A Noite de luta


Dia 19 - Friday, 19 de January de 2024
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25 min

Gênesis 32

Ouça o áudio do capítulo:

1 Jacó também seguiu o seu caminho, e encontraram-no os anjos de Deus.

2 E Jacó disse, quando os viu: Este é o exército de Deus. E chamou aquele lugar Maanaim.

3 E enviou Jacó mensageiros adiante de si a Esaú, seu irmão, à terra de Seir, território de Edom.

4 E ordenou-lhes, dizendo: Assim direis a meu senhor Esaú: Assim diz Jacó, teu servo: Como peregrino morei com Labão, e me detive lá até agora;

5 E tenho bois e jumentos, ovelhas, e servos e servas; e enviei para o anunciar a meu senhor, para que ache graça em teus olhos.

6 E os mensageiros voltaram a Jacó, dizendo: Fomos a teu irmão Esaú; e também ele vem para encontrar-te, e quatrocentos homens com ele.

7 Então Jacó temeu muito e angustiou-se; e repartiu o povo que com ele estava, e as ovelhas, e as vacas, e os camelos, em dois bandos.

8 Porque dizia: Se Esaú vier a um bando e o ferir, o outro bando escapará.

9 Disse mais Jacó: Deus de meu pai Abraão, e Deus de meu pai Isaque, o Senhor, que me disseste: Torna-te à tua terra, e a tua parentela, e far-te-ei bem;

10 Menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos.

11 Livra-me, peço-te, da mão de meu irmão, da mão de Esaú; porque eu o temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos.

12 E tu o disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a areia do mar, que pela multidão não se pode contar.

13 E passou ali aquela noite; e tomou do que lhe veio à sua mão, um presente para seu irmão Esaú:

14 Duzentas cabras e vinte bodes; duzentas ovelhas e vinte carneiros;

15 Trinta camelas de leite com suas crias, quarenta vacas e dez novilhos; vinte jumentas e dez jumentinhos;

16 E deu-os na mão dos seus servos, cada rebanho à parte, e disse a seus servos: Passai adiante de mim e ponde espaço entre rebanho e rebanho.

17 E ordenou ao primeiro, dizendo: Quando Esaú, meu irmão, te encontrar, e te perguntar, dizendo: De quem és, e para onde vais, e de quem são estes diante de ti?

18 Então dirás: São de teu servo Jacó, presente que envia a meu senhor, a Esaú; e eis que ele mesmo vem também atrás de nós.

19 E ordenou também ao segundo, e ao terceiro, e a todos os que vinham atrás dos rebanhos, dizendo: Conforme a esta mesma palavra falareis a Esaú, quando o achardes.

20 E direis também: Eis que o teu servo Jacó vem atrás de nós. Porque dizia: Eu o aplacarei com o presente, que vai adiante de mim, e depois verei a sua face; porventura ele me aceitará.

21 Assim, passou o presente adiante dele; ele, porém, passou aquela noite no arraial.

22 E levantou-se aquela mesma noite, e tomou as suas duas mulheres, e as suas duas servas, e os seus onze filhos, e passou o vau de Jaboque.

23 E tomou-os e fê-los passar o ribeiro; e fez passar tudo o que tinha.

24 Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu.

25 E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele.

26 E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares.

27 E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó.

28 Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste.

29 E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali.

30 E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.

31 E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa.

32 Por isso os filhos de Israel não comem o nervo encolhido, que está sobre a juntura da coxa, até o dia de hoje; porquanto tocara a juntura da coxa de Jacó no nervo encolhido.

Gênesis 33

Ouça o áudio do capítulo:

1 E levantou Jacó os seus olhos, e olhou, e eis que vinha Esaú, e quatrocentos homens com ele. Então repartiu os filhos entre Lia, e Raquel, e as duas servas.

2 E pôs as servas e seus filhos na frente, e a Lia e seus filhos atrás; porém a Raquel e José os derradeiros.

3 E ele mesmo passou adiante deles e inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão.

4 Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.

5 Depois levantou os seus olhos, e viu as mulheres, e os meninos, e disse: Quem são estes contigo? E ele disse: Os filhos que Deus graciosamente tem dado a teu servo.

6 Então chegaram as servas; elas e os seus filhos, e inclinaram-se.

7 E chegou também Lia com seus filhos, e inclinaram-se; e depois chegou José e Raquel e inclinaram-se.

8 E disse Esaú: De que te serve todo este bando que tenho encontrado? E ele disse: Para achar graça aos olhos de meu senhor.

9 Mas Esaú disse: Eu tenho bastante, meu irmão; seja para ti o que tens.

10 Então disse Jacó: Não, se agora tenho achado graça em teus olhos, peço-te que tomes o meu presente da minha mão; porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus, e tomaste contentamento em mim.

11 Toma, peço-te, a minha bênção, que te foi trazida; porque Deus graciosamente ma tem dado; e porque tenho de tudo. E instou com ele, até que a tomou.

12 E disse: Caminhemos, e andemos, e eu partirei adiante de ti.

13 Porém ele lhe disse: Meu senhor sabe que estes filhos são tenros, e que tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se as afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá.

14 Ora passe o meu senhor adiante de seu servo; e eu irei como guia pouco a pouco, conforme ao passo do gado que vai adiante de mim, e conforme ao passo dos meninos, até que chegue a meu senhor em Seir.

15 E Esaú disse: Permite então que eu deixe contigo alguns da minha gente. E ele disse: Para que é isso? Basta que ache graça aos olhos de meu senhor.

16 Assim voltou Esaú aquele dia pelo seu caminho a Seir.

17 Jacó, porém, partiu para Sucote e edificou para si uma casa; e fez cabanas para o seu gado; por isso chamou aquele lugar Sucote.

18 E chegou Jacó salvo à Salém, cidade de Siquém, que está na terra de Canaã, quando vinha de Padã-Arã; e armou a sua tenda diante da cidade.

19 E comprou uma parte do campo em que estendera a sua tenda, da mão dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro.

20 E levantou ali um altar, e chamou-lhe: Deus, o Deus de Israel.

Gênesis 34

Ouça o áudio do capítulo:

1 E saiu Diná, filha de Lia, que esta dera a Jacó, para ver as filhas da terra.

2 E Siquém, filho de Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a.

3 E apegou-se a sua alma com Diná, filha de Jacó, e amou a moça e falou afetuosamente à moça.

4 Falou também Siquém a Hamor, seu pai, dizendo: Toma-me esta moça por mulher.

5 Quando Jacó ouviu que Diná, sua filha, fora violada, estavam os seus filhos no campo com o gado; e calou-se Jacó até que viessem.

6 E saiu Hamor, pai de Siquém, a Jacó, para falar com ele.

7 E vieram os filhos de Jacó do campo, ouvindo isso, e entristeceram-se os homens, e iraram-se muito, porquanto Siquém cometera uma insensatez em Israel, deitando-se com a filha de Jacó; o que não se devia fazer assim.

8 Então falou Hamor com eles, dizendo: A alma de Siquém, meu filho, está enamorada da vossa filha; dai-lha, peço-vos, por mulher;

9 E aparentai-vos conosco, dai-nos as vossas filhas, e tomai as nossas filhas para vós;

10 E habitareis conosco; e a terra estará diante de vós; habitai e negociai nela, e tomai possessão nela.

11 E disse Siquém ao pai dela, e aos irmãos dela: Ache eu graça em vossos olhos, e darei o que me disserdes;

12 Aumentai muito sobre mim o dote e a dádiva e darei o que me disserdes; dai-me somente a moça por mulher.

13 Então responderam os filhos de Jacó a Siquém e a Hamor, seu pai, enganosamente, e falaram, porquanto havia violado a Diná, sua irmã.

14 E disseram-lhe: Não podemos fazer isso, dar a nossa irmã a um homem não circuncidado; porque isso seria uma vergonha para nós;

15 Nisso, porém, consentiremos a vós: se fordes como nós; que se circuncide todo o homem entre vós;

16 Então dar-vos-emos as nossas filhas, e tomaremos nós as vossas filhas, e habitaremos convosco, e seremos um povo;

17 Mas se não nos ouvirdes, e não vos circuncidardes, tomaremos a nossa filha e ir-nos-emos.

18 E suas palavras foram boas aos olhos de Hamor, e aos olhos de Siquém, filho de Hamor.

19 E não tardou o jovem em fazer isto; porque a filha de Jacó lhe contentava; e ele era o mais honrado de toda a casa de seu pai.

20 Veio, pois, Hamor e Siquém, seu filho, à porta da sua cidade, e falaram aos homens da sua cidade, dizendo:

21 Estes homens são pacíficos conosco; portanto habitarão nesta terra, e negociarão nela; eis que a terra é larga de espaço para eles; tomaremos nós as suas filhas por mulheres, e lhes daremos as nossas filhas.

22 Nisto, porém, consentirão aqueles homens, em habitar conosco, para que sejamos um povo, se todo o homem entre nós se circuncidar, como eles são circuncidados.

23 E seu gado, as suas possessões, e todos os seus animais não serão nossos? Consintamos somente com eles e habitarão conosco.

24 E deram ouvidos a Hamor e a Siquém, seu filho, todos os que saíam da porta da cidade; e foi circuncidado todo o homem, de todos os que saíam pela porta da sua cidade.

25 E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens.

26 Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Siquém; e tomaram a Diná da casa de Siquém, e saíram.

27 Vieram os filhos de Jacó aos mortos e saquearam a cidade; porquanto violaram a sua irmã.

28 As suas ovelhas, e as suas vacas, e os seus jumentos, e o que havia na cidade e no campo, tomaram.

29 E todos os seus bens, e todos os seus meninos, e as suas mulheres, levaram presos, e saquearam tudo o que havia em casa.

30 Então disse Jacó a Simeão e a Levi: Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra, entre os cananeus e perizeus; tendo eu pouco povo em número, eles ajuntar-se-ão, e serei destruído, eu e minha casa.

31 E eles disseram: Devia ele tratar a nossa irmã como a uma prostituta?

Patriarcas e Profetas

A Noite de luta

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Gênesis 32-33.

Se bem que Jacó houvesse saído de Padã-Arã em obediência à instrução divina, não foi sem muitos pressentimentos que repassou a estrada que havia palmilhado como fugitivo vinte anos antes. Seu pecado por ter enganado seu pai estava sempre diante dele. Sabia que seu longo exílio era o resultado direto daquele pecado, e ponderava nestas coisas dia e noite, tornando muito triste a sua jornada as exprobrações de uma consciência acusadora. Ao aparecerem as colinas de sua terra natal diante dele, à distância, o coração do patriarca moveu-se profundamente. Todo o passado surgiu vividamente diante dele. Com a lembrança de seu pecado veio também o pensamento do favor de Deus para com ele, e as promessas de auxílio e guia divinos. PP 134.1

Aproximando-se mais do fim de sua viagem, a lembrança de Esaú trouxe muitos pressentimentos perturbadores. Depois da fuga de Jacó, Esaú considerou-se como único herdeiro das posses de seu pai. A notícia da volta de Jacó despertaria o temor de que ele viesse para reclamar a herança. Esaú era agora capaz de fazer grande mal a seu irmão, se estivesse disposto a tal, e poderia ser levado à violência contra ele, não somente pelo desejo de vingança, mas a fim de, tranqüilamente, obter a posse da riqueza que durante tanto tempo havia considerado como sua. PP 134.2

De novo o Senhor concedeu a Jacó um sinal do cuidado divino. Enquanto ele viajava do Monte Gileade, em direção ao sul, dois exércitos de anjos celestiais pareciam cercá-lo, atrás e adiante, avançando com o seu grupo, como que para protegê-los. Jacó lembrou-se da visão em Betel tanto tempo antes, e o coração sobrecarregado se lhe tornou mais leve com esta prova de que os mensageiros divinos que lhe haviam trazido esperança e coragem em sua fuga de Canaã, deveriam ser os guardas de sua volta. E ele disse: “Este é o exército de Deus. E chamou o nome daquele lugar Maanaim” — “dois exércitos ou bandos”. Gênesis 32:2. PP 134.3

Todavia Jacó entendeu que tinha algo a fazer para conseguir sua própria segurança. Expediu, portanto, mensageiros com uma saudação conciliatória a seu irmão. Instruiu-os nas próprias palavras pelas quais deveriam dirigir-se a Esaú. Tinha sido predito antes do nascimento dos irmãos que o mais velho serviria ao mais moço; e, para que a lembrança disto não fosse causa de amargura, Jacó disse aos servos que eles eram enviados a “meu senhor Esaú”; quando se encontrassem diante dele, deveriam referir-se a seu senhor como “Jacó, teu servo”; e para afastar o receio de que estivesse a voltar como um errante destituído de bens, a fim de exigir a herança paternal, Jacó teve o cuidado de declarar em sua mensagem: “Tenho bois e jumentos, ovelhas, e servos, e servas; e enviei para o anunciar a meu senhor, para que ache graça em teus olhos”. Gênesis 32:5. PP 134.4

Mas os servos voltaram com as novas de que Esaú se aproximava com quatrocentos homens, e resposta alguma se enviava à amigável mensagem. Parecia certo que ele vinha para tirar desforra. O terror invadiu o acampamento. “Jacó temeu muito, e angustiou-se”. Gênesis 32:7. Não podia voltar, e receava avançar. Seu grupo, desarmado e indefeso, estava inteiramente despreparado para um encontro hostil. Em conformidade com isto dividiu-os em dois bandos, de modo que se um fosse atacado o outro poderia ter oportunidade de escapar. Enviou de seus vastos rebanhos presentes generosos a Esaú, com uma mensagem amigável. Fez tudo ao seu alcance para expiar a falta para com seu irmão, e afastar o perigo ameaçado; e então, com humilhação e arrependimento, rogou a proteção divina: Tu “me disseste: Torna à tua terra, e à tua parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que tiveste com teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos: Livra-me, peço-Te, da mão de meu irmão, da mão de Esaú; porque o temo, que porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos”. Gênesis 32:9-11. Tinham agora chegado até o rio Jaboque, e, ao sobrevir a noite, Jacó enviou sua família através do vau do rio, enquanto ele ficou só, atrás. Decidira-se a passar a noite em oração, e desejou estar a sós com Deus. Deus poderia abrandar o coração de Esaú. NEle estava a única esperança do patriarca. PP 135.1

Isto foi em uma região solitária, montanhosa, retiro de animais selvagens, e esconderijo de ladrões e assassinos. Sozinho e desprotegido, Jacó prostrou-se em terra com profunda angústia. Era meia-noite. Tudo que lhe tornava cara a vida estava à distância, exposto ao perigo e à morte. Mais amargo do que tudo era o pensamento de que fora o seu próprio pecado o que acarretara este perigo sobre os inocentes. Com ansiosos clamores e lágrimas fez sua oração perante Deus. Subitamente uma mão forte foi posta sobre ele. Julgou que um inimigo estivesse a procurar sua vida, e esforçou-se por desvencilhar-se dos punhos do assaltante. Nas trevas os dois lutaram pelo predomínio. Nenhuma palavra se falou, porém Jacó empregou toda a força, e não afrouxou seus esforços nem por um momento. Enquanto estava assim a batalhar em defesa de sua vida, a intuição de sua falta lhe oprimia a alma; seus pecados levantavam-se diante dele para o separarem de Deus. Mas, em sua terrível situação, lembrou-se das promessas de Deus, e todo o coração se lhe externou em petições pela Sua misericórdia. A luta continuou até perto do romper do dia, quando o estranho colocou o dedo à coxa de Jacó, e este ficou manco instantaneamente. O patriarca discerniu então o caráter de seu antagonista. Soube que estivera em conflito com um mensageiro celestial, e por isto foi que seu esforço quase sobre-humano não ganhara a vitória. Era Cristo, o “Anjo do concerto”, que Se havia revelado a Jacó. O patriarca estava agora inválido, e sofria a mais cruciante dor, mas não O quis largar. Todo arrependido e quebrantado, apegou-se ao Anjo; “chorou, e Lhe suplicou” (Oséias 12:4), invocando uma bênção. Tinha de ter a certeza de que seu pecado estava perdoado. A dor física não era suficiente para lhe desviar o espírito deste objetivo. Sua decisão se tornou mais forte, sua fé mais fervorosa e perseverante, até mesmo ao fim. O Anjo experimentou livrar-Se; insistiu: “Deixa-Me ir, porque já a alva subiu”; mas Jacó respondeu: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”. Gênesis 32:26. Tivesse sido isto uma confiança vangloriosa e presumida, e Jacó teria sido instantaneamente destruído; mas sua confiança era daquele que confessa sua própria indignidade, e, contudo, confia na fidelidade de um Deus que guarda o concerto. PP 135.2

Jacó “lutou com o Anjo, e prevaleceu”. Oséias 12:4. Pela humilhação, arrependimento e entrega de si mesmo, este pecaminoso e falível mortal prevaleceu com a Majestade do Céu. Firmara suas mãos trêmulas nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não podia desviar o rogo do pecador. PP 136.1

O erro que determinara o pecado de Jacó ao obter pela fraude a primogenitura, achava-se agora apresentado claramente diante dele. Não havia confiado nas promessas de Deus, mas procurara pelos seus próprios esforços efetuar aquilo que Deus teria cumprido no tempo e modo que Lhe aprouvessem. Como prova de que fora perdoado, seu nome foi mudado de um nome que lembrava seu pecado para outro que comemorava sua vitória. “Não se chamará mais o teu nome Jacó” [suplantador], disse o Anjo, “mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste”. Gênesis 32:28. PP 136.2

Jacó tinha recebido a bênção que seu coração havia anelado. Seu pecado como suplantador e enganador fora perdoado. Era passada a crise de sua vida. A dúvida, a perplexidade e o remorso lhe tinham amargurado a existência, mas agora tudo estava transformado; e doce era a paz de reconciliação com Deus. Jacó não mais receava encontrar seu irmão. Deus, que lhe perdoara o pecado, poderia mover o coração de Esaú também para aceitar sua humilhação e arrependimento. PP 136.3

Enquanto Jacó estava a lutar com o Anjo, outro mensageiro celeste foi enviado a Esaú. Em sonho viu Esaú seu irmão, que durante vinte anos fora um exilado da casa de seu pai, testemunhou-lhe a dor ao encontrar morta a mãe, viu-o rodeado pelos exércitos de Deus. Este sonho foi relatado por Esaú aos seus soldados, com a ordem de não fazerem mal a Jacó; pois o Deus de seu pai estava com ele. PP 136.4

Os dois grupos finalmente se aproximaram um do outro, conduzindo o chefe do deserto seus homens de guerra, e estando Jacó com suas esposas e filhos, acompanhados dos pastores e servas, e seguidos de longas fileiras de rebanhos e gado. Apoiado em seu cajado, o patriarca saiu para a frente a fim de encontrar-se com o grupo de soldados. Estava pálido e inutilizado em conseqüência de seu recente conflito, e andava vagarosa e penosamente, parando a cada passo; mas tinha o rosto iluminado por alegria e paz. PP 136.5

À vista daquele sofredor coxo, “Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram”. Gênesis 33:4. Ao olharem para esta cena, mesmo os rudes soldados de Esaú ficaram tocados. Não obstante haver-lhes ele contado seu sonho, não podiam ver a razão da mudança que sobreviera a seu capitão. Posto que vissem a enfermidade do patriarca, mal imaginavam que esta sua fraqueza se tornara a sua força. PP 137.1

Em sua noite de angústia, ao lado do Jaboque, quando a destruição parecia estar precisamente diante dele, ensinara-se a Jacó quão vão é o auxílio do homem, quão destituída de fundamento é toda a confiança na força humana. Viu que seu único auxílio devia vir dAquele contra quem tão ofensivamente pecara. Desamparado e indigno, rogou a promessa de misericórdia de Deus, ao pecador arrependido. Aquela promessa foi a sua certeza de que Deus lhe perdoaria e o aceitaria. Mais facilmente poderiam o céu e a Terra passar do que falhar aquela palavra; e foi isto o que o alentou durante aquele terrível conflito. PP 137.2

A experiência de Jacó durante aquela noite de luta e angústia, representa a prova pela qual o povo de Deus deverá passar precisamente antes da segunda vinda de Cristo. O profeta Jeremias, em santa visão, olhando para este tempo, disse: “Ouvimos uma voz de tremor, de temor mas não de paz [...] Por que se têm tornado macilentos todos os rostos? Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela”. Jeremias 30:5-7. PP 137.3

Quando Cristo cessar a Sua obra como mediador em prol do homem, então começará este tempo de angústia. Ter-se-á então decidido o caso de toda alma, e não haverá sangue expiatório para purificar do pecado. Ao deixar Jesus Sua posição como intercessor do homem junto a Deus, faz-se o solene anúncio: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda”. Apocalipse 22:11. Então o Espírito repressor de Deus é retirado da Terra. Assim como Jacó foi ameaçado de morte por seu irmão irado, o povo de Deus estará em perigo por parte dos ímpios, que procurarão destruí-los. E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, clamarão os justos a Deus dia e noite por livramento dos inimigos que os cercam. PP 137.4

Satanás acusara Jacó diante dos anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de seu pecado; levara Esaú a marchar contra ele; e, durante a longa noite de luta do patriarca, Satanás esforçou-se por impor-lhe a intuição de sua culpa, a fim de o desanimar, e romper o seu apego com Deus. Quando, em sua angústia, Jacó lançou mão do Anjo, e com lágrimas suplicou, o Mensageiro celeste, a fim de provar-lhe a fé, lembrou-o também de seu pecado, e esforçou-se por escapar dele. Mas Jacó não quis demover-se. Aprendera que Deus é misericordioso, e lançou-se à Sua misericórdia. Fez referência ao arrependimento de seu pecado, e implorou livramento. Ao rever a sua vida, foi impelido quase ao desespero; mas segurou firmemente o Anjo, e com brados ardorosos, aflitivos, insistiu em sua petição, até que prevaleceu. PP 137.5

Tal será a experiência do povo de Deus em sua luta final com os poderes do mal. Deus lhes provará a fé, a perseverança, a confiança em Seu poder para os livrar. Satanás esforçar-se-á por aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos são sem esperança; que seus pecados foram demasiado grandes para receberem perdão. Terão uma intuição profunda de seus fracassos; e, ao reverem a vida, perder-lhes-ão as esperanças. Lembrando-se, porém, da grandeza da misericórdia de Deus, e de seu próprio arrependimento sincero, alegarão Suas promessas feitas por meio de Cristo aos pecadores desamparados e arrependidos. Sua fé não faltará por não serem suas orações respondidas imediatamente. Apoderar-se-ão da força de Deus, assim como Jacó lançou mão do Anjo; e a expressão de sua alma será: “Não Te deixarei ir, se me não abençoares”. Gênesis 32:26. PP 138.1

Se Jacó não se houvesse arrependido previamente do pecado de obter a primogenitura pela fraude, Deus não poderia ter ouvido sua oração e misericordiosamente preservado sua vida. Assim no tempo de angústia, se o povo de Deus houvesse de ter pecados não confessados, para aparecerem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, abater-se-iam; o desespero lhes cortaria a fé, e não poderiam ter confiança para pleitearem com Deus seu livramento. Mas, conquanto tenham uma intuição profunda de sua indignidade, não terão faltas ocultas a revelar. Seus pecados ter-se-ão apagado pelo sangue expiatório de Cristo, e eles não os podem trazer à lembrança. PP 138.2

Satanás leva muitos a crer que Deus não tomará em consideração a sua infidelidade nas menores coisas da vida; mas o Senhor mostra em Seu trato com Jacó que Ele não pode de maneira alguma sancionar ou tolerar o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder seus pecados, e permitem que eles permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados ou perdoados, serão vencidos por Satanás. Quanto mais exaltada for a sua profissão, e mais honrada a posição que ocupam, mais ofensiva é a sua conduta aos olhos de Deus, e mais certo a vitória do grande adversário. PP 138.3

Contudo, a história de Jacó é uma segurança de que Deus não repelirá aqueles que foram atraídos ao pecado, mas que voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Foi pela entrega de si mesmo e por uma fé tranqüilizadora que Jacó alcançou o que não conseguira ganhar com o conflito em sua própria força. Deus assim ensinou a Seu servo que o poder e a graça divina unicamente lhe poderiam dar a bênção que ele desejava com ardor. De modo semelhante será com aqueles que vivem nos últimos dias. Ao rodearem-nos os perigos, e ao apoderar-se da alma o desespero, devem confiar unicamente nos méritos da obra expiatória. Nada podemos fazer de nós mesmos. Em toda a nossa desajudada indignidade, devemos confiar nos méritos do Salvador crucificado e ressuscitado. Ninguém jamais perecerá enquanto fizer isto. A lista longa e negra de nossos delitos está diante dos olhos do Ser infinito. O registro é completo; nenhuma de nossas ofensas é esquecida. Aquele, porém, que ouviu os clamores de Seus servos na antiguidade, ouvirá a oração da fé, e perdoará as nossas transgressões. Ele o prometeu, e cumprirá a Sua palavra. PP 138.4

Jacó prevaleceu porque foi perseverante e resoluto. Sua experiência testifica do poder da oração insistente. É agora que devemos aprender esta lição de oração que prevalece, de uma fé que não cede. As maiores vitórias da igreja de Cristo, ou do cristão em particular, não são as que são ganhas pelo talento ou educação, pela riqueza ou favor dos homens. São as vitórias ganhas na sala de audiência de Deus, quando uma fé cheia de ardor e agonia lança mão do braço forte da oração. PP 139.1

Aqueles que não estiverem dispostos a abandonar todo o pecado e buscar fervorosamente a bênção de Deus, não a obterão. Mas todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como fez Jacó, e forem tão fervorosos e perseverantes como ele o foi, serão bem-sucedidos como ele. “E Deus não fará justiça a Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça”. Lucas 18:7, 8. PP 139.2

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