A Viagem e o Naufrágio


Dia 304 - Wednesday, 30 de October de 2024
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22 min

  • Romanos 15 e 16
  • Atos 27

Romanos 15

Ouça o áudio do capítulo:

1 Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos.

2 Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.

3 Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.

4 Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.

5 Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus,

6 Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

7 Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus.

8 Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais;

9 E para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia, como está escrito:Portanto eu te louvarei entre os gentios,E cantarei ao teu nome.

10 E outra vez diz:Alegrai-vos, gentios, com o seu povo.

11 E outra vez:Louvai ao Senhor, todos os gentios,E celebrai-o todos os povos.

12 Outra vez diz Isaías:Uma raiz em Jessé haverá,E naquele que se levantar para reger os gentios,Os gentios esperarão.

13 Ora o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo.

14 Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros.

15 Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada;

16 Que seja ministro de Jesus Cristo para os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo.

17 De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus.

18 Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras;

19 Pelo poder dos sinais e prodígios, e pela virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo.

20 E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;

21 Antes, como está escrito:Aqueles a quem não foi anunciado, o verão,E os que não ouviram o entenderão.

22 Por isso também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco.

23 Mas agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco,

24 Quando partir para Espanha irei ter convosco; pois espero que de passagem vos verei, e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia.

25 Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos.

26 Porque pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém.

27 Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais.

28 Assim que, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha.

29 E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude da bênção do evangelho de Cristo.

30 E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus;

31 Para que seja livre dos rebeldes que estão na Judéia, e que esta minha administração, que em Jerusalém faço, seja bem aceita pelos santos;

32 A fim de que, pela vontade de Deus, chegue a vós com alegria, e possa recrear-me convosco.

33 E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.

Romanos 16

Ouça o áudio do capítulo:

1 Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia,

2 Para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo.

3 Saudai a Priscila e a Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus,

4 Os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios.

5 Saudai também a igreja que está em sua casa. Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Acáia em Cristo.

6 Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós.

7 Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo.

8 Saudai a Amplias, meu amado no Senhor.

9 Saudai a Urbano, nosso cooperador em Cristo, e a Estáquis, meu amado.

10 Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai aos da família de Aristóbulo.

11 Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos da família de Narciso, os que estão no Senhor.

12 Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalham no Senhor. Saudai à amada Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor.

13 Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha.

14 Saudai a Asíncrito, a Flegonte, a Hermes, a Pátrobas, a Hermas, e aos irmãos que estão com eles.

15 Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a todos os santos que com eles estão.

16 Saudai-vos uns aos outros com santo ósculo. As igrejas de Cristo vos saúdam.

17 E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.

18 Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples.

19 Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal.

20 E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém.

21 Saúdam-vos Timóteo, meu cooperador, e Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes.

22 Eu, Tércio, que esta carta escrevi, vos saúdo no Senhor.

23 Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro, e de toda a igreja. Saúda-vos Erasto, procurador da cidade, e também o irmão Quarto.

24 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém.

25 Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto,

26 Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;

27 Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.

Atos 27

Ouça o áudio do capítulo:

1 E, como se determinou que havíamos de navegar para a Itália, entregaram Paulo, e alguns outros presos, a um centurião por nome Júlio, da coorte augusta.

2 E, embarcando nós em um navio adramitino, partimos navegando pelos lugares da costa da Ásia, estando conosco Aristarco, macedônio, de Tessalônica.

3 E chegamos no dia seguinte a Sidom, e Júlio, tratando Paulo humanamente, lhe permitiu ir ver os amigos, para que cuidassem dele.

4 E, partindo dali, fomos navegando abaixo de Chipre, porque os ventos eram contrários.

5 E, tendo atravessado o mar, ao longo da Cilícia e Panfília, chegamos a Mirra, na Lícia.

6 E, achando ali o centurião um navio de Alexandria, que navegava para a Itália, nos fez embarcar nele.

7 E, como por muitos dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte de Cnido, não nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos abaixo de Creta, junto de Salmone.

8 E, consteando-a dificilmente, chegamos a um lugar chamando Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséia.

9 E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, pois, também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava,

10 Dizendo-lhes: Senhores, vejo que a navegação há de ser incômoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas.

11 Mas o centurião cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.

12 E, como aquele porto não era cômodo para invernar, os mais deles foram de parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fenice, que é um porto de Creta que olha para o lado do vento da África e do Coro, e invernar ali.

13 E, soprando o sul brandamente, lhes pareceu terem já o que desejavam e, fazendo-se de vela, foram de muito perto costeando Creta.

14 Mas não muito depois deu nela um pé de vento, chamado Euro-aquilão.

15 E, sendo o navio arrebatado, e não podendo navegar contra o vento, dando de mão a tudo, nos deixamos ir à toa.

16 E, correndo abaixo de uma pequena ilha chamada Clauda, apenas pudemos ganhar o batel.

17 E, levado este para cima, usaram de todos os meios, cingindo o navio; e, temendo darem à costa na Sirte, amainadas as velas, assim foram à toa.

18 E, andando nós agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.

19 E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio.

20 E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.

21 E, havendo já muito que não se comia, então Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Fora, na verdade, razoável, ó senhores, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim evitariam este incômodo e esta perda.

22 Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.

23 Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,

24 Dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.

25 Portanto, ó senhores, tende bom ânimo; porque creio em Deus, que há de acontecer assim como a mim me foi dito.

26 É contudo necessário irmos dar numa ilha.

27 E, quando chegou a décima quarta noite, sendo impelidos de um e outro lado no mar Adriático, lá pela meia-noite suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra.

28 E, lançando o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças.

29 E, temendo ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia.

30 Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar, como que querendo lançar as âncoras pela proa,

31 Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos.

32 Então os soldados cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair.

33 E, entretanto que o dia vinha, Paulo exortava a todos a que comessem alguma coisa, dizendo: É já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis sem comer, não havendo provado nada.

34 Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.

35 E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer.

36 E, tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer.

37 E éramos ao todo, no navio, duzentas e setenta e seis almas.

38 E, refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar.

39 E, sendo já dia, não conheceram a terra; enxergaram, porém, uma enseada que tinha praia, e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio.

40 E, levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia.

41 Dando, porém, num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas.

42 Então a idéia dos soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse, escapando a nado.

43 Mas o centurião, querendo salvar a Paulo, lhes estorvou este intento; e mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra;

44 E os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo.

Atos dos Apóstolos

A Viagem e o Naufrágio

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Atos 27; 28:1-10.

Paulo estava afinal a caminho de Roma. “E, como se determinou que havíamos de navegar para a Itália”, escreve Lucas, “entregaram Paulo, e alguns outros presos, a um centurião por nome Júlio, da coorte augusta. E, embarcando nós em um navio adramitino, partimos navegando pelos lugares da costa da Ásia, estando conosco Aristarco, macedônio, de Tessalônica”. Atos 27:1, 2. AA 246.1

No primeiro século da era cristã, as viagens por mar eram feitas com peculiares dificuldades e perigos. Os marinheiros faziam a sua rota em grande parte orientando-se pela posição do Sol e das estrelas; e quando estes corpos celestes não apareciam, e havia indício de tempestade, os proprietários dos navios temiam aventurar-se em pleno mar. Durante uma parte do ano era quase impossível a navegação sem riscos. AA 246.2

O apóstolo Paulo era agora chamado a suportar as difíceis experiências que lhe poderiam tocar como um prisioneiro em cadeias durante a longa e tediosa viagem para a Itália. Uma circunstância suavizou grandemente as dificuldades de sua vida — foi-lhe permitida a companhia de Lucas e Aristarco. Em sua carta aos colossenses, referiu-se ele mais tarde ao último como seu “companheiro de prisão” (Colossenses 4:10); mas foi por vontade própria que Aristarco partilhou da prisão de Paulo, a fim de poder confortá-lo em suas aflições. AA 246.3

A viagem começou favoravelmente. No dia seguinte, lançaram âncora no porto de Sidom. Ali Júlio, o centurião, “tratando Paulo humanamente”, e sendo informado de que nesse lugar havia cristãos, “lhe permitiu ir ver os amigos, para que cuidassem dele”. Atos 27:3. Essa permissão foi grandemente apreciada pelo apóstolo, que estava com a saúde debilitada. AA 246.4

Havendo deixado Sidom, o navio encontrou ventos contrários; e tendo-se desviado de uma rota direta, seu progresso foi lento. Em Mirra, na província de Lícia, o centurião encontrou um grande navio de Alexandria, que viajava para a costa da Itália, e para esse navio transferiu imediatamente os prisioneiros. Mas os ventos eram ainda contrários, e o progresso do navio foi difícil. Lucas escreve: “E, como por muitos dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte a Cnido, não nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos abaixo de Creta, junto de Salmone. E, costeando-a dificilmente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos.” AA 246.5

Em Bons Portos foram forçados a ficar por algum tempo, esperando vento favorável. O inverno estava-se aproximando rapidamente, “sendo já perigosa a navegação”; e os que tinham a responsabilidade do navio tiveram que desistir de alcançar seu destino antes que a época favorável para a navegação marítima se encerrasse naquele ano. A única questão a ser decidida, então, era se deviam permanecer em Bons Portos ou tentar alcançar um lugar mais favorável para invernar. AA 247.1

Essa questão foi calorosamente discutida, sendo afinal referida pelo centurião a Paulo, o qual conquistara o respeito tanto dos soldados como da tripulação. Sem hesitação o apóstolo aconselhou ficarem onde estavam. “Vejo”, disse ele, “que a navegação há de ser incômoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas” Mas “o piloto” e o “mestre” do navio e a maioria dos passageiros e toda a tripulação não quiseram aceitar esse conselho. Como aquele porto em que ancoraram “não era cômodo para invernar, os mais deles foram de parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fênix, que é um porto de Creta que olha para a banda do vento da África e do Coro, e invernar ali”. Atos 27:8-12. AA 247.2

O centurião decidiu seguir o discernimento da maioria. De comum acordo, “soprando o vento sul brandamente”, deixaram Bons Portos na esperança de que alcançariam logo o desejado porto. “Mas, não muito depois, deu nela um pé-de-vento [...] E, sendo o navio arrebatado” (Atos 27:13-15), não podiam navegar contra o vento. AA 247.3

Impulsionado pela tempestade, o navio se aproximou da pequena ilha de Clauda, e nesse abrigo os tripulantes se prepararam para o pior. O bote salva-vidas, seu único meio de escape no caso do navio afundar, estava amarrado, e sujeito a ser feito em pedaços a cada momento. Seu primeiro trabalho foi içar esse bote para bordo. Todas as precauções possíveis foram, então, tomadas para fortificar o navio e prepará-lo para resistir à tempestade. A exígua proteção oferecida pela pequena ilha não durou muito, e logo estavam de novo expostos a toda a violência da tempestade. AA 247.4

Toda a noite a tempestade rugiu, e não obstante as precauções tomadas, o navio fazia água. “No dia seguinte aliviaram o navio.” De novo veio a noite, mas o vento não amainava. O navio batido pela tempestade, com os mastros partidos e as velas rotas, era pela fúria do vento atirado de um para outro lado. A cada momento parecia que o madeiramento dos costados, que não deixava de ranger, se iria abrir, tal a veemência dos abalos e estremecimentos produzidos pelos choques das ondas. A invasão da água mais aumentava, e a tripulação e passageiros trabalhavam continuamente nas bombas. Não havia um momento de repouso para ninguém a bordo. “E ao terceiro dia”, escreve Lucas, “nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio”. “E não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos”. Atos 27:18-20. AA 247.5

Durante catorze dias flutuaram sob um céu sem sol e sem estrelas. O apóstolo, embora sofrendo ele próprio fisicamente, tinha palavras de esperança para o momento mais crítico, uma mão auxiliadora em cada emergência. Agarrou-se pela fé ao braço do Poder Infinito, e seu coração se apoiava em Deus. Não temia por si; sabia que Deus o preservaria para testificar em Roma da verdade de Cristo. Porém, seu coração se comovia de piedade pelas pessoas que lhe estavam ao redor, pecadoras, degradadas e não preparadas para morrer. Ao suplicar ardentemente a Deus para lhes poupar a vida, foi-lhe revelado que sua oração fora atendida. AA 248.1

Aproveitando a vantagem de uma trégua na tempestade, Paulo ficou na coberta, e levantando a voz disse: “Senhores, na verdade, era preciso terem-me atendido e não partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, já agora, vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se perderá de entre vós, mas somente o navio. Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por Sua graça, te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito. Porém é necessário que vamos dar a uma ilha”. Atos 27:21-26. AA 248.2

Após essas palavras, reviveu a esperança. Passageiros e tripulantes se ergueram de sua apatia. Havia muito, ainda, a ser feito, e cada esforço e capacidade deviam ser exercitados para evitar a destruição. AA 248.3

Foi na décima quarta noite de arremesso sobre as ondas negras e encapeladas que “lá pela meia-noite”, ouvindo som característico, “suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra. E, lançando prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças. E, temendo”, escreve Lucas, “ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia”. Atos 27:27-29. AA 248.4

Ao raiar do dia os contornos da costa tempestuosa eram vagamente visíveis, mas não se viam quaisquer sinais de terra familiar. Tão sombria era a perspectiva que os marinheiros pagãos, perdendo toda a coragem, procuravam “fugir do navio”, e fazendo preparativos dissimulados para “lançar as âncoras pela proa”, tinham já lançado o bote salva-vidas, quando Paulo, percebendo seu baixo intento, disse ao centurião e aos soldados: “Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos” Os soldados imediatamente “cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair” no mar. AA 248.5

A hora mais crítica estava ainda diante deles. De novo o apóstolo disse palavras de encorajamento, e exortou a todos, soldados e passageiros, para que tomassem algum alimento, dizendo: “E já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis sem comer, não havendo provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós”. Atos 27:30-34. AA 248.6

“E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer” Então, aquele exausto e desencorajado grupo de duzentas e setenta e cinco almas que, não fora Paulo, ter-se-ia desesperado, uniu-se ao apóstolo em partilhar do “alimento. E, refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar”. Atos 27:35-38. AA 249.1

A luz do dia tinha agora rompido plenamente, mas eles nada podiam ver que lhes determinasse o lugar em que estavam. “Enxergaram porém uma enseada que tinha praia, e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio. E, levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia. Dando, porém, num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas”. Atos 27:39-41. AA 249.2

Paulo e os outros prisioneiros estavam, agora, ameaçados por um perigo maior que o naufrágio. Os soldados viram que, enquanto estivessem procurando alcançar a terra, ser-lhes-ia impossível vigiar os prisioneiros. Cada homem teria que fazer todo o possível para salvar-se. Entretanto, se algum dos prisioneiros faltasse, perderia a vida o responsável por eles. Por isso os soldados desejavam matar todos os prisioneiros. A lei romana sancionava essa cruel prática, e o plano teria sido imediatamente executado, não fosse aquele a quem todos muito deviam. Júlio, o centurião, sabia que Paulo tinha sido o instrumento para salvar a vida de todos a bordo; e, além disso, convencido de que o Senhor estava com ele, temeu fazer-lhe mal. Portanto, “mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra; e os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra, a salvo”. Atos 27:43, 44. Quando se verificou a lista, nenhum faltava. AA 249.3

Os náufragos foram bondosamente recebidos pelos nativos de Malta. “Acendendo uma grande fogueira”, escreve Lucas, “nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e por causa do frio”. Paulo estava entre os que se mostravam ativos em prover o conforto dos outros. Tendo “ajuntado e atirado à fogueira um feixe de gravetos, uma víbora, fugindo do calor, prendeu-se-lhe à mão”. Os circunstantes ficaram tomados de horror, e vendo por suas correntes que Paulo era um prisioneiro, “diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a justiça não o deixa viver”. Mas Paulo sacudiu o réptil no fogo, e nenhum mal sentiu. Sabendo a natureza venenosa da víbora, as pessoas olhavam para ele, esperando vê-lo entrar num momento em terrível agonia. “Mas tendo esperado já muito e vendo que nenhum incômodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus”. Atos 28:2-6. AA 249.4

Durante os três meses que o pessoal do navio permaneceu em Malta, Paulo e seus companheiros de trabalho aproveitaram muitas oportunidades de pregar o evangelho. De modo notável operou o Senhor por meio deles. Por amor de Paulo, toda a tripulação do navio foi tratada com grande bondade; todas as suas necessidades foram supridas e, ao deixarem Malta, foram liberalmente providos de todo o necessário para a viagem. Os principais incidentes dessa permanência ali são assim descritos por Lucas: AA 250.1

“E ali, próximo daquele mesmo lugar, havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha, por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente por três dias. E aconteceu estar de cama enfermo de febres e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele e o curou. Feito pois isto, vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades, e sararam. Os quais nos distinguiram também com muitas honras; e, havendo de navegar, nos proveram das coisas necessárias”. Atos 28:7-10. AA 250.2

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