A Vocação de Abraão


Dia 12 - Friday, 12 de January de 2024
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24 min

Gênesis 12

Ouça o áudio do capítulo:

1 Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.

2 E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.

3 E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.

4 Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã.

5 E tomou Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã.

6 E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os cananeus na terra.

7 E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: À tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera.

8 E moveu-se dali para a montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor.

9 Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul.

10 E havia fome naquela terra; e desceu Abrão ao Egito, para peregrinar ali, porquanto a fome era grande na terra.

11 E aconteceu que, chegando ele para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista;

12 E será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é sua mulher. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida.

13 Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti.

14 E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa.

15 E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante de Faraó; e foi a mulher tomada para a casa de Faraó.

16 E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos.

17 Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão.

18 Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher?

19 Por que disseste: É minha irmã? Por isso a tomei por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te.

20 E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e acompanharam-no, a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha.

Gênesis 13

Ouça o áudio do capítulo:

1 Subiu, pois, Abrão do Egito para o lado do sul, ele e sua mulher, e tudo o que tinha, e com ele Ló.

2 E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro.

3 E fez as suas jornadas do sul até Betel, até ao lugar onde a princípio estivera a sua tenda, entre Betel e Ai;

4 Até ao lugar do altar que outrora ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome do Senhor.

5 E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas.

6 E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos.

7 E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló; e os cananeus e os perizeus habitavam então na terra.

8 E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos.

9 Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; e se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu irei para a esquerda.

10 E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar.

11 Então Ló escolheu para si toda a campina do Jordão, e partiu Ló para o oriente, e apartaram-se um do outro.

12 Habitou Abrão na terra de Canaã e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma.

13 Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor.

14 E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente;

15 Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre.

16 E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada.

17 Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei.

18 E Abrão mudou as suas tendas, e foi, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor.

Gênesis 14

Ouça o áudio do capítulo:

1 E aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim,

2 Que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, e a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá (esta é Zoar).

3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado).

4 Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se.

5 E ao décimo quarto ano veio Quedorlaomer, e os reis que estavam com ele, e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim,

6 E aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã que está junto ao deserto.

7 Depois tornaram e vieram a En-Mispate (que é Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas, e também aos amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar.

8 Então saiu o rei de Sodoma, e o rei de Gomorra, e o rei de Admá, e o rei de Zeboim, e o rei de Belá (esta é Zoar), e ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim,

9 Contra Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, e Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de Elasar; quatro reis contra cinco.

10 E o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; e fugiram os reis de Sodoma e de Gomorra, e caíram ali; e os restantes fugiram para um monte.

11 E tomaram todos os bens de Sodoma, e de Gomorra, e todo o seu mantimento e foram-se.

12 Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e os seus bens, e foram-se.

13 Então veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; ele habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol, e irmão de Aner; eles eram confederados de Abrão.

14 Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã.

15 E dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus criados, e os feriu, e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.

16 E tornou a trazer todos os seus bens, e tornou a trazer também a Ló, seu irmão, e os seus bens, e também as mulheres, e o povo.

17 E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei.

18 E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo.

19 E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra;

20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.

21 E o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as pessoas, e os bens toma para ti.

22 Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma: Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra,

23 Jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão;

24 Salvo tão-somente o que os jovens comeram, e a parte que toca aos homens que comigo foram, Aner, Escol e Manre; estes que tomem a sua parte.

Gênesis 15

Ouça o áudio do capítulo:

1 Depois destas coisas veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão.

2 Então disse Abrão: Senhor DEUS, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer?

3 Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro.

4 E eis que veio a palavra do Senhor a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro.

5 Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência.

6 E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça.

7 Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la.

8 E disse ele: Senhor DEUS, como saberei que hei de herdá-la?

9 E disse-lhe: Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho.

10 E trouxe-lhe todos estes, e partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em frente da outra; mas as aves não partiu.

11 E as aves desciam sobre os cadáveres; Abrão, porém, as enxotava.

12 E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele.

13 Então disse a Abrão: Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos,

14 Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza.

15 E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado.

16 E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia.

17 E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.

18 Naquele mesmo dia fez o Senhor uma aliança com Abrão, dizendo: « tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates;

19 E o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu,

20 E o heteu, e o perizeu, e os refains,

21 E o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu.

Patriarcas e Profetas

A Vocação de Abraão

Ouça o áudio do capítulo:

Depois da dispersão de Babel, a idolatria tornou-se novamente quase universal, e o Senhor deixou afinal os empedernidos transgressores que seguissem seus maus caminhos, enquanto escolheu a Abraão, da linhagem de Sem, e o fez guardador de Sua lei para as gerações futuras. Abraão tinha crescido em meio de superstição e paganismo. Mesmo a casa de seu pai, pela qual o conhecimento de Deus tinha sido preservado, estava a entregar-se às influências sedutoras que os rodeavam, e “serviram a outros deuses” (Josué 24:2) em vez de Jeová. Mas a verdadeira fé não devia extinguir-se. Deus sempre preservou um remanescente para O servir. Adão, Sete, Enoque, Matusalém, Noé, Sem, em linha ininterrupta, preservaram, de época em época, as preciosas revelações de Sua vontade. O filho de Terá se tornou o herdeiro deste sagrado depósito. A idolatria acenava-lhe de todo o lado, mas em vão. Fiel entre os infiéis, incontaminado pela apostasia prevalecente, com perseverança apegou-se ao culto do único verdadeiro Deus. “Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade”. Salmos 145:18. Ele comunicou Sua vontade a Abraão, e deu-lhe um conhecimento distinto das exigências de Sua lei, e da salvação que se realizaria por meio de Cristo. PP 80.1

Foi feita a Abraão a promessa de uma posteridade numerosa e de grandeza nacional, promessa especialmente acatada pelo povo daquela época: “Far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”. E a isto acrescentou-se esta certeza, mais preciosa do que todas as outras para o herdeiro da fé, de que o Redentor do mundo viria de sua linhagem: “Em ti serão benditas todas as famílias da Terra”. Gênesis 12:2, 3. Contudo, como primeira condição de cumprimento, deveria haver uma prova para a fé; um sacrifício foi exigido. PP 80.2

Veio a Abraão a mensagem de Deus: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei”. Gênesis 12:1. A fim de que Deus o pudesse habilitar para a sua grande obra, como guardador dos oráculos sagrados, Abraão devia desligar-se das relações de sua vida anterior. A influência de parentes e amigos incompatibilizar-se-ia com o ensino que o Senhor Se propunha a dar a Seu servo. Agora que Abraão estava, em sentido especial, ligado ao Céu, devia habitar entre estranhos. Seu caráter devia ser peculiar, diferindo de todo o mundo. Ele não podia nem mesmo explicar sua maneira de proceder, de modo que fosse compreendido por seus amigos. As coisas espirituais são discernidas espiritualmente, e seus intuitos e ações não eram entendidos por seus parentes idólatras. PP 80.3

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia”. Hebreus 11:8. Aquela obediência expedita de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé a serem encontradas em toda Bíblia. Para ele, a fé era “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. Hebreus 11:1. Confiando na promessa divina, sem a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a terra natal, e saiu, sem saber para onde, a fim de seguir aonde Deus o levasse. “Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiro com ele da mesma promessa”. Hebreus 11:9. PP 81.1

Não fora uma pequena prova aquela a que foi assim submetido Abraão, nem pequeno o sacrifício que dele se exigira. Fortes laços havia para o prender ao seu país, seus parentes, seu lar. Ele, porém, não hesitou em obedecer ao chamado. Não teve perguntas a fazer concernentes à terra da promessa — se o solo era fértil, e o clima saudável, se o território oferecia um ambiente agradável, e proporcionaria oportunidades para se acumularem riquezas. Deus falara, e Seu servo devia obedecer; o lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele se achasse. PP 81.2

Muitos ainda são provados como o foi Abraão. Não ouvem a voz de Deus falando diretamente do Céu, mas Ele os chama pelos ensinos de Sua Palavra e acontecimentos de Sua providência. Pode ser-lhes exigido abandonarem uma carreira que promete riqueza e honra, deixarem associações agradáveis e proveitosas, e separarem-se dos parentes, para entrarem naquilo que parece ser apenas uma senda de abnegação, dificuldades e sacrifícios. Deus tem uma obra para eles fazerem; mas uma vida de comodidade, e a influência de amigos e parentes, embaraçariam o desenvolvimento dos traços essenciais para a sua realização. Ele os chama para fora das influências e auxílio humanos, e os leva a sentirem a necessidade de Seu auxílio, e a confiarem nEle somente, para que Ele possa revelar-Se-lhes. Quem está pronto, ao chamado da Providência, para renunciar planos acariciados e relações familiares? Quem aceitará novos deveres e entrará em campos não experimentados, fazendo a obra de Deus com um coração firme e voluntário, considerando por amor a Cristo suas perdas como ganho? Aquele que deseja fazer isto tem a fé de Abraão, e com ele partilhará daquele “peso eterno de glória mui excelente” (2 Coríntios 4:17), com o qual “as aflições deste tempo presente não são para comparar”. Romanos 8:18. PP 81.3

A chamada do Céu primeiramente viera a Abraão enquanto ele morava em “Ur dos Caldeus” (Gênesis 11:31), e em obediência à mesma ele se mudou para Harã. Até este ponto a família de seu pai o acompanhou; pois, juntamente com sua idolatria, uniam-se ao culto ao verdadeiro Deus. Ali permaneceu Abraão até a morte de Terá. Apenas sepultado seu pai, a voz divina mandou-lhe que prosseguisse. Seu irmão Naor, com a família, apegaram-se a seu lar e seus ídolos. Além de Sara, mulher de Abraão, apenas Ló, filho de Harã, falecido havia muito, optara partilhar da vida peregrina do patriarca. Foi, contudo, uma grande multidão a que partiu da Mesopotâmia. Abraão já possuía extensos rebanhos e gado, o que era a riqueza do Oriente, e estava cercado de numeroso grupo de servos e agregados. Estava ele a partir da terra de seus pais, para nunca mais voltar, e levou consigo tudo o que tinha, “a sua fazenda, que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã”. Gênesis 12:5. Entre estas achavam-se muitos que eram levados por considerações mais elevadas do que as de serviço ou interesse particular. Durante sua permanência em Harã, tanto Abraão como Sara haviam levado outros à adoração e ao culto do verdadeiro Deus. Estes apegaram-se à casa do patriarca, e o acompanharam à terra da promessa. “E saíram para irem à terra de Canaã; e vieram à terra de Canaã”. Gênesis 12:5. PP 81.4

O lugar em que se detiveram a princípio foi Siquém. À sombra dos carvalhos de Moré, em um vale extenso e relvoso, com seus bosques de oliveiras, e fontes a jorrar, entre o Monte Ebal de um lado e o Monte Gerizim do outro, fez Abraão o seu acampamento. Era um belo e formoso território aquele em que o patriarca havia entrado — “terra de ribeiros d’águas, de fontes, e de abismos, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides, e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, abundante de azeite e mel”. Deuteronômio 8:7, 8. Mas para o adorador de Jeová, uma densa sombra repousava sobre a colina coberta de árvores e fértil planície. “Estavam então os cananeus na terra.” Abraão atingira o alvo de suas esperanças de encontrar um país ocupado por uma raça estranha, entre a qual estava propagada a idolatria. Achavam-se estabelecidos nos bosques os altares dos deuses falsos, e sacrifícios humanos eram oferecidos nos lugares altos que ficavam próximos. Conquanto ele se apegasse à promessa divina, não foi sem angustiosos pressentimentos que armou sua tenda. Então “apareceu o Senhor a Abraão, e disse: À tua semente darei esta terra”. Gênesis 12:7. Sua fé fortaleceu-se pela certeza de que a presença divina estava com ele, de que ele não fora abandonado nas mãos dos ímpios. “E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera”. Gênesis 12:7. Ainda como um peregrino, logo se mudou para um lugar próximo de Betel, e de novo construiu um altar, e invocou o nome do Senhor. PP 82.1

Abraão, o amigo de Deus, dá-nos um digno exemplo. A sua vida foi uma vida de oração. Onde quer que ele armasse a tenda, junto construía o altar, convocando todos os que faziam parte de seu acampamento para o sacrifício da manhã e da tarde. Quando a tenda era removida, o altar ficava. Nos anos subseqüentes, houve os que entre os cananeus errantes receberam instrução de Abraão; e, quando quer que um desses vinha àquele altar, sabia quem havia estado ali antes; e, depois de armar a tenda, reparava o altar, e ali adorava o Deus vivo. PP 82.2

Abraão continuou a viajar para o Sul; e de novo foi provada sua fé. Os céus retiveram a chuva, cessaram os ribeiros de correr nos vales, e a relva secou-se nas planícies. Os rebanhos e gado não encontravam pasto, e a morte pela fome ameaçava todo o acampamento. Não pôs agora o patriarca em dúvida a direção da Providência? Não retrocedeu ele os seus olhares saudosos para a abundância das planícies da Caldéia? Todos estavam avidamente atentos para ver o que Abraão faria, ao sobrevir-lhe dificuldade após dificuldade. Enquanto sua confiança pareceu estar inabalável, pressentiam que havia esperança; estavam certos de que Deus era seu amigo, e de que ainda os estava guiando. PP 83.1

Abraão não podia explicar a direção da Providência; não realizara as suas expectativas; mas mantinha com firmeza a promessa: “Abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”. Gênesis 12:2. Com oração fervorosa considerava ele como preservar a vida de seu povo e de seus rebanhos, mas não consentia que as circunstâncias lhe abalassem a fé na palavra de Deus. Para escapar da fome desceu ao Egito. Não abandonou Canaã, nem, em sua situação angustiosa, voltou para a Caldéia, donde viera, e onde não havia falta de pão; mas buscou um refúgio temporário tão perto quanto possível da terra da promessa, tencionando voltar em breve para o lugar em que Deus o colocara. PP 83.2

O Senhor em Sua providência trouxera esta prova a Abraão a fim de lhe ensinar lições de submissão, paciência e fé, lições que deveriam ser registradas para benefício de todos os que mais tarde fossem chamados a suportar a aflição. Deus dirige Seus filhos por um caminho que eles não conhecem; mas não Se esquece dos que nEle põem a confiança, nem os rejeita. Permitiu que a aflição sobreviesse a Jó, mas não o abandonou. Consentiu que o amado João fosse exilado para a solitária ilha de Patmos, mas o Filho de Deus o encontrou ali, e sua visão esteve repleta de cenas de glória imortal. Deus permite que as provações assaltem Seu povo, a fim de que pela sua constância e obediência possam eles mesmos enriquecer espiritualmente, e possa o seu exemplo ser uma fonte de força aos outros. “Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal”. Jeremias 29:11. As mesmas provações que da maneira mais severa provam a nossa fé, e fazem parecer que Deus nos abandonou, devem levar-nos para mais perto de Cristo, para que possamos depor todos os nossos fardos a Seus pés, e experimentar a paz que Ele, em troca, nos dará. PP 83.3

Deus sempre tem provado o Seu povo na fornalha da aflição. É no calor da fornalha que a escória se separa do verdadeiro ouro do caráter cristão. Jesus vigia a prova; Ele sabe o que é necessário para purificar o precioso metal, para que este possa refletir o brilho de Seu amor. É por meio de sofrimentos severos, decisivos, que Deus disciplina Seus servos. Ele vê que alguns têm capacidades que poderão ser empregadas no avançamento de Sua obra, e põe tais pessoas à prova; em Sua providência Ele as leva a posições que provem seu caráter, e revelem defeitos e fraquezas que têm estado ocultas ao seu próprio conhecimento. Dá-lhes oportunidade para corrigirem tais defeitos e adaptarem-se ao Seu serviço. Mostra-lhes suas fraquezas, e os ensina a buscar nEle o apoio; pois que Ele é o seu único auxílio e salvaguarda. Assim é alcançado o Seu objetivo. São educados, adestrados, disciplinados, preparados para desempenharem o grandioso propósito para o qual lhes foram dadas as suas capacidades. Quando Deus os chama à atividade, eles se acham prontos, e anjos celestiais podem unir-se-lhes na obra a ser cumprida na Terra. PP 83.4

Durante sua permanência no Egito, Abraão deu prova de que não estava livre de fraqueza e imperfeição humana. Ocultando o fato de que Sara era sua esposa, evidenciou desconfiança no cuidado divino, falta daquela fé e coragem sublime tão freqüente e nobremente exemplificada em sua vida. [...] Sara era “formosa à vista”, e ele não duvidou de que os egípcios de pele morena, cobiçariam a bela estrangeira, e que, a fim de consegui-la, não teriam escrúpulo de matar a seu marido. Raciocinou que não seria culpado de falsidade ao apresentar Sara como sua irmã; pois que era filha de seu pai, posto que não de sua mãe. Mas esta ocultação da verdadeira relação entre eles, era engano. Nenhum desvio da estrita integridade pode encontrar a aprovação de Deus. Devido à falta de fé por parte de Abraão, Sara foi posta em grande perigo. O rei do Egito, sendo informado de sua beleza, fez com que ela fosse levada ao seu palácio, tencionando fazer dela sua esposa. Mas o Senhor, em Sua grande misericórdia, protegeu a Sara, enviando juízos sobre a casa real. Por este meio o rei soube a verdade a tal respeito; e, indignado pelo engano praticado para com ele, reprovou Abraão, e restituiu-lhe a esposa, dizendo: “Que é isto que me fizeste? [...] Por que disseste: É minha irmã? de maneira que a houvera tomado por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te”. Gênesis 12:18, 19. PP 84.1

Abraão tinha sido grandemente favorecido pelo rei; mesmo agora Faraó não permitiu que se fizesse mal a ele ou à sua multidão, antes ordenou que uma guarda os conduzisse em segurança para fora de seus domínios. Por esse tempo fizeram-se leis que proibiam aos egípcios relações tais com os pastores estrangeiros que os levassem a ter familiaridade para comerem ou beberem com eles. A despedida de Faraó a Abraão foi amável e generosa; mas ordenou-lhe que deixasse o Egito, pois não ousava permitir-lhe que aí permanecesse. Sem o saber estivera a ponto de lhe fazer um grave mal; mas Deus interviera e salvara o rei de cometer tão grande pecado. Faraó viu neste estrangeiro um homem a quem o Deus do Céu honrava, e receou ter em seu reino alguém que de maneira tão evidente se achava sob o favor divino. Se Abraão ficasse no Egito, sua crescente riqueza e honra seriam de molde a despertar a inveja e a cobiça dos egípcios, e algum agravo lhe poderia ser feito, pelo qual o rei seria considerado como responsável, e o qual de novo poderia acarretar juízos sobre a casa real. PP 84.2

A advertência feita a Faraó demonstrou ser uma proteção para Abraão em suas relações posteriores com os povos gentios; pois tal coisa não pode ser conservada em segredo, e viu-se que o Deus que Abraão adorava, protegeria a Seu servo, e que qualquer mal a ele feito seria vingado. Coisa perigosa é ocasionar dano a um dos filhos do Rei do Céu. O salmista se refere a este capítulo da experiência de Abraão, quando diz, falando do povo escolhido, que Deus “por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis nos Meus ungidos, e não maltrateis os Meus profetas”. Salmos 105:14, 15. PP 85.1

Há uma semelhança interessante entre a experiência de Abraão no Egito e a de sua posteridade, séculos mais tarde. Ambos desceram ao Egito por causa de uma fome, e ambos ali residiram temporariamente. Mediante as manifestações dos juízos divinos em seu favor o seu temor caiu sobre os egípcios; e, enriquecidos pelas dádivas dos gentios, saíram com muitos recursos. PP 85.2

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