Levi Mateus


Dia 173 - Friday, 21 de June de 2024
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28 min

  • Jeremias 25 e 26
  • Lucas 5:27-39

Jeremias 25

Ouça o áudio do capítulo:

1 A palavra que veio a Jeremias acerca de todo o povo de Judá no quarto ano de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá (que é o primeiro ano de Nabucodonosor, rei de babilônia),

2 A qual anunciou o profeta Jeremias a todo o povo de Judá, e a todos os habitantes de Jerusalém, dizendo:

3 Desde o ano treze de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até o dia de hoje, período de vinte e três anos, tem vindo a mim a palavra do Senhor, e vo-la tenho anunciado, madrugando e falando; mas vós não escutastes.

4 Também vos enviou o Senhor todos os seus servos, os profetas, madrugando e enviando-os, mas vós não escutastes, nem inclinastes os vossos ouvidos para ouvir,

5 Quando diziam: Convertei-vos agora cada um do seu mau caminho, e da maldade das suas ações, e habitai na terra que o Senhor vos deu, e a vossos pais, para sempre.

6 E não andeis após outros deuses para os servirdes, e para vos inclinardes diante deles, nem me provoqueis à ira com a obra de vossas mãos, para que não vos faça mal.

7 Porém não me destes ouvidos, diz o Senhor, mas me provocastes à ira com a obra de vossas mãos, para vosso mal.

8 Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos: Visto que não escutastes as minhas palavras,

9 Eis que eu enviarei, e tomarei a todas as famílias do norte, diz o SENHOR, como também a Nabucodonosor, rei de babilônia, meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e farei que sejam objeto de espanto, e de assobio, e de perpétuas desolações.

10 E farei desaparecer dentre eles a voz de gozo, e a voz de alegria, a voz do esposo, e a voz da esposa, como também o som das mós, e a luz do candeeiro.

11 E toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas nações servirão ao rei de babilônia setenta anos.

12 Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, visitarei o rei de babilônia, e esta nação, diz o SENHOR, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas.

13 E trarei sobre aquela terra todas as minhas palavras, que disse contra ela, a saber, tudo quanto está escrito neste livro, que profetizou Jeremias contra todas estas nações.

14 Porque também deles se servirão muitas nações e grandes reis; assim lhes retribuirei segundo os seus feitos, e segundo as obras das suas mãos.

15 Porque assim me disse o Senhor Deus de Israel: Toma da minha mão este copo do vinho do furor, e darás a beber dele a todas as nações, às quais eu te enviarei.

16 Para que bebam e tremam, e enlouqueçam, por causa da espada, que eu enviarei entre eles.

17 E tomei o copo da mão do Senhor, e dei a beber a todas as nações, às quais o Senhor me enviou;

18 A Jerusalém, e às cidades de Judá, e aos seus reis, e aos seus príncipes, para fazer deles uma desolação, um espanto, um assobio, e uma maldição, como hoje se vê;

19 A Faraó, rei do Egito, e a seus servos, e a seus príncipes, e a todo o seu povo;

20 E a toda a mistura de povo, e a todos os reis da terra de Uz, e a todos os reis da terra dos filisteus, e a Ascalom, e a Gaza, e a Ecrom, e ao remanescente de Asdode,

21 E a Edom, e a Moabe, e aos filhos de Amom;

22 E a todos os reis de Tiro, e a todos os reis de Sidom; e aos reis das ilhas que estão além do mar;

23 A Dedã, e a Tema, e a Buz e a todos os que estão nos lugares mais distantes.

24 E a todos os reis da Arábia, e todos os reis do povo misto que habita no deserto;

25 E a todos os reis de Zinri, e a todos os reis de Elão, e a todos os reis da Média;

26 E a todos os reis do norte, os de perto, e os de longe, tanto um como o outro, e a todos os reinos do mundo, que estão sobre a face da terra, e o rei de Sesaque beberá depois deles.

27 Pois lhes dirás: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Bebei, e embebedai-vos, e vomitai, e caí, e não torneis a levantar-vos, por causa da espada que eu vos enviarei.

28 E será que, se não quiserem tomar o copo da tua mão para beber, então lhes dirás: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Certamente bebereis.

29 Porque, eis que na cidade que se chama pelo meu nome começo a castigar; e ficareis vós totalmente impunes? Não ficareis impunes, porque eu chamo a espada sobre todos os moradores da terra, diz o Senhor dos Exércitos.

30 Tu, pois, lhes profetizarás todas estas palavras, e lhes dirás: O Senhor desde o alto bramirá, e fará ouvir a sua voz desde a morada da sua santidade; terrivelmente bramirá contra a sua habitação, com grito de alegria, como dos que pisam as uvas, contra todos os moradores da terra.

31 Chegará o estrondo até à extremidade da terra, porque o Senhor tem contenda com as nações, entrará em juízo com toda a carne; os ímpios entregará à espada, diz o Senhor.

32 Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis que o mal passa de nação para nação, e grande tormenta se levantará dos confins da terra.

33 E serão os mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da terra até à outra; não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados; mas serão por esterco sobre a face da terra.

34 Uivai, pastores, e clamai, e revolvei-vos na cinza, principais do rebanho, porque já se cumpriram os vossos dias para serdes mortos, e dispersos, e vós então caireis como um vaso precioso.

35 E não haverá refúgio para os pastores, nem salvamento para os principais do rebanho.

36 Voz de grito dos pastores, e uivos dos principais do rebanho; porque o Senhor está destruindo o pasto deles.

37 Porque as suas malhadas pacíficas serão desarraigadas, por causa do furor da ira do Senhor.

38 Deixou a sua tenda, como o filho de leão; porque a sua terra foi posta em desolação, por causa do furor do opressor, e por causa do furor da sua ira.

Jeremias 26

Ouça o áudio do capítulo:

1 No princípio do reinado de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá, veio esta palavra do SENHOR, dizendo:

2 Assim diz o Senhor: Põe-te no átrio da casa do Senhor e dize a todas as cidades de Judá, que vêm adorar na casa do Senhor, todas as palavras que te mandei que lhes dissesses; não omitas nenhuma palavra.

3 Bem pode ser que ouçam, e se convertam cada um do seu mau caminho, e eu me arrependa do mal que intento fazer-lhes por causa da maldade das suas ações.

4 Dize-lhes pois: Assim diz o Senhor: Se não me derdes ouvidos para andardes na minha lei, que pus diante de vós,

5 Para que ouvísseis as palavras dos meus servos, os profetas, que eu vos envio, madrugando e enviando, mas não ouvistes;

6 Então farei que esta casa seja como Siló, e farei desta cidade uma maldição para todas as nações da terra.

7 Os sacerdotes, e os profetas, e todo o povo, ouviram a Jeremias, falando estas palavras na casa do Senhor.

8 E sucedeu que, acabando Jeremias de dizer tudo quanto o Senhor lhe havia ordenado que dissesse a todo o povo, pegaram nele os sacerdotes, e os profetas, e todo o povo, dizendo: Certamente morrerás,

9 Por que profetizaste no nome do Senhor, dizendo: Como Siló será esta casa, e esta cidade será assolada, de sorte que não fique nenhum morador nela? E ajuntou-se todo o povo contra Jeremias, na casa do Senhor.

10 E, ouvindo os príncipes de Judá estas palavras, subiram da casa do rei à casa do Senhor, e se assentaram à entrada da porta nova do Senhor.

11 Então falaram os sacerdotes e os profetas aos príncipes e a todo o povo, dizendo: Este homem é réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com os vossos ouvidos.

12 E falou Jeremias a todos os príncipes e a todo o povo, dizendo: O Senhor me enviou a profetizar contra esta casa, e contra esta cidade, todas as palavras que ouvistes.

13 Agora, pois, melhorai os vossos caminhos e as vossas ações, e ouvi a voz do Senhor vosso Deus, e arrepender-se-á o Senhor do mal que falou contra vós.

14 Quanto a mim, eis que estou nas vossas mãos; fazei de mim conforme o que for bom e reto aos vossos olhos.

15 Sabei, porém, com certeza que, se me matardes, trareis sangue inocente sobre vós, e sobre esta cidade, e sobre os seus habitantes; porque, na verdade, o Senhor me enviou a vós, para dizer aos vossos ouvidos todas estas palavras.

16 Então disseram os príncipes, e todo o povo aos sacerdotes e aos profetas: Este homem não é réu de morte, porque em nome do Senhor, nosso Deus, nos falou.

17 Também se levantaram alguns homens dentre os anciãos da terra, e falaram a toda a congregação do povo, dizendo:

18 Miquéias, o morastita, profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá, e falou a todo o povo de Judá, dizendo: Assim disse o Senhor dos Exércitos: Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como os altos de um bosque.

19 Mataram-no, porventura, Ezequias, rei de Judá, e todo o Judá? Antes não temeu ao Senhor, e não implorou o favor do Senhor? E o Senhor não se arrependeu do mal que falara contra eles? Nós fazemos um grande mal contra as nossas almas.

20 Também houve outro homem que profetizava em nome do Senhor, a saber: Urias, filho de Semaías de Quiriate-Jearim, o qual profetizou contra esta cidade, e contra esta terra, conforme todas as palavras de Jeremias.

21 E, ouvindo o rei Jeoiaquim, e todos os seus poderosos e todos os príncipes, as suas palavras, procurou o rei matá-lo; mas ouvindo isto, Urias temeu e fugiu, e foi para o Egito;

22 Mas o rei Jeoiaquim enviou alguns homens ao Egito, a saber: Elnatã, filho de Acbor, e outros homens com ele, ao Egito.

23 Os quais tiraram a Urias do Egito, e o trouxeram ao rei Jeoiaquim, que o feriu à espada, e lançou o seu cadáver nas sepulturas dos filhos do povo.

24 Porém a mão de Aicão, filho de Safã, foi com Jeremias, para que o não entregassem na mão do povo, para ser morto.

Lucas 5:27-39

Ouça o áudio do capítulo:

27 E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me.

28 E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.

29 E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; e havia ali uma multidão de publicanos e outros que estavam com eles à mesa.

30 E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?

31 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos;

32 Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.

33 Disseram-lhe, então, eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem?

34 E ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?

35 Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão.

36 E disse-lhes também uma parábola: Ninguém deita um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha.

37 E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão;

38 Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão.

39 E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.

O Desejado de Todas as Nações

Levi Mateus

Ouça o áudio do capítulo:

Este capítulo é baseado em Mateus 9:9-17; Marcos 2:14-22; Lucas 5:27-39.

Dos funcionários romanos na Palestina, nenhum era mais odiado que o publicano. O fato de serem os impostos ordenados por um poder estrangeiro, era contínuo motivo de irritação para os judeus, lembrança que era da perda de sua independência. E os cobradores de impostos além de instrumentos da opressão romana, eram extorsionários em seu próprio proveito, enriquecendo-se à custa do povo. Um judeu que aceitasse esse ofício das mãos dos romanos era considerado traidor da honra nacional. Desprezado como apóstata, classificavam-no entre os mais vis da sociedade. DTN 185.1

A essa classe pertencia Levi Mateus, o qual, depois dos quatro discípulos na praia de Genesaré, foi o seguinte a ser chamado para o serviço de Cristo. Os fariseus haviam julgado Mateus segundo seu emprego, mas Jesus viu nesse homem uma pessoa aberta à recepção da verdade. Mateus escutara os ensinos do Salvador. Ao revelar-lhe o convincente Espírito de Deus sua pecaminosidade, anelou buscar auxílio em Cristo; estava, porém, habituado ao exclusivismo dos rabis, e não tinha nenhuma idéia de que esse grande Mestre houvesse de fazer caso dele. DTN 185.2

Um dia, achando-se sentado na alfândega, viu o publicano a Jesus, que Se aproximava. Grande foi sua surpresa ao ouvir as palavras que lhe foram dirigidas: “Segue-Me.” Mateus “deixando tudo, levantou-se e O seguiu”. Lucas 5:27, 28. Não houve nenhuma hesitação, nenhuma dúvida, nenhum pensamento para o lucrativo negócio a ser trocado pela pobreza e as privações. Era-lhe suficiente o estar com Jesus, ouvir-Lhe as palavras e a Ele unir-se em Sua obra. DTN 185.3

O mesmo se deu com os discípulos anteriormente chamados. Quando Jesus pediu a Pedro e a seus companheiros que O seguissem, eles deixaram imediatamente os barcos e as redes. Alguns desses discípulos tinham queridos cuja manutenção deles dependia; ao receberem, porém, o convite do Salvador, não hesitaram nem inquiriram: “Como hei de viver, e sustentar minha família?” Obedeceram ao chamado; e quando, posteriormente, Jesus lhes perguntou: “Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa?” puderam responder: “Nada”. Lucas 22:35. DTN 185.4

A Mateus em sua riqueza, como a André e Pedro em sua pobreza, a mesma prova foi apresentada; a mesma consagração foi feita por cada um. No momento do êxito, quando as redes estavam cheias de peixe, e mais fortes eram os impulsos do viver anterior, Jesus pediu aos discípulos junto ao mar que abandonassem tudo pela obra do evangelho. Assim toda pessoa é provada quanto a seu mais forte desejo — se bens temporais, se a companhia de Cristo. DTN 185.5

O princípio é sempre de caráter exigente. Homem algum pode ser bem-sucedido no serviço de Deus, a menos que nele ponha inteiro o coração, e considere todas as coisas por perda pela excelência do conhecimento de Cristo. Ninguém que faça qualquer reserva pode ser discípulo de Cristo, e muito menos Seu colaborador. Quando os homens apreciam a grande salvação, o espírito de sacrifício observado na vida de Cristo ver-se-á na sua. Por onde quer que Ele os guie, acompanhá-Lo-ão contentes. DTN 186.1

A vocação de Mateus para ser um dos discípulos de Cristo, despertou grande indignação. Que um mestre de religião escolhesse um publicano como um de seus imediatos assistentes, era uma ofensa contra os costumes religiosos, sociais e nacionais. Procurando estimular os preconceitos do povo, os fariseus esperavam voltar a corrente dos sentimentos populares contra Jesus. DTN 186.2

Criou-se entre os publicanos amplo interesse. Seu coração foi atraído para o divino Mestre. Na alegria de seu novo discipulado, desejou Mateus levar seus antigos companheiros a Jesus. Fez, portanto, um banquete em sua casa, reunindo os parentes e amigos. Não somente publicanos foram incluídos, mas muitos outros de duvidosa reputação, proscritos por seus mais escrupulosos vizinhos. DTN 186.3

A festa foi oferecida em honra de Jesus, e Este não hesitou em aceitar a gentileza. Bem sabia que isso daria motivo de escândalo ao partido dos fariseus, comprometendo-O também aos olhos do povo. Nenhuma questão de política, entretanto, podia influenciar-Lhe os movimentos. Para Ele, as distinções exteriores não tinham valor. O que Lhe falava ao coração era a sede pela água da vida. DTN 186.4

Jesus Se sentou como hóspede honrado à mesa dos publicanos, mostrando, por Sua simpatia e amabilidade social, reconhecer a dignidade humana; e os homens anelavam tornar-se dignos de Sua confiança. As palavras de Seus lábios caíam no sedento coração deles com um bendito e vivificante poder. Despertavam-se novos impulsos, e a esses excluídos da sociedade abriu-se a possibilidade de uma nova vida. DTN 186.5

Em reuniões como essa, não poucos foram impressionados pelos ensinos do Salvador, os quais não O reconheceram senão depois de Sua ascensão. Quando o Espírito Santo foi derramado, e três mil se converteram num dia, houve entre eles muitos que tinham ouvido primeiramente a verdade à mesa dos publicanos, e alguns desses se tornaram mensageiros do evangelho. Ao próprio Mateus, o exemplo de Jesus na festa era uma lição constante. O desprezado publicano, tornou-se um dos mais devotados evangelistas, seguindo, em seu ministério, bem de perto, os passos do Mestre. DTN 186.6

Quando os rabis ouviram falar da presença de Jesus na festa de Mateus, apoderaram-se da oportunidade de O acusar. Procuraram, porém, operar por intermédio dos discípulos. Buscando despertar-lhes os preconceitos, esperavam separá-los do Mestre. Era sua política, acusar Cristo perante os discípulos, e estes perante Cristo, alvejando onde lhes parecia mais fácil ferir. Tem sido essa a maneira por que Satanás tem operado sempre, desde a desarmonia no Céu; e todos quantos procuram causar discórdia e separação são atuados por seu espírito. DTN 187.1

“Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?” indagaram os invejosos rabis. Mateus 9:11. Jesus não esperou que os discípulos respondessem à acusação, mas replicou Ele próprio: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento”. Mateus 9:12, 13. Os fariseus pretendiam ser espiritualmente sãos e portanto, não necessitados de médico, ao passo que consideravam os publicanos e gentios como perecendo das moléstias espirituais. Não era, pois, Sua obra, como médico, procurar a própria classe que Lhe necessitava o auxílio? DTN 187.2

Conquanto os fariseus presumissem tanto de si, encontravam-se na verdade em piores condições que aqueles a quem desprezavam. Os publicanos eram menos hipócritas e presunçosos, estando assim mais aptos a receber a influência da verdade. Jesus disse aos rabis: “Ide, [...] e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício”. Mateus 9:13. Mostrou assim que, ao passo que pretendiam ser expositores da Palavra de Deus, lhe ignoravam por completo o espírito. DTN 187.3

Os fariseus calaram-se por algum tempo, mas apenas se tornaram mais decididos em sua inimizade. Procuraram em seguida os discípulos de João Batista, e buscaram pô-los contra o Salvador. Esses fariseus não haviam aceito a missão do Batista. Apontaram-lhe escarnecedoramente à vida de abstinência, aos hábitos simples, à vestimenta ordinária, e o declararam fanático. Como lhes denunciasse a hipocrisia, resistiram-lhe às palavras, e procuraram suscitar o povo contra ele. O Espírito de Deus movera o coração desses escarnecedores, convencendo-os do pecado; mas rejeitaram o conselho de Deus, e declararam que João estava possesso do diabo. DTN 187.4

Ora, quando Jesus veio, misturando-Se com o povo, comendo e bebendo à mesa deles, acusaram-nO de comilão e beberrão. Os próprios que faziam essas acusações, eram culpados. Como Deus é mal representado, e revestido por Satanás de seus próprios atributos, assim os mensageiros do Senhor eram desfigurados por esses homens maldosos. DTN 187.5

Os fariseus não consideravam que Jesus comia e bebia com os publicanos e pecadores, a fim de levar a luz do Céu aos que se sentavam em trevas. Não queriam ver que toda palavra proferida pelo divino Mestre era uma semente viva que germinaria e daria fruto para a glória de Deus. Estavam decididos a não aceitar a luz; e, conquanto se houvessem oposto à missão do Batista, prontificavam-se agora a cortejar a amizade dos discípulos, esperando ganhar-lhes a cooperação contra Jesus. Faziam parecer que Ele estava anulando as antigas tradições; e comparavam a austera piedade do Batista com a maneira de Jesus em banquetear-Se com publicanos e pecadores. DTN 187.6

Os discípulos de João achavam-se por essa época em grande aflição. Foi antes de sua visita a Jesus, com a mensagem de João. Seu amado mestre encontrava-se no cárcere, e eles passavam os dias em tristeza. E Jesus não estava fazendo nenhum esforço para libertar João, e parecia mesmo lançar descrédito sobre seus ensinos. Se João fora enviado por Deus por que seguiam Jesus e os discípulos caminho tão diverso? Os discípulos de João não tinham clara compreensão da obra de Cristo; pensaram que talvez houvesse algum fundamento para as acusações dos fariseus. Observavam muitas das regras prescritas pelos rabis, e esperavam mesmo ser justificados pelas obras da lei. O jejum era observado pelos judeus como ato meritório, e os mais rígidos dentre eles jejuavam duas vezes por semana. Os fariseus e os discípulos de João estavam jejuando, quando os últimos foram ter com Jesus, com a interrogação: “Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os Teus discípulos não jejuam?” Mateus 9:14. DTN 188.1

Muito ternamente lhes respondeu Jesus. Não procurou corrigir-lhes a errônea concepção acerca do jejum, mas apenas fazê-los ver com justeza Sua missão. E fê-lo empregando a mesma imagem de que se servira o próprio Batista em seu testemunho de Jesus. João dissera: “Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim pois já este meu gozo está cumprido”. João 3:29. Os discípulos de João não podiam deixar de recordar essas palavras do mestre, quando, tomando a ilustração, Jesus disse: “Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo?” Marcos 2:18. DTN 188.2

O Príncipe do Céu estava entre Seu povo. O maior dom de Deus fora concedido ao mundo. Regozijo para os pobres; pois Cristo viera torná-los herdeiros de Seu reino. Regozijo para os ricos; pois lhes ensinaria a obter as riquezas eternas. Regozijo aos ignorantes; torná-los-ia sábios para a salvação. Regozijo aos instruídos; desvendar-lhes-ia mistérios mais profundos do que os que já haviam penetrado; verdades ocultas desde a fundação do mundo seriam reveladas aos homens, mediante a missão do Salvador. DTN 188.3

João Batista rejubilara ao ver o Salvador. Que ocasião de regozijo não tinham os discípulos, a quem cabia o privilégio de andar e falar com a Majestade do Céu! Não era esse o tempo de lamentarem e jejuarem. Deviam abrir o coração para receber a luz de Sua glória, para que, por sua vez, projetassem a luz sobre os que estavam sentados nas trevas e sombras da morte. DTN 188.4

Belo era o quadro que evocavam as palavras de Cristo; sobre ele, no entanto, pairava pesada sombra, que unicamente Seus olhos distinguiam. “Dias, porém, virão”, disse Ele, “em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. Mateus 9:15. Quando vissem seu Senhor traído e crucificado, os discípulos se afligiriam e jejuariam. Nas últimas palavras que lhes dirigia no cenáculo, dissera: “Um pouco e não Me vereis; e outra vez um pouco, e ver-Me-eis.” “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria”. João 16:19, 20. DTN 188.5

Quando Ele ressurgisse do sepulcro, a tristeza deles se converteria em alegria. Depois de Sua ascensão devia estar pessoalmente ausente; mas por meio do Consolador, achar-Se-ia ainda com eles, e não deviam passar o tempo em lamentações. Isso era o que Satanás queria. Desejava que dessem ao mundo a impressão de haver sido iludidos e decepcionados; mas deviam, pela fé, contemplar o santuário em cima, onde Jesus estava ministrando em favor deles; deviam abrir o coração ao Espírito Santo, Seu representante, e regozijar-se na luz de Sua presença. Todavia, sobreviriam dias de tentação e prova, em que seriam postos em conflito com as autoridades do mundo, e os chefes do reino das trevas; quando Cristo não estivesse pessoalmente com eles, e deixassem de perceber o Consolador, então seria mais próprio jejuarem. DTN 189.1

Os fariseus procuravam exaltar-se pela rigorosa observância de formas, ao passo que tinham o coração cheio de inveja e contenda. “Eis”, diz a Escritura, “que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor?” Isaías 58:4, 5. DTN 189.2

O verdadeiro jejum não é um serviço meramente formal. A Escritura descreve o jejum preferido por Deus: “que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo [...] que deixes livres os quebrantados [ou oprimidos] e despedaces todo o jugo [...]” “abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita”. Isaías 58:6, 10. Aí se expõe o próprio espírito e caráter da obra de Cristo. Toda a Sua vida foi um sacrifício pela salvação do mundo. Quer jejuando no deserto da tentação, quer comendo com os publicanos no banquete de Mateus, estava dando a vida pela redenção dos perdidos. Não em ociosas lamentações, em simples humilhação do corpo e multidão de sacrifícios, está o verdadeiro espírito de devoção, mas revela-se na entrega do próprio eu em voluntário serviço para Deus e o homem. DTN 189.3

Continuando Sua resposta aos discípulos de João, Jesus disse uma parábola: “Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho”. Lucas 5:36. A mensagem do Batista não devia ser entremeada com a tradição e a superstição. Uma tentativa de misturar as pretensões dos fariseus com a devoção de João, só tornaria mais evidente a rotura em ambas. DTN 189.4

Nem podiam os princípios do ensino de Cristo ser unidos com as formas do farisaísmo. Cristo não cobriria a rotura feita pelos ensinos de João. Tornaria mais distinta a separação ente o velho e o novo. Jesus ilustrou posteriormente este fato, dizendo: “Ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão”. Lucas 5:37. Os odres de couro usados como vasos para guardar o vinho novo, ficavam depois de algum tempo secos e quebradiços, fazendo-se então imprestáveis para tornar a servir ao mesmo fim. Por meio dessa ilustração familiar, Jesus apresentou a condição dos guias judaicos. Sacerdotes, escribas e principais se haviam fixado numa rotina de cerimônias e tradições. Contraíra-se-lhes o coração como os odres de couro a que Ele os comparara. Ao passo que se satisfaziam com uma religião legal, era-lhes impossível tornar-se depositários das vivas verdades do Céu. Julgavam a própria justiça como suficiente, e não desejavam que um novo elemento fosse introduzido em sua religião. Não aceitavam a boa vontade de Deus para com os homens como qualquer coisa à parte deles próprios. Relacionavam-na com méritos que possuíam por causa de suas boas obras. A fé que opera por amor e purifica a alma, não podia encontrar união com a religião dos fariseus, feita de cerimônias e injunções de homens. O esforço de ligar os ensinos de Jesus com a religião estabelecida, seria em vão. A verdade vital de Deus, qual vinho em fermentação, estragaria os velhos, apodrecidos odres das tradições farisaicas. DTN 190.1

Os fariseus julgavam-se demasiado sábios para necessitar instruções, demasiado justos para precisar salvação, muito altamente honrados para carecer da honra que de Cristo vem. O Salvador deles Se desviou em busca de outros que recebessem a mensagem do Céu. Nos ignorantes pescadores, no publicano na alfândega, na mulher de Samaria, no povo comum que O escutava de boa vontade, encontrou Ele Seus novos odres para o vinho novo. Os instrumentos a serem usados na obra evangélica, são as pessoas que recebem com alegria a luz a elas enviada por Deus. São esses Seus instrumentos para a comunicação do conhecimento da verdade ao mundo. Se, mediante a graça de Cristo, Seu povo se torna odres novos, Ele os encherá de vinho novo. DTN 190.2

O ensino de Cristo, conquanto representado pelo vinho novo, não era uma nova doutrina, mas a revelação daquilo que fora ensinado desde o princípio. Mas para os fariseus a verdade perdera sua original significação e beleza. Para eles, os ensinos de Cristo eram, em quase todos os aspectos, novos; e não eram reconhecidos nem confessados. DTN 190.3

Jesus mostrou o poder dos falsos ensinos para destruir a capacidade de apreciar e desejar a verdade. “Ninguém”, disse Ele, “tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho”. Lucas 5:39. Toda a verdade dada ao mundo por meio de patriarcas e profetas, resplandeceu com nova beleza nas palavras de Cristo. Mas os escribas e fariseus não tinham nenhum desejo quanto ao precioso vinho novo. Enquanto não se esvaziassem das velhas tradições, costumes e práticas, não tinham, na mente e no coração, lugar para os ensinos de Cristo. Apegavam-se às formas mortas, e desviavam-se da verdade viva e do poder de Deus. DTN 190.4

Foi isso que se demonstrou a ruína dos judeus, e será a de muitas pessoas em nossos próprios dias. Há milhares a cometer o mesmo erro dos fariseus a quem Cristo reprovou no banquete de Mateus. Em lugar de abandonar certa idéia nutrida, ou rejeitar algum ídolo de opinião, muitos recusam a verdade descida do Pai da luz. Confiam em si mesmos, e dependem da própria sabedoria, e não compreendem sua pobreza espiritual. Insistem em ser salvos por alguma maneira em que realizem alguma obra importante. Quando vêem que não há nenhum modo de introduzirem o eu na obra, rejeitam a salvação provida. DTN 191.1

Uma religião legal nunca poderá conduzir pessoas a Cristo; pois é destituída de amor e de Cristo. Jejuar ou orar quando imbuídos de um espírito de justificação própria, é uma abominação aos olhos de Deus. A solene assembléia para o culto, a rotina das cerimônias religiosas, a humilhação externa, o sacrifício imposto, mostram que o que pratica essas coisas se considera justo, e com títulos ao Céu, mas tudo é engano. Nossas próprias obras jamais poderão comprar a salvação. DTN 191.2

Como foi nos dias de Cristo, assim se dá agora; os fariseus não conhecem sua necessidade espiritual. A eles se dirige a mensagem: “como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego e nu; aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestidos brancos para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez”. Apocalipse 3:17, 18. Fé e amor são o ouro provado no fogo. Mas no caso de muitos se obscureceu o brilho do ouro, e perdeu-se o tesouro precioso. A justiça de Cristo é para eles um vestido sem uso, uma fonte intata. A esses é dito: “Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te pois de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti verei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”. Apocalipse 2:4, 5. DTN 191.3

“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”. Salmos 51:17. O homem se deve esvaziar do próprio eu, antes de ser, no mais amplo sentido, um crente em Jesus. Quando se renuncia ao eu, então o Senhor pode tornar o homem uma nova criatura. Novos odres podem conter o vinho novo. O amor de Cristo há de animar o crente de uma vida nova. Naquele que contempla o autor e consumador de nossa fé, o caráter de Cristo se há de manifestar. DTN 191.4

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