O Sermão da Montanha


Dia 176 - Monday, 24 de June de 2024
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Mateus 5

Ouça o áudio do capítulo:

1 E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;

2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.

12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

13 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.

14 Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;

15 Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.

16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

17 Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.

18 Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.

19 Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.

20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.

21 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.

22 Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.

23 Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,

24 Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.

25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.

26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

27 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.

28 Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.

29 Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

30 E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.

31 Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.

32 Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.

33 Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor.

34 Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus;

35 Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei;

36 Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.

37 Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.

38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.

39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

40 E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;

41 E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.

42 Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.

44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;

45 Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.

46 Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

47 E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

48 Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

Mateus 6

Ouça o áudio do capítulo:

1 Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

3 Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;

4 Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.

5 E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

6 Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.

8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.

9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

10 Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;

11 O pão nosso de cada dia nos dá hoje;

12 E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;

13 E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós;

15 Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.

16 E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

17 Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,

18 Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

19 Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;

20 Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.

21 Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

22 A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz;

23 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!

24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

25 Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?

26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

27 E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?

28 E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;

29 E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.

30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?

31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?

32 Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;

33 Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

34 Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

Mateus 7

Ouça o áudio do capítulo:

1 Não julgueis, para que não sejais julgados.

2 Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.

3 E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?

4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?

5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.

6 Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.

7 Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.

8 Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.

9 E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?

10 E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?

11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?

12 Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.

13 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;

14 E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.

15 Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.

16 Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?

17 Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.

18 Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.

19 Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.

20 Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.

21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.

22 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?

23 E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.

24 Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;

25 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.

26 E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;

27 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.

28 E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;

29 Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.

O Desejado de Todas as Nações

O Sermão da Montanha

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Mateus 5-7.

Raramente reunia Cristo os discípulos a sós com Ele, para Lhe receberem a palavra. Não escolhia para auditório apenas os que conheciam o caminho da vida. Era Sua obra pôr-Se em contato com as multidões que se achavam em ignorância e erro. Dava as lições da verdade segundo estas podiam atingir os obscurecidos entendimentos. Ele próprio era a Verdade, lombos cingidos e mãos sempre estendidas para abençoar, buscando, com palavras de advertência, súplica e animação, erguer a todos quantos iam ter com Ele. DTN 204.1

O sermão da montanha, conquanto dirigido especialmente para os discípulos, foi proferido aos ouvidos da multidão. Após a ordenação dos apóstolos, Jesus foi com eles para a praia do mar. Ali, de manhã cedo, começara o povo a se reunir. Além das costumadas multidões das cidades da Galiléia, havia gente da Judéia e da própria Jerusalém; da Peréia, de Decápolis, da Iduméia, para o sul da Judéia; e de Tiro, e Sidom, as cidades fenícias da costa do Mediterrâneo. “Ouvindo quão grandes coisas fazia” (Marcos 3:8), “tinham vindo para O ouvir, e serem curados das suas enfermidades. [...] Porque saía dEle virtude, e curava a todos”. Lucas 6:17-19. DTN 204.2

A estreita praia não oferecia espaço ao alcance de Sua voz para todos quantos O desejavam ouvir, e Jesus os conduziu de volta à encosta da montanha. Chegando a um espaço plano, que proporcionava aprazível lugar de reunião para vasto auditório, sentou-Se Ele próprio na relva, e os discípulos e a multidão seguiram-Lhe o exemplo. DTN 204.3

O lugar dos discípulos era sempre próximo a Jesus. O povo comprimia-se constantemente em torno dEle, mas os discípulos entendiam que seu lugar junto do Mestre não devia ser tomado pela multidão. Sentaram-se-Lhe bem próximo, de modo a não perder nenhuma palavra de Suas instruções. Eram ouvintes atentos, ansiosos por compreender as verdades que teriam de dar a conhecer em todas as terras em todos os séculos. DTN 204.4

Com a impressão de que podiam esperar qualquer coisa acima do comum, apertaram-se todos em volta do Mestre. Acreditavam que o reino seria em breve estabelecido, e em vista dos acontecimentos daquela manhã, convenceram-se de que seria feita alguma declaração a esse respeito. Também a multidão estava em atitude de expectativa, e a ansiedade das fisionomias atestava o profundo interesse. Ao sentar-se o povo na verdejante encosta, aguardando as palavras do divino Mestre, tinham o coração cheio de pensamentos quanto à glória futura. Havia escribas e fariseus que esperavam o dia em que lhes seria dado domínio sobre os odiados romanos, e possuíssem as riquezas do grande império do mundo. Os pobres camponeses e pescadores esperavam ouvir a certeza de que suas míseras choças, o escasso alimento, a vida de árduo labutar e o temor da necessidade, deviam ser trocados por mansões onde reinassem abundância e dias de sossego. Em lugar da ordinária vestimenta que os abrigava de dia, e do cobertor que os agasalhava à noite, esperavam, Cristo lhes daria os ricos e custosos trajes de seus conquistadores. Todos os corações fremiam à orgulhosa esperança de que Israel seria em breve honrado ante as nações como os escolhidos do Senhor, e Jerusalém exaltada como a sede do reino universal. DTN 204.5

Cristo decepcionou essa esperança de mundana grandeza. No sermão do monte, procurou desfazer a obra da falsa educação, dando a Seus ouvintes conceito exato de Seu reino, bem como de Seu próprio caráter. Não atacou, todavia, diretamente os erros do povo. Via as misérias do mundo em razão do pecado, mas não lhes apresentou um quadro vivo de sua desgraça. Ensinou-lhes alguma coisa infinitamente melhor do que haviam conhecido. Sem lhes combater as idéias acerca do reino de Deus, disse-lhes as condições de entrada ali, deixando-os tirar suas próprias conclusões quanto à natureza do mesmo. As verdades que ensinou não são menos importantes para nós que para a multidão que O seguia. Não menos do que eles necessitamos nós de aprender os princípios fundamentais do reino de Deus. DTN 205.1

As primeiras palavras de Cristo ao povo, no monte, foram de bênção. Bem-aventurados, disse, são os que reconhecem sua pobreza espiritual, e sentem sua necessidade de redenção. O evangelho deve ser pregado ao pobre. Não ao espiritualmente orgulhoso, o que pretende ser rico e de nada necessitar, é ele revelado, mas aos humildes e contritos. Uma única fonte fora aberta para o pecado, uma fonte para os pobres de espírito. DTN 205.2

O coração orgulhoso esforça-se por alcançar a salvação; mas tanto o nosso título ao Céu, como nossa adequação para ele, encontram-se na justiça de Cristo. O Senhor nada pode fazer para a restauração do homem enquanto ele, convicto de sua própria fraqueza e despido de toda presunção, não se entrega à guia divina. Pode então receber o dom que Deus está à espera de conceder. Coisa alguma é recusada à alma que sente a própria necessidade. Ela tem ilimitado acesso Àquele em quem habita a plenitude. “Porque assim diz o Alto e Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”. Isaías 57:15. DTN 205.3

“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” Por essas palavras Cristo não ensina que o chorar em si mesmo tenha poder para remover a culpa do pecado. Não sanciona a suposta ou voluntária humildade. O choro a que Se refere, não consiste em melancolia e lamentação. Ao passo que nos afligimos por causa do pecado, cumpre-nos regozijar-nos no precioso privilégio de ser filhos de Deus. DTN 205.4

Entristecemo-nos muitas vezes, porque nossas más ações nos trazem desagradáveis conseqüências; mas isso não é arrependimento. A verdadeira tristeza pelo pecado é o resultado da operação do Espírito Santo. Este revela a ingratidão da pessoa que menosprezou e ofendeu o Salvador, levando-nos contritos ao pé da cruz. Por todo pecado é Jesus novamente ferido (Hebreus 6:6); e ao olharmos Àquele a quem traspassamos, choramos as transgressões que Lhe trouxeram angústia. Tal pranto levará à renúncia do pecado. DTN 206.1

Os mundanos talvez considerem esse choro uma fraqueza; mas é a força que liga o penitente ao Infinito com laços que se não podem romper. Mostra que os anjos de Deus estão outra vez trazendo à pessoa as graças perdidas mediante a dureza de coração e as transgressões. As lágrimas do penitente não são senão as gotas de chuva que precedem o sol da santidade. Esse sol prenuncia o regozijo que será uma viva fonte no coração. “Somente reconhece a tua iniqüidade: que contra o Senhor teu Deus transgrediste”; “e não farei cair a Minha ira sobre vós; porque benigno sou, diz o Senhor”. Jeremias 3:13, 12. “Acerca dos tristes de Sião” determinou Ele dar-lhes “ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito quebrantado”. Isaías 61:3. DTN 206.2

E também para os que choram em provação e dor, existe conforto. A amargura do desgosto e da humilhação é preferível às satisfações do pecado. Por meio da aflição revela-nos Deus os lugares infeccionados em nosso caráter, para que, por Sua graça, possamos vencer nossas faltas. Desconhecidos capítulos que nos dizem respeito são-nos patenteados, e sobrevém a prova, a ver se aceitamos a repreensão e o conselho de Deus. Quando provados, não nos devemos afligir e impacientar. Não nos devemos rebelar, ou buscar fugir à mão de Cristo. O correto é humilhar o coração perante Deus. Os caminhos do Senhor são obscuros ao que procura ver as coisas sob um aspecto agradável para si mesmo. Afiguram-se sombrios e destituídos de alegria à nossa natureza humana. Mas os caminhos do Senhor são de misericórdia, e o fim é salvação. Elias não sabia o que estava fazendo quando disse, no deserto que bastava de viver, e orou pedindo a morte. O Senhor, em Sua misericórdia, não lhe pegou na palavra. Havia ainda uma grande obra a ser realizada por Elias; e, concluída essa obra, não devia ele perecer desanimado e só no deserto. Tampouco lhe caberia descer ao pó da morte, mas à ascensão gloriosa, com o cortejo dos carros celestiais, para o trono do alto. DTN 206.3

Eis a palavra de Deus para os aflitos: “Eu vejo os seus caminhos, e os sararei; também os guiarei, e lhes tornarei a dar consolações, e aos seus pranteadores”. Isaías 57:18. “E tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e transformarei em regozijo a sua tristeza”. Jeremias 31:13. DTN 206.4

“Bem-aventurados os mansos”. Mateus 5:5. As dificuldades que temos de enfrentar podem ser muito diminuídas por aquela mansidão que se esconde em Cristo. Se possuirmos a humildade de nosso Mestre, sobrepor-nos-emos aos menosprezos, às repulsas, aos aborrecimentos a que estamos diariamente expostos, e estes deixarão de nos lançar sombra sobre o espírito. A mais elevada prova de nobreza num cristão é o domínio de si mesmo. Aquele que, em face de maus-tratos ou de crueldade, deixa de manter espírito calmo e confiante, rouba a Deus de Seu direito de nele revelar Sua própria perfeição de caráter. Humildade de coração é a força que dá vitória aos seguidores de Cristo; é o penhor de sua ligação com as cortes do alto. DTN 207.1

“Ainda que o Senhor é excelso, atenta para o humilde”. Salmos 138:6. Os que manifestam o manso e humilde espírito de Cristo são ternamente considerados por Deus. Podem ser olhados com desdém pelo mundo, mas são de grande valor aos Seus olhos. Não somente os sábios, os grandes, e caritativos, obterão passaporte para as cortes celestes; não somente o atarefado obreiro, cheio de zelo e atividade. Não; o pobre de espírito, que ambiciona a presença permanente de Cristo, o humilde de coração, cujo mais alto anelo é fazer a vontade de Deus — estes receberão uma entrada abundante. Achar-se-ão entre os que lavaram suas vestiduras e as branquearam no sangue do Cordeiro. “Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra”. Apocalipse 7:15. DTN 207.2

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Mateus 5:6. O sentimento da própria indignidade levará o coração a ter fome e sede de justiça, e esse desejo não será decepcionado. Os que dão lugar a Jesus no coração, compreender-Lhe-ão o amor. Todos quantos anseiam ter semelhança de caráter com Deus, serão satisfeitos. O Espírito Santo nunca deixa sem assistência a alma que está olhando a Cristo. Ele toma do que é de Cristo, e mostra-lho. Se o olhar se mantiver fixo em Jesus, a obra do Espírito não cessa, até que a alma esteja conforme a Sua imagem. O puro elemento do amor dará expansão à alma, comunicando-lhe capacidade para altas consecuções, para maior conhecimento das coisas celestes, de maneira que ela não fique aquém da plenitude. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” DTN 207.3

O misericordioso encontrará misericórdia, e o puro de coração verá a Deus. Todo pensamento impuro contamina a alma, enfraquece o senso moral, e tende a apagar as impressões do Espírito Santo. Diminui a visão espiritual, de modo que os homens não podem ver a Deus. O Senhor pode perdoar o arrependido pecador, e perdoa; embora perdoada, porém, a alma fica prejudicada. Toda impureza de linguagem ou de pensamento deve ser evitada por aquele que quer possuir clara percepção da verdade espiritual. DTN 207.4

As palavras de Cristo, todavia, abrangem mais que a isenção da impureza sensual, mais que a ausência daquela contaminação cerimonial que os judeus tão rigorosamente evitavam. O egoísmo nos impede de ver a Deus. O espírito interesseiro julga a Deus igual a si mesmo. Até que tenhamos renunciado a isso, não podemos compreender Aquele que é amor. Unicamente o coração abnegado, o humilde e fiel de espírito, verá a Deus como “misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade”. Êxodo 34:6. DTN 208.1

“Bem-aventurados os pacificadores.” A paz de Cristo provém da verdade. É harmonia com Deus. O mundo está em inimizade com a lei de Deus; os pecadores acham-se em inimizade com seu Criador; e, em resultado, em inimizade uns com os outros. Mas o salmista declara: “Muita paz têm os que amam a Tua lei, e para eles não há tropeço”. Salmos 119:65. Os homens não podem fabricar a paz. Os projetos humanos para purificação e reerguimento dos indivíduos ou da sociedade, deixarão de produzir a paz, visto como não atingem o coração. O único poder capaz de criar ou perpetuar a verdadeira paz, é a graça de Cristo. Quando esta é implantada no coração, expele as más paixões que causam luta e dissensão. “Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta” (Isaías 55:13); e a vida deserta “exultará e florescerá como a rosa”. Isaías 35:1. DTN 208.2

As multidões surpreendiam-se ante esses ensinos, tão diversos dos preceitos e exemplos dos fariseus. O povo chegara a pensar que a felicidade consistia na posse das coisas deste mundo, e que a fama e honra dos homens eram muito de se cobiçar. Era muito grato alguém ser chamado “Rabi”, e ser exaltado como sábio e religioso, vendo suas virtudes exibidas perante o público. Isso devia ser considerado a suprema felicidade. Mas, perante aquela numerosa multidão, Jesus declarou que o lucro terrestre era toda a recompensa que essas pessoas haviam de obter. Falava com segurança, e um convincente poder apoiava-Lhe as palavras. O povo emudeceu, sendo tomado de um sentimento de temor. Olhavam-se uns aos outros, duvidosos. Quem dentre eles se salvaria, fossem verdadeiros os ensinos desse homem? Muitos estavam convencidos de que esse notável Mestre era movido pelo Espírito de Deus, e divinos eram os sentimentos por Ele manifestados. DTN 208.3

Depois de explicar em que consistia a verdadeira felicidade, e como pode ser obtida, Jesus indicou mais definidamente os deveres de Seus discípulos, como mestres escolhidos por Deus para levar outros ao caminho da justiça e da vida eterna. Sabia que haveriam de ser muitas vezes decepcionados e sofrer desânimos, que enfrentariam decidida oposição, seriam insultados e rejeitado o seu testemunho. Bem sabia Ele que, no cumprimento de sua missão, os humildes homens que tão atentos Lhe escutavam as palavras haviam de sofrer calúnias, torturas, prisões e morte, e continuou: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”. Mateus 5:10-12. DTN 208.4

O mundo ama o pecado, e aborrece a justiça, e foi essa a causa de sua hostilidade para com Jesus. Todos quantos recusam Seu infinito amor, acharão o cristianismo um elemento perturbador. A luz de Cristo afasta as trevas que lhes cobrem os pecados, patenteando-se a necessidade de reforma. Ao passo que os que se submetem à influência do Espírito Santo começam a lutar consigo mesmos, os que se apegam ao pecado combatem contra a verdade e seus representantes. DTN 209.1

Assim se cria o conflito, e os seguidores de Cristo são acusados de perturbadores do povo. Mas é a união com Deus que lhes atrai a inimizade do mundo. Levam a injúria de Cristo. Estão palmilhando a senda trilhada pelos mais nobres da Terra. Não com pesar, mas com regozijo, devem enfrentar as perseguições. Cada ardente prova é um instrumento de Deus para sua purificação. Cada uma delas os está preparando para sua obra de colaboradores Seus. Cada conflito tem seu lugar na grande batalha em busca da justiça, e ajuntará uma alegria ao seu final triunfo. Tendo isso em vista, a prova de sua fé e paciência será de bom grado aceita, em vez de temida e evitada. Ansiosos por cumprir sua obrigação para com o mundo, fixando seu desejo na aprovação de Deus, Seus servos têm de cumprir cada dever, a despeito do temor dos homens ou de seu favor. DTN 209.2

“Vós sois o sal da terra” (Mateus 5:13), disse Jesus. Não vos aparteis do mundo, a fim de escapar à perseguição. Deveis permanecer entre os homens, para que o sabor do amor divino seja como sal a preservar o mundo da corrupção. DTN 209.3

Corações que correspondem à influência do Espírito Santo, são condutos por onde fluem as bênçãos divinas. Fossem os servos de Deus tirados da Terra, e Seu Espírito retirado dentre os homens, este mundo seria entregue à desolação e destruição, o fruto do domínio de Satanás. Conquanto os ímpios não o saibam, devem até mesmo as bênçãos desta vida, à presença do povo de Deus no mundo, esse povo que desprezam e oprimem. Mas se os cristãos o são apenas de nome, são como o sal que perdeu o sabor. Não exercem nenhuma influência para bem no mundo. São, pela falsa representação de Deus, piores que os incrédulos. DTN 209.4

“Vós sois a luz do mundo”. Mateus 5:14. Os judeus pensavam limitar os benefícios da salvação a seu próprio povo; mas Jesus mostrou-lhes que a salvação é como a luz do Sol. Pertence ao mundo. A religião da Bíblia não deve ser confinada dentro da capa de um livro, ou entre as paredes de uma igreja, nem ser manifestada acidentalmente, para nosso proveito, sendo então posta de novo à margem. Cumpre santificar a vida diária, manifestar-se em toda transação de negócio, e em todas a relações sociais. DTN 209.5

O verdadeiro caráter não se molda exteriormente; irradia do interior. Se desejamos dirigir outros na vereda da justiça, os princípios da eqüidade devem ser entronizados na própria alma. Nossa profissão de fé pode proclamar a teoria da religião, mas é a piedade que revela a palavra da verdade. A vida coerente, a santa conversação, a inabalável integridade, o espírito ativo e beneficente, o piedoso exemplo — eis os condutos pelos quais a luz é comunicada ao mundo. DTN 210.1

Jesus não demorara nas especificações da lei, mas não permitiu que Seus ouvintes concluíssem que viera pôr de parte suas reivindicações. Sabia que havia espiões prontos a pegarem toda palavra susceptível de ser torcida para servir ao próprio desígnio. Sabia dos preconceitos que existiam no espírito de muitos de Seus ouvintes, e não disse coisa alguma para lhes perturbar a fé na religião e instituições que lhes foram entregues por intermédio de Moisés. O mesmo Cristo dera tanto a lei moral, como a cerimonial. Não viera destruir a confiança em Suas próprias instruções. Era por causa de Sua grande reverência pela lei e os profetas, que procurava fazer uma brecha no muro de exigências tradicionais que cercava os judeus. Conquanto pusesse de lado suas falsas interpretações da lei, guardava cuidadosamente Seus discípulos de abandonarem as vitais verdades confiadas aos hebreus. DTN 210.2

Os fariseus se orgulhavam da obediência que prestavam à lei; sabiam, todavia, tão pouco de seus princípios pela prática diária, que para eles as palavras do Salvador soavam qual heresia. Ao sacudir o entulho sob que a verdade estivera soterrada, julgavam que estava varrendo a própria verdade. Murmuravam uns para os outros que estava menosprezando a lei. Jesus leu-lhes os pensamentos, e respondeu aos mesmos, dizendo: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir”. Mateus 5:17. Aí refuta Jesus a acusação dos fariseus. Sua missão para o mundo é reivindicar os sagrados direitos da lei que O acusam de violar. Se a lei de Deus pudesse haver sido mudada ou anulada, então Cristo não teria necessitado sofrer as conseqüências de nossa transgressão. Ele veio para explicar a relação da lei para com o homem, e exemplificar-lhe os preceitos mediante Sua própria vida de obediência. DTN 210.3

Deus nos deu Seus santos preceitos, porque ama a humanidade. Para proteger-nos dos resultados da transgressão, revela os princípios da justiça. A lei é uma expressão do pensamento divino; quando recebida em Cristo, torna-se nosso pensamento. Ergue-nos acima do poder dos desejos e tendências naturais, acima das tentações que induzem ao pecado. Deus quer que sejamos felizes, e deu-nos os preceitos da lei para que obedecendo-lhes, possamos ter alegria. Quando, por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens” (Lucas 2:14), estavam declarando os princípios da lei que viera engrandecer e tornar gloriosa. DTN 210.4

Quando a lei foi proclamada do Sinai, Deus tornou conhecida aos homens a santidade de Seu caráter a fim de que, por contraste, pudessem ver sua própria pecaminosidade. A lei foi dada para os convencer do pecado, e revelar-lhes sua necessidade de um Salvador. Assim o faria, à medida que seus princípios fossem aplicados ao coração pelo Espírito Santo. Esta obra deve ela fazer ainda. Na vida de Cristo se tornam patentes os princípios da lei; e, ao tocar o Espírito Santo de Deus o coração, ao revelar a luz de Cristo aos homens a necessidade que têm de Seu sangue purificador e de Sua justificadora justiça, a lei é ainda um instrumento em nos levar a Cristo para sermos justificados pela fé. “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma”. Salmos 19:7. DTN 211.1

“Até que o céu e a Terra passem”, disse Jesus, “nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”. Mateus 5:18. O Sol que brilha no céu, a sólida Terra sobre que habitamos, são testemunhas de Deus, de que Sua lei é imutável e eterna. Ainda que passem, perdurarão os divinos preceitos. “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei”. Lucas 16:17. O sistema de tipos que apontavam para Cristo como o Cordeiro de Deus, devia ser abolido por ocasião de Sua morte; mas os preceitos do decálogo são tão imutáveis como o trono de Deus. DTN 211.2

Uma vez que “a lei do Senhor é perfeita”, qualquer mudança dela deve ser um mal. Os que desobedecem aos mandamentos de Deus, e ensinam outros a fazer assim, são condenados por Cristo. A vida de obediência do Salvador manteve as reivindicações da lei; provou que a lei pode ser observada pela humanidade, e mostrou a excelência de caráter que a obediência havia de desenvolver. Todos quantos obedecem como Ele fez, estão semelhantemente declarando que a lei é “santa, justa e boa”. Romanos 7:12. Por outro lado, todos quantos transgridem os mandamentos divinos, estão apoiando a pretensão de Satanás de que a lei é injusta, e não pode ser obedecida. Apóiam assim os enganos do grande adversário, e desonram a Deus. São filhos do maligno, o qual foi o primeiro rebelde contra a lei do Senhor. Admiti-los no Céu, seria aí introduzir novamente elementos de discórdia e rebelião, e pôr em risco o bem-estar do Universo. Ninguém que voluntariamente despreze um princípio da lei entrará no Céu. DTN 211.3

Os rabis consideravam sua justiça um passaporte para o Céu; mas Jesus declarou-a insuficiente e indigna. As cerimônias exteriores e um teórico conhecimento da verdade constituíam justiça farisaica. Os rabis pretendiam ser santos por meio de seus próprios esforços em guardar a lei; mas suas obras haviam divorciado a justiça da religião. Conquanto fossem extremamente escrupulosos nas observâncias rituais, sua vida era imoral e falsificada. Sua chamada justiça nunca poderia penetrar no reino do Céu. DTN 211.4

O maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação da alma. Não produz os frutos de justiça. Uma cuidadosa consideração pelo que é classificado verdade teológica, acompanha freqüentemente o ódio pela verdade genuína, segundo se manifesta na vida. Os mais tristes capítulos da História acham-se repletos do registro de crimes cometidos por fanáticos adeptos de religiões. Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão, e vangloriavam-se de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. Julgavam-se os maiores religiosos do mundo, mas sua chamada ortodoxia os levou a crucificar o Senhor da glória. DTN 212.1

O mesmo perigo existe ainda. Muitos se têm na conta de cristãos, simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. Não introduziram, porém, a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a santificação da verdade. Os homens podem professar fé na verdade; mas, se ela não os torna sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo. DTN 212.2

A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos, à medida que têm fé em Deus, e mantêm vital ligação com Ele. Então a verdadeira piedade lhes elevará os pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizam com a interior pureza cristã. As cerimônias exigidas no serviço de Deus não são nesse caso ritos destituídos de sentido, como os dos fariseus hipócritas. DTN 212.3

Jesus toma separadamente os mandamentos, e expõe-lhes a profundidade e a largura das reivindicações. Em lugar de remover um jota de sua força, mostra quão vasto é o alcance de seus princípios, e expõe o erro fatal dos judeus em sua ostentação exterior de obediência. Declara que, pelo mau pensamento ou o cobiçoso olhar, é transgredida a lei divina. Uma pessoa que se torna participante da mínima injustiça, está violando a lei e degradando sua própria natureza moral. O homicídio existe primeiro na mente. Aquele que dá ao ódio um lugar no coração, está pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são aborrecíveis a Deus. DTN 212.4

Os judeus cultivavam um espírito de vingança. Em seu ódio aos romanos, proferiam duras acusações e agradavam ao maligno pela manifestação de seus atributos. Estavam assim se preparando para praticar as terríveis ações a que ele os levou. Não havia, na vida religiosa dos fariseus, nada que recomendasse a piedade aos olhos dos gentios. Jesus declarou-lhes que se não enganassem com a idéia de poderem revoltar-se no coração contra seus opressores, e acariciar o anseio de vingar-se de suas injustiças. DTN 212.5

É verdade que há uma indignação justificável, mesmo nos seguidores de Cristo. Quando vêem que Deus é desonrado, e Seu serviço exposto ao descrédito; quando vêem o inocente opresso, uma justa indignação agita a alma. Tal ira, nascida da sensibilidade moral, não é pecado. Mas os que, a qualquer suposta provocação, se sentem em liberdade de condescender com a zanga ou o ressentimento, estão abrindo o coração a Satanás. Amargura e animosidade devem ser banidas da alma, se queremos estar em harmonia com o Céu. DTN 213.1

O Salvador vai além disso. Diz Ele: “Se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta”. Mateus 5:23, 24. Muitos são zelosos nos cultos, ao passo que entre eles e seus irmãos existem lamentáveis diferenças, as quais poderiam harmonizar. Deus exige que façam tudo ao seu alcance para restaurar a concórdia. Antes que isso façam, não lhes pode aceitar a adoração. O dever do cristão a esse respeito é claramente indicado. DTN 213.2

Deus derrama Suas bênçãos sobre todos. “Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.” É “benigno até para com os ingratos e maus”. Lucas 6:35. Pede-nos que sejamos semelhantes a Ele. “Bendizei os que vos maldizem”, disse Jesus: “Fazei bem aos que vos odeiam,... para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus”. Mateus 5:44. Eis os princípios da lei, e são as fontes da vida. DTN 213.3

O ideal de Deus para Seus filhos é mais alto do que pode alcançar o pensamento humano. “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus”. Mateus 5:48. Este mandamento é uma promessa. O plano da redenção visa ao nosso completo libertamento do poder de Satanás. Cristo separa sempre do pecado a alma contrita. Veio para destruir as obras do diabo, e tomou providências para que o Espírito Santo fosse comunicado a toda alma arrependida, para guardá-la de pecar. DTN 213.4

A influência do tentador não deve ser considerada desculpa para qualquer má ação. Satanás rejubila quando ouve os professos seguidores de Cristo apresentarem desculpas quanto à sua deformidade de caráter. São essas escusas que levam ao pecado. Não há desculpas para pecar. Uma santa disposição, uma vida cristã, são acessíveis a todo filho de Deus, arrependido e crente. DTN 213.5

O ideal do caráter cristão, é a semelhança com Cristo. Como o Filho do homem foi perfeito em Sua vida, assim devem Seus seguidores ser perfeitos na sua. Jesus foi em todas as coisas feito semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se carne, da mesma maneira que nós. Tinha fome, sede e fadiga. Sustentava-Se com alimento e refrigerava-Se pelo sono. Era Deus em carne. Ele compartilhou da sorte do homem; não obstante, foi o imaculado Filho de Deus. Seu caráter deve ser o nosso. Diz o Senhor dos que nEle crêem: “Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo”. 2 Coríntios 6:16. DTN 213.6

Cristo é a escada que Jacó viu, tendo a base na Terra, e o topo chegando à porta do Céu, ao próprio limiar da glória. Se aquela escada houvesse deixado de chegar à Terra, por um único degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que, revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer. Feito “em semelhança da carne do pecado” (Romanos 8:3), viveu uma vida isenta de pecado. Agora, por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós. Manda-nos que, pela fé nEle, atinjamos à glória do caráter de Deus. Portanto, devemos ser perfeitos, assim como “é perfeito vosso Pai que está nos Céus”. Mateus 5:48. DTN 214.1

Jesus mostrara em que consiste a justiça, e indicara Deus como fonte da mesma. Voltou-Se então para os deveres práticos. Em dar esmolas, orar, jejuar, disse Ele, que nada seja feito com o intuito de atrair atenção ou louvores para o próprio eu. Dai em sinceridade, para benefício do pobre sofredor. Na oração, comungue a alma com Deus. Ao jejuar, não andeis cabisbaixos, a mente ocupada com vós mesmos. O coração do fariseu é um solo árido e inútil, em que nenhuma semente de vida divina pode crescer. Aquele que mais completamente se entrega a Deus, é que mais aceitável serviço Lhe presta. Pois, mediante a comunhão com Ele, os homens se tornam coobreiros Seus em manifestar-Lhe o caráter na humanidade. DTN 214.2

A adoração prestada em sinceridade de coração tem grande recompensa. “Teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente”. Mateus 6:6. Pela vida que vivemos mediante a graça de Cristo, forma-se o caráter. A beleza original começa a ser restaurada na alma. São comunicados os atributos do caráter de Cristo, começando a refletir-se a imagem do Divino. A fisionomia dos homens e mulheres que andam e trabalham com Deus, exprime a paz do Céu. São circundados da atmosfera celeste. Para essas pessoas começou o reino de Deus. Possuem a alegria de Cristo, a satisfação de ser uma bênção à humanidade. Têm a honra de ser aceitos para o serviço do Mestre; é-lhes confiado o fazer Sua obra em Seu nome. DTN 214.3

“Ninguém pode servir a dois senhores.” Não podemos servir a Deus com coração dividido. A influência da religião bíblica não é uma influência entre outras: tem de ser suprema, penetrando em todas as outras e dominando-as. Não deverá ser uma pincelada dando aqui e ali cor a uma tela, mas encher a vida toda, como se a mesma tela fosse imergida na tinta até que cada fio houvesse tomado profundo e firme colorido. DTN 214.4

“De sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso”. Mateus 6:22. Pureza e firmeza de propósito são condições para receber luz de Deus. Aquele que deseja conhecer a verdade, deve estar disposto a aceitar tudo que ela mostra. Não pode ter nenhuma transigência com o erro. Estar vacilante e morno para com a verdade, é preferir as trevas do erro e o engano de Satanás. DTN 215.1

Os métodos mundanos e os retos princípios da justiça não se misturam imperceptivelmente, como as cores do arco-íris. Há entre eles, traçada pelo eterno Deus, vasta e distinta linha divisória. A semelhança de Cristo ressalta tão marcadamente em contraste com a de Satanás, como o meio-dia em face da meia-noite. E unicamente os que vivem a vida de Cristo, são coobreiros Seus. Se um pecado é nutrido na alma, ou uma prática errônea conservada na vida, todo o ser é contaminado. O homem torna-se instrumento de injustiça. DTN 215.2

Todos quantos escolheram o serviço de Deus, devem descansar em Seu cuidado. Cristo apontou os pássaros voando no espaço, as flores no campo, pedindo a Seus ouvintes que considerassem essas criaturas de Deus. “Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mateus 6:26) disse Ele. A medida da atenção divina concedida a qualquer criatura, é proporcional a sua posição na escala dos seres. A pequenina andorinha é velada pela Providência. As flores do campo, a relva que atapeta o solo, partilham da atenção e cuidado do Pai celeste. O grande Artista, o Artista-Mestre, teve pensamentos para os lírios, fazendo-os tão bonitos que ultrapassam a glória de Salomão. Quanto mais cuida Ele do homem, a imagem e glória divinas! Anela ver Seus filhos revelarem um caráter à Sua semelhança. Como a luz solar comunica às flores seus múltiplos e delicados matizes, assim transmite Ele à alma a beleza de Seu próprio caráter. DTN 215.3

Todos quantos preferem o reino de Cristo — reino de amor e justiça e paz — colocando os interesses do mesmo acima de todos os outros, acham-se ligados ao mundo do alto, e pertencem-lhes todas as bênçãos necessárias a esta vida. No livro da providência de Deus, o volume da vida, a cada um de nós é dada uma página. Essa página contém cada particularidade de nossa história; até os cabelos da cabeça estão contados. Os filhos de Deus nunca Lhe estão ausentes do pensamento. DTN 215.4

“Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã.” Devemos seguir a Cristo dia a dia. Deus não provê auxílio para amanhã. Não dá a Seus filhos imediatamente todas as instruções para a jornada da vida, para que não fiquem confundidos. Diz-lhes apenas quanto possam conservar na memória e realizar. A força e a sabedoria comunicadas destinam-se à emergência do momento. “Se algum de vós tem falta de sabedoria” — para o dia de hoje — “peça a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada”. Tiago 1:5. DTN 215.5

Não julgueis, para que não sejais julgados.” Não vos julgueis melhores que outros homens, nem vos arvoreis em juízes seus. Uma vez que não vos é dado discernir os motivos, sois incapazes de julgar um ao outro. Ao criticá-lo, estais-vos sentenciando a vós mesmos; pois mostrais ter parte com Satanás, o acusador dos irmãos. O Senhor diz: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos”. 2 Coríntios 13:5. Eis nossa tarefa. “Se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”. 1 Coríntios 11:31. DTN 216.1

A boa árvore produzirá bom fruto. Se o fruto for de sabor desagradável e sem valor, a árvore é má. Assim o fruto dado na vida testifica das condições do coração e da excelência do caráter. As boas obras jamais poderão comprar a salvação; são, porém, um indício da fé que opera por amor e purifica a alma. E se bem que a recompensa eterna não seja concedida em virtude de nossos méritos, será todavia em proporção à obra realizada por meio da graça de Cristo. DTN 216.2

Cristo apresentou assim os princípios de Seu reino, e mostrou serem eles a grande norma da vida. Para fazer gravar melhor a lição, dá um exemplo. Não vos basta, diz Ele, ouvirdes Minhas palavras. Cumpre-vos, pela obediência, torná-las o fundamento de vosso caráter. O próprio eu não passa de areia movediça. Se edificardes sobre teorias e invenções humanas, vossa casa ruirá. Pelos ventos da tentação, pelas tempestades das provas, será varrida. Mas estes princípios que vos dei permanecerão. Recebei-Me; edificai sobre Minhas palavras. DTN 216.3

“Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha”. Mateus 7:24, 25. DTN 216.4

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