bagagem; igualmente repartirão.

25 O que assim foi desde aquele dia em diante, porquanto o pôs por estatuto e direito em Israel até ao dia de hoje.

26 E, chegando Davi a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós uma bênção do despojo dos inimigos do Senhor;

27 Aos de Betel, e aos de Ramote do sul, e aos de Jater,

28 E aos de Aroer, e aos de Sifmote, e aos de Estemoa,

29 E aos de Racal, e aos que estavam nas cidades jerameelitas e nas cidades dos queneus,

30 E aos de Hormá, e aos de Corasã, e aos de Ataca,

31 E aos de Hebrom, e a todos os lugares em que andara Davi, ele e os seus homens.

1 Samuel 31

Ouça o áudio do capítulo:

1 Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram mortos na montanha de Gilboa.

2 E os filisteus perseguiram a Saul e a seus filhos; e mataram a Jônatas, e a Abinadabe, e a Malquisua, filhos de Saul.

3 E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram; e muito temeu por causa dos flecheiros.

4 Então disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que porventura não venham estes incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Porém o seu pajem de armas não quis, porque temia muito; então Saul tomou a espada, e se lançou sobre ela.

5 Vendo, pois, o seu pajem de armas que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada, e morreu com ele.

6 Assim faleceu Saul, e seus três filhos, e o seu pajem de armas, e também todos os seus homens morreram juntamente naquele dia.

7 E, vendo os homens de Israel, que estavam deste lado do vale e deste lado do Jordão, que os homens de Israel fugiram, e que Saul e seus filhos estavam mortos, abandonaram as cidades, e fugiram; e vieram os filisteus, e habitaram nelas.

8 Sucedeu, pois, que, vindo os filisteus no outro dia para despojar os mortos, acharam a Saul e a seus três filhos estirados na montanha de Gilboa.

9 E cortaram-lhe a cabeça, e o despojaram das suas armas, e enviaram pela terra dos filisteus, em redor, a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre o povo.

10 E puseram as suas armas no templo de Astarote, e o seu corpo o afixaram no muro de Bete-Sã.

11 Ouvindo então os moradores de Jabes-Gileade, o que os filisteus fizeram a Saul,

12 Todo o homem valoroso se levantou, e caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro, de Bete-Sã, e, vindo a Jabes, os queimaram.

13 E tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias.

Patriarcas e Profetas

A Morte de Saul

Ouça o áudio do capítulo:

De novo foi declarada guerra entre Israel e os filisteus. “Ajuntaram-se os filisteus, e vieram e acamparam-se em Suném”, na extremidade norte da planície de Jezreel, enquanto Saul e suas forças se acamparam a poucos quilômetros, ao pé do Monte Gilboa, na extremidade sul da planície. Foi nesta planície que Gideão, com trezentos homens, pusera em fuga o exército de Midiã. Mas o espírito que animava o libertador de Israel era inteiramente diverso do que agora agitava o coração do rei. Gideão saíra forte em sua fé no poderoso Deus de Jacó; mas Saul sentia-se só e sem defesa, porque Deus o abandonara. Olhando para o exército filisteu, “temeu, e estremeceu muito o seu coração”. 1 Samuel 28:4, 5. PP 498.1

Saul soubera que Davi e sua força estavam com os filisteus, e esperava que o filho de Jessé aproveitasse esta oportunidade para vingar-se dos males que tinha sofrido. O rei estava em grande angústia. Fora a sua própria paixão incoerente, incitando-o a destruir o escolhido de Deus, que envolvera a nação em tão grande perigo. Ao mesmo tempo em que se ocupara na perseguição a Davi, negligenciara a defesa do seu reino. Os filisteus, tirando vantagem da condição desprotegida do reino, penetraram bem no centro do país. Assim, enquanto Satanás estivera a insistir com Saul para que empregasse toda a energia na caça a Davi, a fim de que o pudesse destruir, o mesmo espírito maligno inspirara os filisteus para que aproveitassem a oportunidade para levarem a efeito a ruína de Saul, e subverterem o povo de Deus. Quantas vezes é ainda o mesmo ardil empregado pelo adversário máximo! Ele instiga algum coração não consagrado para que acenda a inveja e a contenda na igreja, e então, tirando vantagem da condição dividida do povo de Deus, incita seus agentes a efetuar a sua ruína. PP 498.2

No dia seguinte, Saul deveria empenhar-se em batalha com os filisteus. As sombras de iminente condenação juntavam-se negras em redor dele; almejava auxílio e guia. Mas em vão procurou conselho da parte de Deus. “O Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.” O Senhor nunca Se desviou de uma alma que foi a Ele em sinceridade e humildade. Por que deixou Saul voltar sem resposta? O rei, por seu próprio ato, privara-se do benefício de todos métodos de inquirir a Deus. Rejeitara o conselho do profeta Samuel; exilara a Davi, o escolhido de Deus; matara os sacerdotes do Senhor. Poderia ele esperar ser atendido por Deus, quando interrompera os condutos de comunicação que o Céu determinara? Afastara pelo seu pecado o Espírito da graça, e poderia ser atendido por sonhos e revelações do Senhor? Saul não se voltou a Deus com humildade e arrependimento. Não era o perdão do pecado e a reconciliação com Deus, o que ele buscava, mas o livramento de seus adversários. Pela sua obstinação e rebelião, separara-se de Deus. Não poderia voltar a não ser por meio do arrependimento e contrição; mas o orgulhoso rei, em sua angústia e desespero, resolveu buscar auxílio de outra fonte. PP 498.3

Então disse Saul aos seus servos: “Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela e a consulte”. 1 Samuel 28:6, 7. Saul tinha completo conhecimento do caráter da necromancia. Tinha sido expressamente proibida pelo Senhor, e fora pronunciada sentença de morte contra todos os que praticassem suas artes profanas. Durante a vida de Samuel, Saul ordenara que todos os encantadores e os que tinham espírito de feitiçaria fossem mortos; mas agora, na precipitação do desespero, recorre àquele oráculo que ele condenara como uma abominação. PP 499.1

Foi dito ao rei que uma mulher que possuía espírito de feitiçaria estava morando em um esconderijo, em En-Dor. Esta mulher entrara em concerto com Satanás, para entregar-se ao seu domínio, e cumprir seus propósitos; e, em troca, o príncipe do mal operava prodígios a ela, e revelava-lhe coisas secretas. PP 499.2

Disfarçando-se, Saul saiu de noite apenas com dois auxiliares, a fim de buscar o retiro da feiticeira. Oh! que deplorável cena! o rei de Israel levado cativo por Satanás, à sua vontade. Que vereda tão tenebrosa, para palmilharem pés humanos, aquela que fora escolhida por quem persistira em ter seu próprio caminho, resistindo às santas influências do Espírito de Deus! Que cativeiro há tão terrível como o daquele que se acha entregue ao domínio do pior dos tiranos? A confiança em Deus e a obediência à Sua vontade eram as únicas condições sob as quais Saul poderia ser rei de Israel. Se ele tivesse satisfeito estas condições durante todo o seu reinado, seu reino teria estado livre de perigo; Deus teria sido o seu guia, e seu escudo o Onipotente. Deus tivera muita paciência com Saul; e, embora sua rebelião e obstinação tivessem quase silenciado a voz divina na alma, havia ainda oportunidade para o arrependimento. Mas, quando em seu perigo se desviou de Deus para obter luz de um aliado de Satanás, rompera o último laço que o ligava ao seu Criador; colocara-se completamente sob o domínio daquele poder diabólico que durante anos tinha sido exercido sobre ele, e que o levara às bordas da destruição. PP 499.3

Sob o manto das trevas, Saul e seus auxiliares se encaminharam através da planície, e, passando com segurança pelas hostes filistéias, atravessaram o cume das montanhas, em direção à morada solitária da pitonisa de En-Dor. Ali a mulher com espírito de feitiçaria escondera-se para que pudesse secretamente continuar com seus profanos encantamentos. Embora disfarçado como estava, a alta estatura e porte real de Saul declararam que ele não era um soldado comum. A mulher suspeitou que seu visitante era Saul, e seus ricos presentes fortaleceram-lhe as suspeitas. Ao seu pedido: “Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser”, respondeu a mulher: “Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois me armas um laço à minha vida, para me fazer matar?” Então “Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso”. E, quando ela disse: “A quem te farei subir?” ele respondeu: “a Samuel”. PP 499.4

Depois de praticar seus encantamentos, ela disse: “Vejo deuses que sobem da terra. [...] Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou”. 1 Samuel 28:8-14. PP 500.1

Não foi o santo profeta de Deus que veio com o poder dos encantamentos de uma pitonisa. Samuel não estava presente naquele antro de espíritos maus. A aparência sobrenatural apenas foi produzida pelo poder de Satanás. Ele poderia tão facilmente tomar a forma de Samuel como pôde tomar a de um anjo de luz quando tentou a Cristo no deserto. PP 500.2

As primeiras palavras da mulher sob o poder de seu encantamento foram dirigidas ao rei: “Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul”. 1 Samuel 28:12. Assim, o primeiro ato do espírito mau que personificou o profeta, foi comunicar-se secretamente com aquela ímpia mulher, para avisá-la do engano que fora praticado para com ela. A mensagem a Saul do pretenso profeta foi: “Por que me desinquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus Se tem desviado de mim e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso, te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer”. 1 Samuel 28:15. PP 500.3

Quando Samuel vivia, Saul desprezara seu conselho, e ressentira-se de suas reprovações. Agora, porém, na hora de sua angústia e calamidade, sentia que a guia do profeta era sua única esperança; e, a fim de comunicar-se com o embaixador do Céu, recorreu em vão ao mensageiro do inferno! Saul se colocara inteiramente no poder de Satanás; e agora aquele cujo único deleite consiste em ocasionar miséria e destruição, prevaleceu-se da oportunidade para efetuar a ruína do infeliz rei. Em resposta ao agoniado rogo de Saul veio a terrível mensagem, que, pretendia-se, provinha dos lábios de Samuel: PP 500.4

“Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o Senhor te tem desamparado e se tem feito teu inimigo? Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor e não executaste o fervor da Sua ira contra Amaleque, por isso, o Senhor te fez hoje isso. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus”. 1 Samuel 28:16-19. PP 500.5

Em toda a sua conduta de rebelião, Saul fora lisonjeado e iludido por Satanás. É a obra do tentador fazer do pecado coisa insignificante, tornar o caminho da transgressão fácil e convidativo, cegar a mente às advertências e ameaças do Senhor. Satanás, pelo seu poder sedutor, levara Saul a justificar-se em desafio às reprovações e advertências de Samuel. Mas agora, em sua situação extrema, voltou-se a ele, apresentando a enormidade de seu pecado e a desesperança de perdão, para que o oprimisse até o ponto de chegar ao desespero. Nada poderia ter sido melhor escolhido para lhe destruir o ânimo e confundir o juízo, ou para o impelir ao desespero e destruição de si mesmo. PP 501.1

Saul estava debilitado pelo cansaço e jejum; estava aterrorizado e com a consciência ferida. Caindo a terrível predição aos seus ouvidos, o corpo cambaleou como um carvalho diante da tempestade, e caiu prostrado por terra. PP 501.2

A bruxa encheu-se de espanto. O rei de Israel jazia perante ela como morto. Caso ele perecesse em seu retiro, quais seriam as conseqüências para ela? Suplicou-lhe que se levantasse e tomasse alimento, insistindo que, visto haver corrido perigo de vida para lhe satisfazer o desejo, deveria ele ceder ao seu pedido, para a preservação de sua própria vida. Rogando-lhe o mesmo os seus servos, Saul cedeu finalmente e a mulher pôs diante dele a bezerra cevada, e bolos asmos preparados à pressa. Que cena! Na rústica caverna da feiticeira, em que poucos momentos antes haviam ecoado palavras de condenação, na presença do mensageiro de Satanás, aquele que fora ungido por ordem de Deus como rei sobre Israel sentava-se para comer, preparando-se para a luta mortífera do dia. PP 501.3

Antes do romper do dia voltou com seus auxiliares ao acampamento de Israel, para dispor-se ao conflito. Consultando aquele espírito das trevas, Saul destruíra a si mesmo. Opresso pelo terror do desespero, ser-lhe-ia impossível inspirar coragem ao seu exército. Separado da Fonte de força, não poderia guiar as mentes de Israel a olharem a Deus como seu auxiliador. Assim a predição de males operaria o seu próprio cumprimento. PP 501.4

Na planície de Suném e nas encostas do Monte Gilboa, os exércitos de Israel e as hostes dos filisteus empenharam-se em combate mortal. Embora a cena terrível na caverna de En-Dor lhe tivesse repelido do coração toda a esperança, Saul combateu com arrojada bravura em favor de seu trono e de seu reino. Mas foi em vão. “Os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram atravessados na montanha de Gilboa.” Três bravos filhos do rei morreram ao seu lado. Os flecheiros apertaram Saul. Tinha visto seus soldados caírem em redor de si, e seus filhos príncipes cortados pela espada. Ele próprio, estando ferido, não podia nem combater nem fugir. Escapar era impossível; e, resolvido a não ser tomado vivo pelos filisteus, ordenou a seu pajem de armas: “Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela”. 1 Samuel 31:1, 4. Recusando-se o homem a erguer a mão contra o ungido do Senhor, Saul tirou sua própria vida, lançando-se sobre a espada. PP 501.5

Assim pereceu o primeiro rei de Israel, com o crime de suicídio em sua alma. A vida fora-lhe um fracasso, e sucumbira com desonra e em desespero, porque pusera sua vontade própria e perversa contra a vontade de Deus. PP 502.1

A notícia da derrota espalhou-se larga e extensamente, levando o terror a todo o Israel. O povo fugia das cidades, e os filisteus tomavam posse destas, sem serem incomodados nisso. O reino de Saul, independente de Deus, se tinha quase mostrado a ruína de seu povo. PP 502.2

No dia seguinte ao da luta, os filisteus, examinando o campo da batalha para roubar aos mortos, descobriram os corpos de Saul e de seus três filhos. Para completarem seu triunfo, deceparam a cabeça de Saul e o despojaram de suas armas; então a cabeça e a armadura, exalando o cheiro de sangue, foram enviadas ao país dos filisteus como troféu de vitória, “a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre o povo”. A armadura finalmente foi posta no “templo de Astarote”, enquanto a cabeça foi fixa no templo de Dagom. Assim a glória da vitória foi atribuída ao poder desses falsos deuses, e o nome de Jeová foi desonrado. PP 502.3

Os cadáveres de Saul e seus filhos foram arrastados a Bete-Seã, cidade não distante de Gilboa, e próxima do rio Jordão. Ali foram suspensos com correntes, para serem devorados pelas aves de rapina. Mas os bravos homens de Jabes-Gileade, lembrando-se do livramento de sua cidade por Saul, em seus primeiros e felizes anos, manifestaram agora sua gratidão, retirando os corpos do rei e dos príncipes, e dando-lhes honrosa sepultura. Atravessando o Jordão à noite, “tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Se e, vindo a Jabes os queimaram e tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias”. 1 Samuel 31:9-13. Assim a nobre ação, praticada quarenta anos antes, assegurou a Saul e seus filhos o sepultamento por mãos ternas e piedosas, na hora tenebrosa da derrota e desonra. PP 502.4

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