O Sonho de Nabucodonosor


Dia 124 - Friday, 03 de May de 2024
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31 min

  • Daniel 7 e 8
  • Daniel 2

Daniel 7

Ouça o áudio do capítulo:

1 No primeiro ano de Belsazar, rei de babilônia, teve Daniel um sonho e visões da sua cabeça quando estava na sua cama; escreveu logo o sonho, e relatou a suma das coisas.

2 Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar grande.

3 E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar.

4 O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em pé como um homem, e foi-lhe dado um coração de homem.

5 Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne.

6 Depois disto, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio.

7 Depois disto eu continuei olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.

8 Estando eu a considerar os chifres, eis que, entre eles subiu outro chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas.

9 Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente.

10 Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros.

11 Então estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que o chifre proferia; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito, e entregue para ser queimado pelo fogo;

12 E, quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia foi-lhes prolongada a vida até certo espaço de tempo.

13 Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele.

14 E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.

15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram.

16 Cheguei-me a um dos que estavam perto, e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isto. E ele me disse, e fez-me saber a interpretação das coisas.

17 Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra.

18 Mas os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre, e de eternidade em eternidade.

19 Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro e as suas unhas de bronze; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava;

20 E também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros.

21 Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e prevaleceu contra eles.

22 Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.

23 Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços.

24 E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis.

25 E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.

26 Mas o juízo será estabelecido, e eles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até ao fim.

27 E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão.

28 Aqui terminou o assunto. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me perturbaram, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei o assunto no meu coração.

Daniel 8

Ouça o áudio do capítulo:

1 No ano terceiro do reinado do rei Belsazar apareceu-me uma visão, a mim, Daniel, depois daquela que me apareceu no princípio.

2 E vi na visão; e sucedeu que, quando vi, eu estava na cidadela de Susã, na província de Elão; vi, pois, na visão, que eu estava junto ao rio Ulai.

3 E levantei os meus olhos, e vi, e eis que um carneiro estava diante do rio, o qual tinha dois chifres; e os dois chifres eram altos, mas um era mais alto do que o outro; e o mais alto subiu por último.

4 Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir; nem havia quem pudesse livrar-se da sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade, e se engrandecia.

5 E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha um chifre insigne entre os olhos.

6 E dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, ao qual eu tinha visto em pé diante do rio, e correu contra ele no ímpeto da sua força.

7 E vi-o chegar perto do carneiro, enfurecido contra ele, e ferindo-o quebrou-lhe os dois chifres, pois não havia força no carneiro para lhe resistir, e o bode o lançou por terra, e o pisou aos pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro da sua mão.

8 E o bode se engrandeceu sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi quebrado; e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu.

9 E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa.

10 E se engrandeceu até contra o exército do céu; e a alguns do exército, e das estrelas, lançou por terra, e os pisou.

11 E se engrandeceu até contra o príncipe do exército; e por ele foi tirado o sacrifício contínuo, e o lugar do seu santuário foi lançado por terra.

12 E um exército foi dado contra o sacrifício contínuo, por causa da transgressão; e lançou a verdade por terra, e o fez, e prosperou.

13 Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício contínuo, e da transgressão assoladora, para que sejam entregues o santuário e o exército, a fim de serem pisados?

14 E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.

15 E aconteceu que, havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei o significado, e eis que se apresen- tou diante de mim como que uma semelhança de homem.

16 E ouvi uma voz de homem entre as margens do Ulai, a qual gritou, e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão.

17 E veio perto de onde eu estava; e, vindo ele, me amedrontei, e caí sobre o meu rosto; mas ele me disse: Entende, filho do homem, porque esta visão acontecerá no fim do tempo.

18 E, estando ele falando comigo, caí adormecido com o rosto em terra; ele, porém, me tocou, e me fez estar em pé.

19 E disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira; pois isso pertence ao tempo determinado do fim.

20 Aquele carneiro que viste com dois chifres são os reis da Média e da Pérsia,

21 Mas o bode peludo é o rei da Grécia; e o grande chifre que tinha entre os olhos é o primeiro rei;

22 O ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, mas não com a força dele.

23 Mas, no fim do seu reinado, quando acabarem os prevaricadores, se levantará um rei, feroz de semblante, e será entendido em adivinhações.

24 E se fortalecerá o seu poder, mas não pela sua própria força; e destruirá maravilhosamente, e prosperará, e fará o que lhe aprouver; e destruirá os poderosos e o povo santo.

25 E pelo seu entendimento também fará prosperar o engano na sua mão; e no seu coração se engrandecerá, e destruirá a muitos que vivem em segurança; e se levantará contra o Príncipe dos príncipes, mas sem mão será quebrado.

26 E a visão da tarde e da manhã que foi falada, é verdadeira. Tu, porém, cerra a visão, porque se refere a dias muito distantes.

27 E eu, Daniel, enfraqueci, e estive enfermo alguns dias; então levantei-me e tratei do negócio do rei. E espantei-me acerca da visão, e não havia quem a entendesse.

Daniel 2

Ouça o áudio do capítulo:

1 E no segundo ano do reinado de Nabucodonosor, Nabucodonosor teve sonhos; e o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono.

2 Então o rei mandou chamar os magos, os astrólogos, os encantadores e os caldeus, para que declarassem ao rei os seus sonhos; e eles vieram e se apresentaram diante do rei.

3 E o rei lhes disse: Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu espírito.

4 E os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.

5 Respondeu o rei, e disse aos caldeus: O assunto me tem escapado; se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo;

6 Mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, recompensas e grande honra; portanto declarai-me o sonho e a sua interpretação.

7 Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação.

8 Respondeu o rei, e disse: Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo; porque vedes que o assunto me tem escapado.

9 De modo que, se não me fizerdes saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude o tempo; portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação.

10 Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram: Não há ninguém sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, grande ou dominador, que requeira coisas semelhantes de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu.

11 Porque o assunto que o rei requer é difícil; e ninguém há que o possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne.

12 Por isso o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios de babilônia.

13 E saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.

14 Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque, capitão da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de babilônia.

15 Respondeu, e disse a Arioque, capitão do rei: Por que se apressa tanto o decreto da parte do rei? Então Arioque explicou o caso a Daniel.

16 E Daniel entrou; e pediu ao rei que lhe desse tempo, para que lhe pudesse dar a interpretação.

17 Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros;

18 Para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o restante dos sábios da Babilônia.

19 Então foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; então Daniel louvou o Deus do céu.

20 Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força;

21 E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos.

22 Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.

23 Ó Deus de meus pais, eu te dou graças e te louvo, porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei.

24 Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para matar os sábios de babilônia; entrou, e disse-lhe assim: Não mates os sábios de babilônia; introduze-me na presença do rei, e declararei ao rei a interpretação.

25 Então Arioque depressa introduziu a Daniel na presença do rei, e disse-lhe assim: Achei um homem dentre os cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação.

26 Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me saber o sonho que tive e a sua interpretação?

27 Respondeu Daniel na presença do rei, dizendo: O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem declarar ao rei;

28 Mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de acontecer nos últimos dias; o teu sonho e as visões da tua cabeça que tiveste na tua cama são estes:

29 Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos, acerca do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser.

30 E a mim me foi revelado esse mistério, não porque haja em mim mais sabedoria que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração.

31 Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta estátua, que era imensa, cujo esplendor era excelente, e estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível.

32 A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre;

33 As pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro.

34 Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou.

35 Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se tornou grande monte, e encheu toda a terra.

36 Este é o sonho; também a sua interpretação diremos na presença do rei.

37 Tu, ó rei, és rei de reis; a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força, e a glória.

38 E onde quer que habitem os filhos de homens, na tua mão entregou os animais do campo, e as aves do céu, e fez que reinasse sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro.

39 E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de bronze, o qual dominará sobre toda a terra.

40 E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro, esmiúça e quebra tudo; como o ferro que quebra todas as coisas, assim ele esmiuçará e fará em pedaços.

41 E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois viste o ferro misturado com barro de lodo.

42 E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.

43 Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.

44 Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,

45 Da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.

46 Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves.

47 Respondeu o rei a Daniel, e disse: Certamente o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis e revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério.

48 Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador de toda a província de babilônia, como também o fez chefe dos governadores sobre todos os sábios de babilônia.

49 E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de babilônia a Sadraque, Mesaque e Abednego; mas Daniel permaneceu na porta do rei.

Profetas e Reis

O Sonho de Nabucodonosor

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Daniel 2.

Logo depois que Daniel e seu companheiros entraram no serviço do rei de Babilônia, ocorreram acontecimentos que revelaram a uma nação idólatra o poder e a fidelidade do Deus de Israel. Nabucodonosor teve um sonho singular, pelo qual “seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o seu sono”. Mas embora a mente do rei estivesse profundamente impressionada, foi-lhe impossível, quando despertou, recordar as particularidades. PR 250.1

Em sua perplexidade, Nabucodonosor reuniu os seus sábios — “os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus” — e pediu-lhes auxílio. “Tive um sonho”, disse ele, “e para saber o sonho está perturbado o meu espírito.” Com esta declaração da sua perplexidade, exigiu deles que lhe revelassem o que poderia trazer-lhe tranqüilidade à mente. PR 250.2

A isso os sábios responderam: “Ó rei, vive eternamente dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação”. Daniel 2:1-4. PR 250.3

Não satisfeito com uma resposta evasiva, e desconfiado porque, a despeito de suas pretensiosas afirmações de poderem revelar os segredos dos homens, eles pareciam não obstante indispostos em prestar-lhes auxílio, o rei ordenou a seus sábios, com promessas de riqueza e honrarias ou por outro lado de ameaças de morte, que lhe dissessem não apenas a interpretação do sonho, mas o próprio sonho. “O que foi me tem escapado”, disse ele; “se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo. Mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dons, e dádivas, e grande honra.” PR 250.4

Os sábios responderam ainda: “Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação.” PR 250.5

Nabucodonosor, agora inteiramente desperto e irado com a evidente perfídia daqueles em quem tinha confiado, declarou: “Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo, porque vedes que o que eu sonhei me tem escapado. Por conseqüência, se me não fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença até que se mude o tempo. Portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação”. Daniel 2:5-9. PR 250.6

Temerosos com as conseqüências do seu fracasso, os mágicos procuraram mostrar ao rei que seu pedido era irrazoável, e o que ele requeria estava além do que já havia solicitado em qualquer tempo ao homem. “Não há ninguém sobre a Terra”, eles objetaram, “que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, senhor ou dominador, que requeira coisa semelhante de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu. Porquanto a coisa que o rei requer é difícil, e ninguém há que a possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne.” PR 251.1

“Então o rei muito se irou e enfureceu, e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia.” PR 251.2

Entre as pessoas procuradas pelos oficiais que se estavam preparando para cumprir o estipulado no decreto real, estavam Daniel e seus companheiros. Quando informados que de acordo com o decreto também eles deviam morrer, Daniel inquiriu de Arioque, capitão da guarda do rei, “avisada e prudentemente”: “Por que se apressa tanto o mandado da parte do rei?” Arioque contou-lhe a história da perplexidade do rei a respeito de seu notável sonho, e seu fracasso no sentido de conseguir auxílio da parte daqueles que até então tinham desfrutado sua mais plena confiança. Depois de ouvir isto, Daniel, tomando sua vida em suas mãos, aventurou-se a ir à presença do rei, e rogou-lhe tempo, para que pudesse suplicar ao seu Deus que lhe revelasse o sonho e a sua interpretação. PR 251.3

A este pedido o monarca concordou. “Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros”. Daniel 2:10-17. Juntos buscaram sabedoria da Fonte de luz e conhecimento. Sua fé era forte na certeza de que Deus tinha-os colocado onde estavam, que eles estavam fazendo a Sua obra e cumprindo os reclamos do dever. Em tempos de perplexidade e perigo tinham-se voltado sempre para Ele em busca de guia e proteção, e Ele Se mostrara um auxílio sempre presente. Agora com coração contrito submetiam-se de novo ao Juiz da Terra, implorando que lhes desse livramento neste tempo de especial necessidade. E eles não suplicaram em vão. O Deus a quem tinham honrado, honrava-os agora. O Espírito do Senhor repousou sobre eles, e a Daniel, “numa visão da noite”, foi revelado o sonho do rei e seu significado. PR 251.4

O primeiro ato de Daniel foi agradecer a Deus pela revelação que lhe fora dada. “Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre”, ele exclamou, “porque dEle é a sabedoria e a força. E Ele muda os tempos e as horas; Ele remove os reis e estabelece os reis; Ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu Te louvo e celebro porque me deste sabedoria e força; e agora nos fizeste saber o que Te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei.” PR 251.5

Dirigindo-se imediatamente a Arioque, a quem o rei tinha ordenado destruir os sábios, Daniel disse: “Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e darei ao rei a interpretação.” Depressa o oficial introduziu Daniel à presença do rei, com as palavras: “Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação”. Daniel 2:19-25. PR 251.6

Eis o cativo judeu, calmo e senhor de si, na presença do monarca do mais poderoso império do mundo. Em suas primeiras palavras ele recusou honra para si mesmo, e exaltou a Deus como a fonte de toda sabedoria. À ansiosa inquirição do rei: “Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação?” ele respondeu: “O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei; mas há um Deus nos Céus, o qual revela os segredos; Ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser no fim dos dias. PR 252.1

“O teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama”, Daniel declarou, “são estas: estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos ao que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os segredos te fez saber o que há de ser. E a mim me foi revelado este segredo, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração. PR 252.2

“Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua. Esta estátua, que era grande e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre; as pernas de ferro; e os seus pés em parte de ferro e em parte de barro. PR 252.3

“Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se fez um grande monte, e encheu toda a Terra. Daniel 2:26-35. PR 252.4

“Este é o sonho”, Daniel declarou confiantemente; e o rei, considerando com a mais acurada atenção cada pormenor, reconheceu que este era o próprio sonho que o deixara tão turbado. Assim sua mente foi preparada para receber bem disposto a interpretação. O Rei dos reis estava prestes a comunicar grande verdade ao monarca de Babilônia. Deus iria revelar que Ele tem poder sobre os reinos do mundo — poder para pôr e depor reis. A mente de Nabucodonosor devia ser desperta, se possível, para o senso de sua responsabilidade para com o Céu. Os acontecimentos do futuro, cujo alcance vai até o tempo do fim, deviam ser expostos perante ele. PR 252.5

“Tu, ó rei, és rei de reis”, Daniel continuou, “pois o Deus do Céu te tem dado o reino, o poder, e a força, e a majestade. E onde quer que habitem filhos de homens, animais do campo, e aves do céu, Ele tos entregou na tua mão, e fez que dominasses sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro. PR 252.6

“E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino de metal, o qual terá domínio sobre toda a Terra. PR 253.1

“E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro esmiúça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrará. PR 253.2

“E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.” PR 253.3

“Mas, nos dias destes reis, o Deus do Céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre. Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, o Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disto; e certo é o sonho, e fiel a sua interpretação”. Daniel 2:37-45. PR 253.4

O rei estava convencido da verdade da interpretação, e em humildade e temor “caiu sobre o seu rosto e adorou”, dizendo: “Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, pois pudeste revelar este segredo.” PR 253.5

Nabucodonosor revogou o decreto de eliminação dos sábios. A vida deles fora poupada em virtude da união de Daniel com o Revelador dos segredos. E “o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes dons e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também por principal governador de todos os sábios de Babilônia. E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de Babilônia a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; mas Daniel estava às portas do rei”. Daniel 2:46-49. PR 253.6

Nos anais da história humana, o desenvolvimento das nações, o nascimento e queda dos impérios, aparecem como que dependendo da vontade e proeza do homem; a configuração dos acontecimentos parece determinada em grande medida pelo seu poder, ambição ou capricho. Mas na Palavra de Deus a cortina é afastada, e podemos ver acima, para trás e pelos lados as partidas e contrapartidas do interesse, poder e paixões humanos — os agentes do Todo-misericordioso — executando paciente e silenciosamente os conselhos de Sua própria vontade. PR 253.7

Em palavras de incomparável beleza e ternura, o apóstolo Paulo expôs diante dos filósofos de Atenas o divino propósito na criação e distribuição dos povos e nações. “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há”, declarou o apóstolo, “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar”. Atos 17:24-27. PR 253.8

Deus tem tornado claro o fato de que quem quiser pode entrar “no vínculo do concerto”. Ezequiel 20:37. Seu propósito na criação era que a Terra fosse habitada por seres cuja existência seria uma bênção para si mesmos e de uns para com outros, e uma honra para o seu Criador. Todos que o desejassem poderiam identificar-se com este propósito. Destes é dito: “Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor”. Isaías 43:21. PR 254.1

Em Sua lei Deus tornou conhecidos os princípios que sustentam toda verdadeira prosperidade, tanto das nações como dos indivíduos. A respeito deste lei Moisés declarou aos israelitas: “Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento”. Deuteronômio 4:6. “Esta palavra não é vã, antes é a vossa vida”. Deuteronômio 32:47. As bênçãos assim asseguradas a Israel são, nas mesmas condições e no mesmo grau, asseguradas a toda nação e a cada indivíduo sob o vasto céu. PR 254.2

Centenas de anos antes que certas nações viessem ao cenário da ação, o Onisciente lançou um olhar para os séculos por vir e predisse o surgimento e queda dos reinos universais. Deus declarou a Nabucodonosor que o reino de Babilônia devia cair, e um segundo reino surgiria, o qual também teria o seu período de prova. Deixando de exaltar o verdadeiro Deus, sua glória seria abatida, e um terceiro reino lhe ocuparia o lugar. Este também passaria; e um quarto, forte como ferro, submeteria as nações do mundo. PR 254.3

Tivessem os reis de Babilônia — o mais rico de todos os reinos terrestres — conservado sempre diante de si o temor de Jeová, e ter-lhes-iam sido dados sabedoria e força que os manteriam ligados a Ele, conservando-os fortes. Mas eles fizeram de Deus seu refúgio somente quando em angústia e perplexidade. Em tais ocasiões, não encontrando auxílio em seus grandes homens, buscavam-no de homens como Daniel — homens que, sabiam eles, honravam ao Deus vivo, e eram por Ele honrados. A esses homens eles apelavam para que deslindassem os mistérios da Providência; pois embora os senhores da orgulhosa Babilônia fossem homens do mais alto intelecto, tinham-se afastado tanto de Deus pela transgressão que não podiam compreender as revelações e as advertências a eles dadas com referência ao futuro. PR 254.4

Na história das nações o estudante da Palavra de Deus pode contemplar o cumprimento literal da profecia divina. Babilônia, fragmentada e por fim quebrantada, passou porque em sua prosperidade seus governantes tinham-se considerado independentes de Deus, atribuindo a glória do seu reino a realizações humanas. O domínio medo-persa foi visitado pela ira do Céu porque nele a lei de Deus tinha sido calcada a pés. O temor do Senhor não encontrou lugar no coração da grande maioria do povo. Prevaleciam a impiedade, a blasfêmia e a corrupção. Os reinos que se seguiram foram ainda mais vis e corruptos; e desceram cada vez mais na escala da dignidade moral. PR 254.5

O poder exercido por todos os governantes da Terra é concedido pelo Céu; e seu sucesso depende do uso que fizerem dessa concessão. A cada um a palavra do divino Vigia é: “Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças”. Isaías 45:5. E a cada um as palavras ditas a Nabucodonosor no passado representam a lição da vida: “Desfaze os teus pecados pela justiça, e as tuas iniqüidades usando de misericórdia com os pobres, se se prolongar a tua tranqüilidade”. Daniel 4:27. Compreender estas coisas, isto é, que “a justiça exalta as nações” (Provérbios 14:34); que “com justiça se estabelece o trono” (Provérbios 16:12), e “com benignidade” ele se “sustém” (Provérbios 20:28); reconhecer a operação desses princípios na manifestação de Seu poder que “remove os reis, e estabelece os reis” — reconhecer isto é compreender a filosofia da História. PR 255.1

Na Palavra de Deus, unicamente, é isto claramente estabelecido. Nela se nos mostra que a força tanto das nações como dos indivíduos não se encontra nas oportunidades ou facilidades que parecem torná-los invencíveis, nem na sua alardeada grandeza. Ela é medida pela fidelidade com que eles cumprem o propósito de Deus. PR 255.2

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