De Perseguidor a Discípulo


Dia 274 - Monday, 30 de September de 2024
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20 min

  • Salmos 109 e 110
  • Atos 9:1-18

Salmos 109

Ouça o áudio do capítulo:

1 Ó Deus do meu louvor, não te cales,

2 Pois a boca do ímpio e a boca do enganador estão abertas contra mim. Têm falado contra mim com uma língua mentirosa.

3 Eles me cercaram com palavras odiosas, e pelejaram contra mim sem causa.

4 Em recompensa do meu amor são meus adversários; mas eu faço oração.

5 E me deram mal pelo bem, e ódio pelo meu amor.

6 Põe sobre ele um ímpio, e Satanás esteja à sua direita.

7 Quando for julgado, saia condenado; e a sua oração se lhe torne em pecado.

8 Sejam poucos os seus dias, e outro tome o seu ofício.

9 Sejam órfãos os seus filhos, e viúva sua mulher.

10 Sejam vagabundos e pedintes os seus filhos, e busquem pão fora dos seus lugares desolados.

11 Lance o credor mão de tudo quanto tenha, e despojem os estranhos o seu trabalho.

12 Não haja ninguém que se compadeça dele, nem haja quem favoreça os seus órfãos.

13 Desapareça a sua posteridade, o seu nome seja apagado na seguinte geração.

14 Esteja na memória do Senhor a iniqüidade de seus pais, e não se apague o pecado de sua mãe.

15 Antes estejam sempre perante o Senhor, para que faça desaparecer a sua memória da terra.

16 Porquanto não se lembrou de fazer misericórdia; antes perseguiu ao homem aflito e ao necessitado, para que pudesse até matar o quebrantado de coração.

17 Visto que amou a maldição, ela lhe sobrevenha, e assim como não desejou a bênção, ela se afaste dele.

18 Assim como se vestiu de maldição, como sua roupa assim penetre ela nas suas entranhas, como água, e em seus ossos como azeite.

19 Seja para ele como a roupa que o cobre, e como cinto que o cinja sempre.

20 Seja este o galardão dos meus contrários, da parte do Senhor, e dos que falam mal contra a minha alma.

21 Mas tu, ó DEUS o Senhor, trata comigo por amor do teu nome, porque a tua misericórdia é boa, livra-me,

22 Pois estou aflito e necessitado, e o meu coração está ferido dentro de mim.

23 Vou-me como a sombra que declina; sou sacudido como o gafanhoto.

24 De jejuar estão enfraquecidos os meus joelhos, e a minha carne emagrece.

25 E ainda lhes sou opróbrio; quando me contemplam, movem as cabeças.

26 Ajuda-me, ó Senhor meu Deus, salva-me segundo a tua misericórdia.

27 Para que saibam que esta é a tua mão, e que tu, Senhor, o fizeste.

28 Amaldiçoem eles, mas abençoa tu; quando se levantarem fiquem confundidos; e alegre-se o teu servo.

29 Vistam-se os meus adversários de vergonha, e cubram-se com a sua própria confusão como com uma capa.

30 Louvarei grandemente ao Senhor com a minha boca; louvá-lo-ei entre a multidão.

31 Pois se porá à direita do pobre, para o livrar dos que condenam a sua alma.

Salmos 110

Ouça o áudio do capítulo:

1 Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.

2 O Senhor enviará o cetro da tua fortaleza desde Sião, dizendo: Domina no meio dos teus inimigos.

3 O teu povo será mui voluntário no dia do teu poder; nos ornamentos de santidade, desde a madre da alva, tu tens o orvalho da tua mocidade.

4 Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.

5 O Senhor, à tua direita, ferirá os reis no dia da sua ira.

6 Julgará entre os gentios; tudo encherá de corpos mortos; ferirá os cabeças de muitos países.

7 Beberá do ribeiro no caminho, por isso exaltará a cabeça.

Atos 9:1-18

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote.

2 E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns deste Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.

3 E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.

4 E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

5 E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.

6 E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.

7 E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém.

8 E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.

9 E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu.

10 E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor.

11 E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando;

12 E numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver.

13 E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém;

14 E aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.

15 Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.

16 E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome.

17 E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.

18 E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado.

Atos dos Apóstolos

De Perseguidor a Discípulo

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Atos 9:1-18.

Entre os guias judeus que ficaram profundamente abalados com o êxito que acompanhava a proclamação do evangelho, encontrava-se, preeminentemente, Saulo de Tarso. Cidadão romano de nascimento, Saulo era não obstante judeu por descendência, e fora educado em Jerusalém pelos mais eminentes rabis. “Da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim”, era Saulo “hebreu de hebreus”; segundo a lei, foi “fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”. Filipenses 3:5, 6. Era considerado pelos rabinos como um jovem altamente promissor, e grandes esperanças eram acariciadas com respeito a ele como capaz e zeloso defensor da antiga fé. Sua elevação a membro do Sinédrio colocou-o numa posição de poder. AA 62.1

Saulo tinha tomado parte de destaque no julgamento e condenação de Estêvão, e a impressionante evidência da presença de Deus com o mártir o deixara em dúvida quanto à justiça da causa que ele havia assumido contra os seguidores de Jesus. Sua mente estava profundamente agitada. Em sua perplexidade, consultou aqueles em cuja sabedoria e juízo tinha plena confiança. Os argumentos dos sacerdotes e príncipes convenceram-no, afinal, de que Estêvão fora um blasfemo, que o Cristo que o discípulo martirizado pregara fora um impostor e que tinham forçosamente de ter razão esses que ministravam no santo serviço. AA 62.2

Não foi sem um rigoroso exame que Saulo chegou a essa conclusão. Mas, afinal, sua educação, seus preconceitos, seu respeito para com os mestres antigos, e seu orgulho e popularidade deram-lhe força para rebelar-se contra a voz da consciência e a graça de Deus. E, resolvido plenamente a dar razão aos sacerdotes e escribas, Saulo fez acérrima oposição às doutrinas ensinadas pelos discípulos de Jesus. Sua atividade, fazendo com que homens santos e santas mulheres fossem arrastados perante os tribunais, onde alguns eram condenados à prisão, e outros à morte, unicamente por causa de sua fé em Jesus, trouxe tristezas e pesares à igreja recém organizada, e fez muitos buscarem segurança na fuga. AA 62.3

Os que foram expulsos de Jerusalém por essa perseguição “iam por toda a parte, anunciando a Palavra”. Atos 8:4. Entre as cidades para as quais foram, achava-se Damasco, onde a nova fé ganhou muitos conversos. AA 62.4

Os sacerdotes e príncipes tinham esperado que, por um esforço vigilante e severa perseguição, a heresia pudesse ser suprimida. Compreendiam agora que deveriam prosseguir em outros lugares com as medidas decisivas tomadas em Jerusalém contra o novo ensino. Para o trabalho especial que desejavam fosse feito em Damasco, Saulo ofereceu sua ajuda: “Respirando ainda ameaças, e mortes contra os discípulos do Senhor”, ele “dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém”. Atos 9:1, 2. Assim, “com poder e comissão dos principais dos sacerdotes” (Atos 26:12), Saulo de Tarso, e usando de toda a força e vigor, e ardendo em um zelo equivocado, pôs-se a caminho naquela memorável jornada, cujas estranhas ocorrências deveriam mudar todo o curso de sua vida. AA 63.1

No último dia da viagem, “ao meio-dia” (Atos 26:13), quando os cansados viajantes se aproximavam de Damasco, seus olhos contemplaram o cenário de amplas extensões de terras férteis, belos jardins e pomares frutíferos, banhados pelas refrigerantes correntes das montanhas ao redor. Depois da longa viagem por áreas desoladas, tais cenas eram na verdade aprazíveis. Enquanto Saulo e seus companheiros se deleitavam na contemplação da planície frutífera e da bela cidade abaixo, “subitamente” (Atos 9:3), como ele mais tarde declarou, “envolveu a mim e aos que iam comigo” “uma luz do céu, que excedia o esplendor do Sol” (Atos 26:13), por demais gloriosa para que os olhos mortais a suportassem. Cego e desorientado, Saulo caiu prostrado ao chão. AA 63.2

Enquanto a luz continuava a resplandecer em redor deles, Saulo ouviu “uma voz que... falava... em língua hebraica” (Atos 26:14), e “que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que Me persegues? E Ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”. Atos 9:4, 5. Cheios de temor e quase cegados pela intensidade da luz, os companheiros de Saulo ouviram a voz, mas a ninguém viram. Saulo, porém, compreendeu as palavras que foram faladas; e a ele claramente foi revelado Aquele que falou, a saber, o Filho de Deus. No Ser glorioso que estava diante dele, viu o Crucificado. Na mente do judeu surpreso, a imagem do rosto do Salvador ficou gravada para sempre. As palavras faladas lhe atingiram o coração com terrível força. Nos entenebrecidos recessos do espírito derramou-se-lhe uma inundação de luz, revelando a ignorância e o erro de sua vida anterior e sua presente necessidade de esclarecimento do Espírito Santo. AA 63.3

Saulo viu agora que, ao perseguir os seguidores de Jesus, em realidade tinha estado a fazer a obra de Satanás. Viu que suas convicções do direito e de seu próprio dever tinham estado grandemente baseadas em sua implícita confiança nos sacerdotes e príncipes. Tinha crido neles quando lhe afirmaram que a história da ressurreição de Cristo fora um artifício forjado pelos discípulos. Agora que o próprio Jesus Se lhe revelara, Saulo estava convencido da veracidade das reivindicações feitas pelos discípulos. AA 63.4

Naquela hora de iluminação celestial, o espírito de Saulo agiu com notável rapidez. Os registros proféticos das Escrituras Sagradas abriram-se-lhe à compreensão. Viu que a rejeição de Jesus pelos judeus, Sua crucifixão, ressurreição e ascensão, tinham sido preditas pelos profetas e demonstravam ser Ele o Messias prometido. O sermão de Estêvão, por ocasião de seu martírio, foi de maneira impressiva trazido à lembrança de Saulo, e ele compreendeu que o mártir sem dúvida contemplava “a glória de Deus”, quando disse: “Eis que vejo os Céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus”. Atos 7:55, 56. Os sacerdotes tinham declarado blasfemas essas palavras, mas Saulo agora sabia que elas eram verdade. AA 64.1

Em tudo isso, que revelação para o perseguidor! Saulo sabia, agora com certeza, que o prometido Messias viera à Terra na pessoa de Jesus de Nazaré, que fora rejeitado e crucificado por aqueles a quem viera salvar. Sabia também que o Salvador ressurgira triunfalmente do túmulo e ascendera ao Céu. Naquele momento de revelação divina, Saulo lembrou-se com terror de que Estêvão, que dera testemunho de um Salvador crucificado e ressuscitado, fora sacrificado com seu consentimento, e que, mais tarde, por seu intermédio, muitos outros dignos seguidores de Jesus haviam encontrado a morte pela perseguição cruel. AA 64.2

O Salvador falara a Saulo por intermédio de Estêvão, cujo claro raciocínio não pôde ser contraditado. O erudito judeu tinha visto a face do mártir refletindo a luz da glória de Cristo, sendo sua aparência “como o rosto de um anjo”. Atos 6:15. Testemunhara sua clemência pelos inimigos e o perdão que lhes concedera. Tinha testemunhado também a decidida e até alegre resignação de muitos de cujo tormento e aflição tinha sido causa. Tinha visto alguns deporem a própria vida com regozijo, por amor de sua fé. AA 64.3

Todas essas coisas tinham apelado altamente a Saulo, e, às vezes, se lhe alojara na mente uma quase avassaladora convicção de que Jesus era o prometido Messias. Nessas ocasiões, ele havia lutado noites inteiras contra essa convicção, e sempre terminara por manter a crença de que Jesus não era o Messias, e que Seus discípulos eram fanáticos iludidos. AA 64.4

Agora, Cristo falara a Saulo com Sua própria voz, dizendo: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” E a interrogação: “Quem és, Senhor?” foi respondida pela mesma voz: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Atos 9:4, 5. Cristo aqui Se identifica com Seu povo. Perseguindo os seguidores de Jesus, Saulo tinha batalhado diretamente contra o Senhor do Céu. Em os acusar falsamente, e falsamente testificar contra eles, havia acusado falsamente a Jesus e falsamente testificado contra o Salvador do mundo. AA 64.5

Nenhuma dúvida assaltou a mente de Saulo quanto a ser Aquele que lhe falara Jesus de Nazaré, o tão longamente esperado Messias, a consolação e redenção de Israel. “E ele, tremendo e atônito”, perguntou: “Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer”. Atos 9:6. AA 64.6

Quando se retirou a glória e Saulo se levantou do chão, achou-se completamente despojado da visão. O brilho da glória de Cristo fora por demais intenso para seus olhos mortais e, desaparecido esse brilho, a escuridão da noite invadiu-lhe a visão. Ele creu que essa cegueira era um castigo divino por sua cruel perseguição aos seguidores de Jesus. Em terríveis trevas tateava em torno, e seus companheiros, em temor e pasmo “guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco”. Atos 9:8. AA 65.1

Na manhã desse acidentado dia, Saulo tinha-se aproximado de Damasco com sentimentos de presunção por causa da confiança nele depositada pelos principais dos sacerdotes. Havia sido confiada a ele grande responsabilidade. Fora comissionado para promover os interesses da religião judaica, impedindo, se possível, a disseminação da nova fé em Damasco. Determinara que sua missão seria coroada de êxito e, com ávida antecipação, olhava as experiências que o aguardavam. AA 65.2

Quão diferente do que imaginara foi sua entrada na cidade! Ferido de cegueira, desorientado, torturado pelo remorso, não sabendo se outros juízos o aguardavam ainda, procurou ali a casa do discípulo Judas, onde, em solidão, teve ampla oportunidade para refletir e orar. AA 65.3

Saulo “esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu”. Atos 9:9. Esses dias de íntima agonia tiveram para ele a duração de anos. Vezes sem conta ele recordava, com o espírito angustiado, a parte que tinha desempenhado no martírio de Estêvão. Com horror, pensava em sua culpa por se haver deixado controlar pela maldade e preconceito dos sacerdotes e príncipes, mesmo quando a face de Estêvão fora iluminada pelas radiações do Céu. Com o espírito triste e quebrantado, reconsiderou as inúmeras vezes que tinha fechado os olhos e os ouvidos às mais tocantes evidências, e persistentemente incrementara a perseguição aos crentes em Jesus de Nazaré. AA 65.4

Esses dias de exame de consciência e humilhação do coração foram passados em reclusão íntima. Os crentes, tendo sido advertidos dos propósitos de Saulo em vir a Damasco, temiam estivesse ele fingindo, para mais facilmente iludi-los; e se mantinham arredios, recusando-lhe sua simpatia. Ele não desejava apelar aos judeus não convertidos, aqueles com quem planejara unir-se na perseguição aos crentes; pois sabia que nem sequer dariam ouvidos a sua história. Assim, parecia-lhe estar separado de toda a simpatia humana. Sua única esperança de ajuda estava no misericordioso Deus, e para Ele apelou com o coração quebrantado. AA 65.5

Durante as longas horas em que Saulo estivera fechado a sós com Deus, relembrou muitos textos das Escrituras referentes ao primeiro advento de Cristo. Com a memória aguçada pela convicção de que estava possuído, cuidadosamente seguiu o fio das profecias. Ao refletir no significado dessas profecias, ficou pasmado ante a cegueira de entendimento de que estivera possuído, bem como a dos judeus em geral, que os levara à rejeição de Jesus como o Messias prometido. A sua iluminada visão, tudo agora parecia claro. Sabia que seu anterior preconceito e incredulidade tinham-lhe obscurecido a percepção espiritual, impedindo-o de discernir em Jesus de Nazaré o Messias da profecia. AA 65.6

Ao render-se Saulo inteiramente ao convincente poder do Espírito Santo, viu os erros de sua vida e reconheceu a amplitude dos reclamos da lei de Deus. Aquele que fora um orgulhoso fariseu, confiante na justificação por suas boas obras, curvou-se, então, perante Deus com a humildade e simplicidade de uma criancinha, confessando sua indignidade e pleiteando os méritos de um Salvador crucificado e ressurgido. Saulo ansiava por entrar em inteira harmonia e comunhão com o Pai e o Filho; e na intensidade de seu desejo de perdão e aceitação, elevou ferventes súplicas ao trono da graça. AA 66.1

As orações do penitente fariseu não foram em vão. Os mais secretos pensamentos e emoções de seu coração foram transformados pela divina graça; e Suas nobres faculdades foram postas em harmonia com os eternos propósitos de Deus. Cristo e Sua justiça passaram a representar para Saulo mais que o mundo inteiro. AA 66.2

A conversão de Saulo é notável evidência do miraculoso poder do Espírito Santo para convencer os homens do pecado. Ele havia crido que, de fato, Jesus de Nazaré havia desconsiderado a lei de Deus, ensinando aos Seus discípulos ser a mesma de nenhum valor. Mas, depois de sua conversão, Saulo tinha reconhecido Jesus de Nazaré como Aquele que viera ao mundo com o propósito expresso de defender a lei de Seu Pai. Estava convencido de que Jesus fora o originador de todo o sistema judaico de sacrifícios. Viu que o tipo da crucificação tinha encontrado o antítipo; que Jesus havia cumprido as profecias do Antigo Testamento, concernentes ao Redentor de Israel. AA 66.3

No relato da conversão de Saulo, encontramos importantes princípios que devemos sempre ter em mente. Saulo foi levado diretamente à presença de Cristo. Foi uma pessoa designada por Cristo para uma importantíssima obra, alguém que seria “um vaso escolhido” (Atos 9:15), para Ele; no entanto, o Senhor não lhe disse imediatamente qual era a obra para ele designada. Embargou-lhe o caminho e convenceu-o do pecado; e quando Saulo perguntou: “Que queres que faça?” (Atos 9:6) o Salvador colocou o indagador judeu em contato com Sua igreja, para que obtivesse o conhecimento da vontade de Deus em relação a ele. AA 66.4

A maravilhosa luz que iluminara as trevas de Saulo era obra do Senhor; mas havia também um trabalho a ser feito em favor dele pelos discípulos. Cristo tinha realizado a obra de revelação e convicção. Agora, o penitente estava em condições de aprender daqueles a quem o Senhor tinha ordenado que ensinassem a Sua verdade. AA 66.5

Enquanto em recolhimento na casa de Judas, Saulo continuava em oração e súplica, o Senhor apareceu em visão a “certo discípulo” em Damasco, “chamado Ananias”, dizendo-lhe que Saulo de Tarso estava orando e necessitava de auxílio. “Levanta-te, e vai à rua chamada Direita,” disse o mensageiro celestial, “e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; e numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver”. Atos 9:10-12. AA 67.1

Ananias mal podia crer nas palavras do anjo; pois a notícia da tenaz perseguição aos santos em Jerusalém tinha-se espalhado amplamente. Atreveu-se a argumentar: “Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos Teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o Teu nome” Mas a ordem foi imperativa: “Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido, para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel”. Atos 9:13-15. AA 67.2

Obediente à orientação do anjo, Ananias saiu em busca do homem que ainda pouco antes havia respirado ameaças contra todos os que criam no nome de Jesus; e colocando as mãos sobre a cabeça do penitente sofredor, disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado”. Atos 9:17, 18. AA 67.3

Dessa maneira confirmou Jesus a autoridade de Sua igreja organizada, e pôs Saulo em contato com Seus instrumentos apontados na Terra. Cristo tinha, agora, uma igreja como Sua representante na Terra, e a ela pertencia a obra de dirigir os pecadores arrependidos no caminho da vida. AA 67.4

Muitos têm a idéia de que são responsáveis somente a Cristo pela luz e experiência que possuem, independentemente de Seus reconhecidos seguidores na Terra. Jesus é o Amigo dos pecadores, e Seu coração se confrange por seu infortúnio. Ele possui todo o poder, tanto no Céu como na Terra; mas respeita os meios por Ele ordenados para o esclarecimento e salvação das pessoas; dirige os pecadores para a igreja por Ele feita instrumento de luz para o mundo. AA 67.5

Quando, em meio ao seu erro e cego preconceito, Saulo recebeu uma revelação de Cristo, a quem estava perseguindo, foi ele colocado em comunicação direta com a igreja, a qual é a luz do mundo. Nesse caso, Ananias representava Cristo, como representa também os ministros de Cristo sobre a Terra, os quais são indicados para agir em Seu lugar. No lugar de Cristo, Ananias tocou os olhos de Saulo para que ele recobrasse a visão. Em lugar de Cristo, colocou suas mãos sobre ele, e enquanto orava em nome de Cristo, Saulo recebeu o Espírito Santo. Tudo foi feito no nome e pela autoridade de Cristo. Cristo é a fonte; a igreja, o canal de comunicação. AA 67.6

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