A Volta Para Canaã


Dia 20 - Saturday, 20 de January de 2024
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34 min

Gênesis 35

Ouça o áudio do capítulo:

1 Depois disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel, e habita ali; e faze ali um altar ao Deus que te apareceu, quando fugiste da face de Esaú teu irmão.

2 Então disse Jacó à sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes.

3 E levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado.

4 Então deram a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.

5 E partiram; e o terror de Deus foi sobre as cidades que estavam ao redor deles, e não seguiram após os filhos de Jacó.

6 Assim chegou Jacó a Luz, que está na terra de Canaã (esta é Betel), ele e todo o povo que com ele havia.

7 E edificou ali um altar, e chamou aquele lugar El-Betel; porquanto Deus ali se lhe tinha manifestado, quando fugia da face de seu irmão.

8 E morreu Débora, a ama de Rebeca, e foi sepultada ao pé de Betel, debaixo do carvalho cujo nome chamou Alom-Bacute.

9 E apareceu Deus outra vez a Jacó, vindo de Padã-Arã, e abençoou-o.

10 E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel.

11 Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos;

12 E te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra.

13 E Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele.

14 E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação, e deitou sobre ela azeite.

15 E chamou Jacó aquele lugar, onde Deus falara com ele, Betel.

16 E partiram de Betel; e havia ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, e deu à luz Raquel, e ela teve trabalho em seu parto.

17 E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas, porque também este filho terás.

18 E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim.

19 Assim morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata; que é Belém.

20 E Jacó pôs uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje.

21 Então partiu Israel, e estendeu a sua tenda além de Migdal Eder.

22 E aconteceu que, habitando Israel naquela terra, foi Rúben e deitou-se com Bila, concubina de seu pai; e Israel o soube. E eram doze os filhos de Jacó.

23 Os filhos de Lia: Rúben, o primogênito de Jacó, depois Simeão e Levi, e Judá, e Issacar e Zebulom;

24 Os filhos de Raquel: José e Benjamim;

25 E os filhos de Bila, serva de Raquel: Dã e Naftali;

26 E os filhos de Zilpa, serva de Lia: Gade e Aser. Estes são os filhos de Jacó, que lhe nasceram em Padã-Arã.

27 E Jacó veio a seu pai Isaque, a Manre, a Quiriate-Arba (que é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque.

28 E foram os dias de Isaque cento e oitenta anos.

29 E Isaque expirou, e morreu, e foi recolhido ao seu povo, velho e farto de dias; e Esaú e Jacó, seus filhos, o sepultaram.

Gênesis 36

Ouça o áudio do capítulo:

1 E estas são as gerações de Esaú (que é Edom).

2 Esaú tomou suas mulheres das filhas de Canaã; a Ada, filha de Elom, heteu, e a Aolibama, filha de Aná, filho de Zibeão, heveu.

3 E a Basemate, filha de Ismael, irmã de Nebaiote.

4 E Ada teve de Esaú a Elifaz; e Basemate teve a Reuel;

5 E Aolibama deu à luz a Jeús, Jalão e Coré; estes são os filhos de Esaú, que lhe nasceram na terra de Canaã.

6 E Esaú tomou suas mulheres, e seus filhos, e suas filhas, e todas as almas de sua casa, e seu gado, e todos os seus animais, e todos os seus bens, que havia adquirido na terra de Canaã; e foi para outra terra apartando-se de Jacó, seu irmão;

7 Porque os bens deles eram muitos para habitarem juntos; e a terra de suas peregrinações não os podia sustentar por causa do seu gado.

8 Portanto Esaú habitou na montanha de Seir; Esaú é Edom.

9 Estas, pois, são as gerações de Esaú, pai dos edomeus, na montanha de Seir.

10 Estes são os nomes dos filhos de Esaú: Elifaz, filho de Ada, mulher de Esaú; Reuel, filho de Basemate, mulher de Esaú.

11 E os filhos de Elifaz foram: Temã, Omar, Zefô, Gaetã e Quenaz.

12 E Timna era concubina de Elifaz, filho de Esaú, e teve de Elifaz a Amaleque. Estes são os filhos de Ada, mulher de Esaú.

13 E estes foram os filhos de Reuel: Naate, Zerá, Samá e Mizá; estes foram os filhos de Basemate, mulher de Esaú.

14 E estes foram os filhos de Aolibama, mulher de Esaú, filha de Aná, filho de Zibeão; ela teve de Esaú: Jeús, Jalão e Coré.

15 Estes são os príncipes dos filhos de Esaú: os filhos de Elifaz, o primogênito de Esaú, o príncipe Temã, o príncipe Omar, o príncipe Zefô, o príncipe Quenaz.

16 O príncipe Coré, o príncipe Gaetã, o príncipe Amaleque; estes são os príncipes de Elifaz na terra de Edom; estes são os filhos de Ada.

17 E estes são os filhos de Reuel, filhos de Esaú: o príncipe Naate, o príncipe Zerá, o príncipe Samá, o príncipe Mizá; estes são os príncipes de Reuel, na terra de Edom; estes são os filhos de Basemate, mulher de Esaú.

18 E estes são os filhos de Aolibama, mulher de Esaú: o príncipe Jeús, o príncipe Jalão, o príncipe Coré; estes são os príncipes de Aolibama, filha de Aná, mulher de Esaú.

19 Estes são os filhos de Esaú, e estes são seus príncipes: Ele é Edom.

20 Estes são os filhos de Seir, horeu, moradores daquela terra: Lotã, Sobal, Zibeão e Aná,

21 Disom, Eser e Disã; estes são os príncipes dos horeus, filhos de Seir, na terra de Edom.

22 E os filhos de Lotã foram Hori e Homã; e a irmã de Lotã era Timna.

23 Estes são os filhos de Sobal: Alvã, Manaate, Ebal, Sefô e Onã.

24 E estes são os filhos de Zibeão: Aiá e Aná; este é o Aná que achou as fontes termais no deserto, quando apascentava os jumentos de Zibeão, seu pai.

25 E estes são os filhos de Aná: Disom e Aolibama, a filha de Aná.

26 E estes são os filhos de Disã: Hendã, Esbã, Itrã e Querã.

27 Estes são os filhos de Eser: Bilã, Zaavã e Acã.

28 Estes são os filhos de Disã: Uz e Arã.

29 Estes são os príncipes dos horeus: o príncipe Lotã, o príncipe Sobal, o príncipe Zibeão, o príncipe Aná.

30 O príncipe Disom, o príncipe Eser, o príncipe Disã: estes são os príncipes dos horeus segundo os seus principados na terra de Seir.

31 E estes são os reis que reinaram na terra de Edom, antes que reinasse rei algum sobre os filhos de Israel.

32 Reinou, pois, em Edom Bela, filho de Beor, e o nome da sua cidade foi Dinabá.

33 E morreu Bela; e Jobabe, filho de Zerá, de Bozra, reinou em seu lugar.

34 E morreu Jobabe; e Husão, da terra dos temanitas, reinou em seu lugar.

35 E morreu Husão, e em seu lugar reinou Hadade, filho de Bedade, o que feriu a Midiã, no campo de Moabe; e o nome da sua cidade foi Avite.

36 E morreu Hadade; e Samlá de Masreca reinou em seu lugar.

37 E morreu Samlá; e Saul de Reobote, junto ao rio, reinou em seu lugar.

38 E morreu Saul; e Baal-Hanã, filho de Acbor, reinou em seu lugar.

39 E morreu Baal-Hanã, filho de Acbor; e Hadar reinou em seu lugar, e o nome de sua cidade foi Pau; e o nome de sua mulher foi Meetabel, filha de Matrede, filha de Me-Zaabe.

40 E estes são os nomes dos príncipes de Esaú, segundo as suas gerações, segundo os seus lugares, com os seus nomes: o príncipe Timna, o príncipe Alva, o príncipe Jetete,

41 O príncipe Aolibama, o príncipe Ela, o príncipe Pinom,

42 O príncipe Quenaz, o príncipe Temã, o príncipe Mibzar,

43 O príncipe Magdiel, o príncipe Irã: estes são os príncipes de Edom, segundo as suas habitações, na terra da sua possessão. Este é Esaú, pai de Edom.

Gênesis 37

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Jacó habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã.

2 Estas são as gerações de Jacó. Sendo José de dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus irmãos; sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila, e com os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e José trazia más notícias deles a seu pai.

3 E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores.

4 Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente.

5 Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.

6 E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado:

7 Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho.

8 Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras.

9 E teve José outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que tive ainda outro sonho; e eis que o sol, e a lua, e onze estrelas se inclinavam a mim.

10 E contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o seu pai, e disse-lhe: Que sonho é este que tiveste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?

11 Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai porém guardava este negócio no seu coração.

12 E seus irmãos foram apascentar o rebanho de seu pai, junto de Siquém.

13 Disse, pois, Israel a José: Não apascentam os teus irmãos junto de Siquém? Vem, e enviar-te-ei a eles. E ele respondeu: Eis-me aqui.

14 E ele lhe disse: Ora vai, vê como estão teus irmãos, e como está o rebanho, e traze-me resposta. Assim o enviou do vale de Hebrom, e foi a Siquém.

15 E achou-o um homem, porque eis que andava errante pelo campo, e perguntou-lhe o homem, dizendo: Que procuras?

16 E ele disse: Procuro meus irmãos; dize-me, peço-te, onde eles apascentam.

17 E disse aquele homem: Foram-se daqui; porque ouvi-os dizer: Vamos a Dotã. José, pois, seguiu atrás de seus irmãos, e achou-os em Dotã.

18 E viram-no de longe e, antes que chegasse a eles, conspiraram contra ele para o matarem.

19 E disseram um ao outro: Eis lá vem o sonhador-mor!

20 Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos.

21 E ouvindo-o Rúben, livrou-o das suas mãos, e disse: Não lhe tiremos a vida.

22 Também lhes disse Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova, que está no deserto, e não lanceis mãos nele; isto disse para livrá-lo das mãos deles e para torná-lo a seu pai.

23 E aconteceu que, chegando José a seus irmãos, tiraram de José a sua túnica, a túnica de várias cores, que trazia.

24 E tomaram-no, e lançaram-no na cova; porém a cova estava vazia, não havia água nela.

25 Depois assentaram-se a comer pão; e levantaram os seus olhos, e olharam, e eis que uma companhia de ismaelitas vinha de Gileade; e seus camelos traziam especiarias e bálsamo e mirra, e iam levá-los ao Egito.

26 Então Judá disse aos seus irmãos: Que proveito haverá que matemos a nosso irmão e escondamos o seu sangue?

27 Vinde e vendamo-lo a estes ismaelitas, e não seja nossa mão sobre ele; porque ele é nosso irmão, nossa carne. E seus irmãos obedeceram.

28 Passando, pois, os mercadores midianitas, tiraram e alçaram a José da cova, e venderam José por vinte moedas de prata, aos ismaelitas, os quais levaram José ao Egito.

29 Voltando, pois, Rúben à cova, eis que José não estava na cova; então rasgou as suas vestes.

30 E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu aonde irei?

31 Então tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue.

32 E enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai, e disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora se esta será ou não a túnica de teu filho.

33 E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu filho; uma fera o comeu; certamente José foi despedaçado.

34 Então Jacó rasgou as suas vestes, pôs saco sobre os seus lombos e lamentou a seu filho muitos dias.

35 E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; recusou porém ser consolado, e disse: Porquanto com choro hei de descer ao meu filho até à sepultura. Assim o chorou seu pai.

36 E os midianitas venderam-no no Egito a Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda.

Gênesis 38

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu no mesmo tempo que Judá desceu de entre seus irmãos e entrou na casa de um homem de Adulão, cujo nome era Hira,

2 E viu Judá ali a filha de um homem cananeu, cujo nome era Sua; e tomou-a por mulher, e a possuiu.

3 E ela concebeu e deu à luz um filho, e chamou-lhe Er.

4 E tornou a conceber e deu à luz um filho, e chamou-lhe Onã.

5 E continuou ainda e deu à luz um filho, e chamou-lhe Selá; e Judá estava em Quezibe, quando ela o deu à luz.

6 Judá, pois, tomou uma mulher para Er, o seu primogênito, e o seu nome era Tamar.

7 Er, porém, o primogênito de Judá, era mau aos olhos do Senhor, por isso o Senhor o matou.

8 Então disse Judá a Onã: Toma a mulher do teu irmão, e casa-te com ela, e suscita descendência a teu irmão.

9 Onã, porém, soube que esta descendência não havia de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu irmão.

10 E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou.

11 Então disse Judá a Tamar sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai, até que Selá, meu filho, seja grande. Porquanto disse: Para que porventura não morra também este, como seus irmãos. Assim se foi Tamar e ficou na casa de seu pai.

12 Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua, mulher de Judá; e depois de consolado Judá subiu aos tosquiadores das suas ovelhas em Timna, ele e Hira, seu amigo, o adulamita.

13 E deram aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, a tosquiar as suas ovelhas.

14 Então ela tirou de sobre si os vestidos da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e envolveu-se, e assentou-se à entrada das duas fontes que estão no caminho de Timna, porque via que Selá já era grande, e ela não lhe fora dada por mulher.

15 E vendo-a Judá, teve-a por uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto.

16 E dirigiu-se a ela no caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te. Porquanto não sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que possuas a mim?

17 E ele disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. E ela disse: Dar-me-ás penhor até que o envies?

18 Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e o teu cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e possuiu-a, e ela concebeu dele.

19 E ela se levantou, e se foi e tirou de sobre si o seu véu, e vestiu os vestidos da sua viuvez.

20 E Judá enviou o cabrito por mão do seu amigo, o adulamita, para tomar o penhor da mão da mulher; porém não a achou.

21 E perguntou aos homens daquele lugar dizendo: Onde está a prostituta que estava no caminho junto às duas fontes? E disseram: Aqui não esteve prostituta alguma.

22 E tornou-se a Judá e disse: Não a achei; e também disseram os homens daquele lugar: Aqui não esteve prostituta.

23 Então disse Judá: Deixa-a ficar com o penhor, para que porventura não caiamos em desprezo; eis que tenho enviado este cabrito; mas tu não a achaste.

24 E aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Judá, dizendo: Tamar, tua nora, adulterou, e eis que está grávida do adultério. Então disse Judá: Tirai-a fora para que seja queimada.

25 E tirando-a fora, ela mandou dizer a seu sogro: Do homem de quem são estas coisas eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem é este selo, e este cordão, e este cajado.

26 E conheceu-os Judá e disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a tenho dado a Selá meu filho. E nunca mais a conheceu.

27 E aconteceu ao tempo de dar à luz que havia gêmeos em seu ventre;

28 E sucedeu que, dando ela à luz, que um pôs fora a mão, e a parteira tomou-a, e atou em sua mão um fio encarnado, dizendo: Este saiu primeiro.

29 Mas aconteceu que, tornando ele a recolher a sua mão, eis que saiu o seu irmão, e ela disse: Como tu tens rompido, sobre ti é a rotura. E chamaram-lhe Perez.

30 E depois saiu o seu irmão, em cuja mão estava o fio encarnado; e chamaram-lhe Zerá.

Patriarcas e Profetas

A Volta Para Canaã

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Gênesis 34; 35, 37.

Atravessando o Jordão, “chegou Jacó salvo à cidade de Siquém, que está na terra de Canaã”. Gênesis 33:18. Assim, a oração do patriarca em Betel, para que Deus o trouxesse novamente em paz à sua terra, fora deferida. Durante algum tempo ele habitou no vale de Siquém. Foi aqui que Abraão, mais de cem anos antes, fizera seu primeiro acampamento, e construíra seu primeiro altar, na terra da promessa. Ali Jacó “comprou uma parte do campo em que estendera a sua tenda, da mão dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro. E levantou ali um altar, e chamou-o Deus, o Deus de Israel”. Gênesis 33:19, 20. Como Abraão, Jacó erguera ao lado de sua tenda um altar ao Senhor, convocando os membros de sua casa para o sacrifício da manhã e da tarde. Foi ali também que ele cavou o poço, ao qual, dezessete séculos mais tarde, veio o Filho de Jacó, o Salvador, e ao lado do qual, descansando durante o calor do dia, falou aos Seus ouvintes maravilhados daquela “fonte d’água que salte para a vida eterna”. João 4:14. PP 140.1

A permanência de Jacó e seus filhos em Siquém terminou em violência e mortandade. A única filha da casa fora levada ao opróbrio e tristeza; dois irmãos ficaram envolvidos no crime de assassínio; uma cidade inteira fora entregue à ruína e morticínio, em represália da ação ilegal de um jovem temerário. O princípio que determinara resultados tão terríveis foi o ato da filha de Jacó, a qual “saiu” a “ver as filhas da terra” (Gênesis 34), arriscando-se desta maneira à camaradagem com os ímpios. Aquele que procura prazeres entre os que não temem a Deus, está a colocar-se no terreno de Satanás, e a convidar suas tentações. PP 140.2

A crueldade traiçoeira de Simeão e Levi não foi sem provocação; contudo, em sua conduta para com os siquemitas cometeram um grave pecado. Haviam cuidadosamente ocultado a Jacó suas intenções, e a notícia de sua vingança encheu-o de horror. Com o coração magoado pelo engano e violência de seus filhos, ele apenas disse: “Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra, [...] sendo eu pouco povo em número; ajuntar-se-ão, e ficarei destruído, eu e minha casa.” Mas a dor e a aversão com que ele olhou para o seu ato sanguinolento, são reveladas pelas palavras com que, quase cinqüenta anos mais tarde, ele se referiu àquele ato, enquanto jazia em seu leito de morte, no Egito: “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação minha glória não se ajunte. [...] Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura”. Gênesis 49:5-7. PP 140.3

Jacó entendeu que havia motivo para uma profunda humilhação. Crueldade e falsidade se manifestaram no caráter de seus filhos. Havia deuses falsos no acampamento, e a idolatria tinha até certo ponto ganho terreno mesmo em sua casa. Se o Senhor os tratasse de acordo com seus méritos, não os deixaria à vingança das nações circunvizinhas? PP 141.1

Enquanto Jacó estava assim prostrado com a angústia, o Senhor ordenou-lhe que viajasse para o sul, a Betel. A lembrança deste lugar recordava ao patriarca não somente a sua visão dos anjos, e as misericordiosas promessas de Deus, mas também o voto que ali fizera, de que o Senhor deveria ser o seu Deus. Decidiu que antes de ir a esse lugar sagrado, sua casa deveria estar livre da contaminação da idolatria. Deu, portanto, instruções a todos no acampamento: “Tirai os deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai os vossos vestidos. E levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado”. Gênesis 35:2, 3. PP 141.2

Com profunda emoção Jacó repetiu a história de sua primeira visita a Betel, quando deixou a tenda de seu pai como um errante solitário, fugindo para salvar a vida, e como o Senhor lhe apareceu na visão noturna. Revendo ele o trato maravilhoso de Deus para consigo, seu próprio coração se enterneceu, seus filhos também foram tocados por um poder que os constrangia; ele lançara mão do meio mais eficaz para os preparar a fim de tomarem parte no culto de Deus quando chegassem a Betel. “Então deram a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém”. Gênesis 35:4. PP 141.3

Deus fizera com que um temor caísse sobre os habitantes da terra, de modo que não fizessem tentativa alguma para vingarem o morticínio de Siquém. Os viajantes chegaram a Betel sem serem molestados. Ali o Senhor apareceu de novo a Jacó, e renovou-lhe a promessa do concerto. “E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com Ele, uma coluna de pedra”. Gênesis 35:14. PP 141.4

Em Betel, Jacó veio a chorar a perda de uma pessoa que durante muito tempo fora um membro honrado na família de seu pai — Débora, a ama de Rebeca, que havia acompanhado a sua senhora, da Mesopotâmia à terra de Canaã. A presença dessa mulher idosa fora para Jacó um laço precioso que o ligava à sua vida primitiva, e especialmente à mãe cujo amor para com ele havia sido tão forte e terno. Débora foi sepultada com expressões de tão grande tristeza que o carvalho, sob o qual sua sepultura foi feita, foi chamado “carvalho de pranto”. Não deveria passar despercebido que a memória de sua vida de fiel serviço, e do pranto por esta amiga da casa, foi tida por digna de ser preservada na Palavra de Deus. PP 141.5

De Betel havia apenas dois dias de viagem para Hebrom; mas esta viagem trouxe a Jacó uma severa dor pela morte de Raquel. Duas vezes o serviço de sete anos prestara ele por amor a ela, e seu amor tornara leve o trabalho. Quão profundo e constante foi aquele amor, revelou-se quando, muito mais tarde, achando-se Jacó no Egito, no leito, próximo de sua morte, José veio visitar o pai, e o idoso patriarca, lançando um olhar à sua vida passada, disse: “Vindo pois eu de Padã, me morreu Raquel na terra de Canaã, no caminho, quando ainda ficava um pequeno espaço de terra para vir a Efrata; e eu a sepultei ali, no caminho de Efrata”. Gênesis 48:7. Na história de sua longa e trabalhosa vida, em relação à sua família, unicamente a perda de Raquel foi lembrada. PP 142.1

Antes de sua morte, Raquel deu à luz um segundo filho. Com o último alento deu ela à criança o nome de Benoni, “filho de minha dor”. Mas seu pai chamou-o Benjamim, “filho da destra”, ou “minha força”. Raquel foi sepultada onde morreu, e uma coluna foi erguida no local para perpetuar sua memória. PP 142.2

No caminho para Efrata, outro crime tenebroso manchou a família de Jacó, fazendo com que a Rúben, o filho primogênito, fossem negados os privilégios e honras da primogenitura. PP 142.3

Finalmente Jacó chegou ao fim de sua viagem, “a seu pai Isaque, a Manre, [...] (que é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque”. Ali ficou ele durante os anos finais da vida de seu pai. A Isaque, enfermo e cego, as bondosas atenções desse filho havia tanto tempo ausente, foram um conforto durante anos de solidão e privação de seus entes queridos. PP 142.4

Jacó e Esaú encontraram-se junto ao leito de morte de seu pai. Uma ocasião o irmão mais velho olhara antecipadamente para este acontecimento como uma oportunidade para vingança; seus sentimentos, porém, haviam-se mudado grandemente desde então. E Jacó, satisfeito com as bênçãos espirituais da primogenitura, resignou ao irmão mais velho a herança da riqueza de seu pai — a única herança que Esaú buscava ou apreciava. Não mais eram separados pela inveja ou ódio; todavia apartaram-se, mudando-se Esaú para o Monte Seir. Deus, que é rico em bênçãos, concedera a Jacó riquezas seculares, em acréscimo ao bem mais elevado que ele procurara. Os bens dos dois irmãos eram muitos “para habitarem juntos; e a terra de suas peregrinações não os podia sustentar por causa do seu gado”. Gênesis 36:7. Esta separação estava de acordo com o propósito divino relativo a Jacó. Desde que os dois irmãos diferiam tão grandemente com relação à fé religiosa, era melhor que morassem separados. PP 142.5

Esaú e Jacó tinham sido instruídos de modo semelhante no conhecimento de Deus, e ambos estavam em liberdade para andar em Seus mandamentos e receber Seu favor; porém, não preferiram ambos fazer isto. Os dois irmãos tinham andado em caminhos diferentes, e suas veredas continuariam a divergir mais e mais uma da outra. PP 142.6

Não houve uma preferência arbitrária da parte de Deus, pela qual ficassem excluídas de Esaú as bênçãos da salvação. Os dons de Sua graça por Cristo são gratuitos a todos. Não há eleição senão a própria, pela qual alguém possa perecer. Deus estabeleceu em Sua Palavra as condições pelas quais todos são candidatos à vida eterna: obediência aos Seus mandamentos, pela fé em Cristo. Deus elegeu um caráter de acordo com Sua lei, e qualquer que atinja a norma que Ele exige, terá entrada no reino de glória. O próprio Cristo diz: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida”. João 3:36. “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus”. Mateus 7:21. E no Apocalipse Ele declara: “Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas”. Apocalipse 22:14. Quanto ao que respeita à salvação final do homem, esta é a única eleição referida na Palavra de Deus. PP 143.1

Eleita é toda alma que opera a sua própria salvação com temor e tremor. É eleito aquele que cingir a armadura, e combater o bom combate da fé. É eleito quem vigiar e orar, quem examinar as Escrituras, e fugir da tentação. Eleito é aquele que continuamente tiver fé, e que for obediente a toda a palavra que sai da boca de Deus. As providências tomadas para a redenção, são franqueadas a todos; os resultados da redenção serão desfrutados por aqueles que satisfizeram as condições. PP 143.2

Esaú havia desprezado as bênçãos do concerto. Dera mais valor aos bens temporais do que aos espirituais, e recebera o que desejava. Foi pela sua própria e deliberada escolha que se separou do povo de Deus. Jacó escolhera a herança da fé. Esforçara-se por obtê-la pela astúcia, traição e falsidade; Deus, porém, permitira que seu pecado operasse a correção ao mesmo. Todavia, durante toda a amarga experiência de seus últimos anos, Jacó nunca se afastou de seu intuito nem renunciou a sua preferência. Aprendera que, recorrendo à habilidade e astúcia humana, para conseguir a bênção, estivera a guerrear contra Deus. Como homem diferente, saíra Jacó daquela noite de luta ao lado do Jaboque. Desarraigara-se a confiança própria. Dali em diante não mais se viu aquele primitivo artifício. Em lugar da astúcia e engano, sua vida assinalou-se pela simplicidade e verdade. Aprendera a lição de confiança singela no Braço todo-poderoso; e por entre provações e aflição curvava-se em humilde submissão à vontade de Deus. Os elementos inferiores de seu caráter foram consumidos na fornalha de fogo, o verdadeiro ouro foi refinado, até que a fé de Abraão e de Isaque apareceu aclarada em Jacó. PP 143.3

O pecado de Jacó e o séquito de acontecimentos que determinou, não deixaram de exercer influência para o mal, influência esta que revelou seu amargo fruto no caráter e vida de seus filhos. Chegando esses filhos à virilidade, desenvolveram graves defeitos. Os resultados da poligamia foram manifestos na casa. Este terrível mal tende a secar as próprias fontes do amor, e sua influência enfraquece os laços mais sagrados. O ciúme das várias mães havia amargurado a relação da família; os filhos cresceram contenciosos, e sem a devida sujeição; e a vida do pai obscureceu-se pela ansiedade e dor. PP 143.4

Houve um, entretanto, de caráter grandemente diverso — o filho mais velho de Raquel, José, cuja rara beleza pessoal não parecia senão refletir uma beleza interior do espírito e do coração. Puro, ativo e alegre, o rapaz dava prova também de ardor e firmeza moral. Escutava as instruções do pai, e gostava de obedecer a Deus. As qualidades que depois o distinguiram no Egito — gentileza, fidelidade e veracidade, já eram manifestas em sua vida diária. Morrendo-lhe a mãe, suas afeições prenderam-se mais intimamente ao pai, e o coração de Jacó estava ligado a este filho de sua velhice. Ele “amava a José mais do que a todos os seus filhos”. Gênesis 37:3. PP 144.1

Mas mesmo esta afeição deveria tornar-se causa de perturbações e tristezas. Jacó imprudentemente manifestou sua preferência por José, e isto provocou a inveja dos outros filhos. Testemunhando José a má conduta dos irmãos, ficava grandemente incomodado; arriscou-se delicadamente a chamar-lhes a atenção, mas isto apenas suscitou ainda mais o seu ódio e indignação. Não podia suportar vê-los a pecar contra Deus, e apresentou esta questão a seu pai, esperando que sua autoridade os pudesse levar a corrigir-se. PP 144.2

Jacó evitou cuidadosamente suscitar a ira deles pela aspereza e severidade. Com profunda emoção exprimiu sua solicitude pelos filhos, e implorou que lhe respeitassem os cabelos brancos, e não trouxessem o opróbrio a seu nome, e, acima de tudo, que não desonrassem a Deus com tal desrespeito a Seus preceitos. Envergonhados de que sua impiedade fosse conhecida, os moços pareceram estar arrependidos, mas tão-somente esconderam seus verdadeiros sentimentos, que se tornaram mais amargos ao serem patenteadas as suas faltas. PP 144.3

O indiscreto presente do pai feito a José, de um manto, ou túnica, de grande preço, tal como a usavam comumente pessoas de distinção, pareceu-lhes outra prova de sua parcialidade, e provocou-lhes a suspeita de que ele tencionava preterir seus filhos mais velhos e conferir a primogenitura ao filho de Raquel. Sua maldade ainda mais aumentou ao contar-lhes um dia o menino um sonho que tivera. “Eis que”, disse ele, “estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho”. Gênesis 37:7. PP 144.4

“Tu pois deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós?” (Gênesis 37:8), exclamaram seus irmãos com cólera, cheios de inveja. Logo teve outro sonho, de idêntica significação, que também relatou: “Eis que o Sol, e a Lua, e onze estrelas se inclinavam a mim”. Gênesis 37:9. Este sonho foi interpretado tão facilmente como o primeiro. O pai, que estava presente, falou reprovando: “Que sonho é este que sonhaste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?” Gênesis 37:10. Apesar da severidade aparente de suas palavras, Jacó acreditava que o Senhor estava revelando o futuro a José. PP 144.5

Achando-se o rapaz perante os irmãos, brilhando seu belo rosto pelo Espírito de inspiração, não puderam deixar de admirá-lo; porém não optaram pela renúncia de seus maus caminhos, e odiaram a pureza que lhes reprovava os pecados. O mesmo espírito que atuava em Caim, abrasava-se em seus corações. PP 145.1

Os irmãos eram obrigados a mudar-se de um lugar para outro a fim de conseguirem pasto para seus rebanhos, e freqüentemente ficavam ausentes de casa durante meses seguidos. Depois das circunstâncias que se acabam de referir, foram ao lugar que seu pai comprara em Siquém. Passou-se algum tempo, sem que viessem notícias, e o pai começou a temer pela segurança deles, por causa de sua crueldade anterior para com os siquemitas. Mandou, pois, José a encontrá-los, e trazer-lhe notícia como iam. Se Jacó tivesse conhecido o sentimento real de seus filhos para com José, não o teria confiado sozinho a eles; isso, porém, haviam eles cuidadosamente ocultado. PP 145.2

Com o coração alegre José despediu-se de seu pai, não sonhando o idoso varão e nem o jovem, o que aconteceria antes que de novo se encontrassem. Quando, depois de sua longa e solitária viagem, José chegou a Siquém, não encontrou os irmãos e os rebanhos. Indagando a respeito deles, encaminharam-no a Dotã. Já havia viajado mais de setenta e cinco quilômetros, e agora uma distância adicional de vinte e dois achava-se diante dele; foi-se, porém, à pressa, esquecendo seu cansaço com o pensamento de aliviar a ansiedade do pai, e encontrar os irmãos, a quem, apesar de sua maldade, ainda amava. PP 145.3

Seus irmãos viram-no aproximar-se; porém nenhum pensamento da longa viagem que fizera para os encontrar, de seu cansaço e fome, do direito à sua hospitalidade e amor fraternal, abrandou a amargura de seu ódio. A vista da capa, sinal do amor de seu pai, encheu-os de agitação. “Eis lá vem o sonhador-mor!” (Gênesis 37:19) exclamaram zombeteiramente. A inveja e a vingança, durante muito tempo secretamente acalentadas, agora os dominavam. “Matemo-lo”, disseram, “e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma besta fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos”. Gênesis 37:20. PP 145.4

Teriam executado seu intento, se não fora Rúben. Ele se negou a participar do assassínio de seu irmão, e propôs que José fosse lançado vivo em uma cova, e ali deixado a perecer, sendo, entretanto, seu intuito secreto, livrá-lo, e devolvê-lo ao pai. Tendo persuadido todos a consentirem neste plano, Rúben deixou o grupo, receando que não pudesse dominar seus sentimentos, e fossem descobertas suas verdadeiras intenções. PP 145.5

José chegou, sem suspeitar do perigo, e alegre de que o objetivo de sua longa pesquisa estivesse cumprido; mas em vez da esperada saudação aterrorizou-se pela ira e olhares vingativos que encontrou. Agarraram-no e tiraram-lhe a capa. Zombarias e ameaças revelavam um propósito mortal. Seus rogos não foram atendidos. Estava inteiramente em poder daqueles homens enfurecidos. Arrastando-o rudemente para uma profunda cova, lançaram-no ali, e, tendo-se certificado de que não havia possibilidade de escapar, deixaram-no para perecer de fome, enquanto “assentaram-se a comer pão”. Gênesis 37:25. PP 145.6

Alguns deles, porém, não estavam à vontade, não sentiam a satisfação que tinham tido em perspectiva pela sua vingança. Logo foi visto a aproximar-se um grupo de viajantes. Era uma caravana de ismaelitas de além Jordão, a caminho para o Egito, com especiarias e outras mercadorias. Judá propôs então vender seu irmão àqueles mercadores gentios, em vez de o deixar a morrer. Ao mesmo tempo em que ele seria eficazmente posto fora de seu caminho, permaneceriam limpos de seu sangue; “porque”, insistiu, “ele é nosso irmão, nossa carne”. Gênesis 37:27. Com essa proposta todos concordaram, e José foi rapidamente tirado da cova. PP 146.1

Ao ver ele os mercadores, a terrível verdade passou como relâmpago por seu espírito. Tornar-se escravo era uma sorte para se temer mais do que a morte. Na aflição do terror apelou para um e outro de seus irmãos, mas em vão. Alguns foram movidos de dó, mas o medo de caçoada conservou-os em silêncio; todos achavam que haviam então ido longe demais para desistirem. Se José fosse poupado, sem dúvida relataria o feito deles ao pai, que não deixaria de tomar em consideração a sua crueldade para com o filho predileto. Empedernindo o coração aos seus rogos, entregaram-no às mãos dos mercadores gentios. A caravana prosseguiu, e logo perdeu-se de vista. PP 146.2

Rúben voltou ao fosso, mas José ali não estava. Alarmado e censurando-se, rasgou sua roupa, e procurou os irmãos, exclamando: “O moço não aparece, e eu aonde irei?” Sabendo do que ocorrera com José, e que agora seria impossível recuperá-lo, Rúben foi induzido a unir-se aos demais, na tentativa de ocultar seu crime. Havendo morto um cabrito, mergulharam a capa de José no sangue, e levaram ao pai, dizendo-lhe que haviam achado no campo, e que receavam fosse de seu irmão. “Conhece agora”, disseram, “se esta será ou não a túnica de teu filho.” Tinham olhado antecipadamente para esta cena com receio, mas não estavam preparados para a angústia e a dor que foram obrigados a testemunhar. “É a túnica de meu filho”, disse Jacó, “uma besta fera o comeu; certamente foi despedaçado José.” Em vão seus filhos e filhas tentaram consolá-lo. “Rasgou os seus vestidos, e pôs saco sobre os seus lombos, e lamentou a seu filho muitos dias.” O tempo não parecia trazer-lhe alívio ao pesar. “Com choro hei de descer a meu filho até à sepultura”, era o seu desesperado clamor. Os moços, aterrorizados com o que tinham feito, e, contudo, temendo as reprovações do pai, ocultavam ainda em seu coração o conhecimento de seu crime, que mesmo para eles parecia muito grande. PP 146.3

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