Um Povo Condenado


Dia 209 - Saturday, 27 de July de 2024
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23 min

Joel 1

Ouça o áudio do capítulo:

1 Palavra do SENHOR, que foi dirigida a Joel, filho de Petuel.

2 Ouvi isto, vós anciãos, e escutai, todos os moradores da terra: Porventura isto aconteceu em vossos dias, ou nos dias de vossos pais?

3 Fazei sobre isto uma narração a vossos filhos, e vossos filhos a seus filhos, e os filhos destes à outra geração.

4 O que ficou da lagarta, o gafanhoto o comeu, e o que ficou do gafanhoto, a locusta o comeu, e o que ficou da locusta, o pulgão o comeu.

5 Despertai-vos, bêbados, e chorai; gemei, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque tirado é da vossa boca.

6 Porque subiu contra a minha terra uma nação poderosa e sem número; os seus dentes são dentes de leão, e têm queixadas de um leão velho.

7 Fez da minha vide uma assolação, e tirou a casca da minha figueira; despiu-a toda, e a lançou por terra; os seus sarmentos se embranqueceram.

8 Lamenta como a virgem que está cingida de saco, pelo marido da sua mocidade.

9 Foi cortada a oferta de alimentos e a libação da casa do Senhor; os sacerdotes, ministros do Senhor, estão entristecidos.

10 O campo está assolado, e a terra triste; porque o trigo está destruído, o mosto se secou, o azeite acabou.

11 Envergonhai-vos, lavradores, gemei, vinhateiros, sobre o trigo e a cevada; porque a colheita do campo pereceu.

12 A vide se secou, a figueira se murchou, a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e já não há alegria entre os filhos dos homens.

13 Cingi-vos e lamentai-vos, sacerdotes; gemei, ministros do altar; entrai e passai a noite vestidos de saco, ministros do meu Deus; porque a oferta de alimentos, e a libação, foram cortadas da casa de vosso Deus.

14 Santificai um jejum, convocai uma assembléia solene, congregai os anciãos, e todos os moradores desta terra, na casa do Senhor vosso Deus, e clamai ao Senhor.

15 Ai do dia! Porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-Poderoso.

16 Porventura o mantimento não está cortado de diante de nossos olhos, a alegria e o regozijo da casa de nosso Deus?

17 As sementes apodreceram debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns derrubados, porque se secou o trigo.

18 Como geme o animal! As manadas de gados estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas estão perecendo.

19 A ti, ó Senhor, clamo, porque o fogo consumiu os pastos do deserto, e a chama abrasou todas as árvores do campo.

20 Também todos os animais do campo bramam a ti; porque as correntes de água se secaram, e o fogo consumiu os pastos do deserto.

Joel 2

Ouça o áudio do capítulo:

1 Tocai a trombeta em Sião, e clamai em alta voz no meu santo monte; tremam todos os moradores da terra, porque o dia do SENHOR vem, já está perto;

2 Dia de trevas e de escuridão; dia de nuvens e densas trevas, como a alva espalhada sobre os montes; povo grande e poderoso, qual nunca houve desde o tempo antigo, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração.

3 Diante dele um fogo consome, e atrás dele uma chama abrasa; a terra diante dele é como o jardim do Éden, mas atrás dele um desolado deserto; sim, nada lhe escapará.

4 A sua aparência é como a de cavalos; e como cavaleiros assim correm.

5 Como o estrondo de carros, irão saltando sobre os cumes dos montes, como o ruído da chama de fogo que consome a pragana, como um povo poderoso, posto em ordem para o combate.

6 Diante dele temerão os povos; todos os rostos se tornarão enegrecidos.

7 Como valentes correrão, como homens de guerra subirão os muros; e marchará cada um no seu caminho e não se desviará da sua fileira.

8 Ninguém apertará a seu irmão; marchará cada um pelo seu caminho; sobre a mesma espada se arremessarão, e não serão feridos.

9 Irão pela cidade, correrão pelos muros, subirão às casas, entrarão pelas janelas como o ladrão.

10 Diante dele tremerá a terra, abalar-se-ão os céus; o sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão o seu resplendor.

11 E o Senhor levantará a sua voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque poderoso é, executando a sua palavra; porque o dia do Senhor é grande e mui terrível, e quem o poderá suportar?

12 Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto.

13 E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.

14 Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de alimentos e libação para o Senhor vosso Deus?

15 Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene.

16 Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento.

17 Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem; por que diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?

18 Então o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, e compadeceu-se do seu povo.

19 E o Senhor, respondendo, disse ao seu povo: Eis que vos envio o trigo, e o mosto, e o azeite, e deles sereis fartos, e vos não entregarei mais ao opróbrio entre os gentios.

20 Mas removerei para longe de vós o exército do norte, e lançá-lo-ei em uma terra seca e deserta; a sua frente para o mar oriental, e a sua retaguarda para o mar ocidental; e subirá o seu mau cheiro, e subirá a sua podridão; porque fez grandes coisas.

21 Não temas, ó terra: regozija-te e alegra-te, porque o Senhor fez grandes coisas.

22 Não temais, animais do campo, porque os pastos do deserto reverdecerão, porque o arvoredo dará o seu fruto, a vide e a figueira darão a sua força.

23 E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva temporã; fará descer a chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia.

24 E as eiras se encherão de trigo, e os lagares trasbordarão de mosto e de azeite.

25 E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós.

26 E comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor vosso Deus, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca mais será envergonhado.

27 E vós sabereis que eu estou no meio de Israel, e que eu sou o Senhor vosso Deus, e que não há outro; e o meu povo nunca mais será envergonhado.

28 E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.

29 E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.

30 E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.

31 O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor.

32 E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar.

Joel 3

Ouça o áudio do capítulo:

1 Porque, eis que naqueles dias, e naquele tempo, em que removerei o cativeiro de Judá e de Jerusalém,

2 Congregarei todas as nações, e as farei descer ao vale de Jeosafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu povo, e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam entre as nações e repartiram a minha terra.

3 E lançaram sortes sobre o meu povo, e deram um menino por uma meretriz, e venderam uma menina por vinho, para beberem.

4 E também que tendes vós comigo, Tiro e Sidom, e todas as regiões da Filístia? É tal o pago que vós me dais? Pois se me pagais assim, bem depressa vos farei tornar a vossa paga sobre a vossa cabeça.

5 Visto como levastes a minha prata e o meu ouro, e as minhas coisas desejáveis e formosas pusestes nos vossos templos.

6 E vendestes os filhos de Judá e os filhos de Jerusalém aos filhos dos gregos, para os apartar para longe dos seus termos.

7 Eis que eu os suscitarei do lugar para onde os vendestes, e farei tornar a vossa paga sobre a vossa própria cabeça.

8 E venderei vossos filhos e vossas filhas na mão dos filhos de Judá, que os venderão aos sabeus, a um povo distante, porque o Senhor o disse.

9 Proclamai isto entre os gentios; preparai a guerra, suscitai os fortes; cheguem-se, subam todos os homens de guerra.

10 Forjai espadas das vossas enxadas, e lanças das vossas foices; diga o fraco: Eu sou forte.

11 Ajuntai-vos, e vinde, todos os gentios em redor, e congregai-vos. Ó Senhor, faze descer ali os teus fortes;

12 Suscitem-se os gentios, e subam ao vale de Jeosafá; pois ali me assentarei para julgar todos os gentios em redor.

13 Lançai a foice, porque já está madura a seara; vinde, descei, porque o lagar está cheio, e os vasos dos lagares transbordam, porque a sua malícia é grande.

14 Multidões, multidões no vale da decisão; porque o dia do Senhor está perto, no vale da decisão.

15 O sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão o seu resplendor.

16 E o Senhor bramará de Sião, e de Jerusalém fará ouvir a sua voz; e os céus e a terra tremerão, mas o Senhor será o refúgio do seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel.

17 E vós sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus, que habito em Sião, o meu santo monte; e Jerusalém será santa; estranhos não passarão mais por ela.

18 E há de ser que, naquele dia, os montes destilarão mosto, e os outeiros manarão leite, e todos os rios de Judá estarão cheios de águas; e sairá uma fonte, da casa do Senhor, e regará o vale de Sitim.

19 O Egito se fará uma desolação, e Edom se fará um deserto assolado, por causa da violência que fizeram aos filhos de Judá, em cuja terra derramaram sangue inocente.

20 Mas Judá será habitada para sempre, e Jerusalém de geração em geração.

21 E purificarei o sangue dos que eu não tinha purificado; porque o Senhor habitará em Sião.

O Desejado de Todas as Nações

Um Povo Condenado

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Marcos 11:11-14; Mateus 21:17-19.

A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém foi um imperfeito símbolo da Sua vinda nas nuvens do céu com poder e glória, por entre as aclamações dos anjos e o regozijo dos santos. Então, cumprir-se-ão as palavras de Cristo aos fariseus: “Desde agora Me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor”. Mateus 23:39. Em visão profética, foi mostrado a Zacarias aquele dia de triunfo final; e ele viu também a condenação dos que, no primeiro advento, rejeitaram a Cristo: “E olharão para Mim, a quem traspassaram; e O prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por Ele, como se chora amargamente pelo primogênito”. Zacarias 12:10. Esta cena anteviu Cristo quando contemplou a cidade e chorou sobre ela. Na ruína temporal de Jerusalém viu Ele a final destruição daquele povo que era culpado do sangue do Filho de Deus. DTN 406.1

Os discípulos notavam o ódio dos judeus para com Cristo, mas não viam ainda até aonde ele os levaria. Não compreendiam ainda a verdadeira condição de Israel, nem entendiam a retribuição que estava impendente sobre Jerusalém. Isto lhes revelou Cristo mediante significativa lição prática. DTN 406.2

O último apelo a Jerusalém fora em vão. Os sacerdotes e principais tinham ouvido a voz profética do passado ecoando através da multidão, em resposta à pergunta: “Quem é Este?” mas não a aceitaram como sendo a voz da inspiração. Irados, confundidos, procuraram fazer silenciar o povo. Havia oficiais romanos entre a turba, e os inimigos de Jesus O denunciaram aos mesmos como chefe de uma rebelião. Apresentaram-nO como estando para Se apoderar do templo, e dominar como rei de Jerusalém. DTN 406.3

Mas a voz calma de Jesus fez por momentos silenciar a multidão clamorosa, enquanto declarava não ter vindo estabelecer um reino temporal; havia de subir em breve a Seu Pai, e Seus acusadores não mais O veriam, até que volvesse em glória. Então, demasiado tarde para sua salvação, O reconheceriam. Estas palavras, proferiu-as Jesus com tristeza e vigor singulares. Os funcionários romanos foram reduzidos ao silêncio. Ainda que estranhos à divina influência, comoveu-se-lhes o coração como nunca antes. No calmo e solene rosto de Jesus, leram amor, benevolência e serena dignidade. Foram possuídos de uma simpatia que não podiam compreender. Ao invés de prender a Jesus, sentiram-se mais inclinados a render-Lhe homenagem. Voltando-se para os sacerdotes e principais, acusaram-nos de criar o distúrbio. Esses chefes, envergonhados e derrotados, viraram-se para o povo com suas queixas e questionaram, zangados, uns com os outros. DTN 406.4

Entretanto, passou Jesus despercebidamente para o templo. Tudo ali estava tranqüilo, pois a cena sobre o Olivete para lá atraíra o povo. Por breve espaço demorou-Se Jesus no templo, olhando-o dolorosamente. Depois, retirou-Se com os discípulos e voltou para Betânia. Quando o povo O procurou para colocá-Lo no trono, não O pôde achar. DTN 407.1

Toda a noite passou Jesus em oração, e pela manhã, tornou a ir ao templo. No caminho encontrou um figueiral. Tinha fome, “e vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos”. Marcos 11:13. DTN 407.2

Não era estação de figos maduros, senão em certas localidades; e nas montanhas das cercanias de Jerusalém podia-se na verdade dizer: “Não era tempo de figos”. Marcos 11:13. No pomar a que Jesus chegou, porém, uma árvore parecia adiantada a todas as demais. Estava já coberta de folhas. A natureza da figueira é que, antes de se abrirem as folhas, apareça o fruto. Portanto, essa árvore cheia de folhagem era uma promessa de bem desenvolvidos frutos. Sua aparência, porém, era enganosa. Depois de procurar entre os ramos, dos mais baixos aos mais altos, Jesus “não achou senão folhas”. Era uma massa de pretensiosa folhagem, nada mais. DTN 407.3

Cristo proferiu contra ela uma maldição, para que secasse. “Nunca mais coma alguém fruto de ti”, disse Ele. Na manhã seguinte, quando Ele e os discípulos se achavam outra vez a caminho para a cidade, os ressequidos ramos e as folhas caídas atraíram-lhes a atenção. “Mestre”, disse Pedro, “eis que a figueira que Tu amaldiçoaste, se secou”. Marcos 11:21. DTN 407.4

O ato de Cristo em amaldiçoar a figueira, surpreendera os discípulos. Parecia-lhes diverso de Suas maneiras e obras. Muitas vezes O tinham ouvido dizer que viera, não para condenar o mundo, mas para que por meio dEle o mundo se pudesse salvar. Lembravam-se de Suas palavras: “O Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. Lucas 9:56. Suas maravilhosas obras foram realizadas para restaurar, nunca para destruir. Os discípulos O haviam conhecido unicamente como o Restaurador, o Médico. Esse ato era único. Qual seria seu desígnio? indagaram. DTN 407.5

Deus “tem prazer na benignidade”. Miquéias 7:18. “Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tomo prazer na morte do ímpio”. Ezequiel 33:11. Para Ele a obra de destruição e acusação é uma “estranha obra” (Isaías 28:21), Trad. Figueiredo. Mas é em misericórdia e amor que ergue o véu do futuro, e revela aos homens os resultados de um caminho de pecado. DTN 407.6

A maldição da figueira foi uma parábola viva. Aquela árvore estéril, ostentando sua pretensiosa folhagem ao próprio rosto de Cristo, era um símbolo da nação judaica. O Salvador desejava tornar claras aos Seus discípulos a causa e a certeza da condenação de Israel. Para esse fim como que investiu a árvore de qualidades morais, e tornou-a expositora da verdade divina. Os judeus distinguiam-se de todas as outras nações, professando fidelidade para com Deus. Haviam sido especialmente favorecidos por Ele, e pretendiam ser mais justos que todos os outros povos. Mas estavam corrompidos pelo amor do mundo e a avareza. Jactanciavam-se de seu conhecimento, mas eram ignorantes das reivindicações divinas, e cheios de hipocrisia. Como a árvore estéril, estendiam os pretensiosos ramos para o alto, luxuriantes na aparência, belos à vista, mas não dando “senão folhas”. A religião judaica, com o magnificente templo, os altares sagrados, os sacerdotes mitrados e cerimônias impressionantes, era na verdade bela na aparência exterior; faltavam-lhe, porém, humildade, amor e beneficência. DTN 407.7

Todas as árvores do figueiral se achavam destituídas de fruto; as que não ostentavam folhas, no entanto, não suscitavam esperanças, não causando assim decepção. Essas árvores representavam os gentios. Eram tão destituídos de piedade como os judeus; mas não tinham professado servir a Deus. Não mostravam vangloriosas pretensões de bondade. Eram cegos às obras e caminhos divinos. Para eles não chegara ainda o tempo dos figos. Esperavam um dia que lhes trouxesse luz e esperança. Os judeus, que haviam recebido maiores bênçãos de Deus, eram responsáveis por seus abusos dos mesmos dons. Os privilégios de que se jactanciavam, só lhes acrescentavam a culpa. DTN 408.1

Jesus Se aproximara da figueira com fome, em busca de alimento. Assim chegou Ele a Israel, ansioso de neles encontrar os frutos da justiça. Prodigalizara-lhes Seus dons, a fim de que dessem frutos para benefício do mundo. Toda oportunidade, todo privilégio lhes fora assegurado, e em troca buscara a simpatia e a cooperação deles em Sua obra de graça. Anelava achar neles espírito de sacrifício e compaixão, zelo de Deus e profunda ansiedade de alma pela salvação de seus semelhantes. Houvessem eles guardado a lei divina, e teriam realizado a mesma obra abnegada feita por Cristo. Mas o amor para com Deus e os homens foi eclipsado pelo orgulho e a presunção. Trouxeram ruína sobre si mesmos, por se recusarem a servir aos outros. Os tesouros da verdade que lhes foram confiados, não os deram eles ao mundo. Na figueira estéril poderiam ler tanto o seu pecado como o seu castigo. Seca à maldição do Salvador, apresentando-se queimada, ressequida desde as raízes, a figueira mostrava o que seria o povo de Israel quando dele fosse retirada a graça divina. Recusando-se a comunicar bênção, não mais a receberiam. “A tua perdição, ó Israel”, diz o Senhor, “toda vem de ti”. Oséias 13:9. DTN 408.2

A advertência é para todos os tempos. O ato de Cristo em amaldiçoar a árvore que Seu próprio poder criara, fica como aviso para todas as igrejas e todos os cristãos. Ninguém pode viver a lei divina sem servir aos outros. Mas há muitos que não vivem segundo a misericordiosa, abnegada vida de Cristo. Alguns que se julgam excelentes cristãos não compreendem o que significa o serviço para Deus. Seus planos e cogitações têm por fim agradar a si mesmos. Agem sempre com referência a si próprios. O tempo só é de valor para eles quando podem ajuntar para si mesmos. Em todos os negócios da vida, é esse o seu objetivo. Trabalham não para os outros, mas para si mesmos. Deus os criou para viverem num mundo onde deve ser executado serviço altruísta. Era Seu desígnio que ajudassem a seus semelhantes por todos os modos possíveis. Mas é tão grande o eu que não podem ver nenhuma outra coisa. Não se põem em contato com a humanidade. Os que assim vivem para si, são como a figueira, toda presunção, mas sem frutos. Observam as formas de culto, mas sem arrependimento nem fé. Em profissão, honram a lei divina, mas faltam na obediência. Dizem, mas não fazem. Na sentença proferida contra a figueira, demonstra Cristo quão aborrecível é a Seus olhos essa vã pretensão. Diz Ele que o pecador declarado é menos culpado do que o que professa servir a Deus, mas não produz fruto para Sua glória. DTN 408.3

A parábola da figueira, dita antes da visita de Cristo a Jerusalém, ligava-se diretamente à lição por Ele ensinada no amaldiçoar a árvore sem fruto. O jardineiro intercedeu pela árvore estéril da parábola: “Deixa-a este ano, até que eu a escave e esterque; e, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar.” Maior cuidado seria concedido à árvore estéril. Teria todas as vantagens. Mas se permanecesse infrutífera, coisa alguma a salvaria da destruição. Na parábola não foi predito o resultado da obra do jardineiro. Dependia do povo a quem eram dirigidas as palavras de Cristo. Os judeus eram representados pela árvore estéril, e com eles ficava a decisão de seu destino eterno. Foram-lhes concedidas as vantagens que o Céu lhes podia dar, mas não aproveitaram as crescentes bênçãos. Pelo ato de Cristo em amaldiçoar a figueira estéril, mostrou-se o resultado. Determinaram eles sua própria destruição. DTN 409.1

Por mais de um milênio abusara a nação judaica da misericórdia de Deus e atraíra Seus juízos. Rejeitaram-Lhe as advertências e mataram-Lhe os profetas. Por esses pecados tornou-se responsável o povo do tempo de Cristo, seguindo o mesmo caminho. Na rejeição de suas presentes misericórdias e advertências, residia a culpa daquela geração. Com as cadeias que a nação estivera por séculos a forjar, o povo do tempo de Cristo prendera a si mesmo. DTN 409.2

Em todos os séculos se concede aos homens seu período de luz e privilégios, um tempo de prova, em que se podem reconciliar com Deus. Há, porém, um limite a essa graça. A misericórdia pode interceder por anos e ser negligenciada e rejeitada; vem, porém, o tempo em que essa misericórdia faz sua última súplica. O coração torna-se tão endurecido que cessa de atender ao Espírito Santo de Deus. Então a suave, atraente voz não mais suplica ao pecador, e cessam as reprovações e advertências. DTN 409.3

Chegara aquele dia para Jerusalém. Jesus chorou em agonia sobre a condenada cidade, mas não a podia livrar. Esgotaria todos os recursos. Rejeitando o Espírito de Deus, Israel rejeitara o único meio de auxílio. Nenhum outro poder havia pelo qual pudesse ser libertado. DTN 410.1

A nação judaica era um símbolo do povo de todos os séculos, que desdenha os rogos do Infinito Amor. As lágrimas de Cristo, ao chorar sobre Jerusalém, foram derramadas pelos pecados de todos os tempos. Nos juízos proferidos contra Israel, os que rejeitam as reprovações e advertências do Santo Espírito de Deus podem ler sua própria condenação. DTN 410.2

Há nesta geração muitos que estão trilhando o mesmo caminho dos incrédulos judeus. Testemunharam as manifestações do poder de Deus; o Espírito Santo lhes falou ao coração; apegam-se, porém, a sua incredulidade e resistência. Deus lhes envia advertências e repreensões, mas não querem confessar seus erros, e rejeitam-Lhe a mensagem e o mensageiro. Os próprios meios que Ele emprega para sua restauração, tornam-se para eles em pedra de tropeço. DTN 410.3

Os profetas de Deus eram aborrecidos pelo apóstata Israel, porque por intermédio deles se revelavam seus pecados ocultos. Acabe considerava Elias inimigo, porque o profeta era fiel em repreender as secretas iniqüidades do rei. Assim hoje o servo de Cristo, o reprovador do pecado, encontra desdém e repulsas. A verdade bíblica, a religião de Cristo, luta contra uma forte corrente de impureza moral. O preconceito é mesmo mais forte no coração dos homens agora do que nos dias de Jesus. Ele, Cristo, não realizou as expectações dos homens; sua vida foi uma repreensão aos pecados deles, e O rejeitaram. Assim hoje a verdade da Palavra de Deus não se harmoniza com as práticas dos homens, com sua inclinação natural, e milhares lhe rejeitam a luz. Os homens, instigados por Satanás, lançam dúvidas sobre a Palavra de Deus e procuram exercer seu independente juízo. Preferem as trevas à luz, mas fazem-no com perigo para a própria alma. Os que sofismavam às palavras de Cristo, encontravam cada vez mais motivo para sofismar, até que se desviaram da Verdade e da Vida. Assim é agora. Deus não Se propõe a remover toda objeção que o coração carnal possa trazer contra Sua verdade. Aos que recusam os preciosos raios da luz que haviam de iluminar as trevas, os mistérios da Palavra de Deus permanecerão para sempre mistérios. Deles é oculta a verdade. Caminham cegamente, e ignoram a ruína que se acha perante eles. DTN 410.4

Do alto do Olivete, Cristo contemplou o mundo em todos os séculos, e Suas palavras são aplicáveis a toda a alma que desdenha as súplicas da divina misericórdia. Desdenhador de Seu amor, Ele hoje Se dirige a ti. És tu, tu mesmo que deves conhecer as coisas que pertencem à tua paz. Cristo está vertendo amargas lágrimas por ti, que não tens lágrimas para verter por ti mesmo. Já se manifesta em ti aquela fatal dureza de coração que destruiu os fariseus. E toda prova da graça divina, todo raio de divina luz, ou está abrandando e subjugando a alma, ou confirmando-a em sua desesperada impenitência. DTN 410.5

Cristo previu que Jerusalém permaneceria endurecida e impenitente; entretanto, toda a culpa, todas as conseqüências da rejeitada misericórdia, jaziam-lhe à própria porta. Assim se dará com toda alma que segue a mesma orientação. O Senhor declara: “A tua perdição, ó Israel, toda vem de ti”. Oséias 13:9. “Ouve tu, ó Terra! Eis que Eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seus pensamentos; porque não estão atentos às Minhas palavras, e rejeitam a Minha lei”. Jeremias 6:10. DTN 411.1

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